Red Johns Case escrita por SorahKetsu


Capítulo 5
Keep your friends close




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Jane abriu os olhos, só pra senti-los doer e fechar em seguida. Gemeu e esfregou as mãos no rosto. Isso pareceu ter chamado a atenção de Van Pelt, que estava sentada lendo uma revista na cadeira ao lado.

- Jane… que bom que acordou.

Ele não disse nada, pois sua cabeça estava confusa demais. Não fazia idéia de onde estava e sua visão não se acostumava com a claridade. Só depois de um tempo lacrimejando foi que conseguir olhar ao redor e se dar conta de que estava num hospital.

O tempo, quando se acorda num hospital, é algo meramente relativo.

Por exemplo, Jane, até segundos atrás, podia jurar estar completamente ensangüentado abraçando Lisbon.

Mas agora o que restava de sua sanidade mental lhe dizia que podia estar deitado, inconsciente e vulnerável há bastante tempo. E nem sabia por que. O que tinha acontecido nesse meio tempo? Tantas coisas aconteceram em tão poucos dias que ele sentiu um medo horrível em pensar que alto mais podia acontecido e ele não estar lá pra ajudar.

- Lisbon… onde está Lisbon?

- Ela vai ficar bem. Fisicamente já está quase recuperada.

Fisicamente… claro. Psicologicamente, Lisbon provavelmente estava destruída.

- O que aconteceu? Por que estou aqui?

Van Pelt parou ao lado dele e pensou na melhor forma de dizer.

- Bem…Lisbon estava hipnotizada pra te dar um choque elétrico. É o que nós desconfiamos, pois quando entramos na sala, ela estava te fazendo massagem cardíaca desesperadamente, dizendo que tinha te matado e chorando. Ela também disse que não se lembrava de nada do que lhe aconteceu, mas obviamente ficou sabendo depois de fazer exames. Nós encontramos também o corpo de um policial completamente destruído no banheiro.

- Fui eu. – ele disse, lembrando-se do episódio – Ele estuprou Lisbon.

- Sim, exames já confirmaram isso… E bem… suas impressões digitais estavam na barra de ferro usada para matá-lo, além de te encontrarmos coberto com o sangue dele. Cho tentou achar meios de provar que você não tinha feito…

- Mas eu fiz. Não me orgulho, mas sei que teria feito de novo.

- Não se preocupe, nós já estamos correndo atrás de te livrar disso. As provas contra ele são muito claras.

Jane, na verdade, não estava muito preocupado com isso. A culpa que sentia estava o destruindo por dentro. Doía, corroia como ácido. Sentia que havia um milhão de lágrimas estavam prestes a brotar de seus olhos. Aliás, seus olhos já não eram os mesmos. Mais caídos, mais tristes, sem aquele jeito alegre que sempre tinha. Isso tudo porque, enquanto ele achava que estava fazendo tudo certo, descobriu que estava exatamente no caminho contrário. Descobriu que cometia os mesmos erros que destruíra sua vida uma vez.

É o destino? Quando todas as escolhas são erradas, é simplesmente o destino?

Jane não estava em condições de responder. Ao invés disso, desviou o olhar, virando a cabeça para a direita. Van Pelt percebeu que ele estava realmente muito abalado e saiu, sem dizer mais nada.

Sozinho no quarto, percebeu o quanto o medidor de batimentos o incomodava com seus bipes constantes. Virou-se para dar um jeito de desligá-lo, quando notou um papel sob seu braço.

Puxou-o. Sentiu como se seus pesadelos tivessem voltado. Era o mesmo tipo de papel, com o mesmo desenho como assinatura.

“Mantenha seus amigos perto, mas seus inimigos mais perto ainda. Você sabe fazer isso como ninguém, Patrick Jane.

Você tornou tudo mais divertido no momento em que começou a me caçar. Você é minha principal diversão. Você é o que me motiva, dia a pós dia, a continuar arrumando esposas. Espero que um dia você me encontre e possa cumprir o que prometeu. Mate-me e me assista morrer. Como eu fiz com sua esposa e filhas. Como fez com o homem inocente que eu hipnotizei. Eu estou dentro da sua cabeça. E você jamais irá me esquecer. Não será capaz de dizer não quando eu te der uma chance de me pegar. Mesmo que alguém sofra por isso. Mas é apenas o destino, não? Tenho outra mensagem, Jane. Estou marcando um encontro pessoal. Só eu e você. Mas essa mensagem está escondida nos piores pesadelos de Lisbon. Dessa vez eu estarei lá, vulnerável, frente a frente, olho no olho. Eu já menti, Patrick? Te vejo lá.”

 

Jane não sabia sequer o que pensar. Mas não. Não iria mais fazer ninguém sofrer. Mas se vingaria, isso com certeza.

 

Alguns minutos depois, a mente de Patrick sofreu um clarão, e o medidor de batimentos cardíacos apitou freneticamente. Não, Jane não sofria de um ataque. Era Lisbon na janela, observando-o com roupa de hospital. Ela estava com as duas mãos no vidro, os olhos cheios de lágrimas, vermelhos. Uma linha entre os olhos, na testa, resultado de sua expressão triste.

Tal visão fez Jane se sentir ainda pior. Pior culpa, pior arrependimento.

Ele escondeu o papel sob os lençóis. Achou melhor não mostrá-lo.

A morena entrou puxou a cadeira onde Van Pelt estava e a colocou ao lado da cama. Sentou-se e ficou olhando pra frente, apoiando o cotovelo nas pernas. Seus pulsos ainda estavam vermelhos.

Nenhum dos dois sabia por onde começar. Ficaram alguns minutos simplesmente sem dizer nada, quando os dois disseram, ao mesmo tempo:

- Me desculpe…

Então ambos se calaram novamente, provavelmente achando que o outro ia começar a falar. Mas nenhum o fez.

Lisbon levantou-se e o olhou nos olhos. Jane se desviou daquele olhar. Não era capaz de encará-la.

- Jane, me desculpe…

Só então ele virou-se para ela, chocado por tais palavras.

- Lisbon… pelo que está se desculpando?

- É por minha culpa que você está aí agora. – ela explicou, sem jeito, e olhando para os lençóis.

- Lisbon, você estava hipnotizada. – ele disse, muito sério, quase numa bronca – Portanto não peça desculpas por isso, ouviu bem? – após uma pausa, ele continuou – Fui eu quem fez tudo errado. Eu prometi que ia te proteger e te coloquei nisso tudo…

- Você me salvou.

- Não, eu não te salvei. Red John não ia matá-la. O que ele ameaçou, ele cumpriu e eu não fui capaz de impedir.

- Mas você estava lá.

- Não diminui o que te aconteceu.

- Jane, eu… eu não me lembro de nada… se não me contassem, eu sequer saberia…

- Lisbon, você não precisa tentar diminuir minha culpa.

Ela ficou quieta. Jane também. Ele ficou pensativo por um tempo. Algo fez com que ele voltasse alguns dias atrás e revisasse tudo que havia acontecido. Não sem dor, claro. Então, o que, no início, era algo que ele conseguia afastar dos pensamentos por ser insano demais, agora, por algum motivo, lhe parecia perfeitamente plausível. Seus lábios tremeram com tal constatação, seus olhos se encheram de lágrimas e ele fez esforço para não derramá-las. Lisbon se assustou com isso e notou um leve aumento no medidor de batimentos cardíacos.

- Jane? Tudo bem?

- Ele está na minha cabeça, Lisbon! – ele murmurou, entre o choro contido – Ele está bem aqui! – e bateu na testa com o dedo indicador – Ele sabe tudo sobre mim, sabe o que eu planejo antes mesmo de acontecer. Ele está na minha cabeça! Red John!

- Que quer dizer, Jane?

- Ele sabia que eu estava pensando em seguir em frente, ele sabia que eu estava me permitindo deixar tudo de lado. Ele me desafiou. Foi como se dissesse “não, você não é capaz de desistir de me pegar”. E eu não fui. Eu abandonei a tudo e a todos pra ir atrás dele.

- Pensando em seguir em frente?

Jane se calou. Não sabia mais o que dizer, não sabia mais como dizer.

- Lisbon, eu só quero que você saiba que essa foi a última vez que isso aconteceu. Eu ainda vou atrás de Red John, mas não se isso custar te deixar desprotegida. – ele olhou profundamente naqueles olhos verdes, e os observou ter a pupila dilatada – Eu sinto muito pelo que te fiz, Lisbon…

- Jane… talvez… talvez eu tenha visto Red John. Afinal ele me seqüestrou, não?

Patrick olhou em seus olhos com aquela expressão pasma em pensar naquela possibilidade. Lisbon percebeu que tinha chamado sua atenção de verdade. Ela engoliu em seco, temendo desapontá-lo.

- Quem sabe se você… - ela não o encarava mais – quem sabe se me hipnotizar e me fizer lembrar do que aconteceu…

Jane então se lembrou das palavras da carta. Uma mensagem nos pesadelos de Lisbon.

Era praticamente uma mensagem codificada. Uma carta que só Jane era capaz de abrir. Estava na cabeça de Lisbon e nem ela sabia disso. A chance de capturá-lo. E tudo que era necessário fazer… era hipnotizar Lisbon para fazê-la se lembrar da mensagem.

E ao mesmo tempo, fazê-la rever todos os traumas dos quais ela sequer se lembra.

Na verdade, Lisbon não tinha trauma algum, pois estava hipnotizada durante o estupro.

Portanto, para ela, nada havia acontecido.

Se Jane hipnotizasse ela para que rever o passado, seria como se ele libertasse esse trauma, como se ele permitisse que aquilo acontecesse de novo, e dessa vez, a afetasse para sempre.

Mas pegaria Red John. Vingar-se-ia do que ele fez à sua esposa e sua filha, e também a Lisbon.

- Tudo bem. Faremos isso. – ele disse, com seus olhos tranqüilos, como se a tranqüilizasse. – Assim que eu sair daqui.

- Eu vou ficar afastada por dois meses. Eles me mandaram escolher entre dois meses em casa ou no psicólogo do CBI. E como da última vez o psicólogo não acabou muito bem…

- Não quero nem ver como você estará depois desses dois meses.

- Como assim? – ela se assustou com a mudança repentina do tom da conversa, que havia passado de triste para uma provável piada por parte de Patrick.

- Você, dois meses longe do trabalho? Já pensou em algo pra fazer durante todo esse tempo?

- Eu tenho uma vida social, ok? – ela disse, pausadamente, bronqueando-o.

- Você implorou pra diminuírem seu afastamento.

- Era de seis meses… - ela admitiu. – O que eu ia fazer em seis meses? Quer dizer, quem consegue arranjar o que fazer por tanto tempo?

Patrick sorriu. Agora, naquele exato instante, estava tudo bem. Como uma calmaria, como uma paz interna que há muito ele não provara. Ainda havia culpa, ainda havia dor, mas agora, ao lado dela, tudo parecia pequeno, e a mais importante das coisas agora parecia ser fazê-la sorrir, fazê-la rir, ou mesmo ver suas pupilas dilatarem quando ele sorria.

- Posso ir te visitar, se quiser. Talvez minha presença te traga um pouco do ambiente de trabalho.

- É, seria ótimo que você me irritasse também em casa, assim eu lembraria do quão estressante é trabalhar com você e me sentiria grata pelo afastamento.

- Seria um prazer lhe ajudar. – ele sorriu, ironicamente.

Do lado de fora, do vidro, Rigsby e Van Pelt assistiam a conversa dos dois, sem ouvir uma palavra, mas impressionados pelo sorriso que brotara nos lábios de ambos. Ele fazia bem a ela, e ela fazia bem a ele. A simples presença um do outro valia mais do que qualquer coisa.

Patrick ainda não notara nada, e Lisbon não entendia ou reparava o suficiente nessas coisas para notar que as pupilas dos olhos azuis de Jane também dilataram.

- Eles vão te dar auta amanhã. – Lisbon avisou. – E pra mim ainda hoje. Você pode… passar em casa quando se sentir bem o suficiente. Pra me hipnotizar.

- Só se você fizer um jantar pra mim.

- Ah, não enche.


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Notas finais do capítulo

Prévia do cap. 6:
 
— Quem você vê?
— Um homem… alto… um metro e oitenta, talvez. Ele usa um capuz preto… com um desenho.
— Um desenho?
— Um rosto. – sua voz tremeu – A assinatura de Red John.