Depois de um tempo pensando resolvi que o melhor a fazer seria entrar dentro do castelo. Não queria molhar minha roupa,então o mais seguro seria pular de cabeça em cabeça até chegar ao outro lado.
Coloquei um dos pés em uma das cabeças petrificadas e apoiei as mãos. Coloquei o outro e me pus de pé,dei um pulinho bem arriscado para a outra cabeça e acabei molhando o pé esquerdo. Fiquei prostrada nessa cabeça e então coloquei a mão na outra,para então colocar os pés e ficar de pé. Fui pulando,e então,só aí que consegui chegar ao outro lado. Na porta grande de madeira estava um homem alto sentado em um banquinho,dormindo. Dei umas cutucadas nele,porém não acordou.
– Moço? Moço? Tudo bem? - Disse enquanto o cutucava e o rolava de um lado para o outro. Então cheguei a conclusão que aquele homem estava morto e principalmente que não valia a pena continuar chamando uma pessoa morta. Vi que ao seu lado tinha um frasquinho daquela mesma bebida encolhedora que havia tomado no corredor comprido. A peguei,observei e então tirei a rolha do frasco e bebi um gole do líquido azul. Depois de uns segundos descobri que dessa vez não estava diminuindo,e sim aumentando. Cheguei a um tamanho tão comprido e grande que já dava para ver o que se passava do outro lado do muro. A rainha,o rei,todos os seus filhos e os convidados vestiam roupas com o símbolo de Copas e estavam jogando um aparentemente delicioso jogo de cartas. Riam alegremente até que uma das meninas que tinha um nariz bem comprido olhou para mim e gritou:
– Que é isto? -
Nesse instante todos os presentes olharam para mim e para a minha cabeça enorme. Percebi que a rainha tinha uma feição totalmente estranha: Seus olhos eram de cores diferentes e sua boca tinha um estranho formato de coração,seus cabelos avermelhados naturalmente estavam arrumados em um penteado que lembrava um coração,cobrindo quase toda a sua cabeça. Seus convidados também não eram tão normais: Alguns tinham narizes grandes de mais,outros tinham bocas pequenas de mais,suas barrigas variavam muito e tinham ondulações estranhas. As crianças eram muito parecidas,todas com cabelos negros e olhos vermelhos. O rei era o mais normal de todos: Cabelos castanhos e olhos verdes,com um rosto que me parecia familiar,mas não me lembrava de quem.
– Quem é você,jovem? - Perguntou o rei,enquanto a rainha me observava delicadamente.
– Sou Alice,para servir o senhor. - Disse fazendo uma longa e solene reverência.
– Menina,o que aconteceu com suas vestimentas? - A rainha que já estava roxa de raiva por um motivo ainda não detectado exclamou,batendo o pé com a mão na cintura.
– Cresci de mais e elas.. Bem.. Elas ficaram pequenas de mais para meu tamanho,majestade. - Tentei suavizar minha feição de medo.
– GUARDAS! - Gritou a rainha - Vistam essa jovem! Agora! Se não serei obrigada a cortar suas cabe.. -
– Muita calma,querida! Não culpe esses pobres guardas. Busquem roupas para Alice,por favor. - Falou o rei tentando acalmar a rainha.
Me convidaram para entrar e não pude recusar. Então me vestiram com um vestido extravagante que carregava o naipe de espadas,um dos meninos me entregou um par de sapatos e um colar com o naipe de copas. Colocaram uma cadeira provisória ao lado do trono da rainha e foi onde eu sentei,na verdade,onde fui obrigada a sentar. Vi que o clima dentro do palácio não era nada agradável: A cada cinco minutos a rainha mandava cortar a cabeça de alguém,o que me fez ficar muito assustada. Pedi ao rei para que ele me dispensasse,afinal queria ter um pouco de ar puro,e foi isso que ele fez. Resolvi andar pelos arredores do castelo e descobrir o que tinha por lá.