Everything will change escrita por Liv Marie


Capítulo 3
Capítulo 3


Notas iniciais do capítulo

Um agradecimento as pessoas que tem lido e deixado comentários. Estes são sempre apreciados :)



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Todos tentaram dissuadi-la. Seu marido Frank, seu filho Frankie e até mesmo Tommy, seu outro filho, a ovelha negra da família, mesmo ele foi de mesma opinião.

Todos tentaram dissuadi-la.

Mas Angela Rizzoli é uma força da natureza que não pode ser detida. Verdade seja dita, ela já esperou demais. Está completando uma semana desde o nascimento de seu neto. E ela se segurou até o momento, mas agora chega. Se Jane tem forças para visitar Maura diariamente então já não existem desculpas para que ela não faça o mesmo em relação ao filho.

Milo Isles-Rizzoli nasceu com 33 semanas, pesando 1,7 Kgs e medindo 43 cm. Um menino de sorte, disseram os médicos. Mas Jane não sabe disso. Porque Jane nunca viu Milo. Nunca o pegou em seus braços. Nunca pergunta por ele.

Angela entende que esse momento talvez seja o mais dificil pelo qual sua filha ou qualquer um pode passar. Mas isso não está certo. Nenhum sofrimento é desculpa para que um pai abandone seu filho. E nesse momento, aos olhos de Angela, isso é exatamente o que Jane está fazendo.

Braço e costelas fraturadas além de uma forte concussão na cabeça, os médicos se surpreenderam com a rápida recuperação de Jane. Angela, não. Ela conhece a filha que tem. Em dois dias Jane já estava lutando com os enfermeiros, tentando desesperadamente deixar seu leito e ir ao encontro de Maura. Sua determinação era grande, mas os enfermeiros eram três.

Maura foi a primeira palavra que escapou de seus lábios quando Jane recobrou a consciência e sua mãe não pode conter as lágrimas ao testemunhar a cena. Eles tentaram lhe explicar o que havia acontecido, primeiro Frankie Jr, depois o pai. Angela nunca esqueceria a expressão no rosto da filha quando os fatos foram relatados.

Jane sempre fora uma menina forte e teimosa. Durona. Cabeça dura. Ela nunca fora de exibir suas fraquezas. Pensando bem, Angela não se lembrava de ver a filha chorar desde quando era uma criança de colo. Mas naquele momento, não havia escudo capaz de esconder seu coração partido. Era como se uma parte de Jane estivesse para sempre perdida. Quebrada.

Quando entra no quarto da filha, a enfermeira ainda está ajudando Jane a se acomodar na cama.

"Pode deixar que eu faço isso." Angela se oferece e a enfermeira deixa mãe e filha à sós.

"Você não tem que fazer isso Ma." Jane evita olhar a mãe nos olhos. No fundo ela sabe o que a visita da mãe representa.

"Claro que eu preciso. E não me diga o que eu tenho que fazer, eu sou sua mãe." Angela reclama. Jane não se dá ao trabalho de responder. Angela se mantem firme. No fundo tudo o que ela quer é ter sua filha de volta. "Como está a Maura?"

"Inconsciente."

"Janey!"

"O que você quer que eu diga?" Jane responde sem conter sua frustração. Angela não se abala com o arroubo da filha. Essa Jane ela reconhece.

"Eu estou pensando em visitá-la mais tarde."

"Tenho certeza de que ela gostaria disso, Ma" Jane fala sinceramente. Um minuto de silêncio. Angela se prepara para falar e Jane se prepara para ouvir.

"Eu estive com meu neto hoje. Ele está ganhando peso." Jane demora a responder.

"--" Jane hesita e responde visivelmente desconfortável. "Isso é bom, eu acho."

"Se continuar assim é capaz até dos médicos liberarem ele antes do previsto." Dessa vez Jane não responde. "Já está tudo pronto na casa de vocês? Precisam que eu ajude com alguma coisa?"

"--"

"Janey?"

"Desculpa Ma, eu realmente não consigo pensar sobre isso agora."

"Janey, nós estamos falando sobre o seu filho."

"Eu sei disso."

"Ele precisa de você."

"Eu sei disso Ma!"

"Sabe, é? Então me responda uma coisa: você sabe qual é a cor dos olhos dele? Ele dorme à noite toda? Ele te reconhece, sabe quem você é?"

"Ele acabou de nascer Ma. É só um bebê. Isso realmente importa?"

"Deveria. Ele é seu bebê!"

"Sério mãe? Sério?? Minha esposa, a mulher que eu amo, está deitada em uma cama de hospital sem qualquer notícia de acordar de novo e você quer que eu pense em um bebê que nem faz ideia do que está acontecendo à sua volta?"

"Isso é exatamente o que eu quero você pense!"

"Pois eu tentei tá bom! E eu não consigo! Não agora! Não com as coisas desse jeito!"

"Tenho certeza de a Maura ficaria muito feliz em saber disso."

"Eu disse que faria isso com ela. COM ela Ma!"

"Então é isso? O que acontece se ela não acordar, Jane? O que acontece com esse menino? Ele vai crescer com os avós e receber visitas suas no fim de semana? É isso?" Isso é exatamente o que acontece, Jane pensa ao se recordar de seu sonho. "Você acha que era isso o que a Maura iria querer?"

Jane não responde. As palavras de sua mãe ecoando em sua cabeça. O que acontece se ela não acordar, Jane?

Aparentemente Angela é capaz de ler com clareza o pânico espelhado nos olhos da filha. "Quer saber Jane, você deveria se preocupar com o que acontece quando a Maura acordar e descobrir que você desistiu da sua família antes mesmo de tentar. Era sobre isso que você deveria pensar. Quer você queira ou não, sem ela, você é tudo o que esse menino tem."


Nothin stays the same.
And nobody here’s perfect.
Oh but everyones to blame
All that you rely on
And all that you can save
Will leave you in the morning
And find you in the day


–x-

Oh you’re in my veins
And I cannot get you out
Oh you’re all I taste
At night inside of my mouth
Oh you run away
Cause I am not what you found
Oh you’re in my veins
And I cannot get you out.
No I cannot get you out.
No I cannot get you.

Ela não deveria estar aqui.

Mas é noite de ano novo e a ala dos internos está funcionando com menos pessoas e portanto com menos vigilância. Sem ter que manobrar seus movimentos em uma cadeira de rodas, Jane se move com maior destreza, ainda que o esforço mediante seus ferimentos seja perceptivelmente maior.

Apesar de não ter feito esse caminho antes, Jane encontra seu destino com facilidade. Ela pára diante do vidro que a separa do ambiente no qual diversos berços são contemplados por diversos bebês.

Eles vem em diferentes formas, cores e tamanhos e por um momento Jane se dá conta de que não faz a menor idéia qual desses é o seu. Pode ser qualquer um. Um dos bebês se entretem no silêncio da noite enfiando a mão quase que completamente dentro da boca. Pode ser você, ela pensa consigo.

"Procurando por alguém?"

"Jesus!" Jane exclama alarmada ao ser pega de surpresa pela presença da enfermeira ao seu lado. "Você me deu um susto do caralho!"

"Desculpe-me. E você provavelmente já deveria ir se habituando a tomar cuidado com o tipo de linguajar que usa na frente de crianças. "

"Eles podem me ouvir?" Jane pergunta assombrada.

"E ver também." A jovem fala e dá um tchauzinho para o vidro. Jane percebe que pode estar encrencada.

"Olha, eu sei que não deveria estar aqui, mas..."

"Você é uma das mães do Milo, certo?"

"Eu achei que eu era a detetive aqui?" Jane pergunta desconfiada. A jovem responde com um sorriso tranquilo e explica.

"Milo é bastante popular por aqui." A enfermeira olha para uma encubadora no fundo da sala, atrás dos berços. "A sua mãe também."

"É, me desculpe por isso." - Jane responde sem dar muito atenção ao que está sendo dito, mais preocupada em identificar o ponto observado pela enfermeira. De longe ela só enxerga os tubos e máquinas.

"Você quer vê-lo?" Jane não responde imediatamente. As palavras de sua mãe vem à sua mente mais uma vez. Qual é a cor dos olhos dele? Ele dorme à noite toda? Ele te reconhece, sabe quem você é?

"Eu posso?"

"Tecnicamente não. A entrada fica à primeira porta à direita. Ele está na encubadora de número 1329."

Everything is dark.
It’s more than you can take.
But you catch a glimpse of sun light.
Shinin, down on your face.

Ele é realmente pequeno. Ainda menor do que Jane esperava. Existem muitos tubos e ele parece estar dormindo. Seu cabelo, o pouco que tem, é muito claro lhe dando um aspecto ainda mais... calvo? Não é a melhor das descrições, mas é exatamente isso o que Jane enxerga.

Seu peito sobe e desce e Jane se impressiona com a força de seus pulmões. Ele repousa de barriga pra cima e suas mãos são assustadoramente pequenas. As mãos de Jane encontram o plástico que o separa do restante do mundo. Só então ela percebe o quanto gostaria de tocá-lo. E ao mesmo tempo o quão assustador isso seria. Ele assim tão frágil e ela tão desajeitada. Não parece uma boa combinação.

Ela sente os olhos úmidos e se prepara para se afastar quando ele abre os olhos. E o ar fica preso em sua garganta. Ele olha diretamente para ela, e mesmo sem qualquer expressão em seu rosto, mesmo ele sendo apenas um montinho de pele enrugada, ela enxerga Maura e mais do que isso, ela enxerga Milo. Seu filho. O menino com quem ela sonhou.

"Hey," Sua voz é um sussurro e a quantidade de emoção presente em seu timbre surpreende Jane, a faz hesitar. Os olhos de Milo, sempre atentos, a fazem continuar. "Então. Eu sou sua mamãe. Uma delas. Eu--Desculpe o atraso. As coisas... As coisas tem estado bem malucas desde que você chegou. Não é sua culpa - Ela acrescenta rapidamente - Mas tudo mudou. Tudo mudou e não foi do jeito que havíamos planejado. Mas a vida nunca é, e você vai acabar aprendendo isso de qualquer jeito, eu acho. Me desculpe. Eu não sou boa com essas coisas. Falar sobre sentimentos e tal. Mas eu sou muito boa com esportes. E no meu trabalho. Eu vou te ensinar a andar de bicicleta e a se defender dos meninos grandes que pegarem no seu pé - o que eu imagino, não serão poucos se você tiver herdado a sinceridade desconcertante da sua mãe. Eu não sou boa em ciências e o único instrumento músical que já toquei na vida foi trombeta na banda da escola. E eu era terrível. Meus vizinhos ainda se lembram. O que eu estou tentando dizer é que não tenho muitos talentos artísticos, mas vou apoiar todos os seus. O que tenho certeza, serão muitos. Está no sangue da sua mãe. Eu espero que você tenha a chance de conhecê-la. E a sorte de tê-la na sua vida. Com a Maura você sempre vai ter a melhor ajuda pro dever de casa. Ela sempre vai ter todas as respostas. Mais rápido que o Google e mais confiável que a Wikipedia. Não que ela vá te dar as resposta. Mas ela vai te ajudar a encontrá-las. Ela nunca vai deixar você sair de casa vestido de palhaço, ainda que acidentalmente. Ela vai te ensinar boas maneiras e vai te enlouquecer com a mania de jamais fazer afirmações categóricas. Ela vai te amar e cuidar de você como ninguém. Do mesmo jeito que ela tem feito desde que descobriu que você estava à caminho. Ela não vai ser uma mãe comum. Mas é somente porque ela vai ser muito melhor do que isso. E... mesmo se ela não tiver a chance de ficar com a gente... mesmo assim você vai saber tudo sobre ela. Porque ela é a melhor parte da minha vida. Assim como você." - Milo dá um grande bocejo e seus olhos se fecham, sonolentos. "Tenho que te dizer, você é um ótimo ouvinte. Mas algo me diz que isso só vai durar até você aprender suas primeiras palavras." Jane sorri. "Me desculpe pelo atraso. Mas eu estou aqui agora. Estou aqui pra você."

No caminho de volta para o quarto Jane é surpreendida pelos estouros no céu e o brilho dos fogos de artificio à distância. O ano novo chegou. E embora tudo esteja fora do lugar, Jane carrega agora em seu espírito a sensação de que tudo vai dar certo.

Não faz sentido. Nada mudou. Dentro de algumas horas ela vai visitar Maura mais uma vez. Ela provavelmente ainda estará dormindo. Jane planeja contar tudo sobre seu encontro com Milo. Os menores detalhes. E então ela vai esperar. Ao lado de Maura e ao lado de Milo. Porque essa foi sua promessa.

E Jane Rizzoli não é nada senão uma mulher de palavra.

Oh you’re in my veins
And I cannot get you out
Oh you’re all I taste
At night inside of my mouth
Oh you run away
Cause I am not what you found
Oh you’re in my veins
And I cannot get you out.

.::.


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Notas finais do capítulo

Continua...