Secret Diaries escrita por Cat Cullenn


Capítulo 10
Capítulo X - Correndo para o passado




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 - Vamos dar uma volta... - Emmet estava ao meu lado, me levantando da cama com sua força fenomenal. - Espairecer.

 - Não! - Rosnei, me livrando de seu aperto de aço e voltando a me sentar.

Então meus olhos encontraram Isabella – parada na porta, calada, com Alice ao seu lado.

- Você tinha razão... - Falei, minha respiração entregando todo o meu desespero. - É agoniante demais ler esses diários.

- E só tende a piorar, pode acreditar em mim . - Ela falou, cruzando os braços.

Tenho que admitir que, por um curto segundo, eu senti raiva dela.

Tudo bem, eu havia errado. Havia magoado Bella, uma mulher que havia me amado incondicionalmente, de uma forma irreparável e irreversível.

Mas será que Isabella não percebia que eu também estava sofrendo? Que aquela decisão, que eu havia tomado há mais de cinquenta anos, havia destruído toda e qualquer esperança de felicidade que pudese existir em minha existência? E que, por isso, eu já havia recebido minha punição?

Pelo visto não. Aparentemente, ela queria me destruir, imputar à minha alma todas a dor e sofrimento pela qual a avó dela havia passado.

Mal sabia ela que eu não ficava atrás.

Afinal, o que dói menos?

Ser abandonado por quem se ama; ter seu coração despedaçado em mil pedaços, por alguém em quem você confiou plenamente, entregando seu coração e acreditando que aquela pessoa seria a única, em todo o universo, que jamais lhe faria sofrer... Ou conseguir reunir forças, do lugar mais profundo de sua alma, para colocar o egoísmo de lado e ser altruísta, evidenciando a mais difícil carcterístia do verdadeiro amor e agir pensando somente na felicidade e no bem estar do ser amado?

Honestamente, após ter lido as palavras que Bella escrevera, e de vivenciar a dor que dilacerava meu organismo... Eu não sabia o que responder.

- Deixem-me sozinho. - Falei, o rosto econdico em minhas próprias mãos.

- Mas querido... - Esme sentou-se ao meu lado e acariciou gentilmente minha coxa.

- Por favor, Esme. - Falei, sem conseguir reunir forças para mudar de posição. - Por favor.

Pude ouvir que ela expirava o ar, pesadamente.

Edward... Isso vai acabar matando você. Acho que é hora de parar. É hora de voltarmos para Londres.”

- Tanto faz, Carlisle. - Falei, respondendo aos seus pensamentos em voz alta, sem me importar que os outros não entenderiam. - Eu já estou morto, de qualquer maneira. Mas entendo e apoio que vocês retornem.

- Não, nós nunca deixaremos você aqui, sozinho. - Esme intrometeu-se.

Dei de ombros.

- Eu agradeço, Esme... Mas eu já estou sozinho.

Num movimento rápido, peguei o diário que lia antes de meu ataque repentino e saí, pegando as chaves do carro e fugindo para longe, quando na verdade meu maior desejo era fugir de mim mesmo.

Minha mente estava congelada, repetindo diversas vezes as últimas palavras de Bella. Eu dirigia com os olhos vidrados, meu piloto automatico em ação. Lembro-me de descer do carro, guardar o diário no bolso interno de meu casaco e começar a correr, incessantemente.

Não tenho coragem de encontrar Jacob, quando me lembro de ter gritado o nome de Edward desesperadamente antes de apagar totalmente.”

As palavras ecoavam em minha mente, num ritmo constante, enquanto meus pés abriam caminho velozmente pela densa trilha que surgia à minha frente.

Não tenho coragem de encontrar Jacob, quando me lembro de ter gritado o nome de Edward desesperadamente antes de apagar totalmente.”

Meus braços rebatiam galhos de árvores, que se colocavam como obstáculos à frente de meu corpo, tentando em vão impedir minha passagem.

Não tenho coragem de encontrar Jacob... Quando me lembro de ter gritado o nome de Edward desesperadamente antes de apagar totalmente.”

Eu parei, repentinamente. Deixei que meu corpo caísse sobre meus joelhos, minhas mãos tocando a grama espessa , ligeiramente úmida sob minha pele. Minha cabeça estava abaixada, meus olhos cerrados com força.

Depois de algum tempo, fechei meus dedos e senti que arranquei algumas folhas da terra, enquanto tomava coragem para abrir meus olhos. Lentamente vi a paisagem desvendar-se diante de mim, como em uma tela pintada de forma perfeita, eternizando uma imagem.

A campina perfeitamente redonda surgiu diante dos meus olhos, trazendo simultaneamente uma avalanche de dor lancinante.

Não tenho coragem de encontrar Jacob...”

As flores silvestres coloridas permaneciam ali, e o riacho continuava a correr, ao fundo.

...Quando me lembro de ter gritado o nome de Edward desesperadamente antes de apagar totalmente.”

- BELLAAAAAAAAAAAAAAAAA!

O grito – guardado durande mais de meio século em meu peito – saiu do fundo de minha alma, espantando pássaros e ecoando pela floresta que se estendia além da campina.

Eu parei, ouvindo minha própria voz desesperada ecoar pelo ar. Quando o último vestígio finalmente se desfez, deixei que meu corpo caísse para frente, meus cotovelos afundando na terra macia.

- Eu amo tanto você... Me perdoe, por tudo.

As palavras saíram de meus lábios como se ela pudesse me escutar, como se pudesse tomar ciência de que ela não havia sofrido sozinha, que eu havia sofrido tanto quanto ela, a milhões de quilômetros de distância.

Deixei que meu corpo caísse obre a grama. O céu estava azul escuro, típico de um entardecer de Forks. Levei minha mão até o diário, no bolso interno de meu casaco.

Passei a mão sobre a capa de couro. Engoli em seco e a abri, rezando para que eu já tivesse chegado ao lugar mais fundo do poço, e que então a partir de agora não houvesse como eu afundar nem um milímetro a mais.

Março de 2016.

Jacob dorme em sono solto ao meu lado.

Há mais de um mês, não sei o que é dormir assim, dessa forma leve e tranquila.

Hoje então, não devo conseguir pregar o olho a noite inteira.

Não escrevo desde o dia fatídico da missa de sétimo dia de Charlie. O dia em que meu coração passou por várias provações diferentes.

Lembro-me que acordei em meu quarto. Lembro-me que estava com o coração apertado, e com muito medo de ter que encarar Jacob e ver refletido em seus olhos toda a dor que eu o havia infringido.

Eu tenho que agradecer, diariamente, pelo homem maravilhoso que Deus colocou em meu caminho.

Apesar de ter certeza de que Jacob me escutara, quando meus lábios pronunciaram sem cessar o nome de Edward, quando eu o encontrei ele fingiu que nada havia acontecido.

Quando voltei à casa de Charlie, no dia seguinte, o local estava como se nada tivesse acontecido – como se tudo não tivesse passado de um pesadelo muito nítido.

O cacos do prato que eu deixara cair não jaziam mais no chão da cozinha. O piso do meu quarto estava no lugar, como se nunca hovesse sido mexido, e o som estava desligado, sem nenhum CD em seu interior.

Não havia, também, nenhum vestígio do álbum de fotografias.

Sei que essa foi uma forma que Jacob encontrou para tentar me manter longe da dor, ainda mais no momento frágil em que me encontro. E, de verdade, eu queria muito, muito, que tivesse dado certo.

Mas não deu. Claro que não.

Desde aquele dia, eu tenho acordado todas as madrugadas, sem exceção.

Todas as noites me deparo com os olhos cor de mel em meus sonhos; todas as noites, Edward retorna para mim, seja tocando minha canção no belo piano de cauda, seja apenas deitado comigo em nossa campina, sua pele reluzindo magnificamente os raios de sol.

Todas as noites eu fico ansiosa para adormecer, apenas para sentir novamente a textura diferente de sua pele de mármore, e seu cheiro inebriante penetrando em meu organismo, de uma forma tão deliciosa que parece real.

E então, todas as noites, acordo suada, com a face banhada de lágrimas e com um gosto ligeiramente salgado na boca, gritando em alto e bom som seu nome.

Eu estou arrasada. E não porque eu esteja sofrendo – com a dor e a angústia eu já me acostumei há muito tempo – mas porque eu estou fazendo Jake sofrer.

Sinto um nó na garganta quando ele acorda e me abraça, dizendo baixo que está tudo bem, que tudo ficará bem, e acaricia meus cabelos até que eu volte a dormir. Ou melhor, acaricia meus cabelos até que eu finja ter adormecido e ele pegue no sono.

Por isso, e porque essa situação estava insustentável de esconder e de ser amenizada, eu decidi conversar com Alice.

Ela é uma mocinha agora; consegue entender perfeitamente tudo ao seu redor, e sabe muito bem quando tem alguma coisa estranha acontecendo.

Por diversas vezes eu tentei fugir quando Alice me perguntava porque eu estava chorando. Por diversas vezes eu dizia que estava com saudade de Charlie – o que não era mentira, nem de longe.

Mas nenhuma vez eu tive coragem de dizer que a morte de seu avô – repentina e dolorosa – não só me abalou demais como também reabriu uma cicatriz profunda que existe em meu peito.

Num sábado de manhã, onde só estávamos nós duas em casa, Alice veio me perguntar porque Jacob havia “escondido o CD com a música bonita” que ela e Embry haviam encontrado na casa do avô.

Disse também que a Tia Ângela era muito bonita quando nova e perguntou quem era o homem lindo, amigo de seu avô.

Com cautela, eu respondi que o CD havia arranhado sem querer, e que por isso Jake havia jogado fora. Disse que Ângela sempre fora bela, de todas as formas que um ser humano poderia ser. E que o amigo ao lado de Charlie era, na verdade, um amigo meu.

Um ex-namorado, mamãe?”,ela me perguntou, cochichando e sorrindo, como se fosse um segredo nosso.

Respondi que mais ou menos. Ela perguntou porque nós havíamos terminado, se era porque eu havia conheido Jacob e me apaixonado perdidamente. Perguntou se eu ainda sentia algo por Edward, se eu ainda tinha contato.

Crianças são assim. Sinceras e diretas.

Limitei-me a responder que sim, eu havia me apaixonado pelo pai dela desde o primeiro momento em que o vi, voltando a cozinhar. Quando, na verdade, eu sabia que não havia sido isso; na verdade, Jacob, num primeiro momento, não passou de um amigo gentil e amoroso, e Edward terminara comigo por que ele, enfim, percebera que eu não passava de uma humana. Uma humana frágil, desengonçada e sem sal, nem um pouco digna de estar ao seu lado.

Na verdade, eu havia lutado durante muito tempo para enterrar dentro do meu peito um sentimento forte e avassalador, que agora havia sido libertado e eu não conseguia mais esconder, porque aparentemente ele havia triplicado de tamanho enquanto hibernava.

Meu amor por Edward havia ressurgido, em uma proporção inimaginável e quase insuportável. Assim como a dor de jamais haver recebido notícias suas; de não saber, ao menos, se ele está bem, se está feliz.

Bem, Alice não precisa saber toda a verdade.”

Deixei o diário ao lado do meu corpo. A lua já aparecia cheia no céu de brigadeiro, as estrelas distantes piscando suavemente, milhões de anos luz de onde eu estava.

O universo é tão misterioso e singular... É impossível afirmar com certeza quantas galáxias existem, quantos planetas, se somos os únicos ou se existe outra forma de vida, em algum lugar longe daqui.

Mas existe uma coisa que eu posso afirmar com certeza, sem nenhuma sombra de dúvida: Isabella é a razão de minha existência; eu nunca deixei de amá-la, sempre conservei intocado dentro de meu coração imóvel todo o sentimento puro e sincero que sinto por ela, durante todos esses anos.

E ela também me ama. Ainda que eu tenha errado, como eu errei. Ainda que eu tenha falhado, como eu falhei... Ainda que eu a tenha decepcionado e magoado, como decepxionei e magoei...

Isabella ainda me ama, e é só isso que importa.

Eu iria encontrá-la, e duvído que alguém – qualquer pessoa – tivesse coragem de me impedir.


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