“- Isso é maldade, sabia? - falei, apertando sua mão com força.

- Ai! - gritou, rindo - Espera um pouco, já estamos chegando... isso é que é maldade...

Eu estava me segurando para não desamarrar a venda e estragar a surpresa. Uma das coisas que eu sempre odiara é surpresas. São tão desgastantes e perca de tempo... principalmente se for uma coisa grande.

De qualquer forma, Aleec me fez acordar cedinho para "receber" está surpresa; tem coisa pior?

Continuei sendo guiada por seus braços até que ele me segurou, praticamente me puxando para que eu parasse de andar.

- O que tem aqui, em? Me deixa ver, sabe como eu simplesmente odeio essa coisa de surpresa Aleec... - mordi o lábio, tentando não transparecer minha ansiedade.

- Então lá vai... - pude imaginá-lo num sorriso radiante apenas ouvindo sua voz.

Ele fez uma tentativa falha de desamarrar a venda então eu apenas a arranquei, impaciente.”

Lágrimas caíram amargamente dos meus olhos. Quem esperava uma final tão cruel para uma pessoa como ele? Tão doce, contagiante, andava sempre com um sorriso no rosto. E simplesmente por causa de uma irresponsabilidade, um absurdo, acabou tudo? Quantas coisas maravilhosas Aleec teria feito? Quantas mais pessoas ele conquistaria? E agora não vai mais.

Eu sentia ódio. Muito ódio. Uma vida inteira pela frente e como o tilintar dos sinos, perdeu-se no mar do esquecimento.

Preferia pensar que depois de tudo, ele iria para um lugar melhor. Melhor que o mundo, melhor que as pessoas, as coisas abstratas e concretas. Os sentimentos, os objetos, as preocupações.

Como a velocidade da luz. Tão rápido que ciência nenhuma poderia explicar.

“- Como você acha que vai morrer? - perguntou, olhando vagarosamente nos meus olhos - As vezes penso nisso, mas não tenho a mínima ideia.

Suspirei, incrédula. Como ele podia sequer pensar numa coisa dessas?

- Ficou maluco, Alee? Isso não é coisa que se deve pensar... deixa quieto e esquece o assunto...

Ele revirou os olhos, debochando da "bronca" que levou.

- Amy, uma hora vai acontecer... tem que aceitar que as coisas funcionam assim - disse, sentando-se.

A noite estava bela, então aproveitamos para deitar na grama molhada e observar as estrelas.

- Bobagem... - falei, simplesmente, não querendo estragar o momento.”

Ali, em volta de um caixão de madeira preta e flores brancas, lá estava eu. Usando um casual vestido preto, enterrando a pessoa mais próxima que eu tinha. Aleec, o irmão que tanto amei, e amei, e amei. Afinal, tinha mais alguém para amar? Todos se foram, deixando-me sozinha no mundo a fora. E quem iria me apoiar nos relacionamentos fracassados? E quem iria aguentar horas de compras no shopping?

Quem iria ouvir minhas idiotices de mulher se não há mais ninguém?!

A última frase que eu o ouvi dizer, foi numa padaria de esquina. Eu estava saindo, mas mesmo assim escutei ele cochichar com o garçom.

“- Bom, ér... eu já vou indo, Alee, mas nós nos vemos mais tarde, tudo bem? - perguntei, dando um meio sorriso.

- Ah, sim, claro, divirta-se com seus amigos, nos veremos mais tarde mesmo.

Caminhei até a porta da entrada e o ouvi dizer "um café, por favor" antes de colocar meus pés para fora e sentir o ar puro.”

Eu só não imaginava que nunca mais o veria depois disso.