Red Johns Case escrita por SorahKetsu


Capítulo 12
I'm not a hero


Notas iniciais do capítulo

Capítulo final



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Quando você acorda, o mundo é apenas um borrão. O que antes era perfeitamente aceitável num sonho, perde totalmente o sentido quando voltamos à realidade.

Jane sonhava que estava com sua mulher e filha. Ela tocava seu ombro e dizia que estava feliz. Ele chorava, mas de alguma forma sentia que estava tudo bem. Não fazia muito sentido, mas ele sentiu um calor aconchegante quando a filha o abraçou. Elas o agradeciam e Jane não sabia pelo quê, mas não lhe ocorreu perguntar. A mulher segurou sua mão esquerda e a colocou ao lado do próprio rosto. Sua pele era tão macia quanto se lembrava. Então ela tirou a aliança do dedo anelar. Acariciou o rosto de Jane e, aos poucos, tanto ela quanto a criança começaram a desaparecer bem em sua frente. Ele pensou que devia ficar triste, mas sentia-se pleno demais para isso.

Então sua mão ficou quente. E essa foi a primeira coisa sem sentido que ele percebeu não ter sentido. Era uma sensação boa. Jane fechou os olhos e então o mundo virou um borrão.

Piscou os olhos e percebeu que estava com muito sono. Percebeu que seu corpo não era feito de luz como há segundos atrás. Sentiu-se idiota por não ter estranhado o fato de não ter peso. E não estava de pé. Estava deitado, e seu abdômen doía conforme respirava. Só uma coisa não tinha mudado: Sentia a mão quente e confortável.

Olhou para lado e viu que Lisbon a segurava, procurando seu olhar.

- Por favor, não diga que estamos ambos mortos. – ele murmurou olhando nos olhos verdes dela.

Ela sorriu, com os olhos cheios de alívio.

- Sim, estamos ambos mortos, e agora vou ter que te aturar pela eternidade.

- Não brinque assim, Lisbon.

- Seria assim tão ruim passar a eternidade comigo?

- Não é isso. É que se nós estivéssemos mortos agora significaria que eu estava errado sobre vida após a morte.

Ela ficou entre o sorriso e a surpresa.

- Está simplesmente preocupado em estar certo?

- Claro. Se tem mesmo vida após a morte, Van Pelt ia jogar na minha cara quando nos encontrássemos do outro lado.

Ela sorriu.

- Não se preocupe. Você iria pro inferno.

- É, se dependesse de quantas vezes você já me mandou pra lá, não passaria nem pelo julgamento.

Ele demonstrou que ia se sentar na cama. Fez algum esforço e gemeu de dor.

- Não tente se mexer muito. – advertiu Lisbon, e continuou após ver que ele conseguira se sentar: Pra alguém que odeia tanto hospitais, você tem vindo a um com grande freqüência, não?

- Me sinto até envergonhado. Todo aquele teatro e acabei nem morrendo.

- Não é bom se sentir vivo novamente?

Jane manteve a mesma expressão de jovialidade enquanto, em sua cabeça, pensava naquela frase. Sentir-se vivo era algo que não conseguia há muito tempo. Mas de alguma forma, naquele momento, sentia como se tivesse acabado de nascer.

- É ótimo. – ele respondeu, e então pareceu olhar para ela mais profundamente – Você está mais feliz que o normal, o que houve?

- Estou feliz que você esteja vivo, oras.

- Não, mais que isso. O que houve com Red John?

Ela quase riu e baixou a cabeça, admitindo que ele havia lido seus pensamentos novamente.

- Red John foi capturado. – contou, observando a expressão dele.

Jane sentiu algo aquecer seu peito. Era uma sensação indescritível, um misto de alegria, alívio, um peso que saía de suas costas. Ele mal podia acreditar, mal podia se conter.

- Isso é verdade? É verdade mesmo, Lisbon?

- Sim, Jane. Ele se escondeu nos bueiros, eu fui atrás dele.

Os olhos de Jane encheram-se de lágrimas e a tentativa frustrada dele de não demonstrar sua emoção comoveu Lisbon, mas ela continuou narrando.

- Então… - ela continuou – depois que ele descobriu que você tinha morrido, se rendeu. Só depois, quando fiquei sabendo que você estava vivo, é que ele tentou resistir. Mas estava fraco, não conseguiu muita coisa. Já tinha perdido muito sangue.

- Red John morreu? – perguntou Jane, esperançoso.

- Não. Nós o mandamos para o hospital, ele se recuperou e foi liberado ontem. Será julgado em regime fechado. Com certeza seu advogado vai alegar insanidade, para que ele vá para um hospício e seja solto dois anos depois, mas a fita da conversa dele com você no trem fantasma pode provar que considerá-lo doente seria um erro. Se condenado pode pegar até quarenta anos.

- E quem era ele? Onde ele está?

Lisbon perdeu um pouco da expressão alegre.

- Red John era um dos agentes juniores do departamento. Alfred Wooden era o suposto nome. Jane, por favor, deixe a lei cuidar disso. Ele será julgado e condenado, não tente fazer justiça com as próprias mãos.

- Não se preocupe. Não tentarei. Eu posso assistir ao julgamento?

- Você será testemunha, se não me engano.

- Ótimo… eu gostaria de olhar na cara dele.

- Isso vai ser meio complicado. Red John decidiu colar aquele capuz no próprio rosto. Não dá pra tirar sem desfigurá-lo.

Jane assumiu expressão de nojo. Pra ele fez sentindo instantaneamente. Red John queria ser uma lenda sem rosto.

- E Minelli já te transferiu de volta pra Califórnia. – continuou Lisbon.

Jane estranhou.

- Mas eu não vou voltar pra CBI. – disse, como se fosse óbvio.

- Por que não? – ela pareceu ligeiramente desapontada, mas tentou não demonstrar.

- Por que agora que Red John foi capturado, não tenho mais por que ajudar a policia.

- Está saindo da CBI?

- Claro.

- Como assim, claro? Não há nada que te faça ficar? Você disse que não estava preparado pra colocar nada acima da sua vingança, e sua vingança já foi feita.

- Lisbon, se eu continuar na CBI, ficar com você seria proibido, e eu não quero ter que esconder isso como Van Pelt e Rigsby.

Ela sorriu, e seus olhos se tomaram de lágrimas, mas ela foi capaz de evitar que elas rolassem.

- Está tudo bem agora. – ele murmurou – O inferno acabou. – Em seguida Jane olhou para a própria aliança, lembrando do sonho. Retirou-a e colocou sobre a mesa ao lado da cama – Depois me lembre de ir jogar isso no mar.

- Vai se acostumar a ficar sem ela?

- Logo vai ter outra no lugar.

 

***

 

Chegara o dia do julgamento, um mês depois que tudo havia se acabado. Havia grande movimentação na frente do tribunal. A imprensa tomara conta do lugar e batia fotos da policial heroína que capturara um dos mais terríveis criminosos da história da Califórnia. Lisbon não se sentia bem com tudo isso, estava apreensiva e não conseguira falar com Jane até então.

O ex-consultor ainda passou quatro dias no hospital para mais exames. Estava fraco devido à transfusão de grandes quantidades de sangue. O resto dos dias ele usara para reorganizar sua vida, de forma que vendera a antiga casa, cheia de lembranças ruins, e agora vivia numa muito mais arejada e alegre.

O serviço não diminuiu para Lisbon, que já havia posto na cadeia outros quatro criminosos durante o mês, apesar da explosão do antigo prédio da CBI. Os dois pouco se falaram, mas o pouco foi suficiente para ficar muito claro que agora, de uma vez por todas, havia uma relação entre eles. O julgamento e condenação de Red John seria um divisor de águas. A partir daí, Jane estava planejando propor que ela fosse morar com ele.

Não havia mais o trabalho na frente dela, pois Jane já não pertencia ao CBI.

E não havia vingança alguma na frente dele.

Tudo era alívio, então por que Lisbon se sentia tão preocupada e receosa horas antes do julgamento?

Ela viria a ter a resposta em pouco tempo.

Um repórter entrevistava-a sobre o grande feito, perguntava sobre a colaboração de Patrick Jane no caso e sobre quando ele chegaria. Foi quando percebeu que lhe chamavam no comunicador. Aliás, não chamavam só a ela, mas a todos os carros de policia da região.

“O carro que transportava Red John foi seqüestrado e desapareceu. Repito, o carro que transportava Red John foi seqüestrado e desapareceu”.

Em questão de minutos depois, quando a confusão ainda era geral (também por medo por parte de todos) e as primeiras ordens de busca começavam a ser dadas, Patrick chegou. Quando desceu do carro, ainda sem perceber a confusão, parecia tranqüilo. Mas ao ver a correria percebeu que algo de muito errado havia acontecido.

Ele procurou por Lisbon e correu até ela imediatamente, extremamente assustado e preocupado.

- Lisbon… por favor, não me diga que…

- Red John escapou, Jane… me desculpe. Nós já estamos buscando por ele.

Jane girou nos próprios calcanhares, com as mãos na cabeça, chocado e arrasado. Lisbon temeu por ele. Segurou-o pela mão para que não cometesse nenhuma loucura.

- Jane, não vá atrás dele, a policia cuidará disso.

- A policia estava encarregada de trazê-lo até aqui! – bradou Jane.

- Por favor, Jane. Não vá.

Ele respirou fundo, pensou, tomou expressão de tristeza e a abraçou.

- Eu não vou.

- Prometa.

- Eu prometo, Lisbon. Eu nunca mais vou atrás de Red John.

- Mesmo que ele te dê pistas. Mesmo que ele te provoque. Mesmo que prometa te dar a chance de encontrá-lo.

- Eu prometo, Lisbon. – ele olhou nos olhos dela – Não quero esse peso de volta nos meus ombros. Vou fingir que nada aconteceu. Você é minha prioridade absoluta agora.

Ela sorriu e o beijou. Um beijo tão sem preocupação com o mundo ao redor certamente indicava que Lisbon já não dava a mínima para qualquer outra coisa. Estava disposta a aceitar o consultor para sempre em sua vida, sem mais barreiras. Ele também era sua prioridade agora.

Ele também sorriu em resposta. Acarinhou o rosto dela. Os dois pareciam estar num mundo aparte, longe de toda balburdia ao redor.

- Quero que comece a se ajeitar para ir morar comigo. Você passa muito tempo no CBI, quero estar ao seu lado o máximo que puder.

Os lábios de Lisbon tremeram. Ela não estava preparada para esse tipo de proposta, mas um lado até então adormecido dela lhe disse “por que não?”. Poderia ser realmente muito bom acordar e ir dormir com Patrick Jane ao lado.

- Não se preocupe. – ele acrescentou. – Eu vou respeitar e aguardar até que você se veja livre do seu trauma.

Ela não conseguiu responder nada. As palavras se embolaram em sua boca. Então ela simplesmente fez que sim com a cabeça.

- Agora acho que tem trabalho a fazer. – ele afirmou – Vou voltar pra casa. Apreciaria se passasse lá depois. E… por favor, não se arrisque muito. – um beijo longo e apaixonado – Até mais, Lisbon.

Jane deixou o lugar. Deixou toda aquela confusão. Ele pensou em Red John quando estava sozinho no carro e com um pouco mais de silêncio.

E sorriu.

Cerca de trinta minutos depois, parou em frente a nova casa. Desceu do carro, alongou os braços e respirou o aroma de grama recém cortada. Olhou ao redor, colocou as mãos na cintura. Parecia muito feliz e satisfeito.

A vizinha lhe deu um oi alegre, e ele retribuiu.

A vida parecia muito boa, como um sonho americano.

Jane deu a volta na casa até chegar num depósito subterrâneo. Um porão por assim dizer.

Abriu a portinhola e entrou. Tomou o cuidado de fechá-las de volta, além de puxar uma segunda porta de vidro extremamente grosso, que vedou completamente o lugar. Em seguida, desceu as escadas.

Estava tudo absolutamente escuro. Ele procurou pelo interruptor e acendeu a luz, para olhar diretamente para Red John, amarrado numa cadeira no centro do lugar.

- Eu sabia que não seria capaz de desistir de mim, Jane. – ele disse.

- Tem razão. Uma pena pra você, eu deveria dizer. Mas eu não ia suportar não ver seu rosto.

- Não tem como tirar esse capuz. – riu Red John.

- Nah… - ele negou, jovialmente – Não tem como tirar sem te desfigurar. Mas pra tirar dá. Acha que eu ia me arriscar hipnotizando o guarda que te levaria ao julgamento se estivesse preocupado em não te machucar tirando o capuz?

- Você é mesmo um bastardo. É tão ruim quanto eu.

- Pode ser. Mas eu nunca pedi pra que nada disso acontecesse, eu nunca fui atrás de tragédia. Não há nenhuma honra em te matar a sangue frio no meu porão, mas eu nunca fui um herói, entende? A heroína é Lisbon, que te prendeu corajosamente. Sinto apenas de ter tirado essa glória dela.

- Você não vai ter coragem.

- Eu vou. Eu vou te cortar em trinta e cinco pedaços. – Jane se aproximou e segurou a ponta do capuz – Um por dia. – E puxou-o com força o suficiente para arrancá-lo da cara de Red John.


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Notas finais do capítulo

Algumas frases foram tiradas de Max Payne, como "quando você acorda de um sonho, o mundo é apenas um borrão"
O nome de Red John, Alfred Wooden é o nome de um personagem de max Payne.
Quem já jogou esse jogo indentificará outras pequenas citações.

É isso, pessoal, sem mais capítulos, é o fim.
Espero que tenham gostado, eu realmente gostei de escrever. Leiam a continuação opcional "Life after Red" =)