Quem conta um conto escrita por Ma Ellena


Capítulo 5
Medo


Notas iniciais do capítulo

É uma curta narrativa sobre um personagem que se encontra perdido em uma floresta, sem saber como chegou lá. Tal floresta contém criaturas estranhas que o perseguem. Ele tem medo do lugar, ao mesmo tempo que sente conforto. Tenta escapar das criaturas, mas acaba por se render ao medo e se torna parte da floresta.



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O cheiro de flores e podridão invadia-lhe os pulmões, o crepitar do fogo misturava-se ao bombardeamento de odores que o atordoava, lhe aquecendo as entranhas e causando-lhe uma estranha sensação de conforto e familiaridade naquele ambiente inóspito. A adrenalina percorria o sangue, o impedindo de aquietar-se em seu esconderijo, apagou o fogo na esperança de não se fazer despercebido, mas a fumaça criada chamava ainda mais a atenção, estava assustado, não, desesperado.

Sentia que quanto mais se embrenhava floresta adentro a fim de esconder-se, mais exposto e perdido ficava. Era uma sensação terrível a calma que sentia ao encostar-se a uma folha larga e macia que poderia lhe servir de travesseiro improvisado, a sombra que as árvores produziam naquela bela clareira que o protegia do sol e a brisa que lhe acariciava suavemente a face criava um calafrio por todo o seu corpo fazendo-o encolher cada vez mais, sentindo-se minúsculo naquela imensa habitação de seres vivos. Por alguns instantes, sentiu-se bem, o que lhe aterrorizou. Não podia, não queria.

O barulho de galhos se quebrando no chão despertou-lhe dessas terríveis sensações, fazendo-o desejar que voltasse, tal som denunciava a aproximação da criatura, acelerando seus batimentos. Uma gota solitária e gelada escorria pela face ardente, fazendo-o sentir o gosto do suor e da sujeira acumulada em seu rosto que o refrescava. Um calafrio começou em sua nuca, espalhando-se pelas bochechas e espinha e eriçando seus pelos; a cortina de cipós a sua frente se abriu. Fechou os olhos bruscamente, não lembrava onde estava e como chegou ali, mas não era sua casa, apesar de uma parcela de sua mente fazê-lo pensar que pertencia àquele lugar. Correu e tentou esconder-se adentrando cada vez mais a floresta, sentindo galhos cortarem sua pele e enroscar folhas em seu cabelo, mas ainda estavam lhe perseguindo. Tropeçou nas raízes das árvores e os cipós seguraram-no, impedindo de cair no chão. Desesperou-se, estava sendo domado quase que por completo.

A curiosidade venceu a tensão e abriu os olhos, a visão da criatura inundou-lhe repentinamente de emoções. Surpresa, medo, admiração e raiva. O corpo a sua frente assemelhava-se às folhas secas da palmeira, curvado e esquelético, com os órgãos à janela das costelas implorando por liberdade. Coberto por plantas rasteiras e flores de todos os tipos, não sabia definir se homem ou mulher. O que lhe admirou foi a face. A cabeça do humanoide era um entrelaçado de cipós finos, mas não tinha rosto, apenas flores e folhas sem forma alguma, sabia que aquela coisa era detentora de uma enorme beleza. Locomovia-se em harmonia com as plantas que o formavam, os passos suaves como se andasse em nuvens. Movimentos cautelosos e doces, mas decididos. Vagarosamente se aproximou e estendeu o braço, criando um formato de mão a sua frente e sentiu seu olhar acolhedor e doce, fazendo-o estremecer. Saiu do choque inicial e entrou em pânico, seu corpo e mente gritavam para se mexer, queria fugir, mas não havia como.

Fechou os olhos novamente, aceitando a ajuda da criatura e entregou-se ao medo, sabendo que aquela seria a última vez que o fazia para o bem ou para o mal. Deixou-se ser aderido à vegetação à sua volta e criou raízes, as quais o impediam de movimentar. Sentiu o toque rígido da madeira em seu rosto, as farpas penetrando-lhe a pele, transformando-a. Não havia mais o que ser feito, criara suas próprias corrente que, ainda que soltas, o prendiam pelo pavor do desconhecido.


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Notas finais do capítulo

Foi isso. Tem mais um a caminho, mas não sei quanto tempo demorará.



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