CIDADE DAS PEDRAS - Draco & Hermione escrita por AppleFran


Capítulo 5
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

Como eu havia prometido! Aí está o capítulo! E uauuu!!! Mais uma recomendação da Isis Gomes! Um super obrigada, Isis! Você sabe o quanto essa recomendação significa pra mim! :)



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4. Capítulo 4

Draco Malfoy



Soltou para fora de sua cabine e contemplou a fachada renascentista de sua linda e enorme casa. Pela primeira vez desde de que se mudara, ele a odiou. Odiou como ela brilhava aquela noite e como havia sido difícil passar o portão de sua propriedade com toda a mídia de Brampton Fort empilhada ali. Logo aquele lugar estaria abarrotado de gente insuportável e ele seria obrigado a ser o mais educado e cordial dos homens com cada um deles. E como se não bastasse todo o infortúnio, acompanhado de Hermione Granger.

Subiu as escadas, passou pela varanda, a porta o hall e finalmente chegou a sua enorme sala. Estava bem iluminada, muito bem decorada e todas as cortinas estavam abertas. Não parecia sua casa de forma alguma. Todos os lustres estavam acessos e ele parou para contemplar uma beleza que usualmente não via. Mesmo que fosse distante ele conseguia escutar todo o barulho abafado vindo da intensa movimentação na cozinha. Teve uma enorme preguiça da noite que estava por vir.

— Draco! – a voz de sua mãe veio eufórica das escadas. – Draco! Viu Hermione?

Ergueu as sobrancelhas surpreso ao escutar sua mãe usando o primeiro nome de sua noiva.

— Acabei de chegar. – informou assim que ela terminou de descer todos os degraus.

Sua mãe soltou o ar aborrecida e passou os dedos nervosamente pela testa.

— Nós chegamos no fim da manhã! Permiti que ela explorasse a casa e não a encontro em lugar algum. Draco! – ela exclamou num tom ofegante. – Acha que ela pode ter fugido? Ela já deveria estar se arrumando! Os convidados chegarão em pouco mais de uma hora...

— Mãe! – Draco a cortou. Segurou a mão de sua mãe e deu-lhe um beijo na testa. – Acalme-se. Ela não teria para onde ir se fugisse. Fugir não é uma opção nada inteligente para ela e pode ter certeza de que ela é inteligente o bastante para saber disso.

— Eu já estou a procurando há muito tempo. – ela assumiu um ar mais tranquilo.

— Talvez eu possa ter uma idéia de onde ela esteja. – abandonou sua mãe e subiu as escadas.

O segundo pavimento de sua residências era mais bem distribuído que o primeiro. Haviam muitas salas e muitos quartos, mas não interessava. O terceiro era onde certamente Hermione estaria. Um único pavimento inteiro destinado a sua biblioteca particular.

Todas as velas e lustres estavam apagados, mas havia janelas o suficiente para iluminar bem o local. Ele andou muito calmamente pelo piso de tábula corrida por entre as estantes mais reservadas e não demorou a encontrá-la. Ela estava sentada no vão da janela, descalça e sem se preocupar se o seu fino vestido sujaria, amassaria ou perderia alguma linha nos alisares das vidraças. Tinha um livro aberto nas mãos e usava a luz do lado de fora para sua leitura. Aquilo o fez se lembrar da Hermione Granger de Hogwarts, sentada no vão das janelas do castelo, em noites de ronda, perdida em sua leitura. Achava engraçado como certas coisas nunca mudavam. Naquela época ele nunca imaginaria a situação em que se encontravam agora.

— Notou que já é noite a um tempo considerável, Granger? – ele deixou sua voz cortar o vazio infinito do silêncio e isso a arrancou da leitura num susto bastante expressivo.

— Malfoy! – ela exclamou fechando o livro que tinha nas mãos.

— Fiz uma pergunta. – ele queria a resposta.

Ela olhou pela janela, olhou para a biblioteca e piscou perturbada.

— Não. – respondeu.

— Mentira. – ele retrucou.

Ela uniu as sobrancelhas ao receber aquela palavra dele.

— Eu realmente não...

— Não insista, Granger. – ele a cortou. – Por mais plausível que sua desculpa possa parecer, sei que notou bem quando escureceu. – ele a viu abrir a boca para retrucar, mas ela logo a fechou em desistência do que quer que fosse falar. Seus olhares cruzaram em silêncio até ele desviar os dele e caminhar para mais próximo encostando-se no pilar ao lado da janela onde ela estava. – Nenhuma maneira, por mais burra que seja, pode te livrar dessa noite. Se enfiar na leitura e justificar a qualquer um que não notou quando escureceu não é uma desculpa inteligente, por mais que pareça bem do seu feitio se perder dessa forma em um livro. – ela ficou em silêncio o encarando - Estávamos próximos demais nessa guerra. – disse – Você era o inimigo. Lutamos um contra o outro muito tempo. Sei como seu cérebro funciona.

Ela ficou calada bastante tempo antes de finalmente abrir a boca.

— Não me conhece genuinamente, Malfoy.

— Obviamente não, mas teremos tempo suficiente para que isso não seja um problema entre nós, não é mesmo?

— Parece que isso não o incomoda.

— Pois saiba que incomoda mais do que deveria, se isso a satisfaz.

— Ao menos algo temos em comum então. – ela saiu do vão da janela, catou os sapatos que havia deixado no chão e os colocou de volta nos pés. – Tem uma excelente biblioteca aqui. – ela elogiou enquanto ajeitava a postura e tentava desamassar o vestido com as mãos. – E presumo que já saiba que não deve me chamar de Granger hoje a noite. Não na frente das pessoas.

— Como desejar, Hermione.

— Não é um desejo. Não meu.

— Gostaria de ser chamada de Sra. Malfoy quando nos casarmos? – provocou seriamente

— Seria bastante desagradável.

— Bom saber. Presumo então que você também já saiba o meu primeiro nome.

— Felizmente, Draco. Me poupa o trabalho de ter que aprendê-lo.

— Então suponho que estamos bem apresentados.

Ela assentiu. Draco achava engraçado o modo como ela sempre tinha um olhar desconfiado voltado para ele, mesmo que sempre estivesse olhando-o orgulhosamente.

Ficaram momentaneamente no silêncio, se encarando. Ela com aquele olhar orgulhoso e desconfiado, ele com o seu totalmente inexpressivo.

— Deveria ir se arrumar. – foi a última coisa que ela disse antes de dar as costas e sair.

Draco cruzou os braços enquanto a observava sumir pelas estante. Deus do céu! Ela era tão bonita que quase parecia pecado olhá-la.

**

— Não gostei da cor de sua gravata! – Narcisa apontou para Draco assim que entrou em seu escritório. – Tryn! – lançou a ordem a elfa e num estalar de dedos a pequena criatura trocou centenas de vezes as cores da sua insignificante peça de roupa.

Viu a mãe cruzar o carpete com seu salto alto até a janela. Do lado de fora a movimentação era quase intensa e as carruagens se amontoavam diante da escadaria da fachada principal. Ela desviou o olhar e começou a andar calmamente de um lado para o outro.

— Onde está, Granger? – perguntou ele afundando-se mais em sua poltrona e girando sua pena entre os dedos.

— Hermione está quase pronta. – respondeu, mas parecia inerte em outros assuntos pessoais enquanto fazia sua caminhada enjoativa de frente a janela.

— É a única pessoa em Brampton Fort que a trata pelo primeiro nome. – comentou ele.

— Sim. – sua mãe ainda parecia não querer se distrair de suas aflições internas. – Ela não será Granger por muito tempo e não gosto de me lembrar que ela entrará para a família com as pessoas a chamando de sangue-ruim por aí. Uma ofensa bem inconveniente para nós!

— Ofensa? – ele riu. - É a verdade.

— Uma verdade bem inconveniente! – repetiu sua mãe ao erguer os olhos para ele. – E sim, ofensa! O livros de história da magia, de ética e de moral os tratam como Nascidos Trouxas desde o princípio! Sangue-ruim é uma ofensa! Não consegue distinguir? Deus do céu! Você é igual ao seu pai! – protestou ela e tornou a olhar pela janela.

Draco calou-se sentindo o peso das últimas palavras da mãe. Não. Ele não era igual ao seu pai! Nunca seria igual ao seu pai. Poderia ser igual a qualquer um, menos seu pai!

— E onde ele está? – conseguiu sentir o gosto amargo em sua boca apenas por se referir a ele.

— Enfiado em um quarto caro de hotel com qualquer puta por aí. – Por algum motivo, aquela simples resposta de sua mãe, a entonação, o rancor contido, a situação, o fez se lembrar de Hermione. Foi como poder escutá-la dizer algo do tipo referindo-se a ele no futuro ao qual estavam destinados a ter. Ficou perturbado com a inevitável analogia de seu cérebro e tentou esquecer, mas aquilo apenas o comparou outra vez ao seu pai. Sentiu que seu maxilar já travava de raiva. Ele não era igual ao seu pai!— Ele já deveria estar aqui. Tem certeza que seus guardas afirmaram que ele chegou pelo portão leste no meio da tarde?

— Sim. – respondeu apenas.

Sua mãe respirou fundo e tornou a andar de um lado ao outro.

— Ele sabe que não deveria atrasar, ele sabe que isso é importante e eu tenho me esforçado tanto... – ela abaixou o tom da voz ao inaudível ainda andando de um lado para o outro.

Draco se manteve calado, mas sabia que seu pai estava atrasando apenas porque sua mãe não queria que ele atrasasse. Aquilo começou a remoer dentro dele de uma forma que chegava a quase tornar o ar rarefeito. Permaneceu calado. Jurou que permaneceria calado.

A porta se abriu uma segundo vez e quem passou por ela foi Hermione seguida de uma dupla de elfos. Ela estava linda como sempre, mas seu pai ainda estava entalado o suficiente em sua garganta para que Draco se importasse em admirar uma boa mulher como ela merecia.

Narcisa deu ordens aos elfos e correu para analisar cada mínimo detalhe da roupa de Hermione. Não demorou e já haviam mais três mulheres da organização dentro de seus escritório opinando sobre o cabelo, o vestido e a maquiagem da sangue-ruim. Draco apenas começou a bater nervosamente a ponta da pena que estava em sua mão contra a mesa da escrivaninha a medida que se sentia desconfortável com a falação do ambiente.

— Mãe! – exclamou mais alto até do que deveria. Todos se calaram e foi um tremendo de um alívio. – Tenho certeza de que pode encontrar outro lugar para fazer o que quer que estiver fazendo agora.

Houve um grande minuto de silêncio enquanto sua mãe estreitava os lábios e olhava as feições de Draco. No seguinte ela apenas estalou os dedos para as mulheres e apontou para a porta. Deu novas ordens aos elfos e todos eles se retiraram.

— Somos apenas muito detalhistas. – justificou a mãe estalando o dedo para Hermione e apontando para uma das poltronas da sala. Hermione respirou fundo e sentou-se obedientemente. – Queríamos deixar sua noiva perfeita.

— Ela já está perfeita. – teria soado um elogio se ele não tivesse feito parecer um pedido ríspido de que não voltassem a fazer toda aquela algazarra em seu escritório.

— Hermione, tem certeza de que não precisamos passar novamente suas regras de comportamento? – Narcisa se direcionou a ela.

— Fui espera o suficiente para aprender da primeira vez. – ela respondeu e todos foram tomados de suas atenções quando a porta se abriu outra vez.

Lúcio Malfoy passou por ela vestido num traje fino, com a barba desfeita e os cabelos loiros bagunçados.

— Todos juntos? – ele comentou ao entrar. Parecia bêbado. – Lindo.

Draco viu sua mãe recuar um passo ao vê-lo, como se não quisesse sentir que ele tinha o perfume de outra mulher impregnado em sua roupa, mas então ela fez exatamente como Hermione ao ajustar a postura, abriu um sorriso muito amável e se dirigiu a ele. Draco sentiu todo o ódio corroer suas veias com aquela cena.

— Que bom que chegou querido. – Narcisa foi até ele e tentou ajustar a gravata torta em seu pescoço, mas ele a afastou com uma mão e atravessou a sala até a arca onde Draco mantinha suas bebidas.

— Vejo que organizou tudo perfeitamente, Narcisa. – puxou um copo e o encheu de gelo. – Sempre faz seus serviços com muito competência.

Narcisa sorriu. Sorriu um sorriso convencida de que aquele era o único elogio que receberia na noite vindo de seu marido. Ela nunca recebia elogios que não fossem estritamente profissional, porque sim, seu pai tratava o casamento como um negócio.

Draco se levantou e foi até o pai quando ele passou a escolher entre suas garrafas de whisky. O deteve antes que ele pudesse encher o copo. Lúcio ergueu seus olhos e o fitou secamente.

— O que pensa que está fazendo? – indagou ao filho.

— Já se olhou no espelho? – Draco ignorou o olhar selvagem do pai e não fez questão de esconder o nojo que tinha ao olhá-lo naquele péssimo estado que ele havia se apresentado.

— Draco! – sua mãe apressou-se a repreendê-lo.

— Fiz uma pergunta. – Draco ignorou a mãe. Já era tarde demais.

— Fiz outra primeiro. – Lúcio retrucou afastando a mão que o impedia de entornar o whisky em seu copo.

— Chega de bebida, papai! – vociferou Draco tomando a garrafa de sua mão e devolvendo-a ao seu devido lugar. – Você já está bêbado o suficiente, atrasado e fedendo a perfume de mulher.

— Draco, por favor! – dessa vez sua mãe quase implorou.

— Mas obviamente tem motivos muito claros para se apresentar nesse estado. – Draco continuou a ignorar a mãe. – Eu só espero que não esteja tramando uma maneira de humilhar minha mãe ou o trabalho dela.



Lúcio encarou Draco com aquele olhar desgostoso até ter descaramento o suficiente par sorrir. Sorrir! Aproximou-se do filho para que ele pudesse sentir o seu hálito de álcool e disse num tom que a conversa não passasse deles:

— Não tentaria estragar o trabalho de sua mãe ao menos que eu quisesse acabar com uma dos noites que vai entrar para a história dessa família. – soltou um riso fraco e debochado. Aproximou-se do filho e sussurrou: – Sabe que eu estou apenas tentando humilhá-la.

— Com que propósito? – Draco quis matá-lo.

— Divertimento pessoal. – sorriu, levantou seu copo e mostrou-o a Draco. – Agora me sirva com sua bebida, filho.

O ataque de fúria que subiu em Draco não o fez não medir as forças quando tomou o copo da mão do pai e o lançou com força contra o chão. O som do vidro se espatifando levou sua mãe a loucura.

Draco! – ela foi até eles.

— Não tem um sequer respeito pela mulher que te deu um filho? – cuspiu Draco.

— Não pode falar sobre ter respeito, Draco! – riu seu pai.

Draco avançou violentamente contra o pai, mas Narcisa se colou entre eles.

— PARE, DRACO! – ela foi tão séria e sua voz soou tão autoritária que até mesmo ela recuou.

— COMO PODE ACEITAR? – Draco finalmente deu atenção a mãe. – OLHE PARA ELE, MÃE! COMO PODE ACEITAR?

— E O QUE EU DEVERIA FAZER, DRACO? NÃO TENHO PODER PARA MUDAR CERTAS COISAS! – ela ofegou. Lúcio riu e ela fechou o olhos para não deixar transparecer a enorme tristeza que o deboche dele causava nela. – Não posso lutar contra ele. – quando ela abriu os olhos Draco viu o orgulho de sua mãe se desfazer por completo quando ela disse quase que sussurrando para ele: - Eu o amo.

Quantas milhares de vezes ele havia escutado sua mãe dizer aquilo sobre seu pai. Sua mãe orgulhosa, fria e quase insensível. Conhecia a mulher sistemática que ela era, e sempre que a via abrir a boca para justificar sua cega tolerância aos absurdos de seu pai ele quase podia sentir como era difícil para ela ter que abrir mão de todo o seu orgulho para dar espaço a aquela verdade. Era a humilhação e a frustração que ela carregaria para sempre em sua vida. Para sempre. E o que ela poderia fazer? As vezes Draco queria vê-la lutar contra ele, mas sabia que ela já havia lutado o bastante para saber que era inútil e desgastante.

Era quase inevitável não se conter diante da submissão de sua mãe perante as provocações de seu pai. Aquilo causava nele desgosto e tristeza. Aquilo significava a realidade que ele nunca havia superado na vida. A realidade de que sua família era uma desgraça, uma mentira, uma grande e enorme farsa. Seus pais juntos diante dele o lembrava do dia em que seu mundo de ilusões havia desmoronado.

— Não posso suportar. – ele olhou da mãe para o pai. – Não posso mais suportar nós todos juntos. – deu as costas a eles. Assim que o fez encontrou Hermione ainda sentada em sua poltrona com a postura ereta e um olhar assustado e apreensivo. Draco quase soltou um palavrão por ter se esquecido de que ela estava ali. Soltou o ar e num único segundo de inocência ele procurou pela magia que o faria voltar o tempo para poder evitar que ela tivesse assistido aquilo. – Levante-se, Granger. – já era tarde demais para voltar no tempo. – Temos convidados demais para te apresentar hoje a noite.



Hermione Granger



Tédio era tudo que ela via estampado na cara de Draco Malfoy e tédio era tudo que ela igualmente sentia. Talvez sua cara também estivesse como a dele. Ele pelo menos tinha uma alegria aqui e ali quando topava com algum amigo ou alguma mulher que já havia levado para cama, mas ela, ela não tinha absolutamente nada com o que se distrair.

Abria um sorriso forçado todas as vezes que alguém passava por ela e a olhava de cima a baixo. Ignorava o olhar e sorria simpática. Ou pelo menos ser simpática era sua pretensão.

Hermione já havia deslizado sua mão para longe do braço de Draco a um bom tempo e ele sequer notara. Pegou qualquer taça da bandeja de um elfo que passava e levou a boca. Ficou insatisfeita com o gosto da água, mas grata por não ser álcool. Tudo que ela não queria era ficar bêbada para ser capaz de fazer qualquer coisa errada e sabia que se provasse de qualquer líquido forte, não iria parar tão cedo. Tudo nela pedia para que não estivesse sóbria naquele momento nem naquele lugar.

Andou por entre as pessoas. Sorria ocasionalmente para os olhares preconceituosos e tomava de sua água desejando um litro puro de álcool. A bainha de seu luxuoso vestido produzia um ruído irritante enquanto andava com todas aquelas pedras penduradas e ela não via a hora de tudo aquilo acabar para se livrar daquela roupa exagerada e poder tirar seus sapatos que começavam a incomodar.

A verdade era que se sentia deslocada. Tão deslocada que era intimidador e isso a atrapalhava muitas vezes em manter sua postura. Lembrava-se ocasionalmente da simplória discussão familiar que foi obrigada a presenciar há algumas horas atrás e quando encarava as feições de Draco se perguntava se fora aquilo que havia o transformado. Porque durante toda a discussão, no momento em que ela esperou pela reação de profundo ressentimento que ele deveria expressar, ele simplesmente fechou-se para sua expressão convencional. Os olhos cinzas sem vida e sem interesse em qualquer coisa que fosse.

Ela não fazia idéia de quem ele era agora, mas certamente muito do que ela havia visto em Lúcio Malfoy dizia respeito ao Draco que conhecera em Hogwarts.

Ao longe viu Malfoy por entre as pessoas. Pansy tinha chegado até ele e claramente se atirava como uma puta para ter a devida atenção. E Draco a dava. O sorriso que ele tinha nos lábios era tão verdadeiro que o mudava, o fazia parecer um ser humano tão agradável que Hermione sentiu uma momentânea raiva por saber que Pansy tinha o poder de transformá-lo naquilo. Draco era uma enigma para Hermione enquanto para Pansy ele era apenas um livro aberto.

Soltou um longo suspiro frustrado e deu as costas a visão dele para seguir caminho. Ele tinha total liberdade para continuar com suas centenas de mulheres sendo elas Pansy ou não. Não importava para Hermione. Não precisava que Draco fosse fiel a ela.

Deixou que seus pés a guiassem. Passou por entre as pessoas e já estava tão farta de tudo aquilo que simplesmente abriu mão de dar qualquer mínima atenção a elas. Narcisa provavelmente a mataria se soubesse que não estava sorrindo para os olhares que recebia.

Viu-se deixando a sala principal e não se importou. Seguiu pelo fluxo contrário até se ver na espetacular sala de jantar que ficava logo atrás da cozinha. O piso era de tábua corrida como o da biblioteca e quase do mesmo tom escuro da enorme mesa. Bem em seu centro, logo acima, tinha um lustre transcendental que ficava pendurado no teto distante e abobadado. A casa de Draco era de um luxo que ela nunca havia visto na vida. Se questionava como poderia ser os outros tipos de casa das zonas abastadas de Brampton Fort já que Voldemort julgava a residência de Draco tão modesta.

Atravessou a sala de jantar e passou por um corredor vazio e quase escuro que cortava a lateral da cozinha. Haviam janelas sequenciadas em toda a extensão para que ela pudesse ver o enorme jardim que se estendia para um bosque lá onde o horizonte se estreitava. Era os fundos da casa e o quintal estava vazio. O silêncio fazia com que ela escutasse o cricrilar dos grilos altos e as vozes da algazarra de seu noivado muito distante.

Foi obrigada a subir alguns poucos degraus quando chegou ao fim do corredor. Isso a elevou a um patamar diferente e o piso continuou a ser de madeira, mas dessa vez parecia menos maciço e as tábulas bem mais estreitas e desniveladas. As janelas que vinham do corredor se abriam em enormes portas de arco que estavam escancaradas e cercavam o ambiente quase circular. Ela podia ver todo o gramado dos fundos da casa do lado de fora assim como também podia sentir o vento a atingir. Era revigorante.

Ousou andar para próximo de uma das portas e tocou a fina e clara cortina que estava haviam arrastado para poderem abrir as portas. Deixou seu olhar passar mais uma vez pelo jardim e quase sorriu pela beleza daquele lugar. Queria poder estar ali no pôr-do-sol. O pôr-do-sol que não existia em Brampton Fort.

Quando quase chegou ao arco que foi capaz de ver um espécie de deque coberto por uma larga marquise. Havia mobiliários externos, madeira talhada, estátua de bronze, grandes vasos de arbustos em arte topiaria, estofados em estampa inglesa, ela mal podia imaginar o quanto tudo aquilo havia custado fora toda a casa que ele tinha. Como que aquilo podia ser modesto?

— Bonito lugar não é mesmo, sangue-ruim?

Hermione virou-se num pulo e quase deixou sua taça de água cair. Encontrou Lúcio Malfoy com as mãos enfiadas no fundo dos bolsos da calça de seu terno a encarando com um sorriso divertido nos lábios. Um sorriso que ela receou.

Um turbilhão de exclamações bombardearam seu cérebro, mas tudo que ela conseguia realmente pensar era em como os olhos dele brilhavam no quase escuro em que se encontravam.

— Me seguiu? – ela perguntou sem nem mesmo pensar.

— Sim. – respondeu ele sem se importar no que ela fosse pensar e aproximou-se um pouco.

Ela recuou enquanto tinha outro turbilhão de exclamações em sua cabeça. Dessa vez estava em dúvida se deveria implorar a ele que não contasse a Narcisa que ela não estava na reunião ao lado de Draco ou se perguntava o porque dele ter a seguido já que nenhuma justificativa rápida que seu cérebro havia lhe passado fazia muito sentido.

— Me seguiu para poder dizer que estou descumprindo minhas regras de comportamento não estando agora na minha própria festa de noivado? – se viu dizer.

Ele riu e desviou o caminho quando ela continuou a recuar.

— Não. – respondeu e se interessou em analisar de modo distraído a fechadura de uma das portas enquanto caminhava muito calmamente pelo ambiente. – Te segui porque não pude resistir.

Resistir? Ela se questionou.

— Perdão? – se viu quase exclamar.

Ele ergueu os olhos para ela novamente e abriu um sorriso quase que charmoso demais. Voltou a desviar o olhar para analisar o lugar como estava fazendo antes e se justificou.

— Não pude resistir a todo esse ar ingênuo que você emana. É completamente diferente dos usuais se quer saber. Estive a observando durante a festa e quando a vi sumir, não pude resistir em te seguir.

Ele ergueu os olhos novamente para ela e Hermione se assustou ao notar a proximidade que ele já estava dela. Mal havia notado a estratégia que ele havia usado para não fazê-la recuar enquanto ele se aproximava.

Hermione não gostou de ter sido tão burra por não notar, nem mesmo gostou da distância que ele queria encurtar e sua única alternativa foi dar as costas e descer para o deque. Tentou não parecer que estava fugindo e caminhou com cuidado por entre os mobiliários fingindo estar interessada na decoração assim como ele havia feito antes.

— Eu lhe devo desculpas. – ele continuou e a distância da voz avisou que ele também descia para o deque por outra porta.

— Por ter me seguido? – Por que ele iria querer pedir desculpas a uma sangue-ruim?

— Não. – respondeu. – Pelo que foi obrigada a assistir mais cedo no escritório de Draco.

Escutar a pronuncia do nome dele a fazia se arrepiar.

— Não precisa se desculpar. – ela parou para sentir o alto relevo dos traços decorativos de uma mesa de chá. Deixou sua taça desancar ali. – Não deve nenhuma desculpa a mim por isso. São problemas da sua família e não me dizem respeito.

— Sensato pensar dessa forma, mas não vejo que tenhamos problema nenhum. – a proximidade da voz dele alertou que ela deveria continuar seu caminho, mas não conseguiu quando o escutou afirmar que não enxergava problemas em sua família. Será que é porque o problema seria ele? – Draco cresceu e por algum motivo a prepotência dele o fez tomar essas atitudes impulsivas baseado em pensamentos errados. Talvez ele tenha...

— ...Senso de justiça? – sugeriu ela ao cortá-lo quando se viu repudiada pela atitude dele de querer culpar Draco. Virou-se e se assustou mais uma vez ao vê-lo logo a sua frente.

— Justiça? – indagou ele ao ver suas palavras serem traduzidas de modo a incriminá-lo. – O que quer dizer com isso?

— É o Ministro da Magia! Deveria entender sobre justiça muito mais do que eu! – retrucou ela e num passo ele a assustou novamente. A encurralou contra a mesa e Hermione logo tentou se esquivar, mas ele a segurou. A prendeu pela cintura e não teve pudor algum ao colar seu corpo com o dela. – O que está fazendo? – quase gritou. Tentou lutar mas ele era forte. Forte como Draco era forte. Será que tinham a mesma força? Ela não queria experimentar da força de Draco como estava experimentando da de seu pai agora. – Me solte.

— O que quer dizer com justiça, sangue-ruim?! – a voz dele foi baixa, mas a proximidade fez quase parecer um grito. – Já viu justiça em algum lugar? – os olhos dele eram tão poderosamente cinzas que ela quase sentia que não seria capaz de puxar oxigênio quando os olhava. – Se engana em pensar que poderia haver justiça em Draco! – ele soltou um friso fraco pelo nariz. – Se engana em querer encontrar justiça em qualquer lugar!

— Me solte! – ela exigiu e se contorceu para fugir dele, mas ele apenas a prendeu com mais força.

— Justiça não existe! Nunca existiu! É apenas uma utopia! Aprenda isso, sangue-ruim! – segurou o rosto dela e ela se esquivou. Lúcio foi mais bruto e o segurou de modo que ela não pudesse desviar e fosse obrigada a olhá-lo. – Não sabe nada sobre o mundo. Não sabe nada sobre esse mundo. É ingênua demais. – os olhos dele percorriam cada linha do rosto dela e parecia se fascinar com cada uma delas. – Você é como a primavera. Como uma doce primavera. – ele se aproximou demais e Hermione sentiu a respiração dele contra seu rosto. – É singela e delicada como a primavera. Mas tem todo esse poder de atrair a atenção, de encantar as pessoas, de ser desejada, de dominar. Esse orgulho te sustenta.

— Por favor, me solte. – suplicou uma última vez antes de sentir o hálito úmido e quente dele contra sua boca. Não ousava sequer tentar imaginar quais seriam as pretensões que ele tinha em mente estando tão próximo.

— É melhor que saia do seu lindo mundo de flores, primavera. Aqui ninguém se importa com justiça, com dignidade, com honestidade, nem muito menos com amor, o amor que você acha que existe, o amor que você carrega do mundo de afetos do qual vivia com todos aqueles marginais da resistência. – ele sussurrava e quando Hermione sentiu que tinha uma mão dele que escorregava por sua cintura e descia sorrateira por suas costas como se ela estivesse sem seu vestido contorceu-se para se livrar dele desesperadamente.. – Aqui é sempre inverno, primavera.

— Você é louco! – ela cuspiu e quase gritou esquivando-se da mão lenta e esperta que descia. – O que está fazendo? – ele só poderia ter algum tipo de doença! – EU SOU A NOIVA DO SEU FILHO! – gritou.

Por um mero segundo aquilo pareceu acordá-lo, mas não fez muita diferença quando viu nos olhos dele que o desejo continuava a olhá-la. Apenas o que fez recuá-lo foi o barulho distante de uma taça se espatifando no chão e uma risada longe e abafada acompanhada de uma voz masculina se aproximando.

Hermione pode notar o quanto seu coração estava disparado quando se viu livre. Não demorou muitos segundos e a dona da risada apareceu quase sendo engolida pelo proprietário da voz masculina. O casal mal notou na presença de Lúcio e Hermione quando desceram para o deque.

Lúcio parecia quase furioso por ter sido obrigado a interromper seu momento e quando a consciência bateu em Hermione, quis gritar para o homem o quão insano ele havia sido, mas na lógica de seu desespero apenas não pestanejou em fugir. Não ligou quando acabou por esbarrar no casal com sua pressa e nem sequer isso pareceu fazê-los acordar do momento que estavam tendo.

Andou tão rápido que nem mesmo saber se estava tomando o caminho certo fez diferença. Seu coração continuava a bater rápido e cada vez mais rápido a medida que sua memória continuava a lembrá-la do que havia passado. Da força que ele tinha, do olhar desejoso, do hálito úmido contra o seu rosto. Tudo era intensamente nojento e fazia os pelos de seu corpo se arrepiarem pela repulsa.

Cair na sala principal, ver todas as pessoas, a música e o falatório foi quase que um banho de paz. Parou, fechou os olhos e respirou fundo se apoiando num dos pilares de passagem. Ali, com todas aquelas pessoas, ele não poderia segurá-la novamente como havia feito, nem sussurrar todas aquelas palavras, nem descer aquela mão imunda por suas costas.

— Hermione! – a voz alta de Narcisa a fez abrir os olhos instantaneamente. – Pelos céus, onde se meteu?! – ela vinha apressada e com uma expressão severa. - Tenho a procurado já faz bastante tempo, se quer saber! - Hermione quis avisar a mulher que esteve com seu marido e que ele era um louco depravado, mas não conseguiu abrir a boca. – Está pálida, o que houve?

— Nada. – se viu responder quase que imediatamente.

— Não seja mentirosa, mas o que quer que tenha sido, não é importante! Draco está sendo fotografado longe da sua companhia e não é isso que queremos que apareçam nos jornais e revistas! Vamos! Recomponha-se e trate de encontrá-lo imediatamente! – dizendo isso ela foi embora.

Hermione tornou a fechar os olhos. Respirou fundo mais de uma vez e apenas tornou a abri-los quando sentiu que seu coração já batia num ritmo normal. Tentou levar para o mais oculto de sua memória a situação que havia vivido a minutos atrás. Só não poderia encontrar com Lúcio novamente ou vomitaria.

Começou a andar devagar. Dessa vez os olhares de desprezo pareciam bastante receptíveis. Eram como um aviso de que estava segura.

Encontrou o lugar onde Draco antes estivera com Pansy, mas dessa vez a encontrou sozinha. Olhou de um lado para o outro e não conseguiu localizá-lo. Mudou sua rota e seguiu atenta até finalmente encontrá-lo a porta dos jardins sem companhia alguma. Aproximou-se.

— Onde esteve? – ele perguntou e tomou um gole do vinho que tinha nas mãos.

— Tentando seguir um caminho sem ser carregada por você. – ela passou seu braço pelo dele ainda tentando entrar no seu estado máximo de normalidade.

— Não deveria sair do meu lado.

— Sequer notou quando o deixei.

Tiveram de silenciar-se e sorriram para um casal que os beirou curiosamente.

— Não presto atenção em gente como você, Granger. Portanto deveria ter no mínimo o senso de preservar a estabilidade da recuperação de sua amiga lunática e cumprir todos os seus deveres do modo mais perfeito possível. – ele usou um tom baixo e intimidador.

— Eu só precisava de um pouco de ar! Esse lugar parece me deixar doente.

— Não quero estragar o trabalho da minha mãe, querida. - ele sorriu quando outro grupo de pessoas passou por eles. – Então você não trate de se esforçar para isso. Muitas coisas estão em jogo para ela se algo der errado. Portanto supere sua aversão as pessoas e me avise quando precisar de ar para irmos juntos!

Ela quase rosnou baixo por todo o sermão que havia recebido. Não era nenhuma criança! Mas certamente que dessa vez ela não sairia de perto dele já que com certeza preferia a companhia de Draco. Pelo menos ela sabia que se eles estivessem a sós, ele não a agarraria como seu pai havia feito. Draco a odiava o suficiente para isso. Ela esperava e acreditava que sim.

— Estou cansada disso. – resmungou.

Aquilo pareceu diverti-lo.

— Temos muito em comum. – riu ele e tomou mais um gole de seu vinho.

Hermione o encarou.

— Está bêbado? – colocou nojo em seu tom e em sua expressão também.

Ele crispou os lábios.

— Ainda faltam alguns copos para isso. – Draco se colocou em movimento e Hermione foi obrigada a ir junto. – Está pálida. O que houve? – Perguntou ele.

Ela engoliu a saliva que pareceu escassa.

— O vento está frio lá fora. – respondeu. Não queria contar que o Sr. Malfoy havia resolvido lhe fazer uma grande e desagradável surpresa.

— Não me parece um fator que a deixaria assim. Só me soa como uma justificativa bastante burra. – tomou outro gole – Mas não me importo. Não me faz diferença saber ou não das suas verdades se não quer compartilhá-las. – um casal de senhores cruzou o caminho deles. - Sr. e Sra. Bolton. – Draco fez um educado cumprimento.

— Draco, querido! – exclamou a velha numa voz rachada e aguda. – Estávamos curiosos para conhecer sua noiva.

— Está é Hermione Granger. – ele tratou de apresentá-la como já havia feito milhares de vezes desde que os convidados começaram a lotar a sala principal de sua casa.

— Muito bonita, de fato. – disso o Sr. Bolton a olhando por cima dos redondos óculos fundos.

— Sim, muito bonita. – concordou a velha.

— É um prazer. – Hermione usou do cordial que treinara.

— Sabemos que não é. – lamentou a velha.

— Mas devemos fingir que é. – Hermione retrucou a sinceridade.

— Sangue-ruim, não é verdade? – perguntou a Sra. Bolton.

— Nascida trouxa. – corrigiu Hermione ajeitando a postura.

— Sangue-ruim. – reafirmou a outra como se soubesse e não se importasse. – Me responda uma coisa, querida. O que fizeram para que mudasse de lado na guerra depois de tantos anos na resistência?

— Foi uma decisão dela. – Draco interferiu passando o braço em volta da cintura de Hermione. – Tudo já estava bem planejado e foi uma decisão tomada por ela muito tempo antes de ser trazida a Brampton Fort. Hermione já havia mostrado sua fidelidade a nós anos antes. O mestre apenas a aceitou por motivos muito bem discutidos dentro do ciclo interno de comensais. – o tom dele estava sério. Era uma história mentirosa e somente os comensais íntimos de Voldemort, aqueles que estavam no salão principal no dia de sua chegada, que sabiam a verdade. Estavam todos juramentados a concordar que Hermione decidira se juntar a eles. Aquela mentira doía nela toda vez que era proferida a alguém.

Viu o casal analisá-la muito atentamente como todos faziam.

— E a moça que veio com você? Foi nos informado que vieram duas. – a Sra. Bolton continuava a se direcionar para Hermione. – Não é a filha do louco editor do antigo O Pasquim?

— Sim. Luna Lovegood. – Hermione sentiu seu coração apertar quando respondeu. – O mestre ainda não tem confiança suficiente nela. – mentiu como a ensinaram. Era uma sorte, ou talvez não, que as pessoas de Brampton Fort não tivessem acesso as mídias fora da cidade porque certamente aquelas mentiras seriam facilmente descobertas por qualquer publicação recente do Profeta Diárioinformando sobre a participação ativa de ambas na resistência semanas antes de serem capturadas.

— Bem, é realmente um prazer conhecer a nova jóia do mestre. – a velha pareceu finalmente estar satisfeita. – Dará uma boa Sra. Malfoy. Tem a classe de uma. Certamente o mestre notou isso em você assim que a viu.

Hermione não sabia se deveria sorrir ou não. Toda aquela mentira a afetava dolorosamente.

— Obrigada. – respondeu mas soube que foi sem emoção alguma.

— Vamos. – Draco quase a empurrou quando os Bolton seguiram seu caminho. – Já estão distribuindo as taças para o brinde.

Narcisa apareceu estralando os dedos e apontado para a escada privada. Os três avançaram para o pavimento superior e Draco e Hermione separaram-se assim que souberam que não havia mais ninguém com quem devessem manter as aparências.

Draco entrou em um escritório e Hermione vislumbrou por segundos Lúcio Malfoy e Lorde Voldemort antes que tivesse que seguir seu caminho com Narcisa até a sala em que haviam se instalado. Os pelos de sua nuca levantaram apenas por se lembrar da existência de Lúcio Malfoy novamente.

Foram necessários três elfos para a ajudar a trocar de roupa, mudar o penteado e a maquiagem. Narcisa dava ordens específicas hora ou outra e frequentemente alguém batia a porta e anunciava os minutos que restavam. Ainda tinham tempo e mesmo assim ela parecia afoita. Aquela mulher tinha uma experiência grande em conter qualquer tipo de sentimento já que mesmo que seus olhos denunciassem o suor que não lhe escorria as têmporas, seu controle emocional era, de fato, digno de todas as aclamações.

Quando Hermione colocou-se de pé, finalmente pronta, até mesmo a mulher que estava encarregada de informar os minutos, se permitiu parar alguns segundos para vislumbrá-la. Hermione olhou-se no espelho e tudo que viu foi alguém que ela não sabia quem era. Uau!

Hermione encarou Narcisa e ela a olhava com aquele ar interminavelmente frio e ao mesmo tempo sereno. O resultado final de toda a sua mudança pareceu trazer paz a Sra. Malfoy e por algum motivo esse ato anunciava ter o poder de transportá-la para dentro de sua mente.

— Eu me lembro, quando foi a minha vez. – ela disse mas não parecia ser para Hermione mesmo que seus olhos estivessem nela. – Eu também tinha um lindo vestido e pessoas me olhando como se eu fosse alguma deusa do olimpo. – Sorriu para Hermione e pareceu acordar de seus devaneios sem sequer desviar o olhar. – Está se saindo bem, Hermione.

Não soube se precisava agradeceu ou não portanto ficou apenas calada encarando aquela estranha e divina criatura no espelho até que novamente os minutos foram informados e Narcisa tornou a carregá-la pelos corredores do segundo pavimento.

Foi levada ao escritório onde Draco ficara e assim que entrou eles pararam qualquer conversa que estavam tendo. Sentiu três pares de olhos a devorarem cruelmente. Lúcio Malfoy parou com o copo de vinho a meio caminho da boca, Voldemort deixou de mascar o charuto e Draco apenas ficou quieto com os braços cruzados mas com os olhos perfeitamente cinzas analisando-a dos sapatos até o cabelo. Ele foi o primeiro a desviar o olhar, mas inteligentemente ele seguiu para encarar tanto o de seu pai quanto o de Voldemort e no segundo quase seguinte, já havia se deslocado da mesa que estava recostado para plantar-se bem ao seu lado.

— Vamos acabar com isso logo de uma vez. – ele disse e Hermione sentiu a mão quente dele tocar sua lombar nua pelo vestido.

O primeiro toque direto, pele com pele, a fez prender a respiração e quase recuar. Ele tocava uma parte de seu corpo mas era como se estivesse o tocando todo. Ao mesmo tempo, sentiu que aquele toque fora quase que um aviso a Lúcio e Voldemort. Como se tentasse lembrar a eles a quem ela havia sido entregada como noiva.

Seguiram para fora do escritório e receberam taças de cristais cheias de espumante a caminho da escada principal. Draco e Hermione deram os braços novamente e Narcisa emparelhou-se com ela.

— Lembra-se do que deve dizer? – perguntou a Sra. Malfoy.

— Tanto que desejaria esquecer. – respondeu Hermione.

Hermione a viu se juntar ao marido e ambos deram os braços assim como ela e Draco. Viu que a mulher alisou amorosamente o braço do terno do esposo, mas olhar para Lúcio foi constrangedor. Ele ainda mantinha seus olhos sobre ela e era como se pudesse ver através de sua roupa. Hermione pensou que fosse vomitar mesmo que o Ministro da Magia do mundo bruxo fosse um senhor que sofresse com o agravante problema de ter uma aparência imensuravelmente além da satisfatória.

Desceram apenas alguns degraus da escada principal e posicionaram-se de modo que Voldemort estivesse no degraus mais alto, a Sr. e a Sra. Malfoy logo abaixo e então, finalmente, Draco e Hermione.

A grande sala abaixo deles estava abarrotada de pessoas e todos carregavam a mesma taça na mão. O burburinho abaixou-se a medida que Hermione sentiu a marca queimar em seu braço e logo depois toda a atenção estava voltada para o onde estavam na escada. Hermione sentiu suas mãos suarem com todos aqueles olhares de uma vez só. Repassou o que deveria dizer pela milionésima vez em sua cabeça e por algum motivo confundiu algumas palavras.

Voldemort começou:

— Este é um momento importante dentro de Brampton Fort, é um momento importante para a minha ditadura e é um momento importante para o mundo, que em breve saberá dar o devido valor á aquilo que temos lutado por tanto tempo. – Hermione nunca havia imaginado que ele pudesse ter aquele poder de carisma. – Estamos todos aqui neste momento histórico, familiar e acolhedor, para oficializar ao mundo uma aliança que me gera profunda satisfação. Não somente o noivado do líder do meu exército com a minha mais nova e preciosa jóia, mas também uma aliança com a família que me presta uma competente devoção desde o início. Uma família pelo qual nutro um imenso apreço. Hoje, o meu reinado forja com a família Malfoy um laço estreito. Hoje, oficialmente, a família Malfoy se torna o braço direito do meu império.

Hermione viu o claro olhar de inveja em cada ser humano abaixo deles.

— Hoje a família Malfoy quebra uma tradição histórica ao receber um valioso presente do nosso aclamado líder mundial. Um presente além do valor dos serviços que tão orgulhosamente prestamos em prol da raça bruxa dominante. – a voz do Sr. Malfoy encheu o ambiente tão poderosa quanto a de Voldemort.

— E nada poderia nos deixar mais felizes do que esse maravilhoso presente em nossa família. Receber Hermione, a jóia do nosso tão querido mestre, é de fato uma honra do qual nos orgulhamos.– foi a vez da Sra. Malfoy.

Hermione sentiu todo o seu corpo fraquejar, mas pensar em Narcisa Malfoy com sua postura intacta, fria e inatingível ajudou sua voz a sair límpida, clara e poderosa por todo o ambiente:

— Portanto, propomos um brinde. – ela ergueu a taça. – Um brinde a nova era da história Malfoy. A era onde a união pelo poder se torna de um peso incomparável a qualquer outra ideologia carregada ao longo dos anos.

Draco ergueu sua taça logo após Hermione e fez soar a voz que discursava para o seu exército:

— A era onde os Malfoy se consolidam socialmente de uma forma nunca antes vista na história. – ele cercou a cintura de Hermione com um braço – A era onde a quebra da tradição nos leva ao apogeu. A nova era onde estaremos no topo.

— A nova era. – Hermione pronunciou com sua taça levantada.

— A nova era. – Draco concordou.

— A nova era. – seguiu o Sr. e a Sra. Malfoy.

— A nova era. – Voldemort.

— A nova era. – todos.

Muitos flashes se seguiram enquanto cada um levava a taça a boca. Hermione sentiu que seu braço havia congelado. Ainda escutava o coro de toda a sala clamar pelo brinde. Um clamou dotado da mais densa inveja presente no mundo.

— Beba, Hermione. – a voz de Draco soou ríspida em seu ouvido.

Ela bebeu obedientemente. Viu os fotógrafos subindo os primeiro degraus para um melhor posicionamento e ela soube que era hora. Engoliu seco e virou-se. Draco não fez qualquer cerimônia e segurou seu rosto. A mão dele era tão grande que chegou a sua nuca, mas quando isso se passou pela cabeça dela, os lábios dele já cobriam os dela e os cliques das máquinas e o estouro dos flashes eram quase tudo que ela conseguia escutar.


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Notas finais do capítulo

Opa!!! Beijo na área... haha Se bem que não foi beeeeemmmmm um beijo, vamos combinar né?! hahaha De qualquer forma, se vc gostou e está ansioso pelo próximo capítulo, me deixe saber nos comentários, por favor!! :) Até domingo!!

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