Sakura mexia-se de um lado pro outro, enquanto ouvia Slo-Mo-Tion, do Marilyn Manson. O papel parecia cortar seu coração feito navalha.

Ela pensou no que deveria fazer, e, decidida, pegou suas chaves e saiu de casa, pegando seu Volvo preto na garagem. Ela encaixou a chave na ignição, com suas mãos tremendo, seu coração batendo forte e rápido e sua mente com um turbilhão de coisas, mas uma coisa era certa:

Ela o amava mais que tudo na vida.

Sakura saiu da garagem, e, com rapidez, dirigiu. Neste momento, algumas imagens de sua vida passaram em câmera lenta pela sua mente confusa.

Primeiro, aquele dia fútil, odíavel e horrivel. Numa escola nova. Sakura caminhava pelos corredores e as pessoas a encaravam; algumas com nojo, outras com curiosidade, outras não se sabia a expressão.

Durante tempos, ela fora apaixonada pelo Sasuke Uchicha, o capitão do time de futebol, mais popular e de uma beleza extravagante. Ele era completamente burro, e ela, completamente nerd.

Ele tinha os músculos, e preferia jogar futebol do que estudar pras provas. A sorte dele era que ele pegava todas na escola, e principalmente Hinata, a menina mais burra, idiota e patética - e metida, digamos - da sala em que estudavam. Ele também não precisava estudar - nem ela, pois era líder de torcida. E nem gostavam disso, só gostavam de coisas fúteis - , por culpa do seu bom desempenho em esportes.

Quando Sasuke a notava - raras vezes -, Sakura achava que era para perguntar algo de física ou matemática ou conversar com ela, mas era apenas para fazer piadas e enterrar a cabeça dela na privada do banheiro exclusivo do diretor Gaara.

Até que ela o viu. Um completo nerd como ela, que logo depois, estavam lá, louvindo um Red Hot Chili Peppers ou um Black Sabbath, conversando sobre diferentes assuntos ou comendo um hambúrger e tomando um suco de laranja ou Coca Cola.

Um dia, ele a convidou para fugir das aulas e se divertir, pelo menos um pouco. Jogar um Just Dance no shopping de Konoha, ou num evento de anime que iria ter àquele dia, ou tomarem um sorvete e depois verem o campo de sakuras do parque. Ela se lembrou de tudo. Desde eles terem dançado Let It Go - o que foi um completo mico, depois que viram as reações - , passando pelos cosplays de Kira, do Death Note, e Kitana, do Mortal Kombat, até chegar na flor vermelha como sangue, uma rosa, que ele a deu.
Lembrou-se do vento batendo nos cabelos de ambos, das piadas que faziam, e do seu primeiro - e único - pedido de namoro que recebeu. Ele foi seu primeiro, último e seu único amor em toda sua vida.

Lembrou-se do baile da escola. Música lenta tocava quando eles se beijaram e, pela primeira vez, disseram um "eu te amo", um ao outro, de verdade.

Sakura ainda estava dentro do carro, quando houve um engarrafamento, e as gotas de chuva caíam e batiam nas janelas.
A música que tocava na rádio era The Nobodies, também do Marilyn Manson, e as primeiras lágrimas saíam do seu rosto descontroladamente. Os cabelos rosa da moça agora estavam cobertos por um capuz preto.

"Today i'm dirty, i want to be pretty, tomorrow i know i1m just dirt [...]
We are the nobodies, wanna be somodies,
When we're dead, they know just who we are."

Ela se lembrou da sua primeira vez. Lembrou-se de como se entregou á ele naquela tarde chuvosa, dentro da casa dele - um dos dias em que os pais dele não estavam em casa - , e de como foi bom realizar com quem ama. Ela o ama mais do que tudo. Lembrou de cada toque, das roupas no chão, do cheiro dele, dos olhos, das bocas pedindo para que aquilo acontecesse, daquele momento, dos gemidos, de absolutamente tudo o que aconteceu naquela vez.

Sakura chorou após ver a carta, caindo da bolsa semi aberta, do bando de coisas ao lado do dela. Ela queria mais que tudo que ele estivesse ali para acalmá-la, a beijar... a amar.

"Yesterday i was dirty, wanted to be pretty, and know now that i'm forever dirt."

A outra memória foi o primeiro passeio, depois da sua primeira vez, - três dias depois, na verdade - onde os dois saíram para tomar sorvete. Das risadas das piadas que contavam um ao outro, dos beijos... só de lembrar, sentia seu cheiro. Ah, era o perfume dele, com certeza.

Sakura não parava de chorar, o carro andava mais rápido, e, á medida que lembrava daqueles momentos, o cheiro dele estava ali. O carro passou por uma sorveteria ao lado de um campo de sakuras. Era aquela mesma sorveteria. Ela queria se matar, desabar em lágrimas naquele momento e esquecer a vida.

Ela se lembrou do dia em que se formou na faculdade, junto dele. Eles estavam lá. Ele arrumou um emprego de professor de inglês - o que ele realmente amava fazer - e ela virou uma escritora de sucesso.

"Some children died the other day, we fed machines and then we prayed,
Pucked up down in a morbid faith, you should have seen the ratings that day."

Lembrou-se do dia em que descobriu que estava grávida e resolveu fazer uma visita á ele. Então, foi até o apartamento dele, mais feliz do que nunca, com o teste na bolsa e o maior sorriso do mundo no rosto. A cena é cortada, e aparece a cena de Sakura e ele em frente ao túmulo do senhor e da senhora Haruno, colocando uma sakura no túmulo.

"We are the nobodies, who wanna be somebodies,
When we're dead, they'll know just who we are."

Lembrou-se da pergunta que ele lhe fez: "como seria o nome de nossos filhos?" e ela lhe respondeu "Ayumi, caso menina, ou Akihiro, caso menino". Eles não podiam estar mais felizes, depois de ela estar enjoada e com sintomas de gravidez.

A cena do apartamento volta á tona. Ela o viu, com Hinata, e eles estavam em cima do sofá, seminus, se beijando ardentemente. Lembrou de como gritou com ele, e de como Hinata estava, e de como ele pediu desculpas.

"I'm the host with vaseline, i hide behind at the bulletprof glasses."

Agora ela estava cansada. Algumas rosas no túmulo de seus pais ainda estavam vermelhas, e ela se lembrou de como os pais dela o odiavam.
A cena do apartamento finalmente voltou, revelando Sasuke na porta, com cara de curioso, e Sakura beijando-o. Mesmo que não fosse ele, ela o imaginava ali. O beijo não parecia ter gosto de Sasuke, tinha gosto do beijo dele.

O cheiro, ah, o cheiro. Não era o cheiro de Sasuke, era o perfume dele.

Muitos anos se passaram, ele tentou se matar, mas sem sucesso.

Tentou seguir em frente, com Shinji, mas não deu certo também. Parecia que qualquer garota que ele tentava, sempre achava que não era a certa. Ela também. Ela tentou com Naruto, seu melhor amigo, mas o mesmo era gay - e tinha uma paixão secreta por Sasuke - , então, também não deu certo.

O carro estacionou, e de dentro dele, saiu uma Sakura nervosa, vestida com uma camiseta do System Of a Down, calça jeans. A velha Sakura - apesar de ainda gostar de rock, tinha de parecer certinha ao lado de seu marido, Sasuke - retornava.

Ele arregalou os olhos, ao contemplá-la. O que ela estava fazendo ali? Ele estava na mira de uma arma, segurada por Sasuke, que estava rindo da situação toda.

- MADARA! - berrou ela, entrando entre a bala e o corpo dele, antes de que Sasuke disparasse a arma. Havia muito sangue saindo de sua cabeça, e da de Madara também. A bala não só a atingiu, quanto também ele.

- Eu te amo, Madara... - falou com suas poucas forças. - Eu... te amo.

- Eu... te amo... - Madara tentou dizer, mas estava fraco. - Sakura...

Sasuke era um completo criminoso. Procurado mundialmente, até. E conseguiram prendê-lo, com muitos crimes cometidos, inclusive porte de drogas e armas ilegalmente, 3 homícidios culposos - Madara, Sakura e mais um. - e muitos outros.

*

- Srª. Haruno? - chamou o doutor.

- Sim. - falou a rosada, com uma faixa na cabeça. - Como... como ele está?

- Está de alta. - disse o médico, vestindo um jaleco branco e com um crachá de "Dr. Kazume Unihoki". O médico hesitou antes de dizer a situação de Madara.

- Como ele está? - insitiu Sakura. - Deixem... deixem-me vê-lo!

- Não, senhora. - disse o médico, parando-a. Ela levantou da cama, com suas poucas forças, correndo. Não ligava para a dor, só queria ver o seu amado. - SEGURANÇAS!

Sakura jogou todo o seu peso sobre o médico, a camiseta do System Of A Down manchada de sangue - e seus jeans azuis também -, pulou sobre os seguranças e conseguiu chegar á sala de Madara. Ela viu seu corpo, na maca, já sem vida. Os olhos fechados, o aparelho desligado, a pele pálida.

Ele estava morto.

- MADARA! - berrava ela, sendo afastada pelos seguranças. - MADARA! - tentava alcança-lo, mas nada. O doutor tentava acalmar a rosada.

Nas mãos dela, havia a carta.

*

- Doutor? - perguntou Naruto. - Como ela está?

- Ela... ela faleceu. - disse o doutor. - Ataque cardíaco.

- O que ela tinha nas mãos? - perguntou o loiro. - Parecia uma carta.

- Sim, e de acordo, de Madara para ela. - respondeu o homem de jaleco. - Aqui.

- Obrigado. - falou Naruto, abrindo a carta.

Minha amada Sakura,
Sinto aqui dentro uma enorme dor. Viver sem você é como... como não assistir um episódio de The Wolf Among Us, ou não ter nem ouvido falar de GTA. Enfim, não é uma das minhas melhores declarações, mas Sasuke veio aqui esta noite, e ele quer saber onde você estava, para poder cobrar uma dívida. Já sabendo disso, escrevi pra você, sabendo que ele vai terminar com a minha vida. Eu te amo e sempre vou te amar.

Me lembro de que seus pais me odiavam, por conta de eu não ser o que eles queriam. Vou encontrar com eles e ter uma conversa por aqui. Mas nós vamos vê-la daqui de cima, com toda certeza.

Espero que esta carta chegue á tempo, e que morra velhinha, feliz, numa cama confortável. Vai conhecer Marilyn Manson, vai ser uma escritora de sucesso - inclusive, eu li "As Cartas" e "A Livraria" e realmente, mesmo que ache meio gay, eu amei.

Eu te amo, sempre te amarei e vou sonhar com você no céu.
Eternamente seu,
Madara Uchiha.

"And when the daylight, i'll have to go, but tonight i'll hold you so close."