Secret Diaries escrita por Cat Cullenn


Capítulo 3
CAPÍTULO III – Esclarecimentos.




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POV DE EDWARD

Desde que havia encontrado Bella, eu era outra pessoa. Estava totalmente transtornado. Contei o que havia acontecido à todos e, assim como eu, eles custaram acreditar.

Eu havia conhecido a neta de Bella. Isabella Black Uley. Aquele nome só podia significar uma única coisa.

Bella havia se casado com Jacob Black. Seu filho, ou filha, havia se casado com a filha, ou filho, de Sam Uley. E então eles tiveram Bella.

 Era impressionante a semelhança entre as duas. Não só fisicamente, mas também pelo fato de eu não conseguir ouvir seus pensamentos. O sangue também tinha uma leve e distante semelhança. Eu sempre pensei em como teria sido a vida dela... Em como teria se desenrolado seu destino. Mas imaginar é uma coisa... SABER que Bella havia me esquecido; que havia superado nosso término e se apaixonado por outro homem, se casado com ele, tido filhos, netos... Isso era outra coisa completamente diferente.

Jogado no sofá de couro do meu quarto, eu não agüentei mais imaginar tudo aquilo; precisava saber, ao menos, se Bella estava viva. Liguei para sua neta, que nada me esclareceu. Marcou para hoje, e foram as horas mais longas e infernais de toda a minha existência.

Agora aqui estou eu, sentado num banco de madeira, de frente para o rio, que passa tranqüilamente, seguindo seu rumo, enquanto eu tento desesperadamente reencontrar o meu.

O tempo estava gelado; folhas secas cobriam praticamente todo o chão ao meu redor.  Foi o barulho delas que me avisaram que Bella havia chegado.

 - Edward? – Virei para trás e ela estava parada ali.

Eu parei de respirar. Ela estava mais do que nunca parecida com a minha Bella. Usava um arco fino no cabelo; jeans escuros, uma blusa de listras cinza e um casaco pesado cor de caramelo por cima. Luvas de lã cobriam suas mãos, aquecendo-a do frio. Suas bochechas estavam coradas, e eu adoraria saber se era do frio cortante ou se era por nervosismo com aquele momento. Acredito que era pelos dois motivos.

- Olá, Bella.

 Ela me olhou, respirou fundo e se aproximou, ficando em pé ao lado do banco em que eu estava.

- Posso me sentar com você? – Ela estava receosa, e mordia o lábio inferior, do mesmo jeito que a avó teria feito.

- Sim, claro que sim. – Respondi, chegando um pouco para o lado, e ela logo se sentou no espaço que restou.

Ficamos em silêncio. Bella olhava para o rio, assim como eu estava fazendo segundos atrás.

 - Eu estava muito ansiosa por esse momento, sabe? – Ela finalmente falou, sem me olhar. – Repassei várias vezes tudo o que eu queria te perguntar... E tudo o que eu queria te dizer.

Respirei fundo, minha garganta ardendo levemente ao inalar o cheiro do sangue de Bella.

- Eu também... – Falei, mas minha voz falhou. – Eu também estava... Estou muito ansioso.

Enfim Bella me encarou, os olhos castanhos profundos e duvidosos.

 - Você está ansioso porque deseja saber se minha avó... Se Bella ainda está viva, né?

Ela era direta.

- Sim. – Fui sincero, era o mínimo que eu podia fazer. – Essa pergunta está me matando.

 Bella voltou a olhar para o rio, pensativa.

 - E então? – Insisti, mesmo tentando me controlar. Bella se virou para mim, ficando de lado no banco.

- Sim. Sim, Bella está viva.

Assim que ela acabou de pronunciar aquelas palavras, uma corrente elétrica percorreu todo o meu corpo. Uma onda de alívio imensa, de saber que eu não poderia imaginar um mundo em que Bella não existisse. De que eu não poderia viver em um mundo em que Bella não existisse.

 - Edward?

 Olhei para ela, que me encarava ansiosa, tensa com minha reação.

 - Ah, Bella... Isso é... Isso é MARAVILHOSO. É a melhor notícia que eu já recebi em toda a minha... vida.

- Pode dizer existência. – Ela foi direta, mais uma vez. – Eu sei tudo sobre você.

Eu não fiquei chocado com aquilo. Sinceramente, já esperava por isso. Afinal, como ela me reconheceria?

 - E posso perguntar como você soube disso? Bella contou para você? E... Como ela está? Ela está bem? Está morando onde?

 Isabella arregalou os olhos, provavelmente desnorteada com tantas perguntas.

 - Eu já te respondi uma pergunta. Agora é a minha vez de perguntar.

 Ela estava certa.

- Ok. Pode falar.

Ela respirou fundo, como se tomasse coragem.

 - Por quê você abandonou minha avó? Por quê você foi embora daquela maneira, depois de dizer coisas tão cruéis? Depois de tudo o que vocês haviam vivido, de tudo o que passaram? E por quê... POR QUÊ você se importa, se foi você quem decidiu partir, e nunca, JAMAIS a procurou?

Ouvir aquelas palavras foi como se tivessem cravado uma estaca em meu coração. Ouvir de um terceiro sobre a dor que eu havia imposto à Bella... Saber de fato como ela deve ter sofrido, pensando que eu não a amava mais... Meu coração, frio e parado em meu peito, sangrava.

- Dizer adeus à Bella foi a coisa mais difícil e insuportável que eu já fiz em toda a minha existência.

- Não consigo acreditar, me desculpe. – Ela mexia no cadarço do casaco. – Se tivesse sido assim insuportável, você teria retornado. E você não o fez.

- Foi para o bem dela. – Insisti, e enquanto eu falava ela balançava a cabeça negativamente. – Se você sabe O QUE eu sou, tem que entender. Bella corria riscos demais estando comigo. Ela não pertencia ao meu mundo... Eu tinha que dar a ela uma chance para que pudesse ser feliz de verdade.

 - Você não sabe DE NADA. – Ela enfim voltou a me olhar, e seus olhos faiscavam, ela ardia de raiva. Eu podia ouvir claramente seu coração batendo freneticamente dentro do seu peito; podia ouvir o sangue pulsando forte em suas veias, sendo bombeado rapidamente para todo o seu corpo.

 - Então me conta. – Falei, me aproximando um pouco dela no banco. – Responde o que eu te perguntei.

- Minha avó não me contou nada. Pelo menos não pessoalmente.

 Eu demorei para entender aquelas palavras. Mais alguém sabia de nossa história, então? Mais alguém sabia de nós?

 - E como você...?

- Bella escreveu tudo em diários. – Ela falou me interrompendo. Respirou fundo e continuou. – Há dois anos atrás, quando eu decidi viajar pela Europa... eu fui mexer no porão procurando uma mala e encontrei um baú, com vários livros dentro. Ela havia acabado de... De se mudar dali... Ainda havia coisas dela na casa. Mas assim que eu encontrei, peguei para mim, e venho lendo e relendo desde então.

Diários? Então era isso. Meu cérebro só pensava em uma única coisa. Eu PRECISAVA lê-los.

- E só pra constar... – Ela continuou, me trazendo de meus devaneios. – A sua promessa era falida desde o momento que você a pronunciou. Porquê não havia como parecer que você nunca tivesse existido. Não para minha avó. E só de você ter pensado dessa forma, demonstra que você nunca a conheceu de verdade.

Aquela garota sabia exatamente como me nocautear. E ela não parou por aí.

- Sem falar que você também não foi eficiente na sua tentativa de levar consigo todos os rastros... Você esqueceu uma coisa.

 Ela agora, mais do que nunca, tinha toda a minha atenção.

- Eu saber sobre você... sobre sua espécie... É uma coisa. Eu te RECONHECER é outra. Você não havia pensado nisso? – Neguei com a cabeça. Eu mal estava conseguindo raciocinar com clareza, quanto mais falar. – Você esqueceu de levar a foto que vocês tiraram no dia da formatura. Minha avó guardou com ela. Hoje está desgastada, mas ainda dá pra reconhecer você.

Ela abriu a bolsa e retirou um envelope pardo, que estava cheio. Abriu e tirou uma foto, me entregando em seguida. Meus olhos arderam, pela primeira vez em décadas.

Bella sorria, tímida e irritada, para a câmera. O vestido azul, agora desbotado no papel, mas completamente vívido em minha memória, realçava seu tom de pele. Eu a olhava completamente DESLUMBRADO.

- Você não me respondeu onde ela está. – Falei, sem tirar os olhos da foto em minhas mãos.

- Minha avó vive em La Push. – Bella me respondeu, mexendo no envelope. – Junto com meu avô. Jacob. E com meus pais e meu tio.

 Bella teve dois filhos, então.

- La Push. – Repeti baixo.

- Sim. E, se te conto, é se porque sei que você não pode ir lá, que não tem permissão para ultrapassar a fronteira. Não acho justo que minha avó tenha que ver você. Não agora. Não depois de todos esses anos.

 Ela começou a mexer na bolsa, se preparando para partir. Me olhou novamente.

- Toma. – Me estendeu o envelope pardo, já de pé, na minha frente. – Eu trouxe alguns para você dar uma lida. Não suma, ok? Eles são importantes para mim. Não devia, mas estou confiando em você.

Segurei o envelope, ainda atônito com tudo aquilo.

- Bella! – Gritei e ela se virou. – Você não me respondeu... Ela está bem?

Ela ajeitou o cabelo atrás da orelha.

 - Sim. Agora, finalmente, ela está bem.

Bella se virou e partiu, sem olhar para trás.

Olhei por um momento o pequeno envelope que ela me entregara. Ao mesmo tempo em que eu ansiava por ler todos os diários de Bella... Eu tinha medo. Medo de ver escrito ali toda a mágoa, ressentimento e dor que eu havia imposto à ela. Bem, era tarde demais para lamentações. Abri o envelope e peguei o primeiro. Senti um aperto no peito, no lugar onde meu coração deveria estar batendo. A letra de Bella. A letra que vi tantas vezes quando estudávamos em Forks; quando eu a vi pela primeira vez, anotando timidamente as explicações na aula de biologia; desenhando enquanto sua mente divagava; que tantas vezes conversou comigo por bilhetes quando não queríamos atrapalhar as aulas.

Mais uma vez a dor da saudade me inundou, como um mar de lembranças e recordações maravilhosas. Porque eu só tinha momentos perfeitos de Bella guardados em minha memória. Engoli em seco e fechei os olhos, me preparando psicologicamente para o que encontraria ali, fosse o que fosse.

“Abril de 2006

 Jacob acaba de me deixar em casa. Eu estou PERPLEXA.

Definitivamente todas as histórias e lendas que eu ouvia quando era criança... Foram por ladeira abaixo essa tarde.

 Jacob... O MEU Jake... Meu sol... É um Lobisomem.

 Primeiro fiquei muito receosa; não achei certo eles matarem pessoas inocentes para se alimentar... Mas depois ele me explicou que eles nunca fariam mal a humanos; pelo contrário, eles existiam apenas para nos proteger de outra espécie... A única espécie inimiga dos Lobisomens.

Os vampiros.

Jacob me contou que havia conseguido matar Laurent; que fora muito mais fácil do que eu podia imaginar. Mas que a outra, a ‘sanguessuga de cabelos cor de fogo”, como ele intitulou, era mais difícil, mais rápida. Foi nesse ponto que quase desfaleci.

Victória. Ela está aqui, em Forks.

Ela havia voltado para me matar. Para vingar a morte de James. Um companheiro por outro, exatamente como Laurent havia dito. E também, exatamente como ele havia dito, ela deveria ficar decepcionada com seu plano, com sua vingança. Afinal, eu não signifiquei para Edward nem metade do que James significava para Victória... Tendo em vista que ele foi embora e me deixou aqui, completamente desprotegida e desamparada, sem sequer pensar duas vezes, sem sequer olhar para trás.

 Mas agora, finalmente, eu acho que poderei dormir mais tranqüila.

Jacob está aqui. Meu porto seguro. Meu sol.

Sei que posso confiar nele. Ele vai me proteger.”

Fechei os olhos com força. Tive que me controlar absurdamente para não estraçalhar o livro sob meus dedos; para que eles não virassem poeira em segundos devido a minha força excessiva. Não havia desculpa no mundo para a minha atitude de tantos anos atrás. Bella havia estado em risco de morte. POR MINHA CAUSA. E eu não estava lá para protegê-la.

Tudo bem, eu estava seguindo os rastros de Victória na América do Sul... Mas eu realmente acreditei que Victória viria atrás de MIM. Que ela se vingaria de MIM, já que eu havia matado James. Mas ela foi atrás de Bella.

Reli as palavras diversas vezes. E cada vez era como se uma bala cravasse meu peito, me ferindo mortalmente.

“...eu não signifiquei para Edward nem metade do que James significava para Victória... Tendo em vista que ele foi embora e me deixou aqui, completamente desprotegida e desamparada, sem sequer pensar duas vezes, sem sequer olhar para trás.”

“Mas agora, finalmente, eu acho que poderei dormir mais tranqüila.

Jacob está aqui. Meu porto seguro. Meu sol.

Sei que posso confiar nele. Ele vai me proteger.”

 Eu havia causado tudo aquilo com a minha ausência, com a minha estúpida decisão de partir. Eu havia colocado Bella em perigo, deixado Bella a mercê de Laurent e Victória. Eu havia aproximado ela de Jacob.

De um LOBISOMEN.

Minha cabeça rodava. Eu havia ido embora para protegê-la de meu mundo... De um mundo ao qual ela não pertencia, um mundo do qual ela poderia sair muito machucada, isso na melhor das hipóteses... E Bella havia entrado em outro mundo, tão ruim ou pior quanto o meu.

Mas eu devia saber, não devia? Ela era um verdadeiro imã para perigo. E Jacob Black era um quileute. Eu já me corroia por dentro todos os dias de minha existência. Agora, mais do que nunca, tinha absoluta certeza de que não me perdoaria jamais por ter abandonado Bella. Me forcei a continuar lendo.

"18 de abril de 2006.

Eu estou um verdadeiro turbilhão de sentimentos hoje, muito mais do que o normal.

Tantas, tantas coisas aconteceram... Eu estou tão... Confusa!

Primeiro de tudo... Eu estou envergonhada. Tremendamente envergonhada.

Hoje eu estava me sentindo só; desde que Jacob descobriu que eu era o alvo de Victória, ele e a matilha estavam à sua caça. Quase não o vejo e sua ausência me faz muito mal. Eu me acostumei a tê-lo por perto. Jacob me aquece. Esquenta minha alma. Quando estou perto dele, é como se nada de ruim pudesse me acontecer.

E, principalmente... Quando estou perto dele... Me esqueço de coisas que doem demais lembrar.

Sua ausência me fez perceber que há muito tempo eu não ouvia... Ele. No mesmo instante em que meu cérebro percebeu isso, todo o meu corpo ansiou por aquela alucinação; por aqueles míseros segundos em que eu podia ouvir claramente a sua voz, estar o mais próximo possível DELE.

Não pensei duas vezes. Lembrei do penhasco em que Sam e os outros pulavam alegremente no outro dia e fui até lá. Só não podia imaginar que eu iria literalmente pular para a morte. Eu consegui minha finalidade; ouvi a voz dele, o senti próximo a mim mais uma vez, mesmo que nem de longe isso suprisse sua ausência em meu peito, em minha vida. O plano teria dado certo, não fosse a correnteza fortíssima que me impediu de emergir e respirar; que me lançou violentamente contra as pedras e me fez expirar todo o resquício de ar que existia em meus pulmões.

Minhas orelhas foram inundadas pela água estupidamente gelada, e foi exatamente nesse momento em que a voz dele ficou mais clara e nítida do que nunca. Me concentrei no som de sua voz... Foi nesse instante em que eu parei de lutar para sobreviver.

Por quê eu lutaria, se estava tão feliz ali? Mesmo sentindo meus pulmões arderem, implorando por ar; mesmo com a sensação de milhões de facas penetrando meu corpo, devido a água terrivelmente gelada e cortante, eu estava FELIZ. Eu percebi que tinha me esquecido como era a verdadeira sensação de felicidade, até aquele momento. E isso tornava toda a idéia de morrer muito mais que suportável. Tornava tolerável.

Tornava DESEJÁVEL.

A última coisa de que eu me lembro claramente de ter pensado foi “Adeus, eu te amo”. E então meus pulmões queimaram, desacostumados estavam com a presença de oxigênio dentro deles. E uma voz familiar e reconfortante surgiu ao longe, me chamando de volta, pedindo, IMPLORANDO para que eu voltasse, para que eu sobrevivesse, para que eu ficasse com ele. E foi o que eu fiz.

Abri meus olhos e Jacob estava ali; a expressão desesperada, que se acalmou e transformou em felicidade extrema assim que percebeu que eu estava viva. Voltei para a realidade; a dura e cruel realidade onde eu percebi que não podia mais arriscar minha vida por uma alucinação idiota, vinda do meu subconsciente estúpido perdidamente apaixonado por uma idealização do amor perfeito, de um príncipe.

Porque Ele é um príncipe, disso eu não tenho dúvida ALGUMA. Mas eu não sou nenhuma princesa, e não posso viver o resto dos meus dias acreditando e rezando para que ele venha me acordar desse pesadelo com um beijo apaixonado.

Ele percebeu que eu não era digna dele, de seu amor, de sua dedicação. Está mais do que na hora de me conformar com isso.

A realidade que encontrei quando acordei, era ainda pior do que a que eu havia deixado. Harry morreu. Enquanto eu agia por impulso, em um ato totalmente egoísta e impensado... Sue estava sofrendo, Charlie estava sofrendo... E Jacob... Jake estava sofrendo e estava ali, mais uma vez lutando para me proteger.

 Nós fomos para a casa dele e apagamos; nem lembro o momento em que adormeci, só me lembro de achar confortável o som pesado de sua respiração, em um sono profundo e exausto por tantas noites mal dormidas, resultado das rondas atrás de Victória. Quando acordamos, a roupa já havia secado em meu próprio corpo e Jacob veio me trazer em casa.

 E aí começa o segundo motivo da confusão de minhas idéias...

 Jacob me deixou em casa e o inevitável, que já vinha sendo procrastinado há muito tempo, aconteceu.

Estávamos sozinhos em casa; Charlie estava ajudando com os preparativos do enterro de Harry. Fui até a pia da cozinha e quando me virei Jacob estava quase colado em mim. Jacob sussurou meu nome e um desespero bateu em meu peito quando ele inclinou a cabeça, os olhos fechados."

Fechei o diário. Eu é que tive que me controlar, fechar os olhos, acalmar minha respiração. Era demais para mim. Era muita dor sendo infringida a meu ser, já tão debilitado por tantos anos sem ter notícias de Bella. Eu não era tolo; sabia que tudo aquilo era pura e simplesmente reflexo da minha atitude; sabia que, se eu não tivesse partido, se tivesse ficado lá com Bella, ela teria sido minha e de mais ninguém. Sabia que se tivesse realizado o seu pedido... Se a tivesse transformado... Ela e eu estaríamos vivendo felizes por toda a eternidade.

A raiva consumia todo o meu ser. Como eu havia sido idiota. Havia entregue a mulher da minha vida, o único amor que eu tivera em toda a minha existência, para um ser que era o pior inimigo de minha espécie. Eu tentava me acalmar, mas sabia que seria em vão. Abri o livro e continuei com meu martírio.

“Porque eu não estava preparada; não havia tomado ainda minha decisão. Não havia tempo para pensar, e rejeitá-lo só serviria para afastá-lo de mim.

 Eu o olhei. Pensei comigo mesma que ele não era o MEU Jacob... Mas podia ser, não podia? Eu o amava, de diversas maneiras mais que verdadeiras. Ele era meu conforto, meu porto seguro. Meu sol, como eu gostava de pensar.

Naquele exato momento, eu preferi que ele me pertencesse, preferi me entregar a encarar o medo de perdê-lo de vez. Não seria uma traição. Afinal, a quem eu estaria traindo, aliás? Só a mim mesma, se não me entregasse ao homem que estava ali e que me amava verdadeiramente.

Sem mais tempo para raciocinar, fechei meus olhos e, no segundo seguinte, os lábios carnudos e quentes de Jacob encontraram os meus. As mãos dele seguraram minha cintura, firmemente, e me puxaram para mais perto dele.

E então, o inesperado aconteceu.

Contra toda a razão, meus lábios começaram a se mover junto com os dele de uma forma estranha e perturbadora, até então completamente desconhecida para mim. Porque com Jacob eu não precisava ter CUIDADO. Não precisava me preocupar em me controlar com passar dos limites. E Jacob, certamente, também não foi nem um pouco cuidadoso comigo.

Inesperadamente, meu corpo agindo antes mesmo que eu pudesse mandar, meus dedos se entrelaçaram em seu pescoço, e era eu quem o puxava para mais perto. Jacob estava em toda a parte. O calor do sol penetrou minha pele, minhas pálpebras, e eu não conseguia pensar, ver ou senti nada que não fosse ele. JACOB. A pequena parte do meu cérebro, muito pequena mesmo, que manteve a sanidade, não parava de gritar perguntas e mais perguntas para mim.

 Por que diabos eu não estava impedindo aquilo? Por que eu não conseguia impedir, não conseguia encontrar dentro de mim o DESEJO de PARAR? Significava que eu estava gostando? Que eu não queria que ele parasse? Que só de pensar em sentir a ausência de seu corpo grande e quente eu preferia morrer? Que minhas mãos percorriam e reconheciam o corpo dele, se agarrando a seus músculos perfeitos, e gostavam de sentir que seus ombros eram largos e fortes? Significava que eu achava que as mãos dele estavam me apertando forte demais contra seu corpo quente, e no entanto não era apertado demais para mim?

Eu não precisei me meio segundo para saber de todas aquelas respostas. Jacob era mais, muito mais que apenas meu melhor amigo. Assim que minha mente clareou-se, um caminho inteiramente novo e diferente se expandiu por minha mente.

Como se eu estivesse olhando através dos olhos de Jacob, eu pude ver a vida que poderíamos ter juntos... Uma vida que eu jamais poderia sonhar em ter ao lado Dele. Vi os anos passando, e realmente significando muitas coisas enquanto passavam, mudando meu corpo. Podia ver Jacob ao meu lado, o imenso lobo castanho-avermelhado que eu tanto amava, sempre presente, tão protetor, a postos sempre que eu precisasse dele.

Vi os filhos que poderíamos ter, correndo de nós a caminho para uma floresta familiar, e todos nós sorríamos, felizes com a vida perfeita e tranqüila que levávamos.

Mas, infelizmente, misturado a todos esses sentimentos maravilhosos, no fundo, bem no íntimo de meu ser, a rachadura em meu peito latejava constantemente, fazendo meu cérebro processar a falta que ele me fazia, a cada pulsação fazendo o nome tão dolorido de lembrar percorrer todo o meu organismo.

Edward. Edward. Edward.”

Era tanta coisa passando pela minha cabeça naquele momento, que nem eu mesmo estava conseguindo entender direito.

 Primeiro... Bella havia quase morrido. De verdade. Ela ia se entregar à morte, sem lutar, pura e simplesmente para parar de sofrer. Para parar de sentir a dor que eu causara.

Senti um imenso sentimento de gratidão por Jacob. Se não fosse ele... Se ele não estivesse no lugar certo, na hora certa... Se não tivesse tirado Bella do mar, da correnteza... Nesse momento ela estaria morta, e nada mais faria nenhum sentido.

Mas eu também tinha sentimentos. E, não podia negar, que apesar da imensa gratidão que eu sentia... Eu estava com vontade de matá-lo.

 Ler todas aquelas palavras que Bella escrevera; saber todas as emoções e todo o sentimento que Bella sentira quando ela o beijara... Tenho certeza que ingerir um copo de óleo fervendo seria muito mais agradável do que aquela sensação.

Eu sentia um aperto tão imenso em meu peito, que agradeci por não precisar respirar. Até mesmo esse simples gesto tornava-se quase impraticável. Olhei para o pequeno diário de capa preta em minhas mãos. Quantas coisas aconteceram. Eu não estava nem na metade, e já sabia que iria sofrer veementemente antes que chegasse ao final. Pensei em desistir. De que adiantaria aquilo tudo, afinal? Nada. O tempo não voltaria atrás. Eu não poderia desfazer minha estupidez. Bella não seria minha novamente. Não poderia me perdoar.

 Mas a ânsia por saber, por conhecer a história da vida dela, foi mais forte. Minha dor não importava. Meus sentimentos não importavam. Só Bella importava então. Reabri o livro, pulando algumas folhas.

“Junho de 2006

 O dia de hoje foi simplesmente perfeito.

Já havia me esquecido de como era sentir-me assim... FELIZ.

Sim, finalmente posso afirmar que estou feliz. O medo da volta de Victória ainda é grande, assim como o buraco em meu peito, que não está totalmente cicatrizado... E acho que jamais ficará. Mas a vida vai seguindo, e dentre todos os males, tem tomado um rumo bastante agradável, para minha total surpresa.

 Passamos o dia em La Push. O clima estava agradável e  cada dia mais gosto de ficar por lá. A amizade entre mim e o resto da “alcatéia” vem crescendo mais e mais a cada dia. Sam é uma ótima pessoa, e um ótimo líder também. Emily é meiga e gentil. Seth é engraçado e divertido, assim como Quil e Embry.

 No final da tarde acendemos uma pequena fogueira e comemos marshmallows em volta do fogo, Paul portando um violão e tocando desajeitadamente. Olhando em volta, ali, sob a luz da lua e da fogueira de fogo azul, meu coração estava aquecido. Eu os amava. A todos. Principalmente a Jake.

Meu Jake.

Ele me pegou olhando para ele e sorriu. Pegou minha mão e começamos a caminhar, o casaco dele em minhas costas, grande demais para meu tamanho. Caminhamos vários metros sem falar nada. Não era preciso. Somente o calor que emanava dele e a sensação de seu corpo perto do meu já preenchiam o espaço existente entre nós.

 Então ele de repente parou, eu parando em seguida e olhando para ele. Eu já conheço Jacob tão bem que sei decifrar em seus gestos, em seu olhar, quando ele quer me falar alguma coisa. E eu não estava errada.

Jacob disse que estar comigo era a melhor coisa que poderia ter ocorrido na vida dele. Que cada minuto que passava ao meu lado era como se o mundo inteiro parasse e só existisse nós dois. E disse que queria me namorar oficialmente.

 Mais uma vez meu cérebro processou tudo tão depressa... Eu não sabia se queria namorar Jacob... A única pessoa que eu já namorara... Fora ELE. E tudo acabou de uma forma tão horrível, tão traumatizante para mim... Eu sei que Jacob já me prometeu milhares de vezes que com ele tudo será diferente; que ele nunca irá embora, que nunca irá me magoar... Mas ELE também havia me prometido tudo isso, não é mesmo? Havia me prometido que ficaríamos juntos para sempre... E no entanto...

Espantei para longe essas lembranças, mas me preocupo se elas sempre irião me acompanhar... Se elas sempre estarão em algum cantinho dentro de mim, emergindo de quando em quando... Espero que não.

Eu o amava. Disso eu não tinha dúvida. Cada dia mais um pouco, e de diversas formas diferentes. Quais eram minhas opções, então? Aceitar o pedido, e continuar vivendo levemente ao lado dele; continuar a viver um dia de cada vez, sem pressão, apenas duas pessoas que se gostam e que se querem bem, que se FAZEM bem...

 Ou renegar o pedido e então ter que conviver com um Jacob rechaçado, triste e magoado comigo. Isso SE ele não se afastasse, claro.

Por tudo isso, e também porque uma enorme parte do meu coração estava altamente voltada para tal, eu aceitei. O imenso sorriso de Jacob, o sorriso que eu tanto amo e que aquece minha alma, apareceu em seu rosto, clareando o fim daquela tarde. Os braços dele apertaram minha cintura e me puxaram para mais perto, e os lábios, agora já tão familiares, me beijaram apaixonadamente.

Eu estou FELIZ.”

Meus sentimentos eram uma verdadeira montanha russa. Era tanta divergência, tanta discrepância, que nem eu mesmo estava conseguindo entendê-los, coordená-los.

Eu estava arrasado. Por ter deixado Bella. Por ela ter sofrido por minha causa. Por ter sido tão idiota.

E estava feliz. Por Bella ter encontrado uma forma de superar. De me esquecer. De continuar vivendo.

E estava fervendo. De raiva. Raiva de Jacob Black. Raiva de mim mesmo também, pois no fundo eu também o agradecia por reparar o estrago e a bagunça que eu havia feito na vida de Bella.

Quando reabri o livro novamente, respirava profundamente, rezando para que conseguisse retomar a consciência centrada que havia se esvaído.

“Julho de 2006

Se eu pudesse escolher, agora, nesse exato momento... Eu escolheria a MORTE.

Mal estou com ânimo para escrever aqui... Mas estou me forçando, como um modo de livrar meus pensamentos de toda a dor, de toda a angústia que estou sentindo.

Eu pensei que já havia sofrido tudo o que alguém era capaz de sofrer. Pensei que conhecia todas as formas de dor; que nada, nunca mais, iria me machucar profundamente. Mas eu já devia saber que tudo sempre pode piorar, não é mesmo?

A vida estava boa demais. Tranqüila demais. Eu havia até me esquecido que estava jurada de morte por Victória. Mas ela não havia se esquecido de mim.

Estávamos em mais uma tarde descontraída em La Push... Quando Sam chegou completamente atordoado, dizendo que uma quantidade significativa de vampiros estava em Forks. A primeira coisa que me veio a cabeça foi Charlie. Respirei aliviada ao lembrar de que ele estava pescando com Billy.

A matilha se reuniu muito rápido. Jacob olhava para mim durante todo o tempo em que eles conversavam. Victória estava ali por MINHA causa. Era a MIM que ela queria. Tive tanta raiva... Se Alice estivesse ali, teríamos visto quando ela chegaria. Agora ela não estava, nenhum DELES estava, e eu estava colocando a vida de tantas pessoas amadas em perigo.

MERDA.

Quando todos se prepararam para partir, Sam foi até Emily, que o abraçou, e Jacob veio até mim. O beijo que Jacob me deu foi ao mesmo tempo maravilhoso e angustiante. Porque foi ávido, cheio de desejo, cheio de paixão, mas ao mesmo tempo foi dolorido, temeroso e sofrido. Com apenas um beijo, Jacob me fez perceber o quanto os próximos minutos seriam tensos e perigosos. E MORTAIS.

 Eu pedi, implorei para ir com eles. Nada seria mais justo. Se tudo desse errado, se as forças reunidas por Victória fossem muitas... Eu me entregaria. Mas Jacob... Jacob não me ouviu. Eu e Emily fomos levadas até a casa dela, e Sam ordenou que Embry e Paul ficassem conosco, transformados, para que pudessem avisar caso alguma coisa desse errado.

 Edward tinha razão. Se algum perigo, qualquer um, me detectasse... Ele viria atrás de mim. Bem... antes fosse somente atrás de mim. Porque estávamos lá, nós três, e Embry detectou Victória.

TARDE DEMAIS.

Victória chegou acompanhada de um recém criado que ela chamava de Riley. Ela só tinha olhos para mim. Veio em minha direção com um ódio no olhar tão imenso que me fez sentir uma dor física e profunda.

Embry não pensou duas vezes. O enorme e amado lobo investiu contra Victória, sem se preocupar que ela fosse forte, ágil ou extremamente veloz. Em um impulso impensado, eu fui em direção ao embate dos dois. Ou melhor, tentei ir. As mãos firmes de Emily me impediram, e apesar de ter utilizado de toda a força para me livrar delas, foi em vão.

As lágrimas começaram a rolar desenfreadamente por meu rosto. Por isso eu não pude ver perfeitamente o momento em que Victória feriu Embry. Não pude ver perfeitamente Embry caindo ao chão, machucado, sofrendo... derrotado. Mas pude OUVIR. Pude ouvir seu uivo de dor; seu lamento alto e profundo ressoou em meus ouvidos e eu olhei para Paul, que travava uma batalha com Riley, agora em desvantagem, preocupado demais ao ver seu irmão ferido.

Caí de joelhos, minhas mãos se agarrando à terra desesperadamente, Emily chorando atrás de mim. Então o meu olhar encontrou o de Victória. Ela sorriu. Um sorriso triunfante e cheio de glória, de alguém que finalmente alcançou o objetivo mais importante de sua existência. Me matar.

 Eu não sei em que momento o resto da matilha foi avisada do ataque que estávamos sofrendo... Provavelmente assim que Embry percebeu a chegada de Victória. Só sei que, quando Victória já estava próxima demais de mim, Jacob apareceu, e num pulo a derrubou no chão. E a luta recomeçou.

 Paul havia conseguido acabar com Riley. Agora ele, Seth e Quil estavam ao redor de Embry, que permanecia caído. IMÓVEL. Sam se aproximou de Jacob e Victória e ouvi um gemido de medo sair de Emily, que me abraçou. Então, mais do que nunca, éramos duas mulheres que partilhavam a mesma dor.

Eles investiam duro para cima dela, mas Victória era muito veloz. Era apenas um vulto aos meus olhos humanos, e por isso foi muito difícil de entender quando Jacob soltou um ganido agudo. Um ganido de DOR. Ele caiu. Naquele momento, nada mais me importou. Nem Victoria. Nem as mãos de Emily. Minha merda de vida. NADA.

Meu olhos só focalizavam o imenso lobo castanho-avermelhado caído no chão, e foi exatamente para lá que me dirigi. Caí sentada ao seu lado; abracei seu corpo enorme e quente, minhas roupas ficando instantaneamente sujas com seu sangue. Jacob me olhava. Eu me via refletida em seus olhos e dessa vez foi a minha vez de pedir para que ele ficasse comigo, de implorar para que ele fosse forte e que não me deixasse, do mesmo modo como ele fizera comigo no dia do penhasco, meses atrás.

Ouvi um baque ensurdecedor, um grito alto e cortante. E então silêncio.

 Olhei para trás. Victória estava caída, Sam e Quil tratavam de lhe desmembrar.

O resto todo passou muito depressa. Alguém, acredito que Emily, me tirou de perto de Jacob e me levou para sua casa. Agora eu estou aqui. Meu coração está completamente destroçado e, dessa vez, REALMENTE não sei se haverá saída para mim.

Embry morreu. Em meu lugar, ele se foi para sempre.

Jacob, o MEU Jake, meu sol... Está gravemente ferido, Billy disse que praticamente todos os ossos do lado direito foram quebrados. Se pelo menos Carlisle estivesse aqui...

Não consigo mais escrever no momento. Eu só quero morrer.”

Guardei o diário no envelope que Isabella havia me entregue. Eu não podia mais ler nem uma única palavra. Pelo menos, não por hora. Era difícil demais, dolorido demais para mim. Antes eu precisava fazer outra coisa. Algo que eu já devia ter feito há muito tempo, para ser exato, há cinqüenta anos. Não havia mais como evitar. Não podia mais procrastinar. Eu precisava ver Bella. Constatar que ela estava viva. Que estava segura. Que estava feliz. Com meus próprios olhos.

Nem que fosse apenas mais uma vez.


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