Secret Diaries escrita por Cat Cullenn


Capítulo 1
CAPÍTULO I Remoendo o passado




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- Bella, nós vamos embora.

- Quando você diz nós...

- Quero dizer minha família e eu.

- Tudo bem. Vou com você.

- Não pode, Bella. Aonde vamos... não é o lugar certo para você.

- Onde você está é o lugar certo para mim.

- Não sou bom para você, Bella.

- Não seja ridículo. Você é a melhor parte da minha vida.

- Meu mundo não é para você.

- Você prometeu! Em Phoenix, você prometeu que ficaria...

- Desde que fosse o melhor para você.

- tem a ver com a minha alma, não é? Você pode ter minha alma. Não a quero sem você... Ela já é sua!

- Bella, não quero que você venha comigo.

- Você... não... me quer?

- Não.

- Bom, isso muda tudo.

- É claro que sempre a amarei... de certa forma. Permiti que isso durasse tempo demais. Lamento.

- Não lamente. Não faça isso.

- VOCÊ NÃO É BOA PARA MIM, BELLA.

- Se... é isso que você quer.

- Mas gostaria de lhe pedir um favor, se não for demais.

- O que quiser.

- Não cometa nenhuma imprudência, nenhuma idiotice. Entende o que estou dizendo? Estou pensando em Charlie, é claro. Ele precisa de você. Cuide-se... Por ele.

- Vou me cuidar.

- E, em troca, vou lhe fazer uma promessa: prometo que essa será a última vez que você vai me ver. Não voltarei. Não a farei passar por nada como isso novamente. Você poderá seguir com sua vida sem qualquer interferência minha. Será como se nunca tivesse existido. Não se preocupe. Você é humana... sua memória não passa de uma peneira. O tempo cura as feridas para a sua espécie.

- E as suas lembranças?

- Bem... Não vou esquecer. Mas MINHA espécie... Nós nos distraímos com muita facilidade. Acho que isso é tudo. Não vamos incomodá-la de novo. Adeus, Bella. Cuide-se.


50 anos se passaram. E todas as horas, de todos os dias dessas cinco décadas, eu repassei esse diálogo em minha cabeça, repetidamente, sem fim, remoendo um passado distante.

Junto com as palavras, vinham as sensações. As milhares sensações desagradáveis que senti naquele dia fatídico em que pronunciei-as, em que deixei para traz o grande e único amor de minha existência.

Bella.

Todas as vezes que me recordo claramente desse momento terrível, naquele bosque úmido em Forks, revivo também a sensação de sentir meu coração ser arrancado do meu peito e ter ficado com Bella.

Durante quase dez anos eu fugi. Fugi de minha família, que mal conseguia me contactar... Eu me comunicava com ele de meses em meses, quando me lembrava.

Fugi do passado, mas essa era uma batalha perdida... Apesar de tê-la deixado em Forks, com um bilhete para Charlie caso ela não retornasse para casa, eu de alguma forma tinha ficado lá com ela, meus pensamentos não haviam me acompanhado.

E, acima de tudo... Eu tentava fugir de mim mesmo.

Ninguém pode imaginar a luta diária que eu travava comigo mesmo para não descumprir minha promessa. Todos os segundos eu tinha que me convencer de que voltar seria o maior ato de egoísmo que eu poderia tomar. Seria a decisão mais egocêntrica e irresponsável de toda a minha existência.

Porque eu fora a pior coisa eu poderia ter acontecido na vida de Bella.

Ela merecia ter uma vida normal... Um vislumbre de futuro de uma humana comum, se apaixonando por alguém de sua espécie, que a amasse, que pudesse dar a ela tudo o que ela merecia... Amor, filhos, uma vida saudável e feliz, durante toda a vida.

Eu sabia que ninguém, JAMAIS, iria amar Bella tanto quanto eu.

Mas o amor, somente, não pode vencer.

E foi me segurando nisso, na certeza de que minha decisão foi o melhor para ela, que eu consegui me controlar e continuar fugindo. Fugindo de mim mesmo.

Mesmo sabendo que a partir do momento em que abrira mão de Bella... eu havia deixado de viver. Passara somente a existir, uma existência longa e árdua, caminhando em círculos, sabendo que para qualquer lugar que eu fosse, eu não chegaria a lugar algum.

Pois o único caminho que eu realmente gostaria, desejava, NECESSITAVA tomar... Estava fechado para mim. E eu mesmo havia trancado a porta.

Quando se aproximou o final da primeira década, os telefonemas de minha família, principalmente de Esme e Alice, tornaram-se muito mais constantes.

Esme estava cada vez mais triste com minha ausência, e vê-la sofrer por minha causa conseguia fazer com que eu me sentisse ainda pior, o que eu achava que era impossível.

Alice também estava triste com a distância que eu havia estabelecido. E cada dia mais tendente a desobedecer minha ordem de não visualizar, de forma alguma, o futuro de Bella.

Esse foi o principal motivo para que eu retornasse.

Eu não queria quebrar minha promessa. Só eu sabia o quanto era difícil mantê-la. Se eu soubesse de qualquer notícia, qualquer coisa de Bella... Eu iria atrás dela, onde quer que fosse.

E isso era algo que, definitivamente, não poderia acontecer.

Já haviam se passado dez anos. E isso era muito tempo para os humanos.

Todos os dias eu imaginava que rumo a vida de Bella teria tomado. Quanto tempo ela levara para superar o nosso término... Que faculdade ela havia escolhido, quais livros havia lido, quantas vezes relera os livros antigos...

E principalmente... Se havia encontrado alguém por quem tivesse se apaixonado. Se havia se casado, tido filhos, vivido uma vida normal e saudável.

Se enfim estava FELIZ.

Eu não avisei que estava retornando. Até porque não foi uma decisão premeditada, o que Alice teria detectado de imediato, tão ligada em meu futuro estava, e eu sabia disso.

Em uma de suas últimas ligações, Esme havia soltado que estavam de volta ao Alasca. Os Denali ainda estavam abalados demais com a morte de Irina, e Carlisle decidiu passar um tempo com eles para ajudar.

Quando eles me viram ficaram atônitos e radiantes.

Foi a primeira vez que senti uma centelha de felicidade, depois de tanto tempo. Eu já nem me lembrava mais como era esse sentimento, mas foi bom redescobri-lo ao ver o rosto das pessoas que eu amava profundamente, e que também me amavam, expressando uma felicidade imensa ao me ver depois de tanto tempo.

Eu contei para eles tudo o que eu havia feito... Os lugares por onde havia passado, começando por minha jornada pelo Rio de Janeiro, na América do Sul, atrás de Victória, a quem, aliás, eu nunca encontrei.

Depois que todas as novidades (que não eram nada atraentes, já que eu vivia como um nômade, escondido, saindo esporadicamente a noite, me alimentando de ratos e outros seres desagradáveis) foram contadas e recontadas, com todos os detalhes de praxe, a vida começou a voltar a normalidade.

Para todos, menos para mim.

Porque se a minha existência antes de Bella era monótona e sem sentido... Depois de conhecê-la a sua ausência criou um buraco tão grande em mim que era quase insuportável. E o pior é que nada poderia preenchê-lo. Eu teria que viver eternamente com isso, conviver eternamente com essa dor insuportável.

Mas de uma coisa eu tinha certeza.

Se eu pudesse escolher... Eu escolheria o buraco em meu peito à nunca tê-la conhecido. Pois até essa dor lancinante era melhor do que nada. A dor era a prova de que Bella existia; a prova de que a pessoa mais maravilhosa do mundo havia sido minha por um curto espaço de tempo, e que deixara sua marca.

E assim se passaram irritantemente lentos todos os meus dias, durante os últimos 50 anos.

Comigo remoendo um passado distante e sabendo que eu jamais voltaria a ser feliz como fui naquela época.

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