Ela. escrita por alê


Capítulo 1
Capítulo 1 - Único


Notas iniciais do capítulo

Primeira tentativa de postar alguma coisa.
Devo dizer que não levei muito a sério quando essa ideia me surgiu na cabeça, apenas abri o word e botei tudo o que tinha em mente nas páginas em branco, e quando terminei até que fiquei satisfeita hehe.
Espero ter conseguido passar o que queria.



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Abri os olhos quando minha mente despertou, piscando lentamente para me ajustar á meia luz que invadia o pequeno quarto de paredes azuis, rabiscadas aqui e ali por frases e desenhos aleatórios.

Soube imediatamente onde estava; seu quarto. Ela adorava simplesmente espalhar poemas por aí e desejar que alguém fosse perspicaz o suficiente para entender sua alma profunda, e as paredes de seu quarto nada mais eram que uma representação ainda mais bagunçada de sua mente, com toda a personalidade forte e a beleza que se mostrava somente se você estivesse disposta a chegar mais perto e se aprofundar em seus mistérios.

Aconcheguei-me melhor nela, sentindo o movimento leve de seu peito e apertando sua cintura com meus braços com mais força, para me assegurar de que aquilo era mesmo real. Ela nunca me deixaria segurá-la assim se estivesse acordada, nunca me deixaria apreciar sua beleza natural tão de perto e por tanto tempo sem ganhar um olhar enviesado; eu nunca poderia dizer o quanto lhe amava, aos sussurros, se ela estivesse desperta.

Era assim que sempre tinha funcionado: nunca se envolvia, nunca se apaixonava, dizia por aí que amar dói e que não queria sentir-se assim nenhuma vez mais. Fora um garoto, me contava, toda vez que eu perguntava sobre o assunto, mas não se aprofundava mais nem que eu morresse de insistir. Sempre eram os garotos, é claro.

E eu lhe dizia que eu era uma garota, e poderia fazê-la feliz, e ela rebatia que eu era humana e não importava qual fosse à coisa que eu possuía entre minhas pernas, eu acabaria magoando-a. Ela não tinha sorte pra essas coisas.

Essa era outra coisa que eu adorava nela. Nunca tinha medo de dizer o que pensava, falava assim, tudo na lata, sem o que temer. Encarava os desafios de frente como um leão encara sua presa antes de atacá-la, e nada poderia detê-la. E ai de quem se colocasse em seu caminho.

Uma fera selvagem. Uma linda e profunda fera selvagem.

Enquanto a luz do amanhecer se espalhava pelo aposento e suas jubas loiras e leoninas ficavam mais coloridas aos meus olhos, brinquei com os nós de uma noite de sono que emaranhavam o que normalmente formava grandes e volumosos cachos.

Quase como instinto meus dedos compridos desceram por seus ombros nus, traçando padrões onde eu gostaria de deixar pequenas marcas com os meus dentes, indicando que aquela garota tinha alguém que estaria sempre ali por ela. Mas ela odiava marcas. Era um tanto perfeccionista com o próprio corpo, enquanto seu eu interior era a maior bagunça que eu já experimentara.

Tinha aquela música de uma banda indie, eu acho, que me fazia lembrar dela a cada palavra. Era a sua preferida, é claro. Eu cantei baixinho em seu ouvido, sussurrando a letra que eu já ouvira tantas vezes que tinha certeza de que nunca mais esqueceria, mesmo que isso não durasse para sempre. Afinal, memórias sempre duram.

Sou uma marionete num fio

Ilha de Tracy, diamante viajante do tempo

Poderia esculpir mágoas

Seu rosto continuava corado como se estivesse com vergonha, mas era sempre assim que ele permanecia, fizesse calor ou frio. Mordi o lóbulo de sua orelha enquanto suspirava baixinho, e continuei sussurrando em seu ouvido, com a esperança de que seu íntimo me ouvisse e decidisse que eu era a pessoa certa para ela.

Venho para ver sua queda

Em alguma manhã aveludada

Anos mais tarde

Ela é um raio de esperança, cavaleiro solitário cavalgando

Em um espaço aberto

As folhas de caderno espalhadas pelo chão diziam muito sobre seu passado e suas mágoas, mesmo aquelas que tinham virado picotes dentro do cesto de lixo. Ela amava escrever. Tudo o que passava por sua mente ela escrevia, mas nunca eram palavras felizes ou declarações de amor. Você podia sentir o peso que cada uma das minúsculas letras desajeitadas carregava, e eu me perguntava como alguém tão jovem tinha um coração tão escuro, mas era essa a verdade. Ainda assim, eu não conseguia enxergar seus defeitos. O que mais eu poderia querer?

Na minha mente, quando ela não está ali ao meu lado

Eu fico louca, pois aqui não é onde eu quero estar

E satisfação parece uma memória distante

E eu não posso me ajudar

Tudo o que eu quero ouvi-la dizer é: "Você é minha?"

Sua respiração acelerou por um momento e eu me tencionei, desejando que continuasse dormindo para que eu pudesse apreciá-la um pouco mais. Seu corpo tremeu e algo como um grito sem som escapou de sua boca vermelha; podia dizer que era um pesadelo, já que eles eram frequentes. Mas ela nunca gritava de verdade, nunca falava nada. Ela somente suportava e dizia que eu não deveria me intrometer em seus assuntos. Às vezes eu discutia, mas às vezes me aquietava e esperava pacientemente. Eu sabia, ela ainda seria inteiramente minha. Corpo e alma.

Bem, você é minha?

Você é minha?

Você é minha? Certo

Eu terminei a canção mais para mim mesma, observando o teto sem nenhuma intenção real de ver alguma coisa. O teto era marrom, sem graça, nada como todo o resto, não dizia nada sobre ela, exceto que era baixinha demais para rabiscar algo lá em cima sem que tivesse de cair de cara.

Finalmente me virei e tomei coragem para sair de sua cama quentinha, espaçosa. Ela odiava me encontrar ali quando acordava, dizia que isso significava que tínhamos intimidade demais, e ela odiava intimidade além daquela em que nossos corpo se juntavam e nós éramos uma só.

Já de lado de fora, tremendo de frio e enrolada em minhas próprias roupas, é que me dei conta: Óh deus, eu estava tão absolutamente ferrada. E tudo o que eu fizera fora amar uma garota de coração partido e esperar que ela me retribuísse do modo que eu gostaria.


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Notas finais do capítulo

A música que ela canta é "R U Mine?" do Arctic Monkeys (super recomendo).
Fica por conta da imaginação de vocês criar uma aparência para a garota que narra a história, não achei necessário para o contexto da história uma descrição dela, assim como nomes somente deixariam as coisas confusas e não era isso que eu queria passar.
Críticas construtivas são bem aceitas, mesmo. Não peguem leve por ser minha primeira história. Hmm, caso tiver alguém corajoso para me ler até o fim, é claro, hehe.



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