Secret Diaries escrita por Cat Cullenn


Capítulo 5
Capítulo V - Alice




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POV DE ALICE

Edward foi embora antes que eu conseguisse falar mais alguma coisa. Antes que eu conseguisse decidir e falar para ele o que eu estava prestes a fazer.

Diminui a velocidade assim que cheguei na reserva. Olhei para fora e vi as mesmas casas que eu havia acabado de deixar para trás. E então uma mulher passou por mim, mexendo distraidamente em um celular.

Imediatamente eu parei o carro e desci.

 - Er... Olá... Alice? – Minha voz saiu fraca e falhada, tamanho era meu nervosismo e insegurança. Era difícil para mim lidar com um futuro que eu não conseguia ver.

- Sim? – Ela se virou e me encarou, o sorriso se desfazendo no mesmo instante.

Olhando melhor, com calma e de perto, vi como ela era bela. Uma combinação perfeita dos genes de Bella e Jacob, que resultou em uma beleza exótica e suave.

- Você voltou! – Ela exclamou, como que para convencer a si mesma de que era verdade.

- Sim, eu... Precisava falar com você. Me chamo...

- Alice. – Ela completou minha frase. – Eu sei. Jacob me falou que era você depois que saíram de lá.

- Oh... eu me sinto... Muito, extremamente honrada com essa homenagem que Bella fez para mm, eu...

Parei de falar. Meus olhos ardiam estupidamente, assim como minha garganta. Se eu fosse capaz de chorar, meu rosto estaria encharcado.

- Você foi corajosa em voltar. – Alice falou, cruzando os braços. – Não são bem vindos aqui. ELE não é bem vindo aqui.

- Eu sei... Mas... Será que poderíamos conversar um pouco? Se não for lhe incomodar?

 Vi que ela estava receosa.

 - Por favor? – Utilizei um pouco do que Bella costumava chamar de “deslumbramento”. Mas era uma boa causa, não era?

 - Um pouco. Não tenho muito tempo.

- Ótimo. Muito, muito obrigada.

 - Venha comigo.

Ela saiu e eu a segui. Nós fomos andando em silêncio. Eu tinha tantas coisas para falar, tantas coisas para perguntar... Mas já bastava que eu tivesse ido até ali; teria que deixar Alice em paz, deixá-la livre e confortável. Era o mínimo que eu podia fazer.

- Vamos para First Beach... – Ela falou sem me olhar, abraçando o próprio corpo em resposta a um vento frio que batia levemente. – Com esse tempo lá é quase deserto e mais tranqüilo... É melhor que ninguém veja você.

Assenti com a cabeça e continuamos andando.

- Eu nunca havia visto meu pai tão nervoso como hoje... – Pela primeira vez ela virou o rosto em minha direção, e eu correspondi, nossos olhos se encontrando. – Eu realmente fiquei chocada, meu pai sempre é tão... Tranqüilo.

 - Jacob tem os motivos dele... – Uma ruga surgiu entre os olhos de Alice. – E eu não posso questioná-lo.

E era verdade, eu realmente não podia. Eu amava Edward acima de tudo, da mesma forma que amava demais Bella, quem sempre guardei em meu coração como a irmã que nunca tive. Exatamente por isso, seria simplesmente maravilhoso que eles ficassem juntos eternamente, uma forma de manter em meu convívio duas pessoas mais que especiais.

Por isso eu havia insistido tanto, há mais de cinqüenta anos atrás, para que Edward transformasse Bella e a fizesse parte de integral de nossa família... Afinal, todos nós já sentíamos dessa forma. Infelizmente isso não ocorreu.

Todos os dias seguintes ao aniversário de 18 anos de Bella foram muito difíceis. Depois que Edward tomou a fatídica decisão de ir embora de Forks, para poder afastar Bella do perigo que nós éramos... Ele não foi o único que passou a conviver com um sofrimento imenso e diário. Eu também sofri demais e três vezes.

Primeiro, porquê eu não só não queria ir como não concordava com aquela decisão.

Segundo, porquê Edward entrou em depressão com a ausência de Bella e se afastou de todos nós, indo embora sem dar notícias e eu senti demais sua falta. Ele e eu sempre fomos muito unidos e sua ausência significava que uma parte muito importante de mim também havia me deixado.

E, terceiro, porquê com tudo isso Jasper passou a se lamentar diariamente por ser culpado de toda aquela situação. Apesar de todos nós dizermos que havia sido uma fatalidade, ele simplesmente não se conformava, e posso afirmar com toda a certeza que ele até hoje ainda não se conforma.

Eu havia ficado todos os dias dos últimos cinqüenta anos imaginando como Bella havia seguido sua vida, que rumo tinha tomado. Eu sabia o quanto ela amava e idolatrava Edward, e por isso tinha certeza de que aquele abandono havia sido terrivelmente duro para ela. Exatamente por isso eu não podia questionar a raiva que Jacob Black estava sentindo agora.

Em verdade, no fundo, no íntimo do meu ser, eu queria agradecer à ele.

Agradecer por ter cuidado de Bella e lhe dado força quando eu não estava aqui para isso. Por ter curado, ou ao menos se esforçado ao máximo para curar, a ferida que nós abrimos em seu peito, a qual eu tenho certeza que não foi pequena. Por ter lhe dado uma vida feliz, com amor e esperança; com filhos, netos e tranqüilidade. E, também, por ter sido altruísta ao ponto de, apesar de não gostar nem um pouco de mim, ter deixado Bella colocar o meu nome em sua filha.

Eu havia ficado imersa em meus pensamentos, e quando dei por mim já estávamos sozinhas na areia escura da First Beach. O tempo estava completamente fechado e batia um vento gelado e cortante, nossos cabelos esvoaçando ao vento e um zumbido em meus ouvidos. Alice se sentou em um tronco seco e esbranquiçado de árvore e eu a imitei.

- Por quê você voltou? – Ela perguntou encarando a praia que batia à nossa frente, o barulho do mar tranqüilizante e estarrecedor.

 - Voltei porque precisava falar com você... – Falei, sinceramente. – Porque desde o momento em que Jacob falou seu nome eu não consegui mais pensar em outra coisa.

- Sim, esse foi o motivo para você ter voltado AGORA aqui em La Push. Mas o que eu quis dizer foi... – Ela se virou e me olhou. – Por quê diabos vocês voltaram? Agora, depois de tanto tempo?

Ah, isso. Eu dei de ombros e deixei que eles caíssem, vencida.

 - Isso nem eu sei bem como te responder, Alice... Eu realmente acreditava que isso nunca fosse acontecer. No início eu ainda tinha esperanças, mas os anos foram passando e ela foi se evaporando, sabe?

 Alice assentiu com a cabeça em concordância.

- Quanto você sabe da história? – Perguntei, não só para matar minha curiosidade, mas também para saber até onde eu podia ir, até onde eu podia falar e quanto ela iria entender do que eu estava falando.

 - Eu sei toda a história, Alice. Tendo em vista tudo o que aconteceu depois que vocês foram embora... E tendo e vista, também, que ninguém sabia se vocês iriam voltar a qualquer momento... Jacob e Sam decidiram que a melhor coisa era deixar todos a par dos acontecimentos.

 Eu não me surpreendi com isso. Na verdade, já esperava.

- Hum... então você sabe eu e minha família somos “vegetarianos”? – Alice assentiu com a cabeça. – E que alguns de nós temos alguns dons especiais, eu por exemplo, consigo visualizar o futuro, quando alguém toma uma decisão?

Mais uma vez Alice balançou a cabeça afirmativamente.

 - Pois é... Quando Edward resolveu ir embora e deixar sua... mãe... Ele me proibiu de visualizar o futuro de Bella, porque ele estava convicto de que nós éramos muito perigosos para ela. Eu obedeci e hoje posso te dizer que foi a coisa mais estúpida que eu podia ter feito. Então, com o passar dos anos – que para nós passa muito diferente, já que eles não significam muito – eu decidi quebrar as regras e visualizar mesmo sem permissão. E eu simplesmente não consegui. Não entendia porquê, achava que Bella havia criado um bloqueio involuntário, ou que talvez fossem os anos que passei sem praticar vê-la... Mas agora eu percebo que não é isso. Acredito que seja porquê Bella se uniu a Jacob, que é de um clã inimigo do nosso... E que essa seja uma forma de proteção, entende?

 Alice ouvia com atenção a tudo o que eu dizia e concordava com a cabeça sem parar.

- Sim, entendo. E isso quer dizer que você não consegue ver minha mãe hoje. E que isso deve estar te corroendo.

 Eu não pude deixar de sorrir. Afinal, era a mais pura verdade.

 - Minha mãe teve uma vida muito boa, sabe? – Ela falou, olhando para a praia novamente, como se estivesse buscando na memória lembranças de seu passado. – Não só ela, como toda a nossa família. Eu tenho um irmão, que se chama Embry... Em homenagem à um amigo muito querido dos meus pais. Ele mora em Seattle com a mulher e a filha. Enfim... – Alice voltou a me olhar, a expressão tranqüila. – Eu tive a melhor infância que uma criança pode desejar. Os pais mais atenciosos e carinhosos do universo. Um lar repleto de amor.

 Vi que ela ficou com um semblante triste de repente.

 - O que houve? – Perguntei.

 Tive vontade de pegar em sua mão, de dar-lhe um abraço amigo e sincero, mas me detive – não sabia como ela iria reagir.

- Eu não entendia porquê, ás vezes, eu encontrava minha mãe triste, muitas vezes até chorando. Eu perguntava o que era e ela desconversava... Mas depois que meu pai e Sam contaram tudo, eu entendi.

 Ela fez uma pausa e eu não insisti; deixei que ela utilizasse todo o tempo que precisasse para continuar a falar.

 - Eu sei que meus pais se amam. Sei o quão companheiros eles são, afinal presenciei e presencio de perto a vida deles. Mas eu sou mulher e também sei que, na vida, a gente só tem um único amor verdadeiro. Uma única pessoa por quem a gente se apaixona e sabe que é ela; alguém com quem você deseja desde o primeiro momento poder passar o resto da vida e dividir todos os seus dias. E eu Sei que, para o meu pai, essa pessoa é, e sempre foi, minha mãe.

Foi a minha vez de concordar em silêncio.

- E também sei que, para minha mãe... Essa pessoa foi Edward.

Eu senti minhas sobrancelhas arquearem involuntariamente; essa jamais seria uma afirmação que eu esperasse.

- Por quê você diz isso? – Perguntei.

 Afinal, entendo que Jacob e Sam tivessem contado sobre nós para os filhos e tudo... Mas daí a imaginar Jacob Black contando para os filhos sobre a linda história de amor que Bella havia vivido com Edward... Já era surreal demais. A não ser que Alice também soubesse sobre os diários.

- Eu vi a expressão de dor quando meu pai e Sam se reuniram para nos contar essa história... E desde aquele dia eu acordei diversas vezes no meio da noite com os gritos da minha mãe, que nunca mais teve um sonho tranquilo. Então digamos que eu uni uma coisa à outra.

Meu Deus. O que nós havíamos feito à Bella?

- É por isso que eu também não concordo que vocês voltem agora, como se nada tivesse acontecido, e queiram vê-la. Porque, diferentemente do que você acabou de afirmar, que os anos passam diferentes para vocês... Para nós eles são lentos, demorados. Cinqüenta anos não são cinco dias... Ainda mais para quem guarda algum tipo de mágoa no coração.

- Eu entendo, Alice... Você pode até não acreditar, mas eu realmente entendo.

Me virei para frente e ela me acompanhou. Não sei por quanto tempo fiquei ali, sentada de frente para o mar, o vento batendo em minha pele fria e algumas gotículas de água salgada salpicando minha face.

 - Eu realmente gostei de você. – Eu não virei para olhar para Alice, e ela também não me olhava. – Não sei se tem a ver com uma ligação estranha devido ao nosso nome... Mas gostei. E queria muito levar você até Bella... Acho que ela ficaria feliz, que isso a faria bem... Mas não posso. Edward teria acesso à sua mente e definitivamente eu não acho que ele tenha o direito de vê-la, mesmo que só dessa forma. Me desculpe.

Lenta e receosamente, olhando pelo canto do olho, eu levei a minha mão até a de Alice, que estava pousada em seu colo, e a segurei. Senti o corpo dela enrijecer de primeira, mas logo em seguida ela relaxou.

Ficamos assim por um longo tempo, apenas duas mulheres de nome igual que nutriam dentro do peito uma única verdadeira coisa em comum: O amor por Isabella.

FIM DO POV DE ALICE


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