Lion's Curse escrita por The Marvel Girl


Capítulo 2
Mentes sem medo.


Notas iniciais do capítulo

Bem, sei que demorei muito, mas tenho uma explicação plausível. Estive bem doente estes dias e peço desculpas pela demora. Peço também desculpas pelo capítulo curto. Estava maior, mas decidi dividi-lo em duas partes — para dar mais ênfase quando Aiolia decidir mostrar a sua forma original de homem.
Agradeço os comentários e peço desculpas pelo possíveis erros ortográficos. Ainda estou um tanto mal e não tive muito sucesso em ser minha própria beta.
Espero que gostem!



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" Quem vence sem risco, triunfa sem vitória.
Não tenha medo da vida...
Não tenha medo de vivê-la. "

— Augusto Cury

Shaka

Ainda era um tanto difícil compreender a visita relâmpago ao zoológico e a estadia por lá não tornou nada claro para mim. Pelo contrário. Sabe aquela pulguinha atrás da orelha que se recusa a ser ignorada não importa quanto sua mente trabalhe arduamente nisto? A "pulga-curiosidade". Ela estava fazendo minha mente desviar dos caminhos calmos.

O que levaria ao excêntrico milionário dono de um leão que por motivos obscuros veio parar na floresta indiana pagar em uma hotel caríssimo para que todos de nosso pequeno ashram obtivessem máximo conforto enquanto desfrutavam do lindo jardim botânico/zoológico? Nem devo mencionar que Asmita não esclareceu sequer uma única vírgula para mim. Não saciou minha curiosidade e tinha deixado todos nossos clientes sobre meus 'atentos cuidados'. Um de nossos aprendizes me ajudava nas tarefas a serem executadas. Asmita simplesmente não dava mais o ar de sua graça.

Estávamos desfrutando de um amanhecer agradável. Se ignorasse o barulho dos carros e bicicletas e pessoas e de toda uma cidade fervendo em horário comercial ganharia o canto dos pássaros e muita, muita, muita calma. Mas deveria se concentrar muito! Se quer eu estava conseguindo. Isso me irritava um pouco. Em parte pelos barulhos, em parte pelos pensamentos que giravam como um turbilhão prejudicando seriamente minha desenvoltura como guru para os alunos. Gosto de me destacar. Gosto de apresentar serviço; Sou chato e perfeccionista.

" O passo mais importante para ser feliz era conhecer o próprio eu. Não conhecer seu próprio eu resulta em angústia e tristeza. "

Não, está frase não é de Gandhi. É de um antigo filósofo que teve grande importância na psicologia em seus primeiros passos. Soren Kierkgaard. Dinamarquês e dono da teoria conhecida como "Ser quem realmente somos". Sou uma pessoa bem realista e mantenho os dois pés bem presos ao chão e logo situações angustiantes ou de tristeza são coisas que evito. Não gosto de complexidade. Não sou nobre. Eu procuro me conhecer. Saber exatamente quem o meu eu é.

Deve ser por isso que quando, enfim, minha vida girou 360 me senti incapaz, chateado e arredio. De todos o pior foi o incapaz.

Após a manhã estressante. Após o dia nem um pouco bem pensando e após mil e uma conspirações rondarem minha mente, enfim foi anunciado nossa volta. E nossa caravana não iria voltar sozinha.

Estávamos reunidos no restaurante selfservice do hotel. Eu tentava fazer da minha decisão entre salada de rabanetes ou somente o curry fosse a decisão mais importante que meu cérebro deveria tomar assim talvez ele se esquecesse de suas outras especulações. Decidi por adicionar salada de frios e os rabanetes. Fui para a mesa de pudim e peguei um pedaço de uma torta de maçã quando ouvi, enfim, meu mestre se pronunciar.

Me mantive de costas ouvindo suas palavras e sorrindo de orelha a orelha internamente. Lar doce lar! Voltaríamos amanhã, após a meditação matinal. Respirei fundo e dei uma mordida na torna antes que colocar o restante na bandeja quando ele enfim revelou:

Iremos com um velho amigo, aquela que foi generoso nos instalando neste maravilhoso estabelecimento. O sr. Oberon virá conosco e permanecerá em nosso ashram o quanto tempo ele desejar.

As solteironas começaram a cochichar. Os homens pouco ligaram, apenas voltaram as suas refeições já se programando para dormirem cedo. Manterem o programa, coisa que sei que as mulheres solteiras em específico terão certas dificuldades de fazer. E no meio daquelas reações variadas ali fiquei eu, parado, com minha torta olhando meu prato.

O leão também iria? Onde manteríamos aquele animal? Seria como circo? Ou ele pensava em deixá-lo desfrutar da boa vida do zoológico?

Bingo.

Agora minha mente trabalhava com mais hipóteses. Mais perguntas.

Argh!

Retomamos nossa rotina normal. Ou quase normal.

Faz uma semana que estamos de volta e certas coisas se alteraram. Asmita passa quase 98 % de seu tempo da biblioteca de nosso ashram. Vivem enfurnado entre pergaminhos e livros abertos como estudantes se matando para produzir uma monografia digna do Nobel.

Eu?

As mesmas coisas. Aulas de meditação, supervisão dos calouros. Sinceramente, nunca vi nada mais magro que um jovem indiano e se existe na terra não quero que minha imaginação vislumbre a pessoa. Eram altos, magros de mais. Os ossos dos ombros chegavam a ser expostos. Eu nunca fui assim.

Sempre tive um corpo esguio e bastante músculo separando minha pele de meus ossos. Nada que me identifique como fisiculturista, nada que indique que algum dia malhei. Apenas músculos adquiridos de alguns trabalhos manuais. Tanto na Europa quanto na Índia.

Por falar em trabalho manuais, meu mais novo trabalho é alimentar o leão.

Bingo!

Ele está conosco aqui. Numa cela sobre rodas, assim como em um circo. Ele passa o dia deitado preguiçosamente nas barras. Os pelos se projetando para fora, junto a juba e o rabo que ele balançava sem algum padrão rítmico. Ele acabava com minha matemática!

Todo dia eu levava sua comida e trocava sua água. Ele não se movia. Ficava me fitando intensamente com aqueles olhos de felino ranzinza. Por trás daquilo tudo eu apenas imaginava se não era assim que o mundo me via. Se não era assim que eu era.

Um dia, na sexta, quando eu levava comida para nosso inquilino felino eu me sentei em um tronco e fiquei olhando-o tomar água. O meu estudo foi retribuído e seus olhos pareciam ler minha mente e alma. Minha essência.

Está calor, não está? ele balançou a calda e suas orelhas se mexeram rapidamente. Piscou e continuou o contato comigo. Não deve ser legal ficar aí. Digo, você é o rei da selva. É parte de você ter seu território, leoas, leõezinhos e lutar com outros machos. Se quer ouço você rugir. Parece estar... solitário.

O olhar que ele lançou em minha direção me fez ficar estadualizado. Um vento forte lambeu meu corpo como se me forçasse na direção do animal. Ele se colocou sobre as patas e ficou andando de um lado para o outro sem tirar seus olhos de mim. Me aproximei em passos largos e quando já estava a meio metro ele enfim se sentou. Ele estava me chamando. Eu sei que estava. Digo, é loucura, mas eu sinto que estava.

Estendi minha destra e fui aproximando aos poucos das barras. No meio do caminho ele enfiou o focinho entre as mesmas e encostou em minha pele. Cabeça abaixada e olhos fechados como quem diz "Hey, me toque!"

Desde então tudo mudou.

Não é mais tão ruim tê-lo ali. Digo, ele ouvia pacientemente meu descontentamento com seu dono e as vezes grunhia quando fala algo sobre Sísifo, como se concordasse plenamente. Eu gostava de sua companhia e ele da minha. Em dias que me atrasei para nosso encontro o vi apreensivo, olhando entre as barras como um filhote perdido. Quando me aproximava ele se sentava ou deitava. Ouvia atentamente meus resmungos ou coisa parecia e enfim firmamos algo como uma ponte sólida que nominei como 'amizade de pet'. Tipo quando tem um gato ou um cachorro? Bem, eu tenho um leão.

Dei sua comida e me sentei para conversar. Um ritual sagrado de todos os dias, mas neste Oberon veio até nós. Pediu um momento a sós com o leão. Um dia, quando indaguei onde e como ele tinha encontrado aquele animal e jubas negras ele apenas disse "Tenho uma ligação especial com ele. O encontrei quase morto, quando minha alma estava quase morta. Nos curamos juntos". Fiquei enciumado dele roubar primeiro meu mestre, agora o meu leão.

Evitei e segurei o muxoxo em minha garganta e sai indo para dentro do ashram.

Fiquei escolhendo grãos na cozinha quando o primeiro raio caiu. Foi um estrondo medonho e as moças se encolheram com um gritinho. Eu mesmo me encolhi um pouco mais. A luz piscou e os vendos ficaram fortes o bastante para bater as janelas e portas com força total.

Enquanto uns corajosos recolhiam as roupas, outros reunião as pessoas no salão principal. A chuva começou a cair impetuosa e torrencial. Sísifo entrou ensopado. Eu estava fechando a janela dos fundos quando ouvi o ferro ranger como um mau agouro. Ergui os olhos e meu sangue gelou.

Milhares de coisas passaram pelos corredores de minha mente. Cada pensamento diferente do outro. Cada um empurrando minha sanidade para um cantinho e calando-a. Primeiro, por que ele estava solto? Segundo, e se atacasse alguém? E quarto... se ele fosse atacado.... Um tigre o mataria.

Ele me mataria se eu fosse atrás.

Deveria contar a Sísifo e esperar que ele arrumasse um jeito. Esse era o modo sensato....

Mas o meu eu não pensou em agir de forma sensata.

Pulei a janela e sai correndo para a trilha onde via as pegadas de suas patas. Eu tinha que achá-lo. Precisava.


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Notas finais do capítulo

Aqui vai uma sugestão de música que podem encarar como trilha sonora.
Minds Without Fear — Imogen Heap :
https://www.youtube.com/watch?v=VVUM_jhsTFc



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