Platônico escrita por Didilicia
Notas iniciais do capítulo
Se gostar, comenta =)
Platônico: por definição “aquilo que é idealizado, puro, sem o elemento sexual ou material”. A paixão platônica impossível, difícil ou que não é correspondido. Ama-se a distancia. Não há APROXIMAÇÃO, TOQUE, ENVOLVIMENTO. A fantasia prevalece.
Ela o vê chegar através das lentes de seus óculos escuros. O barulho do motor da moto atravessando o estacionamento dos estúdios – (inconfundível). Ela atrasa o passo, disfarça, inventa uma ocupação. Alguns minutos a mais na entrada e o encontro parecerá casual – (tudo absolutamente planejado)
“Oi”
“Oi”
Sorrisos.
Ele traz o capacete na mão e uma mochila nas costas.
Ela usa salto alto e o cabelo preso para o alto.
“Como está indo?” – ele pergunta.
Ela sente vontade de falar, dar uma pista, uma indicação.
Então ele diz antes mesmo que ela responda qualquer coisa - “Você precisa parar com isso”
(Ela está confusa. Ele sabe?).
“Estacionar muito perto da grade de proteção...” – ele diz.
“Oh!”
“Quase encosta no seu para-choque”.
A vontade permanece presa na garganta.
...
Faz parte dessa vida, e se você é destaque vai ter sempre um repórter querendo te entrevistar. Não importa se já é hora do almoço, se você passou a manhã inteira gravando e decorando textos. Eles querem te ouvir.
A mocinha pergunta sobre a família dele, sobre a esposa. Ele, é claro, é só elogios. “Não temos babá. Ela cuida de tudo e é a rainha da casa”.
No canto da sala de ensaios, ela almoça quieta, porém atenta ao que está sendo dito naquela conversa da qual ela não faz parte. A comida parece estar perdendo o gosto.
Uma mentira repetida algumas vezes se torna verdade.
“Não me importa vê-lo falando da esposa...”.
“Não me importa vê-lo falando da esposa...”.
“Não me importa vê-lo falando da esposa...”.
“Não me importa vê-lo falando da esposa...”.
(Não é verdade. Ah! Ela se importa...).
- O que você acha do título de galã?
Diante da pergunta clássica ele ri. “Pô! Precisa ver com a empresa se existe uma pasta de galãs e se estou lá”.
“Para estar ao meu lado tem de ser”.
(De onde saiu esta pequena intromissão? Nem ela é capaz de explicar).
Ele fica sem jeito, sorri e olha pra ela. A repórter anota algo no papel e já era! A evidência está lá.
...
“Vamos repetir? Só precisamos ajeitar a luz. Desculpem”.
Ela respira fundo. Pega o texto. Relê o último parágrafo. O outro colega está concentrado. Eles precisam beijar.
A direção avisa novamente para todos voltarem para suas marcas. Ele ainda não deu o “ok” e é nesse momento que ela desvia o olhar para trás das câmeras. Seus olhares se cruzam e ele sorri... Porque de vez em quando ele faz isso: observa os colegas em cena e aprende.
“Gravando!”
O texto é executado com sucesso. O beijo? Nem tanto. Parece que não será dessa vez.
Ela vai até ele quando acaba.
“Gostou?”.
“Faço melhor”.
“O que?”
“Beijar você”.
(Eu gosto do jeito que você me beija e não tenho certeza se deveria)
“E você gosta?” (de me beijar...) – ela quase não consegue deixar de sorrir.
Ele ri alto. E é esta a minha resposta.
Paramos no corredor, ele pega um copo plástico e enche até a metade de café.
“Preciso acender um cigarro”. - ele diz.
“Posso te acompanhar?”
...
Estão encostados na parede, do lado de fora, na lateral dos estúdios. Não passa muita gente por alí e por isso é um bom lugar para relaxar.
Ele leva o cigarro a boca e solta a fumaça pra longe. Ela não tira os olhos dele acompanhando os movimentos de sua mão, depois sua boca, e seus olhos.
(Como ela pode resistir?)
As luzes estão acessas. O céu já está escurecendo.
APROXIMAÇÃO:
Ele finalmente olha pra ela – fixamente, por alguns segundos. Ela devolve o olhar e eles ficam assim estudando um ao outro.
Inesperadamente ele se inclina até ela e a beija no pescoço (bem naquele ponto atrás da orelha, por entre as mechas do cabelo dela). Ele aproveita para sentir o perfume que vem dela– uma mistura cítrica do cheiro do shampoo com o aroma doce e marcante da pele dela.
“Você gosta?” – ela insiste.
TOQUE:
Os dedos dele tocam de leve o rosto dela, passeiam pelo contorno das maças do rosto e seguem para a boca dela, alisando os lábios.
“Muito”.
“Vamos sair daqui”. – Ela propõe.
...
ENVOLVIMENTO:
Caminham juntos até o carro dela.
Ela aperta o alarme, destravando as portas antes mesmo de chegar. Ele abre a porta de traz e entram.
Ele avança sobre ela e a beija na boca. Sua língua busca o espaço que ela cede, e compartilha com ele num jogo perigoso de sempre querer mais e mais.
As mãos dela agarram a camisa dele e abrem os botões com pressa e agilidade. Seus olhares de desejo se cruzam outra vez. (Não há segundos pensamentos).
O beijo recomeça. As mãos dele agora estão explorando o corpo dela por debaixo da blusa.
(Eles sabem o que querem).
Suspiros. Gemidos. O impulso os move adiante. Ele a coloca em seu colo, de frente pra ele. Ele está pronto pra ela.
Eles nunca se arrependem enquanto fazem (mas a culpa está lá e às vezes vem depois). Apesar disso, eles sempre acabam fazendo tudo de novo. (Exatamente como agora).
Outra vez,
E outra vez.
A realidade esquecida. Eles vivem a fantasia do agora.
~Fim.
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