Ironia do Destino escrita por Blue Wolf


Capítulo 1
I - Amanda Beatriz Leal, piloto


Notas iniciais do capítulo

Como dito, algumas partes ( que vão estar destacadas ) foram ditas pela rainha Debom na entrevista do Jô e eu dei uma leve modificada pra ficar de acordo com o contexto, vou deixar o link nas notas finais.É isso, boa leitura.



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Lá estava eu, sentada e encarando o público de sorriso no rosto. O teatro era grande e, nessa noite, estava lotado. As gargalhadas eram incessantes quando cheguei ao meu tema favorito, o casamento.

– Segundo o IBGE, cerca de trinta e dois por cento dos casais brasileiros se separam antes de completarem cinco anos de casamento e, desses trinta, vinte por cento não chegam nem a completar 2 anos. – A platéia ainda se acalmava de uma crise de risos e já se preparava para mais uma, tendo certo burburinho entre os presentes. – Eu faço parte dessa estatística, me divorciei depois de um ano de casada e não consegui manter uma relação de amizade com meu ex. Nós, mulheres, sofremos muito e todas aqui devem me entender, afinal a vida toda só aparecem caras pra te comer e nenhum pra assumir compromisso, não é? – Um sonoro “ é “ fez-se presente na platéia, num uníssono feminino. – Já o marido é um cara diferente, é aquele que vai lá, assume compromisso e não quer te comer! – A platéia caiu na gargalhada, afinal essa era uma das minhas melhores piadas. Sem esperar calmaria da platéia, continuei – É tipo o irmão mais velho que lambe a última bolacha no pacote “ Eu não vou comer mas ninguém vai “ – Falei gesticulando como se tivesse um biscoito e mãos, fazendo a platéia rir mais ainda. Levantei-me, ainda gesticulando. – Aí a gente quer manter amizade com esse homem diferente mas comigo não deu! Eu tentei, eu juro que eu tentei... – A amargura em minhas palavras em tom triste era palpável, não que alguém tivesse percebido isso em algum momento.

E assim o show se seguiu por mais trinta minutos, com gargalhadas incessantes e uma comediante desabafando de forma ácida e escarrapachada seu passado tortuoso. Nem tudo estava tão ruim pra mim, embora minha carreira como professora não estivesse tão boa assim. Há um mês havia sido demitida de uma escola particular e agora estava vivendo inteiramente para o teatro e cinema, o que não era de tudo ruim. Morava num apartamento no centro de Curitiba, não era tão confortável quanto eu queria mas é o que dá.

Já estava em casa, cansada e com um pouco de raiva. Talvez raiva de mim mesma, talvez raiva do casamento que deu errado ou raiva do Diego. É, raiva do Diego. Entrei em meu apartamento, acendendo a luz e trancando a porta. Larguei minha bolsa no sofá menor e joguei meu corpo no maior, deitando-me e tirando meus sapatos com os pés, o que era um baita alívio. Peguei o controle e liguei a Tevê, zapeando por entre os canais até uma propaganda me chamar a atenção.

– ... E nós da Newton fazemos de tudo para prezar a educação de nossos alunos! Mensalidades à partir de 500 reais!

Revirei os olhos, mudando de canal novamente. Já eram duas da manhã, quem raios assistia propagandas de escola a essas horas?! Acabei parando num canal fechado qualquer, assistindo uma série desconhecida enquanto pensava no espetáculo que ocorrera há pouco. Era tão fácil xingar meu querido Diego que eu tinha vontade de agradecê-lo por me fornecer oitenta por cento dos meus textos, mas aí lembro dos três meses de terapia e sinto vontade de arrancar sua cabeça à tapas, o que indicava que a terapia não havia funcionado muito bem. Mas, como nada na vida são flores – especialmente pra mim – , apenas sigo minha vida. Amanhã tinha outra apresentação, dessa vez no Teatro Guaíra e a gravação do longa que iria protagonizar, o que tirava todo o meu tempo disponível para lazer e dar aulas. Inclusive fui demitida por isso. Cansada desses meus diálogos imaginários e tomada pelo cansaço físico, acabei por adormecer no próprio sofá, com Tevê ligada e luzes acesas.

[...]

– Você, Diego Menezes, aceita Amanda Beatriz Leal como sua única e legítma esposa? – Estavamos de frente, eu olhando nos olhos de meu futuro marido com um sorriso singelo enquanto ele repousava a mão direita em meu rosto, fitando-me com intensidade. Em uma voz rouca e sedutora, disse:

– Aceito, afinal ela é tudo que mais quero nessa vida. – Algumas lágrimas brotavam em meus olhos de tanta felicidade. Sentia a nescessidade de beijá-lo naquele instante, mesmo que fosse inapropriado.

– E você, Amanda Beatriz Leal, aceita Diego Menezes como seu único e legítmo esposo? – Sorri largamente, sentindo o gosto de uma lágrima chegar aos meus lábios. Minhas mãos estavam na altura de minha cintura sendo seguradas pelas de Diego. Fechei os olhos por alguns segundos, tentando não me perder nas emoções. Após alguns segundos, disse.

– Ele é o amor da minha vida, então, sim, eu aceito.

[...]

Acordei num pulo e com dores, afinal é horrível dormir no sofá. Acabei por sentar no mesmo, esfregando os olhos e bufando, cansada. Peguei meu celular, que estava na mesinha de centro e olhei as horas. 8:20. Arregalei os olhos e levantei num salto, correndo para o banheiro e jogando meu celular no sofá. Despi-me numa velocidade anormal, pegando a pasta de dente e a escova. Corri para o chuveiro, onde tomei o banho e escovei os dentes, demorando cerca de 10 minutos. Sai do banheiro correndo, pondo as roupas íntimas, calça de couro, salto alto meio pata, camisa branca solta e uma maquiagem rápida, dando destaque aos lábios. Peguei minha bolsas às pressas, saindo o mais rápido que os saltos permitiam.

Apressada com o siena preto, acelerei. Como o trânsito curitibano era, de longe, mais tranquilo que o de São Paulo seria fácil e rápido chegar lá, não é? Errado, muito errado. Estava dirigindo com certa velocidade e levemente desesperada por estar uma hora atrasada. Ouvi meu telefone tocar de dentro da bolsa, provavelmente era o diretor querendo meu fígado para o jantar, então acabei desviando o olhar do trânsito para pegar o celular. Olhava para a rua e para a bolsa alternadamente à cada dois segundos, tentando evitar possíveis acidentes. Falhei miseravelmente. Quando peguei o celular, observei no visor ser o diretor em sua décima chamada pra mim. Como não haviam carros na estrada vazia, foquei no celular. Pressionei o botão de atender e quando me voltei para a rua era tarde demais. Vi o borrão de uma pessoa de mochila nas costas e camisa branca que tentava atravessar vagarosamente e, infelizmente, estava muito em cima. Não consegui frear a tempo e nem a buzina o fez sair do caminho. Tive a visão horrível desse ser passando pelo capô e sujando-o de sangue enquanto meu diretor gritava ao celular de forma que, mesmo do chão, dava pra ouvir. Fiquei boquiaberta, em estado de choque, por alguns segundos, minhas mãos estavam trêmulas enquanto um grande grupo de pessoas aproximava-se do corpo do rapaz que, provavelmente, estava atrás do meu carro. Fiquei ali, no topor, até ser despertada por um homem vestido de branco tocando meu ombro, o que me assustou um pouco. Levei as mãos à boca, finalmente saindo do estado de choque. Olhei em volta, vendo o homem sendo carregado na maca até a traseira da ambulância enquanto a polícia e a imprensa chegavam aos poucos. Com a ajuda de um calmante, consegui sair do carro, trêmula. Peguei meu celular e notei 30 chamadas perdidas do meu diretor, Alisson, que deve estar puto. Desbloqueei o iPhone 6, indo na lista de contato e ligando para o mesmo. Não seria demitida nas etapas finais de filmagens mas também não seria parabenizada por atrasar a equipe. Levei o celular até a orelha, logo sendo atendida.

– Amanda Beatriz Leal, se você não me der uma boa explicação eu juro que vou comer seu cu sem cuspe! – Ele gritava no telefone, fazendo uma dor de cabeça surgir do nada. Levei a mão livre até a têmpora esquerda, massageando-a.

– Alisson, eu sofri um acidente. – Seus berros cessaram ao ouvir minha voz trêmula e confusa. Logo um tom de preocupação se fez presente em suas frases.

– Tá’ tudo bem? Cadê você? Se machucou? – Suspirei quando um dos policiais tocou meu ombro. Virei em sua direção, levantando o indicador num pedido silencioso de um tempo a mais. Tomei fôlego, ainda absorvendo as informações.

– E-eu atropelei... eu atropelei um cara - Disse numa voz triste e baixa, ainda em choque. Pisquei algumas vezes, me lembrando dos acontecidos recentes. – Tô’ na Vicente Machado e... e eu acho que matei uma pessoa, Alisson... – Engoli a seco quando a realidade surgiu como um taco de baseball batendo no meu rosto. Senti a agonia tomar conta de mim bem como as lágrimas reinando sobre meu rosto, entrando em desespero e saindo do topor causado pelo choque.

– Como é que é?! – Berrou ao telefone. Dei alguns passos, me jogando no meio-fio. Alisson estava longe de ser alguém, digamos, minimamente sensível e prestativo. Sentada no meio-fio, junto minhas pernas dobradas a frente do corpo e uso como um apoio para meu braço livre. Ponho a mão livre em meu cenho, remexendo na raiz do cabelo. – Sabe que você vai trazer um escândalo do caralho? Que vai atrasar essa merda de filme, sua incompetente? – Com as sábias palavras de Alisson minha autoestima foi lá pra cima. Se eu estava me sentindo uma bosta agora me sinto como estrume! Obrigada, Alisson! Não consegui dizer nada conciso, apenas balbuciar qualquer coisa. – Seguinte, sua bostinha, você vai resolver isso, tipo, pra ontem, e nós vamos terminar essa porra de filme no prazo. Entendeu? – Seu tom era baixo mas de pura raiva e nervosismo. Eu que atropelei e ele que entra em crise.

– Eu vou resol...ver.... – O ignorante desligou na minha cara! Minha vontade era de jogar o celular no chão e pisar nele enquanto choraria loucamente como uma criança de cinco anos mas, ao invés disso, guardei o celular no bolso e abracei minhas pernas, abaixando a cabeça e chorando. Tinha como esse dia piorar? Com certeza.


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Notas finais do capítulo

Link da entrevista da Rainha Debom : http://globotv.globo.com/rede-globo/programa-do-jo/v/jo-soares-entrevista-a-atriz-veronica-debom/3507955/É isso, boa leitura ♥



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