“Reconhece a queda e não desanima. Levanta, sacode a poeira. E dá a volta por cima.” – Paulo Vanzolini.

–Dra Tisdale? – grita Morgan vindo em minha direção, assim que Lizie saiu, tento dar um sorriso, enquanto me recomponha, mas devo confessar, que minha conversa com minha ex-amiga, mexeu um bocado comigo – Você esta bem?

–Estou – respondi somente.

–Tem certeza? – parecia preocupado, provavelmente Spencer havia-lhe dito alguma coisa.

–Estou – claro que não estava, mas estava tentando disfarçar – Eu... sabe... – tentei disfarçar ainda, mas não conseguia, comecei a gaguejar – E que... melhor... melhor irmos trabalhar.

–Tudo bem – concordou desativando o alarme do carro.

Entramos no carro, e ficamos em silencio por um bom tempo. Sabia que Morgan estava me analisando, aquilo estava me irritando, mas continuei em silencio olhando para a janela.

–Quantos anos você tem?

–Vinte oito – respondi somente.

–Você não é muito de conversar não é? – perguntou-me para quebrar o gelo.

–Não muito – respondo indiferente, sabia que ele estava me perfilando – Principalmente quando meu dia não vai bem.

–O que aconteceu?

–Como se você não soubesse – respondi sorrindo, dessa vez olhando para ele.

–Sei uma das versões – Olhando rapidamente para mim, e voltando seus olhos para a estrada - Qual é a sua?

–Vai por mim, você não vai querer saber – retruquei, voltando a olhar para a janela. Ficamos em silencio novamente, ate que ele retoma a palavra mais uma vez.

–Reid esta preocupado com você.

–Qual é o plano? – perguntei trocando de assunto, no fundo gostei da noticia de que Spencer estava preocupado comigo, mas não queria deixar transparecer isso, Morgan provavelmente contaria para ele.

–Ele sofreu muito durante esses anos – insistiu me obrigando a olha-lo.

–O que quer dizer?

–Quero dizer que, faz um tempo que não o vejo feliz por encontrar uma pessoa, você parece uma mulher incrível, é bom ver meu amigo feliz de novo – Ergui uma sobrancelha e continuei encarando-o – Olha só, não sou a melhor pessoa para dar conselhos morosos...

–Exatamente isso que eu estava pensando – retruquei brincando.

–Estamos disputando quem perfila melhor o outro? – perguntou ele sorrindo, entrando na brincadeira.

–Você quem começou.

–Como eu estava dizendo – continuou sorrindo – Não sei como Reid era quando você conheceu-o, mas ele mudou muito...

–Sim eu percebi – interrompi-o novamente.

–Não sei como você interpretou o que viu – prosseguiu, ignorando minhas palavras – Mas posso te garantir, que você não vai se arrepender se der uma segunda chance para ele – voltei a olhar para a janela, fiquei novamente em silencio por um tempinho – Não vai dizer nada?

–Sei muito bem o que vi...

–Medson só tente pensar com calma e...

–Sei que minha amiga da onça deu em cima dele, provavelmente para me fazer ciúmes, o que com certeza ela conseguiu fazer muito bem, tanto que perdi a cabeça... perdi a cabeça com Spencer que não fez nada de errado... – o carro estava parado no sinal vermelho, Morgan me olhava com a boca entreaberta – Também sou perfiladora Morgan.

–É estou vendo que você pensou com calma – comentou rindo.

–Spencer não fez nada errado, ele é educado de mais para dar um soco na Lizie – ele sorriu, acelerando o carro, logo que o sinal abriu – Fiquei com ciúmes por que... por que voltei à delegacia... apenas para falar com ele.

–Você também gosta dele, só não quer admitir.

–E você devia parar de me perfilar.

–Você também esta fazendo o mesmo comigo.

–Touché – respondi.

–Vocês dois tem muito em comum.

–Porque diz isso? – pergunto curiosa.

–São dois genioszinhos.

–Não tenho um QI como o dele.

–Claro que não – brincou – Ninguém tem.

–Você parece ser muito amigo dele.

–Eu tento – sorriu – Mas às vezes a inteligência dele me irrita.

–Você não me pareceu ter ciúmes dele – perguntei confusa.

–Não tenho – respondeu-me – Temos muita sorte de tê-lo trabalhando conosco.

–Então porque a inteligência dele te irrita?

–Tente discutir com ele sobre qualquer assunto, por mais que você ache que domina o tema escolhido, ele ganha a discussão.

–Vai por mim – sorri – Sei bem como é isso, por mais que eu é que fizesse medicina, ele sempre sabia tudo sobre todas as matérias.

–Então você concorda que isso irrita?

–Não concordo – respondo virando-me para a janela novamente.

–Como não concorda? – perguntou-me surpreso.

–Porque isso sempre me fez estudar mais, mesmo que eu soubesse que nunca ganharia uma disputa de conhecimentos com ele, pelo menos, prolongava a discussão.

–Como eu disse, vocês tem muito em comum.

–Talvez um pouco – concordei com um sorriso.

–Você tem que falar com ele.

–Vou falar... – respondi pensativa – Vou falar depois... depois que este caso acabar.

–Claro, tudo bem.

–Será que agora você pode me contar qual é o plano? – perguntei depois de uns minutos de silencio.

–Posso... – respondeu-me sorrindo – Vamos ficar de olho nas crianças e nas famílias.

–Em todas? – perguntei curiosa.

–Sim.

–Só nos dois?

–Mais ou menos.

–Como vamos fazer isso?

–JJ e Rossi estão vigiando uma das crianças de perto, uma das duas que reduzimos com o novo perfil. Hotche e Kate ficaram com a outra. Já Spencer, não sei exatamente o que ele vai fazer.

–Ta, mas e nós dois?

–Ficamos observando algumas câmeras de segurança, vigiando as outras, assim como você sugeriu.

–Não entendi, não podíamos ficar da delegacia fazendo isso?

–Sim e não – olho-o confusa – Sim até que podíamos, mas a delegacia não é móvel.

–E?

–Vamos ficar em um carro de vigilância do FBI, de ultima geração.

–Ainda não estou entendendo.

–Teremos policiais vigiando todas as crianças, todas as quinze, mais ainda por precaução, você e eu, ficaremos observando a certa distancia, não só as crianças, mas tudo em sua volta, câmeras de segurança e tudo mais, se vermos algo suspeito, alertamos quem esta responsável por ela.

–Ta mais porque não fazemos isso da delegacia?

–Porque alem de alertamos, iremos ajudar a equipe que precisa de reforço, entendeu?

–Ta, mas não faríamos a mesma coisa da delegacia?

–Não.

–Porque não?

–Por que – ele estacionou o carro de repente – Por que daqui estamos à mesma distancia de todas as casas.

–Logo chegaremos mais rápido, independente do lugar que acontecer o problema, é isso?

–Sim.

–Legal.

–Vamos – comentou descendo da viatura.

–A onde vamos?

–Ao carro de vigilância – apontou para uma minivã, aparentemente normal.

–Serio? Esse é o seu carro de ultima geração?

–Sim – sorriu – Entra – então abriu a porta para mim.

–Obrigada – mas foi só entrar, para eu ver que estava errada, por fora não parecia muita coisa, mas por dentro era incrível, cheia de computadores, tela para todos os lugares, realmente havia vários aparelhos eletrônicos de ultima geração – Uau – exclamei.

–Eu te avisei – achou graça da minha cara – Sente-se, teremos um longo dia.

–Tudo bem – respondi, sentando em uma das três cadeiras, que tinha lá, de fora não parecia ser tão grande – Não sou boa com computadores – comentei um pouco apreensiva.

–Não é tão difícil – comentou apertando uns botões – Até porque uma pessoa já deixou tudo instalado para nós dois, é só ligar os monitores.

–Deixa eu adivinhar – brinquei ligando os monitores na minha frente – Garcia?

–Sim como sabe?

–Spencer me disse que ela é a sabe tudo de vocês.

–Sim ela divide esse posto com o Reid.

–Imaginei – sorri.

Ligamos todos os monitores, e em cada uma tinha a imagem de uma casa, de cada uma das famílias, para ser exata.

–Como vai funcionar esse monitoramento, vocês conversaram com as famílias para ficarem apenas dentro das casas?

–Não falamos com eles.

–Então, o que faremos se eles saírem?

–Simples, enquanto estão em casa nós monitoramos, se saírem de carro, também, juntamente com os policiais que estão vigiando, mas se por acaso entrarem em algum estabelecimento, Garcia abre as câmeras de segurança para nós, entendeu?

–Acho que sim – respondi somente.

Agora era hora de trabalhar, cada detalhe é de estrema importância.

“As coisas apenas valem pela importância que damos a elas” – André Gide.