O Herdeiro de Odair escrita por Bru Semitribrugente


Capítulo 8
Pessoas com quem nos importamos


Notas iniciais do capítulo

ola pessoinhas!
capitulo novo.
espero que gostem, boa leitura!



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— Liam espera! — eu ouço a voz de Ariane vindo correndo atrás de mim, mas não paro de andar, a adrenalina ainda está zumbindo em meus ouvidos, junto com meu ódio. Não quero que ela me veja assim. — Hey Liam! —  ela me  e segura meu ombro. Eu paro e olho para ela,  não está irritada como eu achei que estaria, ela parece preocupada.—O que aconteceu? O que o estúpido do meu irmão fez agora?

— Ariane... —  eu não sei o que dizer, ainda estou com vontade de ir até lá e bater nele até que ele fique incapacitado de fazer qualquer crueldade com Louise. — Me desculpe por aquilo... eu... eu acho melhor nós irmos para a aula.

— Tudo bem. Mas depois você me conta o que aconteceu? —  eu afirmo e volto a andar ela em ao meu lado. Chegamos à sala e vejo Louise sentada em seu lugar habitual olhando fixamente para as mãos, e de repente eu fico com raiva por ela não ter me contado. Paro e pego a carta em minha bolsa amassada e rasgada, ando até ela, que continua absorta em pensamentos, eu jogo a carta em sua mesa e ela olha para cima assustada.

— Que droga está acontecendo Louise? Por que você não me contou nada disso? — não penso no que ela vai pensar, não me preocupo que ela saiba que eu a segui. Ela olha da carta para mim.

— Liam...

—  O quê? Por quê? Eu só quero saber Louise! — ela se levanta e começa a juntar suas coisas. — Louise!

— Liam me deixa em paz! Eu não quero falar disso, eu não quero falar com você sobre isso. Eu simplesmente não quero nada! —  ela grita então passa por mime vai embora.

— Louise! — então sinto uma mão segurando na minha me puxando para trás, eu olho, Ariane, ela estava ali o tempo todo? Ela viu tudo isso? Eu fico envergonhado.

— Liam... Eu acho melhor você deixá-la sozinha. — ela diz então solta a minha mão quando percebe que eu não vou atrás dela. Eu desabo na cadeira mais próxima e passo a mão pelo cabelo. Quanta confusão antes mesmo da hora do almoço. Ela se senta ao meu lado.

— Arrisco dizer que isso é culpa do meu irmão! —  ela diz cuidadosa, como se achasse que eu iria explodir a qualquer hora, e eu sinto que posso, mas não quero que seja com ela, não quero que ela veja.

— Desculpe Ariane! Eu odeio me sentir assim! É horrível, me faz parecer uma pessoa que eu não sou. Não consigo nem imaginar o que você está pensando de mim agora.

— Eu estou pensando que meu irmão fez alguma coisa que deixou você e Louise bastante irritados. Ele faz bastante isso! Mas acho que dessa vez foi... pior!

— Me desculpe Ari...

— Hey! —  ela tira minhas mãos do meu rosto e as segura firme, eu olho para nossas mãos unidas, e para seus olhos azuis focados em mim, sem pena, ou irritação, simplesmente os olhos dela, aquele olhar que ela sempre me olhou e sinto a irritação aos poucos deixando meu corpo — você não precisa se desculpar comigo! Mas eu adoraria saber o que está acontecendo.

— Eu também não sei muito... — Os professores entram e Toby vem correndo para passar por eles antes que fechem a porta, os professores falam alguma coisa com ele que ri. Ele vem até nós.

— Hey eu vi a Louise andando pelos corredores, ela parecia bastante irritada, eu a chamei, mas acho que ela não ouviu, ou fingiu não ouvir. Aconteceu alguma coisa? — eu dou de ombros e suspiro, Ari aperta minhas mãos que ainda estavam segurando, os professores pendem silêncio.

— Eu te conto o que eu sei no intervalo ok? —  eu sussurro para ela que afirma. — Ariane... Obrigada! — não sei exatamente pelo que eu estou agradecendo, acho que por ela estar ali, ela sorri para mim e aperta minhas mãos mais uma vez antes de soltá-las, e assim que elas se vão eu sinto falta delas.

Acho que essa foi a pior aula de todos, não prestei atenção em quase nada do que disseram. Só conseguia ficar pensando que meu acesso de raiva não ajudou em nada, irritei David, que pode descontar em Louise, e irritei Louise, o que certamente não é uma boa ideia quando eu quero que ela seja minha amiga e me conte a verdade. Mas toda a vez que eu suspirava Ariane segurava minha mão e a apertava.

Quando finalmente o sinal para o intervalo tocou eu e Ariane fomos para o gramado e nos sentamos apoiados na árvore.

— Eu não sei direito o que está acontecendo. — eu conto a ela o que sei, Louise aérea há semanas, lendo coisas escondidas, então eu a seguindo e o encontro com David no circulo de pedra. — eu não entendo por que ele está afazendo isso, ele nunca colocou a Louise no meio disso tudo, geralmente ela se coloca no meio para interromper, será que é isso? Ele quer que ela pare de interromper, e resolveu fazer isso para dar uma lição? Se for isso eu... Desculpe-me Ariane, mas eu provavelmente terei que matar o seu irmão. — ela ri.

— Olha, eu não sei... Eu não acho que seja zoação, quer dizer ele nunca teve problema nenhum com Louise, quando ele ficava falando mal de você nunca falou mal dela também, e... Não sei dizer se ele estava diferente nos últimos tempos, mas ele tem passado bem menos tempo em casa, e no dia que ela foi lá ele foi muito gentil com ela e ficou em casa o dia todo, o que eu achei que ele não faria com ela lá, mas ele ficou, fez a lição, ofereceu coisas. Ele agiu como ele realmente age, não querendo ser... O David que você conhece. E essa coisa da carta... É algo que o David que eu conheço faria. Uma coisa que minha mãe nos contou que nosso pai fez com ela quando se conheceram.

— Então... Você acha que ele está falando a verdade? Que ele realmente está apaixonado pela Louise?

— Não sei dizer, ele é fechado com relação a sentimentos, sempre que eu pergunto ele simplesmente diz que não liga para isso.

— O mesmo que Louise diz!

— É, mas todo mundo liga para isso. De formas diferentes, mas ligam. E... Acho que você vai odiar que eu diga isso mas... Os dois...

— Nem termina! — eu digo, ela ri, eu deito na grama e coloco as mãos no rosto. — Isso é um pesadelo.

— E ela? Você acha que ela pode... Gostar dele?

— Ela parecia feliz, aérea, mas feliz, e isso, sendo zoação ou não a distraiu dos problemas familiares dela, não sei se ela gosta não li as outras cartas, mas enquanto eu estava escondido a vendo esperar por ele no circulo de pedra, ela realmente parecia... Ansiosa, curiosa e de um jeito... Feliz.

— E o que você vai fazer?

— Eu vou tentar falar com ela na saída. Eu preciso ouvir tudo isso dela. Não acredito que ela não me contou. Acho que eu estou mais chateado por ela não ter me contado.

— Amigos brigam às vezes, vocês vão fazer as pazes antes que percebam. —  O sinal toca e nós nos levantamos.

— Ariane, obrigada por hoje, você... Você foi maravilhosa! — Eu a encaro e ela sorri.

— Eu sei do que você precisa... Você precisa de um abraço. — Eu sorrio.

— Eu adoraria um abraço! — Ela sorri e me abraça forte, não sou muito de abraços, acho que só abracei minha mãe meus avós, meus padrinhos, e Louise. Mas esse foi diferente, ela é menor que Louise bate na altura do meu peito onde sua cabeça está agora e me preocupo se ela não sentirá meu coração acelerando por causa desse gesto, seu cabelo tem cheiro de mar e amoras, não sei quanto tempo ficamos abraçados, mas não pareceu ser o suficiente.

— Fica bem! E tente prestar atenção na aula, ficar vagando não vai ajudar em nada! — Ela pega sua mochila e começa a ir embora, eu sorrio.

— você está falando igual à Louise agora. — Ela olha para trás e sorri então vai embora.

Na hora da saída eu fico esperando por Louise, mas não a vejo, Ariane vem se despedir de mim, e ouvimos uma buzina irritada, olho para trás e David está com a moto parada na calçada, não consigo ver seu rosto por causa do capacete, mas arrisco dizer que ele não está feliz, ela fala para que eu fique bem e vai até o irmão, que depois que ela sobe vai embora arrancando.

Quando umas amigas de Lou da sala dela passam, eu as paro, acho que elas se assustam por me verem falar, geralmente quando Louise está com elas eu basicamente sorrio e afirmo quando falam comigo.

— Hey vocês viram se a Louise já saiu?

— A Lou não veio para aula hoje. Aconteceu alguma coisa?

— É isso que eu quero saber. Obrigada! —  eu vou embora e ouço umas risadinhas delas. Louise já havia me dito que elas me achavam bonito. Mas elas não são Ariane.

Vou até a casa de Louise e a encontro sentada na escada, ela me vê, mas não grita nem sai correndo, ou me manda embora, ela apenas me encara enquanto eu me aproximo e sento ao seu lado.

— Oi!

— Oi!

— Por que você está sentada na escada?

— Eu esqueci minhas chaves, minha mãe vai voltar para o almoço.

— você matou todas as aulas hoje? — Ela afirma. — por quê?

— Porque eu precisava pensar! — ficamos alguns segundos em silêncio.

— Nós precisamos conversar.

— É eu também acho.

— Então... Quando você estiver pronta para falar...

— Nós... Pode não ser aqui? Minha mãe vai chegar a qualquer hora e... Eu não quero falar disso perto dela.

— Tudo bem, vamos lá para casa. — nos levantamos e seguimos em absoluto silêncio até a minha casa. Quando abro a porta minha mãe está saindo com uma cadeira de praia e o guarda sol.

— Hey amor! Louise! Que saudades de você, tem que vir com mais frequência!

— Ola Annie, também senti sua falta! — elas se abraçam.

— Estamos indo a praia. Seu pai insistiu muito. Querem vir com a gente? —  eu olho para Louise, ela afirma.

— Claro que vamos. Deixa que eu carregue isso! — eu pego a cadeira e o guarda sol de sua mão.

— Vem comigo Lou eu vou pegar um biquine para você...

— Ah, não precisa Annie, eu não vou entrar dessa vez, vou fazer companhia para o Liam na beira!

— Ah tudo bem, então vamos. Mãe Finnick e eu vamos levar as crianças! — ela avisa, minha avó grita para que tenhamos cuidado então nós vamos. Alguns metros depois já estamos na praia, eu monto o guarda sol e a cadeira, mas enquanto minha mãe entra na água brincando com “meu pai” eu e Lou nos sentamos na areia com os pés na distância máxima que a onda chega. Olhamos minha mãe jogar água no espaço vazio e seguir mais para frente para fugir, sorrindo.

— Soube que você prensou o David na parede mais cedo e disse para ele ficar longe de mim! — nunca sei como ela descobre as coisas mas ela sempre sabe. Eu afirmo. — e a carta que você jogou na minha mesa hoje de manha... Como você sabia que era dele?

— Eu segui você ontem. Depois que você mentiu para mim dizendo que ia terminar o trabalho com a Ari, ela disse que você não falou nada então eu a vi saindo e a segui! — ela me encara. — não me olha assim, você mentiu para mim e estava estranha há dias, eu precisava saber por que e já que você não estava me contando nada eu tive que dar meu jeito.

— E você ficou... Você viu tudo? — eu afirmo. Ela suspira. — começou  tem um tempo, a primeira cara estava no meu armário. Eu vou te poupar das coisas que estavam escritas, eu achei que fosse uma brincadeira, pensei até que fosse você me zoando, você sempre disse que tinha alguém em algum lugar que gostava de mim... Mas passou o tempo e mais cartas chegaram e eu percebi que não eram suas, que realmente alguém estava mandando, e tinham coisas tão... Bonitas nas cartas, contando histórias, contando sobre quem era a pessoa, e não vou mentir tinha muita coisa romântica contando sobre o que sentia por mim, e ai o tempo passou e eu comecei a achar que era o Toby, ele estava tão mais próximo por causa dos trabalhos, e eu simplesmente não conseguia parar de pensar nisso um minuto sequer, quem era? Por que estava fazendo isso? Por que agora? —  ela estava contando tudo sem olhar para mim, nós dois olhávamos minha mãe brincar com o vazio na água, mas eu não precisava olhar para ela para ver que ela estava falando a verdade, sua voz me dizia tudo. — Eu não contei para você porque eu realmente não queria que você soubesse, eu não queria que ninguém soubesse o que tinha naquelas cartas, era tão pessoal que parecia traição contar a alguém, e eu também fiquei com medo, eu comecei a ter esperanças, de que fosse verdade, de que realmente existisse alguém que sentisse aquilo por mim, e... Eu queria que fosse verdade.  E eu não queria contar para alguém, contar para você, e me dizer que era falso. Então eu não contei. Toda essa história estava me ocupando tanto que eu simplesmente esqueci tudo o que estava acontecendo com meu pai e a Marina, e a Aby e o Breno. E eu estava amando ficar longe disso. Eu tinha tanta certeza que era o Toby, por isso eu insisti tanto para que trocássemos as duplas e fiz tantas perguntas depois, quando você disse que vocês conversaram sobre mim, e que ele estava agradecido, eu tive mais certeza ainda, então veio àquela carta, falando que ele achava que era hora de eu saber quem ele era, e eu tinha tanta certeza de que quem sairia do bosque era o Toby, eu até o tinha visto sair correndo depois da aula, achei que ele estivesse indo para lá me esperar. Mas ai o David apareceu, e eu fiquei com tanta raiva, eu acreditei em cada palavra do que ele tinha escrito, e ele lá se fingindo de magoado com as minhas palavras ele parecia tão chateado mesmo, que eu quase acreditei. Eu não acredito, eu quase acreditei, eu fiquei com tanto ódio. Quer dizer que quando você foi lá para casa você já sabia?

— Já. E tudo o que eu queria era ir atrás dele e fazer com que ele não mexesse com você de novo. Eu vi você lendo a carta que ele deixou no seu armário hoje, você já chutando o papel com raiva e eu não queria ver isso de novo, eu não consegui segurar eu fui para cima dele, e ele não revidou, ele só ficou lá parado me ouvindo dizer para ficar longe de você. Ariane que me fez parar.

— Devo uma a ela. Liam, eu agradeço você querer me proteger, mas... Não vale apena, eu não vou fazer nada, e eu também não quero que você faça nada, vamos apenas fingir que nada disso aconteceu, nunca.

— Mas Louise...

— Não Liam. Não vale apena! — eu a encaro, ela está desenhando círculos na areia com o dedo, ela parece... Abalada.

— Eu quero fazer alguma coisa só por ele ter magoado você, essa brincadeira estúpida. Mexer comigo tudo bem, a única coisa que ele pode fazer é me bater, mas com você Lou, ele mexeu com os seus sentimentos, isso... É a pior coisa que ele poderia ter feito.

— Liam, eu estou bem, foi uma lição, agora eu aprendi a não acreditar em qualquer palavra que me mandem. —  ela deixou o circulo e me olhou nos olhos. — Eu quero que você me prometa, me prometa que vai deixar isso para lá, que vai ficar o mais longe possível dele, e que não vai fazer nada.

— Eu não posso prometer isso, e se ele realmente tiver filmado?  E se ele resolver continuar com isso?

— Liam! Não importa, não vamos acreditar, não vamos cair nessa, não vamos nos abalar. Prometa!

— Eu não vou prometer algo que eu não vou cumprir! Se ele se meter com você de novo...

— Eu não sou uma donzela indefesa, eu mesma posso cuidar do David sem ser expulsa, e eu quero que você fique longe dele. —  lembro dela torcendo o pulso dele quando ele tentou segurá-la. Ela realmente não precisa de proteção, mas ela é minha melhor amiga, o impulso é maior.

— Eu vou tentar, mas não vou prometer! Se ele voltar com isso, você vai me avisar não vai?

— Se você não vai prometer, então acho que vou deixar você de fora disso! Só deixa para lá. Se acontecer eu mesma me livro dele! —  ela se levante e tira a areia da roupa. — eu tenho que ir, não avisei minha mãe que viria ela vai ficar preocupada.  A gente se vê depois.

— Louise... você vai ficar bem?

— Eu estou bem Liam! Fala para sua mãe que eu deixei um beijo e que qualquer dia eu venho nadar com ela! —  então ela se vira e sai.

Fico olhando minha mãe brincando na água, prendendo a respiração e mergulhando mais para o fundo. Não esperava que isso acontecesse, Louise, a forte e destemida Louise, podia ver em seus olhos que ela não estava tão bem quanto dizia. E agora não posso ter certeza de que ela me contará se ele a incomodar de novo, mas eu não podia prometer uma coisa que não poderia cumprir, sei que ela não precisa da minha proteção, mas é inevitável o instinto de cuidar daqueles com quem nos importamos.

 Procuro minha mãe e não a vejo, ela ainda não submergiu, me levanto e olho mais para o fundo, não sei onde ela está, meu coração acelera sinto meu rosto quente e começo a ir em direção a água, mas ainda não a vejo, entro mais um pouco, a água batendo em minhas canelas, olho para o fundo, ainda não consigo ver minha mãe. Ando mais um pouco a água batendo em meus joelhos e um pânico cresce em meu peito , olho para água que leva a areia abaixo dos meus pés e só consigo imaginar que a água a levará até que eu fique preso em um buraco e me afogue, dou um passo para trás, mas minha mãe ainda não submergiu.

— Mãe! Mãe! — eu grito, mas não obtenho resposta. Ela sempre diz que está segura na água com meu pai, mas eu sempre soube que acaso algo desse tipo acontecesse, ele não poderia salvá-la, ele não está ali realmente, mas impedir que ela entrasse era como impedir que o sol nascesse. Dou mais alguns passos, a água começa a bater pouco acima da minha coxa, encaro a água subindo pelo meu corpo e não consigo ouvir mais nada, em meus ouvidos as batidas altas, rápidas e fortes do meu coração são tudo.  O pânico aumenta. Isso não pode estar acontecendo, droga de medo estúpido, minha mãe pode estar se afogando, e se eu der mais um passo é capaz de afogar junto com ela, sinto minhas pernas paralisando eu não consigo me mexer, as ondas batem em mim e eu tropeço, não posso cair se eu cair, não conseguirei levantar e então já era. — MÃE! – eu grito com toda a força que meus pulmões permitem. Então eu a vejo, há alguns metros de mim submergindo e rindo.

— Eu ganhei Finn quase dois minutos! — ela diz para o vazio e ri, então ela olha para mim e vê minha cara de espanto. — Liam? — eu olho para as andas que me fazem tropeçar de novo, não aguento mais ficar aqui. Viro-me e saio o mais rápido que as ondas e a areia me permitem e me jogo na areia seca longe da água, minha respiração está exasperada, meu coração está acelerado, minha cabeça está rodando. Então sinto uma mão em meu ombro. — Liam querido? O que aconteceu? Eu o vi lá, no mar. Achei que seu medo tivesse passado. Seu pai sorriu tanto quando te viu lá também. —  eu respiro fundo algumas vezes, e eu olho para ela, sorrindo para mim como um raio de sol, bem e feliz, deveria gritar com ela dizer para não voltar lá porque eu não seria capaz de salvá-la se algo acontecesse e que ele também não seria. Mas como eu poderia apagar esse raio sol tão bonito?

— Mãe, que tal irmos para casa? Nós podemos fazer pipoca e escolher algum filme! — eu não poderia. Simplesmente não poderia. Ela encara o vazio, como se perguntando se a hipótese estaria em questão. — Eu deixo o pai escolher o filme! —  ela me encara e sorri.

— Assim ele aceita! Vamos? — ela me oferece a mão eu me levanto e a abraço. —  O que foi amor?

— Nada! Eu te amo mãe! — eu a abraço sentindo seu corpo malhado encharcar minhas roupas, mas eu não me importo, ela está aqui, ela está bem. Tento me acalmar, mas eu só consigo pensar que se eu a perder, não tenho mais motivos para continuar vivendo.

— Nós também te amamos querido!

(...)

Os últimos dias foram tranquilos, Louise parecia recuperada, mas sabia que ela não estava tanto quanto parecia. Ariane tentava evitar falar de David, nós evitávamos David, sempre que ele estava em um lugar íamos para outro. De acordo com Louise ela não recebeu mais cartas, mas não sei dizer se é verdade sendo que ela disse que me manteria de fora.

Hoje eu estava esperando Louise e Ariane na sala quando ouvi duas meninas conversando atrás de mim.

— Vocês souberam da ultima?

— O quê?

— Minha irmã é da turma do David Storm, irmão daquela menina loira que esta na nossa turma conjunta. E ela disse que ontem na educação física ele pagou o maior mico de todos. Parece que ele foi fazer uma declaração... Não acho que foi um pedido de desculpas, e levou o maior fora.

— Sério? Para quem?

— Louise Francis!

— Não acredito! Quem diria David e Louise! Eu sempre achei que ela namorasse com o Liam! —  ela sussurrou essa parte mas ainda assim eu consegui ouvir.

— Parece que não!

Ontem? Quando as duas chegam conversando eu penso em perguntar, mas me distraio com a cena das duas juntas, rindo e conversando. Parece que ela estava falando sério sobre me deixar de fora.

Até a hora da saída já ouvi sobre o pedido de desculpas furado de David mais umas quatro vezes. Mas nenhuma delas foi pela própria Louise, não seria tão fácil quanto eu imaginei. Então depois do almoço resolvo ir até a casa dela e prometer que não farei nada de mais, prefiro isso a ficar de fora.

Quando chego a casa de Louise dou de cara com uma cena que eu nunca, na minha vida inteira achei que seria capaz de ver, primeiro ouço um grunhido alto vindo de trás da casa dela, ou melhor do quarto dela, então entro no jardim e vou em direção a janela dela, mas antes que eu chegue eu vejo pedacinhos de papel serem jogados com força para fora da janela, e então um suspiro irritado vindo do outro lado, olho para onde veio o barulho e vejo... David, em cima da árvore que fica na frente da janela dela, ele chega ao galho mais próximo e pula para dentro do quarto de Louise, eu ouço um grito de surpresa dela. Cogito a possibilidade de entrar na casa e socar a cara dele, mas eu quero ver a cena quando ela o jogar pela janela então me aproximo mais.

— Que diabo que você pensa que está fazendo? — ela grita com ele.

— Aquilo foi hostil! Não é fácil colocar tudo o que está aqui dentro em um papel, e você simplesmente o rasga e joga pela janela?

— O que você estava fazendo pendurado na minha árvore? 

— Tecnicamente a árvore não é sua, a raiz dela fica para fora do seu quintal.

— O que você está fazendo aqui? — ela grita.

— Eu queria ver a sua reação quando estivesse lendo essa carta ok?— ele grita de volta, ual, esses dois são bem... Intensos. — Essa dentre todas eu queria ver a sua reação. Eu geralmente prefiro colocar a carta nas suas coisas e sumir, mas essa eu precisava ver, e não era essa a reação que eu esperava!

— você achou que eu faria o quê? Que eu choraria? Que eu sairia correndo até a sua casa e dizer que aceito?

— você teria feito isso se ainda não soubesse que sou eu por trás dessas cartas!

— você não tem como saber!

— Tenho, porque eu estava aqui em baixo quando eu entreguei a terceira carta e eu vi você ficar sentada na janela sorrindo para si mesma por muito tempo.

— você é um canalha e eu quero você fora da minha casa! Agora!

— Por que você não me dá uma chance? Se fosse qualquer um você daria, por que comigo não?

— Porque você é o David! E essa aposta deve ter sido muito alta para você estar se esforçando tanto, quanto foi, 100? 1000?

— Essa ofendeu! Eu já não mostrei que isso não é uma aposta, nem uma brincadeira?

— Gritar no meio do ginásio não conta como prova nenhuma!

— Meus amigos estão me zoando por causa disso! Se fosse brincadeira eu teria contado para eles para que isso parasse, pergunte a Ariane. 

— David o que você quer aqui?

— Eu quero o que eu pedi na carta que você rasgou e jogou pela janela há um minuto! Que você saia comigo! —  ela ri alto.

— Boa tarde,David. Pode sair pelo mesmo lugar que você entrou!

— Louise! Olha isso aqui é serio ta bom? Deixa eu te mostrar que é! Saia comigo uma vez, e se mesmo assim você continuar achando que é uma piada, ou que eu sou um canalha como você diz, eu te deixo em paz, você nunca mais terá que olhar na minha cara, eu nunca mais deixo nenhuma carta, vai ser como se nada nunca tivesse acontecido e você pode voltar a sua vida feliz com seu amigo apaixonado! —  ela fica em silêncio, ela está cogitando a hipótese? Ela não vai levar em consideração o que eu falei para ela? — Eu juro!

— Uma chance é tudo o que você precisa para fazer de mim a passagem da sua glória através de uma grande piada comigo, vai me levar para onde? Para o meio do mato fingir que teremos uma linda cena romântica e de repente pessoas saem rindo de todos os cantos? Não obrigada! — Obrigado Louise! Eu o ouço grunhir.

— Caramba! O que eu preciso fazer para você acreditar em mim? Você não vai sair com o cara que arruma briga com o seu melhor amigo, vai sair com o cara que te manda cartas há semanas! Aquele cara sou eu! E tudo o que eu preciso é que você me de uma chance de mostrar isso! Você escolhe o lugar, eu posso nem ficar sabendo até o dia! Pode me vendar se você quiser! Eu só quero uma chance de provar para você que eu não sou o canalha que você pensa! — Mais silêncio, um longo período de silêncio.

— E se eu não aceitar?

— você vai receber o dobro de cartas e pode apostar que eu ficarei para ver a reação de todas elas, talvez eu faça milhões de copias delas e espalhe pelo colégio, eu não vou parar enquanto você não sair comigo.—silêncio, por favor Louise,não faço isso!

—  Se eu disser que aceito você sai da minha ....  ai me solta, para de me abraçar, para!

— você não vai se arrepender!

— Regra número um: sem afeto físico, um metro de distância de mim! Obrigada! Regra número dois: ninguém vai ficar sabendo disso.

— Tudo bem! Só o que importa é que você saiba!

— Eu escolho o lugar!

— Qualquer um está ótimo!

— E você vai parar de arrumar briga com o Liam!

— Isso eu já não prometo.

— você disse que só arrumava briga com ele pra chamar minha atenção, estou saindo com você, então não tem mais motivo para isso! Eu preciso fazer aquele menino se formar, e com vocês brigando todos os dias está ficando um pouco difícil, eu cumpro as promessas que eu faço, e eu prometi que ele se formaria...

— Tudo bem! Mas se ele vier arrumar confusão, eu não prometo que não revidarei.

— Ele não vai! —  não conte com isso, isso é um pesadelo. — Para de me olhar assim!

— Desculpe! É que... que dia? —  sinto vontade de vomitar quando ouço uma real animação na voz dele.

— Eu sou babá de um menino, filho da nossa pedagoga...

— Eu sei! — silêncio. — Eu sei mais sobre você do que você imagina. Só porque não te persigo como seu amigo faz com minha irmã não quer dizer que eu não tenha meus métodos.

— ...domingo eu tenho que cuidar dele então...

— Sábado está ótimo para mim! Horas?

— Com certeza não vou sair com você à noite, as chances de uma armadilha são bem maiores no escuro. Não revire os olhos estou falando sério.

— Horas?

— Três horas?

— Eu venho te pegar, e ai a gente vai para seja lá o lugar que você quiser! — silêncio.

— Um metro! Um metro! —  ele ri e minha ânsia aumenta.

— A gente se vê no sábado.

— Mal posso esperar! — ela diz sínica. — você já tem o que queria, pode sair por onde entrou!

— Não posso usar a porta?

— Não! Já foi muita audácia sua invadir meu quarto, quanto mais perambular pela minha casa! Tenha uma boa tarde David! — Escondo-me mais atrás da parede enquanto ele se apoia na janela e pula de volta na árvore.

— você não vai se arrepender! Eu prometo! — então ele sorri e desce a árvore pulando para a rua, e durante todo esse caminho eu torci para que ele caísse, mas meus poderes psíquicos não deram oi.

— Eu realmente espero que não! —  eu sussurra e se afasta da janela, não sei se eu vomito aqui, ou se eu  espero para vomitar em cima dele. Mas algo passa pela minha mente, ela me escondeu sobre as cartas durante um mês, será que ela me esconderia isso também? Dou a volta e toco a campainha, ela desce as escadas irritada, mas quando olha para a porta de vidro ela parece relaxar e ao mesmo tempo, ficar mais tensa. — Hey!

— Ola!

— O que... o que você está fazendo aqui?

— Não posso mais visitar minha melhor amiga?

— Claro que pode, você chegou agora?

— Nesse exato momento!

— Ah! Então tá! —  ela parece mais aliviada.

— Sabe eu realmente adoro essa porta de vidro, apesar de não achar muito segura, mas nós vamos ficar aqui a admirando?

— Ah claro! Desculpe! —  ela abre a porta e eu entro.

— Sua mãe está na loja?

— Sim! Ainda bem! —  ela diz a segunda parte baixo, mas eu entendo.

— Por quê?

— Por quê... eu disse que ia lavar a louça e nem me lembrei! Quer me ajudar? —  ela anda até a cozinha e eu a sigo.

— Então alguma coisa em especial ou só saudade? —  ela diz começando a lavar a louça, eu pego um pano e vou secando o que ela me entrega.

— Na verdade... eu vim prometer! Eu não consigo ficar de fora Lou, eu tentei, mas eu não consigo, então eu vim prometer com uma condição, que você me conte tudo o que ele fizer, e que se for algo muito grande, eu possa abrir uma brecha quanto a não fazer nada.

— Sem acordas Liam, se ele fizer algum muito grande eu mesma dou um jeito nele, você vai ficar quietinho e se formar. Se não pode continuar de fora.

— você é um negociante difícil!

— É pegar ou largar! —  ela diz rindo enquanto lava a louça e me passo os copos molhados.

— você promete que caso aconteça vai deixá-lo com uma cicatriz bem grande?

— Prometo por mim e por você!

— Então tudo bem!Eu juro solenemente que não pretendo fazer nada!  

— Ual! Uma salva de palmas para o senhor “eu cedi” achei que demoraria mais tempo.

— É, eu sei. Então tem alguma coisa para me contar ?

— É... Não,  nada novo—  ela fica em silencio só lavando a louça, ela não vai me contar?

— Então... Eu estava pensando, em ir até aquela cachoeira que tem depois da floresta do bosque no sábado, levar minha mãe para se divertir um pouco, e quem sabe até eu entro. Quer ir? —  há muito tempo que não penso naquela cachoeira. É a única água corrente que eu entro. Longe do mar, e baixa o suficiente para que eu não me afogue, e o melhor de tudo, Louise nunca recusa, ela diz que ama aquele lugar, e já cancelou até com o Thiago para ir comigo. É uma boa maneira de testá-la.

— É que... Não vai dar... Eu tenho que... Esse projeto, meu parceiro não está colaborando muito... E eu tirei o sábado para terminar isso sabe, eu vou passar o dia na biblioteca. E no domingo eu tenho que cuidar do Thiago.

— Ah tudo bem! Então eu deixo para a próxima semana, eu estou bem adiantado, eu posso ajudar você.

— Não tudo bem! Cada um com a sua equipe, se a professora descobrir ela nos mata, pode ir com a sua mãe, ela vai gostar um dia só vocês dois! Vai ser bom para ela! —  eu não acredito.

— Tudo bem então! Eu vou indo! A gente se vê amanha no colégio!

— Até!

Ela mentiu para mim! Bem na minha cara, minha vontade era de voltar e dizer que eu sei que ela não vai para a biblioteca. Não sei se eu estou mais chateado por ela sair com David, ou por ela não ter me contado mesmo depois de eu ter prometido!


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Notas finais do capítulo

espero que tenham gostado!
vejo vocês em breve
sem spoilers dessa vez kkkk
vou deixar vocês curiosos