Amor, Fuga e Destino escrita por Author Kuro


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

O conto em questão é inspirado na música "Mesa de Saloon" da banda Matanza.



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Depois de tantos de três anos na prisão estava ansioso pelo meu primeiro dia livre. Era uma manhã de domingo, e de dentro da penitenciaria eu sentia o calor que vinha dos altos-relevos a oeste.

Os guardas me levaram até aquele enorme portão metálico, o qual eu nunca mais queria passar. O barulho do atrito da ferragem velha do portão se abrindo soava como uma linda música para meus ouvidos. Eu todo barbudo, com roupas velhas e cicatrizes por todos os lados, ver o lado de fora da prisão era como um estado de nirvana.

Estava com vontade de sair correndo dali, mas os malditos guardas me levavam em passos lentos. Era como se cada segundo que eu passasse ali desse a eles trinta minutos de orgasmos. Eu os amaldiçoava todos os dias, exceto aquele. Só queria ir embora e viver uma vida normal.

Uma vida normal... Que iludido eu era.

Logo na porta da penitenciária me deparo com uma luxuosa Lamborghini vermelha. Era encantador aquele carro todo polido, encerado e limpo, o que fazia com que brilhasse intensamente sob o sol. Naquele momento já sabia que tinha vindo me buscar, mas não pude acreditar.

Primeiramente de dentro do carro saiu uma perna branca com um salto enorme. Foi quando eu tive certeza. ‘Quem mais poderia usar esse tipo de calçado para dirigir?’, eu me perguntava. Então sem mais delongas aquela mulher saiu elegantemente.

Era uma mulher alta (até mesmo sem os saltos), ela era muito branca, usava um vestido curto vermelho, uma pequena bolsa dourada nas mãos, cabelos pretos e curtos. Seus bustos eram avantajados, seu decote mostrava parte de seus peitos enormes e o vestido se estendia levemente sob seu corpo destacando perfeitamente suas belas curvas. Mas o mais inesquecível era seu batom vermelho, muito vermelho...

Lembrava-me dela como se fosse ontem.

Estava eu, um ‘bandidão’ bonito e charmoso, junto com meus parceiros em uma mesa de sinuca em um bar. Já ia matar a bola preta quando entrou aquela mulher pela porta. Por um segundo o bar todo parou para admirá-la. Assim como todas as outras, eu tinha certeza que viria em mim... Estava enganado.

Ela sequer me reparou. Eu podia simplesmente escolher outras dez e ir para cama com elas, mas meu orgulho era maior. Tinha quer ser aquela mulher.

Fui até o balcão onde estava sentada, ofereci uma bebida e ela aceitou. Comecei me apresentando:

— Meu nome é Jason.

Então ela se apresentou:

— Meu nome é Verônica.

Para mim soava como nome de prostituta, mas não importava. Então continuei fazendo perguntas básicas. Eu não queria casar com ela, por isso não precisava saber muito. Mas com o tempo fui percebendo certo padrão na sua forma de agir, — sempre fui bom em leitura de pessoas — foi então que cheguei à conclusão que ela era uma ladra.

Tudo estava claro na minha mente. Ela ia se fazer de difícil, mas em algum momento ela ia me fazer acreditar que tinha encantado ela. Depois eu a levaria para o quartinho no andar de cima, nós íamos fazer muito sexo e ia ser muito bom. Então eu ia dormir profundamente feliz, e enfim existiriam duas opções: Iria acordar sem nada e com ela longe ou não iria acordar, ela me matava e levava minhas coisas.

Mas um homem apaixonado é capaz de ver uma terceira opção em tudo, para ficar junto de quem gosta, então cheguei à conclusão que ela poderia gostar de mim e ficar comigo para sempre. Foi uma aposta.

E como o esperado ela começou a me provocar, fiquei muito excitado e levei-a pra cima — enquanto meus amigos dormiam em suas mesas. Transamos durante várias horas, e foi tão bom que eu realmente não me importava de morrer ali. Porém eu venci minha aposta comigo mesmo, mas não do jeito esperado.

Acordei e ela estava se vestindo. Vê-la colocando aquele vestido me deixou excitado mais uma vez. Inesperadamente ela veio com um papo meio estranho:

— Você sabia que eu poderia estar longe e mesmo assim me comeu e dormiu tranquilamente do meu lado.

Isso ere verdade, mas não sabia o que dizer. Resolvi deixa-la prosseguir com o assunto.

— Você é idiota ou realmente gostou de mim.

Apesar de tudo, não gostava que as pessoas enrolassem. Então pedi para que ela fosse direto ao ponto. Então ela foi.

— Quero que me ajude em um assalto agora.

Então no final das contas ela também era esperta, sabia que eu era um ladrão. Isso não me abalou. Perguntei se ela tinha um plano. Ela me respondeu que tinha uma companheira infiltrada com um milionário, e que essa amiga faria com que o milionário saísse sem guarda-costas.

Parecia um bom plano, então aceitei.

Infelizmente percebi que fui totalmente usado naquela noite. O assalto aconteceria em um museu que ficava virando a rua do bar. Tudo que ela queria era um lugar para passar a noite. Tentei ser otimista e considerei que foi uma troca justa e prazerosa.

Passávamo-nos por um casal e entramos no museu. Logo ela me mostrou a amiga dela com um velho ao lado. A amiga era supreendentemente tão gostosa quanto ela. Loira, alta também e tão peituda quanto. ‘Quem sabe não consigo um sexo à três’, pensava eu.

Talvez tivesse conseguido, mas o plano falhou. O velho não era burro e seus guarda-costas nos pegaram. Rapidamente a polícia foi acionada. Então, de alguma forma, nós três conseguimos escapar. Corremos quinze quarteirões até um armazém abandonado.

As ultimas palavras dela foram: — Antes você do que nós.

Tomei uma pancada na cabeça e quando acordei já estava sendo algemado. Fui preso por tentativa de assalto e agressão física a um segurança. Fui sentenciado a dez anos de prisão, consegui diminuir pra três por trabalho comunitário e bom comportamento.

Desde então nunca mais tinha ouvido falar dela até aquele dia.

— Jason, se lembra de mim?

Se eu tivesse uma pistola naquele momento, juro que tinha a matado. Porém eu não tinha uma pistola, não tinha dinheiro e também não sabia se ainda tinha amigos. Então fui amigável com ela.

Entrei no seu carro, rimos de algumas coisas do passado, ela me deu um cigarro e passeamos bastante.

Ela parou em frente a um mercado e disse que voltava logo. Estava em dúvida se ela ia comprar algo de comer ou uma camisinha. No momento desejava que fosse a primeira opção. Infelizmente eu estava errado em ambas.

Quando eu menos esperava um saco de dinheiro caiu no banco de trás. Antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa ela começou a dirigir rapidamente. Então ela guardou o seu revolver na porta-objetos. Não precisava ser nenhum especialista para saber que ela tinha roubado o mercado. Até porque era possível ouvir várias sirenes vindas de vários lados.

Foi assim que meu primeiro dia livre começou: comigo em fuga outra vez.

Estava com medo da resposta mas mesmo assim perguntei porque ela estava fazendo aquilo.

— Porque eu te amo, e amo fugir da polícia também.

Estava sem argumentos, então aceitei a resposta.

Fazia tanto tempo que não via o sol, e gostaria de fazê-lo sem a polícia atrás de mim. Mas não adiantava reclamar, era só aproveitar a situação.

Há três anos trás como eu amava a adrenalina de uma fuga, a sirene da polícia me fazia excitar. Os tiros me acordavam. Dessa vez tinha tantos carros de polícia... Mais do que me seguiam antigamente. Cada hora entrava mais um na perseguição. Fazia mais de seis anos que não via uma confusão tão grande.

Perguntei a ela se iriámos morrer. Ela respondeu:

— Acho que sim.

Então eu sorri para ela. Ela sorriu de volta. Começamos a gargalhar. Isso era quase tão bom quanto aquela noite.

A gasolina estava acabando quando avistamos um posto. Paramos para abastecer. Rendemos os atendentes que não paravam de falar de um vazamento. Ignoramos aquilo e começos a encher o tanque. Foi quando eu vi um daqueles Chevetes bem velhos — que andam tão rápido que nem parecem ter aquela idade — cujo seu motorista fumava.

E de dentro do carro saiu aquele resto de cigarro aceso. Meu relógio parou, foi quando pude acompanhar a trajetória do cigarro, e ele dava direto a um vazamento de gás. Não tive tempo de me despedir, mas consegui olhar dentro daqueles olhos de boneca. Ela estava tão feliz...

BUM!

Veio a grande e inevitável explosão.

Sim, o destino é imprevisível. Nunca esperei que ela fosse dormir ao meu lado. Nunca esperei que ela fosse me trair. Muito menos que ela fosse me esperar na porta da prisão. Tinha certeza que ia viver dentro da lei. E no minuto em que meu relógio parou, dentro do meu coração, jurava que viveria junto com ela por muitos anos ainda.

Espero estar com ela, independente pra onde eu vá.


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