Red Johns Case escrita por SorahKetsu


Capítulo 9
Casa do Terror




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Jane olhou no relógio pela quarta vez nos últimos cinco minutos. Era oito da noite, e o parque de diversões estava completamente lotado. Seus nervos estavam a flor da pele. Ele olhou ao redor e flashes de sua infância vieram a tona. Procurou desviar os pensamentos disso e continuou vasculhando por entre as milhares de pessoas que passavam. Olhando nos olhos de cada uma delas, procurando sinais, procurando indícios de um criminoso. Mas tudo que achava eram pais de família traindo suas esposas, crianças que apanhavam da mãe e mulheres insatisfeitas consigo mesmas.

Então ele se pôs a caminhar. Jane tinha certeza absoluta que Red John estava observando-o o tempo todo. Se havia medo em Jane, era de não matá-lo. Sentia-se como um piloto kamikase, na melhor das hipóteses. Entorpecido de adrenalina e indo em direção à morte, porém a chance de matar o inimigo assim lhe fazia seguir em frente, mais e mais rápido.

Ele pensava na chance de não conseguir encontrá-lo e voltar pra casa. Mas em seguida refutava tal idéia, pois Red John nunca mentira. Hoje, naquela noite, ele estaria, cedo ou tarde, frente a frente com o assassino de sua família.

Mais à frente, numa parte mais alta do parque, Jane viu um brinquedo desligado. As luzes da roda gigante o ajudaram a ler: “Casa do terror”. Achou algo bem sugestivo e resolveu ir até lá. Especialmente porque as letras eram vermelhas.

Um homem de meia idade, vestindo uma roupa azul de trabalhador do parque, andava de um lado pro outro, procurando algo de errado com o brinquedo. Ele coçava a cabeça, balbuciava, xingava, pegava uma chave inglesa, tentava apertar algumas coisas, e, vendo que não funcionavam, xingava de novo.

- Problemas, amigo? – Jane perguntou, cauteloso.

- Ah, essa droga não funciona de jeito nenhum. – o mecânico respondeu, de costas, abaixado e tentando apertar mais alguns parafusos. – E já faz mais de uma semana. Se não consertar hoje… - o homem virou-se, limpando a mão de graxa num pano, para olhar para quem estava falando. – Bem, talvez se eu tentasse… - e caminhou até uma caixa de força, tirou algo do bolso e ajustou ali.

O brinquedo se iluminou. O motor, sob o solo, começou a ranger. Tudo de volta ao normal.

Jane não precisou se aproximar do mecânico para saber que ele estava hipnotizado. Era claro, se não consertou o brinquedo em uma semana, seria coincidência demais crer que ele consertaria justo no momento em que olhou para Jane.

- Quer ser o primeiro, amigo?

Jane sorriu e entrou num dos carrinhos. A grade de proteção baixou. O mecânico apertou um botão e ele começou a se mover.

Lentamente, Jane entrou no trem fantasma. Não havia situação menos favorável para ele. O lugar todo escuro, com monstros pulando o tempo todo. Ele era como uma mosca na mira de um mata insetos.

Mas sua experiência com Red John lhe dizia que estava seguro por enquanto. Ele era teatral demais para simplesmente saltar nos trilhos e mirar um revólver na cabeça de Jane.

O carrinho fez uma curva e entrou numa segunda parte do trajeto. Ali as coisas começaram a ficar mais interessantes.

No início, tudo estava escuro demais e Jane não via nada. Até que algo parecido com um palhaço caiu do teto, preso por uma corda em seu pescoço, bem a frente de Jane. Com isso, parte das luzes se acenderam, para assustá-lo. E dessa vez conseguiu, pois a criatura tinha uma mascara à frente do rosto de borracha.

Todos os monstros possuíam mascaras toscamente coladas. As paredes estavam pichadas. Em todo lugar, sem exceção, havia o sorriso de Red John.

Fotos. Fotos de todas as mulheres que matou. Incluindo sua filha e sua mulher. Aquela sim era a casa do terror.

Então o carrinho sacolejou e parou.

As luzes se acenderam, a música fantasmagórica cessou e a grade de proteção subiu, liberando Jane.

Ele olhou ao redor, para perceber bem o trabalho que Red John havia feito no local. Não havia um único ponto onde não houvesse sua marca. Até mesmo no chão havia milhares de fotos de mulheres dilaceradas.

Tudo isso pra quê? Jane decidiu pensar no motivo. Red John estava preparando-o? Deixando-o com mais ódio? Seria isso pra ter um adversário a altura? Se não, pra quê? Red John não queria simplesmente matá-lo, pois se quisesse já o teria feito há muito. A única explicação é que Red John estava brincando. Se não fosse isso, nada ali fazia o mínimo sentido. Ele passara de serial killer para perseguidor de Patrick Jane?

Saiu do carrinho e continuou andando até chegar numa porta. Era para a sala de controle, como ele imaginou. Tinha o desenho de Red John marcado nela.

Colocou a mão na maçaneta.

Então parou para pensar.

Ele sabia quem era. Ele sabia quem era Red John. No fim, só tinha uma alternativa. Então não foi surpresa quando finalmente abriu a porta.

Ou foi, pois a pessoa que esperava encontrar estava amarrada numa cadeira, amordaçada.

Sem contar o balde de gasolina que caíra sobre sua cabeça assim que entrou.

Amanda Muller estava tão abatida que mal tinha forças para pedir ajuda, em grunhidos, claro. Patrick não fazia idéia do que pensar, do que fazer.

Simplesmente correu até ela. Desfez o nó da mordaça e ajoelhou-se ao seu lado.

- Muller, o que houve?

- Jane, você precisa me ajudar! Red John não matou sua família.

E com essas poucas palavras, o mundo de Jane virou de cabeça pra baixo.

- Como pode saber algo assim?

- Porque eu sou Red John. – ela confessou, aos prantos.

Jane tentou, ao máximo procurar indícios de hipnose nos olhos dela, mas não havia. Tal como não havia sinal algum de mentira. Ela falava a verdade. Jane sabia, desconfiava dela há algum tempo, mas vê-la naquela situação, amarrada e amordaçada tirava dela qualquer suspeita.

Como Jane desconfiava?

Desde o início, Red John tinha motivos milhares pra prever os passos de Jane.

Exceto um, de vital importância:

Red John precisava saber exatamente o que Jane extrairia de Muller quando a encontrasse, para que, quando ela fosse seqüestrada, tivesse certeza de que Jane saberia como encontrá-la. Era um pedaço importantíssimo do quebra cabeças, que não podia ser deduzido sem estar presente. Sem ser Muller.

- O que está acontecendo aqui?

- O homem que matou sua família é um doente. Eu trabalhava num hospital psiquiátrico de criminosos, e ele foi parar lá sem identificação, sem passado, apenas um assassinato. Um homem extremamente carismático, mas com um senso sádico que botava medo até nos outros loucos.

- Você o considerou inocente…

- Sim, eu tinha esse poder. E precisava de alguém pra fazer alguns trabalhos para mim. Alguém sem nome, sem identificação, com um carisma inabalável, sangue frio… era perfeito para um assassinato. Além do que, se fosse preso dentro da Califórnia, iria para o mesmo hospital psiquiátrico, onde eu mandava.

- Por isso sempre na Califórnia. – concluiu Jane.

- Sim… ele começou a trabalhar para mim. Eu mandava matar, e ele fazia o serviço como quisesse. Como um louco, rapidamente estabeleceu um padrão bem típico. O desenho na parede era exatamente o que ele era: sorridente e sádico.

- Porém…

- Porém as coisas saíram do meu controle no exato instante em que você me ofendeu na televisão.

- Pelo jeito eu errei por muito.

- Sim, você disse que ele era uma alma triste. Bem, ele ficou furioso. Atacou sua família sem que eu mandasse, sem minha permissão. Ele estava se considerando o próprio Red John. Teoricamente, sua família não foi morta por Red John, e sim por esse rapaz. Mas não pense que ele é um maníaco. Ele amou. Amou uma garota cega…

- Sim, eu a conheci.

- O assassinato daquelas duas garotas custou muito para ele. Você se aproximou da mulher que ele amava. Ele nunca mais foi atrás dela. Morria de medo de depender de mim para sair do hospício novamente.

- Então imagino que ele não quisesse matá-las.

- Matá-las ele queria. Mas quem mandou fazer todo aquele esquema de avião desenhando o símbolo no céu fui eu. Ele ficou receoso, mas como tende a ser teatral, aceitou.

- E por que arriscou tanto?

O lugar começara a esquentar, porém nenhum dos dois percebeu.

- Porque eu queria que você o pegasse. Ele estava fugindo do meu controle, executando pessoas sem minha ordem, se sentindo poderoso. Eu percebi que ele é muito mais inteligente do que esperava. O tempo todo me controlou, sempre atuando, sendo quem não é.

- Um mentalista.

- Sim… Então eu o convenci com esse plano todo. Te levar pra Nevada, seqüestrar Lisbon. Dar brechas a erros. Mas ele estava sempre a frente, e nunca caía nos pequenos erros. Como segunda opção, disse que enquanto o guarda estuprava Lisbon, lhe daria uma pista falsa. Seria o fim disso, você fracassaria ou prenderia o cara errado. Era o combinado. Mas eu hipnotizei o guarda pra dar uma pista verdadeira.

- Quando ele estuprava Lisbon…

- Ele não estava presente. Já tinha partido para o lugar onde tem morado.

- Aqui.

O calor começava a ficar insuportável. Muller e Jane suavam.

- Sim. Ou pelo menos era o trato. Mas ele parecia poder ler minha mente. De alguma forma, soube o que eu faria. E então tudo passou a ser uma vingança dupla. Atrás de você e atrás de mim. Te perseguiu para saber o que eu tinha planejado. E descobriu. Me seqüestrou e me trouxe pra cá, onde sabia que você viria.

- E agora somos dois ratos numa ratoeira.

Uma voz mais pesada, irreconhecível, pois era forçada para ser modificada, invadiu o lugar.

- Precisamente, senhor Jane.

O homem, de aproximadamente 1,80 cm entrou na sala por outra porta, atrás de Muller. Na mão, um simples isqueiro e um canivete. Usava um capuz com o desenho em vermelho na frente. Um casaco preto molhado, apesar de não estar chovendo. Um odor acre o acompanhava.

- Afaste-se, senhor Jane. – mandou o homem, aproximando-se de Muller.

Patrick deu alguns passos pra trás, tendo certeza de onde era a saída.

- Eu gosto de dar escolhas às pessoas. – ele disse. – Com você não será diferente. Nem tampouco foi com minha querida Muller. Ela escolheu me trair. Toda escolha tem uma conseqüência.

Jane fechos os punhos. Era ele. O homem que caçava. Sim, daria sua vida para matá-lo. Agora, nesse mesmo instante, não importava que aquele canivete fosse parar em seu rim, nem que seu corpo se consumisse em chamas com a gasolina que lhe foi derramada e o isqueiro na mão dele.

Jane estava preparado para retirar a arma de seu rim e fincá-la nele. Estava preparado para, se em chamas, abraçá-lo com toda sua força, para que seu corpo queimasse junto.

Então, após pensar no que fazer, deu dois passos rápidos para frente, mas se deteve. “Red John” foi mais rápido e colocou o canivete no pescoço de Muller.

- Eu não vou te queimar, Jane. – ele afirmou, jogando o isqueiro para longe – Já usei isso aqui. Desculpe se te assustei. De fato, se quiser fugir por essa porta logo atrás de você, pode fazer quando quiser. Se sair por ela, eu nem mesmo matarei Muller.

Não havia mentira naquelas palavras.

- Entretanto… - ele continuou – Se abrir a porta, verá que eu coloquei fogo nesse lugar. Ouso dizer que, em breve, as chamas chegarão nessa sala, e queimarão aquele que está mais perto da porta, e com combustível por todo o corpo. Enquanto eu ficarei intacto por tempo suficiente para fugir por essa outra porta, logo atrás de mim, que dá direto para o parque. Mas é claro que você tem outra escolha, além de morrer queimado. Passe por mim. Eu não lhe atacarei. Não moverei um dedo na sua direção. Fuja pela porta segura. Assim que fizer isso eu matarei Muller.

- E em qual alternativa eu te mato?

Jane pode imaginar o sorriso se formando nos lábios do assassino.

- Imagine que eu tenha que sair pela mesma porta que você.

Muller encarou Jane profundamente. Havia um pedido de misericórdia em seus olhos. Havia uma súplica.

Em compensação, nos olhos de Jane havia um pedido de desculpas.

- Você matou muita gente, Muller. – ele disse, encarando-a – Você criou esse monstro.

- Eu não matei sua família! – gritou ela, pondo-se a chorar desesperadamente – Eu tentei te ajudar, eu tentei te entregar Red John!

- Você é Red John!

- É ele quem você quer, Jane, por favor! Eu posso te ajudar a capturá-lo se nós dois sairmos vivos!

- Você passou anos ao lado dele e foi incapaz de derrotá-lo. E não há a hipótese de nós dois sairmos vivos. – Jane baixou a cabeça. O calor agora começava a afetá-lo. Em pouco tempo aquela sala também pegaria fogo – Eu tenho que escolher viver. Eu tenho que pegá-lo quando sair.

Jane estava cansado. Estava ansioso por descansar de todos esses anos de perseguição, sofrimento e vingança. Queria poder dormir, deitar a cabeça no travesseiro e não pensar nas pistas deixadas por Red John. Queria poder ficar com Lisbon. Queria que tudo isso não custasse a morte de Muller, mas custava.

- Vamos, Jane, é apenas o destino.

É apenas o destino?

Um fino sorriso se formou nos lábios de Jane.

Não dessa vez, ele pensou, tão logo sacou a arma que pegou da casa de Lisbon e atirou.


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Notas finais do capítulo

- Onde você está, Jane? O que está acontecendo?
— Eu disse que te ligaria se soubesse que vou morrer.
Houve um curto silêncio por parte dela, até que processasse tais palavras.
— Jane, você não precisa arriscar sua vida por Red John, você tem que escolher viver, por favor.
—Não, Lisbon, você não entendeu. Eu vou morrer.Não há nada que se possa fazer pra evitar.
[...]
— Jane, diga onde você está, eu vou…
— Não… fique aí. Não me abandone. Se você desligar vou acabar morrendo sozinho. Eu levei um tiro, então não deve demorar. Você pode me perdoar?



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