"Eles são uns idiotas, eu gritei por cima da grama. Você vale mais do que todos eles juntos." - F. Scott Fitzgerald.

As celas da prisão eram escuras e frias, e ela as conhecia melhor do que desejava. Escuras, frias e sujas. Escuras, frias, sujas e intimidadoras. Era como se as paredes fossem se fechando mais e mais ao seu redor, como se pretendessem que você morresse asfixiado em uma pequena caixinha escura, fria, suja e intimidadora. Éponine já vivenciara esta experiência uma vez, e depois dela, houvera outra, e outra, e outra, e mais outra.
Ele lhe dissera uma vez que ela era a única garota de dezesseis, quase dezessete anos que já fora presa mais de oito vezes em um período de três meses. Ela dera de ombros e respondera que nascera para o crime, assim como seu pai, sua mãe e todos os seus quatro irmãos. Ele, descaradamente, negou veementemente com a cabeça.
"Não", dissera. "Você não pertence a este lugar. Quero dizer, não pertenceria, se fizesse algum esforço".
Ela somente revirara os olhos e respondera que os Thénardier não eram famosos por fazer esforço para coisa alguma, principalmente para ganhar o seu sustento.
E era por isso que ela estava ali.
De novo.
Mas daquela vez ela podia orgulhosamente dizer que não fora sua culpa. A Patron-Minette, acima de tudo seu pai, a obrigara a participar do roubo a casa de um membro da alta sociedade naquela noite, ameaçando-a com castigos se ela não cumprisse o serviço.
Parece que, no fim, o conselho que o Inspetor Javert lhe dera há quatro prisões atrás estava finalmente tomando um lugar respeitável na mente da jovem Éponine.
Na hora do interrogatório, ela lhe contou sem medo sobre todos os castigos que a gangue lhe submeteria se ela não concordasse em ajudá-los no roubo, sabendo que ela estava segura ali, enquanto houvessem homens da lei que poderiam parar seu pai ou Montparnasse se algum deles tentasse lhe fazer algum mal. Principalmente Javert.
Ela odiava admitir, mas se sentia extremamente segura e protegida quando ele estava por perto, por nenhuma razão aparente. Ela não era nada para ele, somente mais uma criminosa comum.
Pelo menos era isso o que ela pensava até aquela noite.
Quando foi decretado que a gangue ficaria na prisão até que o juiz decretasse seu veredicto, Éponine foi inocentada e mandada para casa. Casa. Ela não tinha casa. Se voltasse para a Casa Gorbeau, sua mãe bateria nela por não ter assumido o crime e não ter ficado na prisão com os outros, e seus irmãos provavelmente estariam em alguma viela daquela enorme cidade, revirando latas de lixo ou mendigando. Ela não tinha para onde ir.
A jovem estava andando de um lado para o outro fora da delegacia, exposta ao frio cortante de Novembro e pensando no que iria fazer dali para a frente, quando o Inspetor Javert saiu de dentro do edifício, fixou seus olhos azuis como gelo na garota e murmurou algumas palavras que fizeram a diferença para ela naquela noite:
"Eles são uns idiotas", dissera ele. "Você vale mais do que todos eles juntos."
Éponine sorriu. Talvez ele estivesse certo. Talvez ela realmente fosse uma boa pessoa, e talvez pertencesse a algum lugar iluminado, quente, limpo e onde as paredes não ameaçassem se fechar mais e mais ao redor dela.