Acordei de um jeito não muito... confortável. Bianca, minha irmã mais nova, estava sentada na minha barriga, levantando minha blusa e colocando o ursinho dela dentro da minha roupa. Eu tirei ela de cima de mim e a sentei na cama, depois tirei aquele urso horroroso e a entreguei.

Tive de esfregar os olhos para ver o horário no relógio digital. Eram seis da tarde, quase hora do jantar.

-Bianca, meu corpo não é a casinha do seu urso, não pode esconde-lo aqui.

Ouvi minha mãe gritar de algum lugar da casa que era hora do banho, então Bianca saiu correndo do quarto para se esconder em algum lugar.

Revirei os olhos e fui para o banheiro do meu quarto, peguei uma toalha e algumas roupas na mala.

[...]

Eu nunca fui dessas que se veste bem pra tudo. Sou do tipo prática. Vesti um short jeans qualquer, minha blusa de seda favorita com magas de alça fina, uma pantufa e desci para jantar.

A casa era enorme, só ali pude notar. Meus pais e minha irmã estavam todos sentados a mesa, me esperando.

- Não se janta de pantufas, Trice. –Repreendeu minha mãe.

- Mãe... não são pantufas, são... as MINHAS pantufas. – Disse e dei um leve sorriso de canto que ela retribuiu.

- Mamãe, quero jantar de pantufas. –Disse Bia.

- Um outro dia, pequena. – Respondeu meu pai. – Filha, já pensou se isso fosse um jantar formal?

- Mas não é, então estamos todos seguros, pai. – Retruquei e voltei a comer. Eles se calaram e fizeram o mesmo, a não ser por Bianca, que ficou tagarelando com seu urso.

Quando o jantar terminou eu voltei para o quarto e tranquei a porta. Na janela do meu quarto havia uma daquelas coisas almofadas em que se pode sentar e olhar a vista. Então, me sentei lá com meu livro e meus óculos. Eu li até certa hora da noite, o sono estava ficando mais forte.

Olhei pela janela e vi alguém na rua. Bem, não sei dizer como era, mas parecia um garoto... ou um homem, não sei. Ficava olhando para a minha janela e então foi embora.

Me senti em um filme de terror, então achei melhor eu ir dormir, aquilo podia ser fruto do sono que eu estava sentindo.

[...]

Acordei com o despertador tocando, marcando seis da 6:00 da manhã. Era o meu primeiro dia de aula na escola nova, então pode se dizer que eu estava ansiosa.

Roupas? Fiquei encarando meu guarda roupas por um bom tempo até achar algo.

Uma calça jeans preta, minha blusa de seda azul, um casaco fino marrom e meu all star branco. Meu cabelo estava preso em uma trança, o que era comum.

Meu pai me deixou a uma quadra da escola, como eu pedi. Me deu concelhos de como seria, o que iria acontecer, mas eu não estava nem ai, apenas sai do carro e entrei.

Varios alunos me olhavam, alguns riram, outros... eu não consegui decifrar a reação, mas a grande maioria pareceu legal... até eu trombar com ele.

Quando trombamos eu cai no chão, mas ele me ajudou a levantar. Quando eu digo “ele”, quero dizer o Simon. Quando o vi eu tive certeza de que era ele que olhou na minha janela na noite anterior.

- Você? –Indaguei. Ele pareceu assustado, como se fosse culpado de algo e eu soubesse o que era, mas logo sua expressão mudou para uma de deboche.

- Olha por onde anda, novata. Não vai querer passar o semestre todo no chão do corredor. – Dito isso, ele me encarou e seguiu seu caminho, me deixando confusa e totalmente inquieta.