Romance de Bar escrita por Lanosa


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem da leitura.Aguardo comentários sobre o que acharam, o feedback de vocês é muito importante para mim.



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O nome era Bar Diamante. Felipe achava um nome meio bobo para um bar, mas a decoração fazia jus ao nome. Tons que variavam de branco ao azul marinho, em um degradê que passava por diversos tons de azul cobriam as paredes. Os lustres eram maravilhosos, cheios de cristais lapidados com maestria para melhor difração da luz fraca que percorria o local, alguns até eram capazes de decompor a luz e, dependendo de como se movimentava, podia enxergar as cores do arco-íris nos cristais. Por um momento Felipe achara que eram feitos de diamantes de verdade, mas depois se sentiu idiota por achar isso. Obviamente um lustre feito de diamante só estaria na mansão de um milionário, e não em um bar, mesmo que o nome fosse Diamante.

A decoração das mesas e das paredes também possuía objetos cristalinos. Algumas garrafas de bebidas eram expostas em uma cristaleira rústica atrás do bartender de colete cinza escuro listrado e gravata borboleta combinando, bastante fashion.

O bar era amplo, com espaço pra mesas e um palco, e também era bastante glamuroso, condizendo com o tipo de gente que frequentava o bar.

Felipe não estava sentado em uma mesa, nem teria motivo para estar em uma mesa já que não possuía nenhum tipo de acompanhante. Encostou o cotovelo na bancada de madeira e olhou pros lados, observava tanto o lustre quanto as poucas pessoas que estavam dançando. O bartender chegou com a bebida que ele pedira, agradeceu.

Bebeu um gole, e depois outro.

Observou as pessoas que estavam também na bancada. Observava principalmente os homens. Pensou se poderia encontrar um rapaz bonito pra lhe fazer companhia.

Felipe dividia o tempo entre checar o celular, beber e pensar na vida. Se perguntava se beber em um bar sozinho era coisa de fracassado. Geralmente Felipe gostava da própria companhia, mas em alguns dias ficar sozinho parecia insuportável. Hoje Felipe apreciava a própria companhia, mas também se preocupava com o que os outros achavam.

Ele se preocupava de mais com o que pessoas desconhecidas pensavam dele, Felipe sabia que isso não era muito saudável e tentava mudar, mas não tinha como simplesmente mudar. Às vezes Felipe parece distraído de mais, como se a cabeça estivesse em outro mundo, era só uma tática criada logo na juventude para que ele não percebesse os outros em sua volta, afinal não dá pra se preocupar com o que os outros pensam quando você não os percebe. Felipe criou essa tática inconscientemente e isso afetou bastante seus relacionamentos amorosos (já que não percebia os outros em volta, não percebia as cantadas).

Quando era adolescente, Felipe queria ter uma namorada porque todos seus amigos tinham uma namorada – tinham pelo menos uma ficante – e falavam de sexo e de como era bom, mas Felipe era virgem e todas aquelas conversas fez com que o sexo virasse uma coisa mítica, mágica, extraordinária...

Um dia Felipe encontrou uma garota que virou sua namorada e quando Felipe fez sexo pela primeira vez, se decepcionou.

Claro que ele era jovem e bobo, e se preocupou muito pela decepção sobre sexo, teve alguns problemas quanto a isso, mas a história de sua juventude não nos importa muito. A questão é que demorou um tempo até Felipe perceber que não gostava de mulheres, e sim de homens. Ele mesmo se sentiu estranho quanto a isso, pois achava que não era natural, e um monte de gente do seu circulo social também achava que não era natural. Felipe lutou muito pra aceitar a si mesmo, e ainda continuava lutando para que os outros o aceitassem também.

Um garoto sentou dois banquinhos de distância de Felipe. Era muito alto, mas também muito jovem. Tinha um cabelo com um penteado moderninho com uma roupa não tão moderninha. Não era tão fashion como o bartender, mas não parecia mal arrumado. Talvez o ar juvenil de seu rosto tenha dado o toque final ao visual.

Felipe batia a unha quadrada no seu copo de bebida. Tinha criado um círculo de água na madeira. Ele imaginou se era muito estranho um homem cuidar da unha... quer dizer, cuidar do cabelo, das roupas, da pele eram normais, não? Pra não parecer desleixado com cabelo desarrumado e roupas puídas. E a pele, também, até por questão de higiene... mas, lixar e tratar das unhas... ter unhas bem cuidadas é bom, mas a imagem de um homem com uma lixa de unha, lixando as unhas, ou na manicure...

Talvez Felipe ainda não tenha se aceitado completamente... será que mesmo sendo gay, poderia ter preconceito?

A cabeça de Felipe era uma bagunça. Quando estava na faculdade, ou estudando, ou focado em um trabalho ele não precisava pensar sobre o assunto, sobre ser gay ou não, ou se tem preconceito, ou sobre aceitar ser gay. Talvez Felipe nem fosse gay, talvez ele não gostasse nem de mulheres, nem de homens...

Felipe não gostava muito de ficar sem nada pra pensar. Ele gostava de pensar: pensava em resoluções de problemas, pensava sobre o que tinha aprendido na faculdade, lia livros e pensava sobre os livros, procurava coisas novas pra aprender, pois também gostava de aprender coisas novas e depois pensava sobre elas. Por isso, quando Felipe não tinha nada pra pensar, ele começava a pensar sobre si mesmo.

Se bem que pensar sobre si mesmo ainda era melhor do que pensar sobre o futuro. Felipe não gostava de pensar sobre o futuro. Ele tinha medo.

Então resolveu pensar no garoto do seu lado que já havia pedido a própria bebida. A dele também formou um círculo molhado na madeira. Era incrível como aquela madeira não tinha marcas de copos. O bartender devia encerar bem ela.

Olhou pro bartender bonito e depois voltou para o garoto. Ele parecia ser muito jovem e moderno, mesmo com aquelas roupas... veja bem, não eram roupas de velho, mas também não eram roupas de jovens. Felipe usou a palavra vintage para descrever em sua mente, não sabia direito o que vintage significava e se era certo o que ele pensava o que significava, mas usou mesmo assim. Acreditava que vintage descrevia o que parece velho, mas não é.

Esqueceu as roupas e focou no rosto, que era bonito. E como era bonito! Parecia tão másculo, porém suave. Daqui a alguns anos aquele menino seria muito gostoso... e o corpo...

O garoto olhou pra Felipe, que demorou uns segundos pra desviar o olhar. Felipe ruborizou, não sabia que cara estava fazendo, mas estava pensando coisas pervertidas. Talvez estivesse fazendo cara de desejo. Sentiu-se envergonhado, mas tentou se acalmar.

“Calma, calma, tanto faz... Talvez eu estivesse com uma cara normal, é possível. Talvez ele nem olhou pra mim, talvez olhou pra uma coisa bem atrás de mim... Talvez ele olhou pra mim, talvez ele viu minha cara de flerte... talvez ele esteja querendo me conhecer agora.”

Felipe tentou virar a cara de volta pro garoto, mas o pescoço travou. Sentiu a garganta seca e bebeu um pouco mais da bebida. Procurou algo que não estivesse na direção do garoto, mas que pudesse refletir sua imagem como um espelho ou um daqueles enfeites de cristal. Achou nada.

O que faria se o garoto viesse puxar conversa? E então começou a imaginar a situação. Um dos segredos de Felipe, é que ele tinha bastante imaginação, quando criança tinha mais, adorava imaginar um mundo de fantasia pra brincar. Tinha perdido parte dessa imaginação com o amadurecimento, mas ainda era mais infantil e imaginativo que os outros adultos. Muito mais. Felipe às vezes dormia depois de imaginar cenas do dia a dia onde ele era incrível, ou mágico, ou dava respostas inteligentíssimas nas discussões. Essa última situação não era muito legal, já que ele se sentia muito bom por dar respostas boas pra discussões que tivera durante o dia, mas depois que se lembrava de que o fato já tinha ocorrido e que – na maioria das vezes – tinha agido como idiota, ficava triste. Isso fez com que Felipe começasse a imaginar discussões e situações antes mesmo delas acontecerem, assim ele saberia o que dizer sem parecer idiota.

– Oi – Ele imaginou o garoto vintage chegando perto de si e sentando no banco ao seu lado – Tá sozinho?

– Sim... – imaginou ele respondendo. Qual seria a melhor cara pra fazer? Ele se imaginou respondendo hesitante. Mudou a situação, agora sua cara era de flerte – Estou, e você? – Talvez fosse melhor se fazer soar meio rebelde, meio se achando o maioral... algo do tipo, meio misterioso, talvez? Mudou de novo – Estou sozinho... por que pergunta?

– Hm, eu só estava imaginando o que um rapaz como você estivesse fazendo aqui...

Outro segredo de Felipe: ele era péssimo pra criar diálogos de flerte, mas era bom em discussões. Só que não queria discutir com o rapaz, queria ir pra cama com ele.

Talvez se mudasse pra algo parecido com aquelas histórias em que o ódio vira amor?

– E por qual razão o que eu faço lhe parece tão interessante?

– Você parece uma pessoa interessante. – O garoto deu um sorriso sensual

– Ah é? – Felipe virou a cara, estava se fazendo de difícil – Você não me parece muito interessante.

– Conhece o ditado “não julgue um livro pela capa”? Então, eu posso te mostrar o quanto sou interessante.

– Uma vez comprei um livro só pela capa e foi um dos melhores livros que eu já li.

Parecia que Felipe estava sendo muito agressivo, precisava mudar de atitude.

– Imagino qual livro.

– Qualquer dia desses eu posso te mostrar – Imaginar ele mesmo tentando ser sensual deixou Felipe mais envergonhado.

– Esse dia... pode ser hoje... – Disse o garoto se aproximando, fazendo cara de quem ia beijar.

PARA TUDO.

Que cena ridícula.

A de flerte, porque a cena dos dois se beijando era boa. Os dois começariam a se beijar, ali mesmo no bar, e então iriam pra casa de um dos dois.

Thiago era o nome que Felipe inventou pro garoto. Ele precisava de um nome e tinha cara de Thiago.

Thiago e Felipe passariam o tempo com mãos entrelaçadas, se amando, se beijando, com a barba por fazer do outro roçando no seu rosto... Thiago tinha barba? Felipe pensou em olhar o menino mais uma vez pra ver se tinha barba, mas não conseguiu virar a cabeça naquela direção enquanto imaginava a cena. Bebeu mais um gole da sua bebida.

Felipe olhou pra baixo e viu um volume na calça. Ainda bem que o bar estava escuro. Felipe resolveu parar de imaginar. Bebeu mais, tomou tudo em poucos goles. Pensou no que tinha acontecido na faculdade ontem. Pensou quando o professor tropeçou na sala, na piada de outro professor. Pensou no professor que não gostava e do que lhe tinham fofocado sobre ele. Lembrou de sua amiga engraçada e das fotos que ela tirava dos outros escondidos. Era muito engraçado. Pediu outra bebida. Tomou um gole. Já estava mais calmo.

Felipe agora queria muito conhecer o garoto. Desejava que quando Thiago tivesse encarado ele, estivesse com cara de flerte, que era pro garoto saber que Felipe o desejava.

Terminou a outra bebida em poucos goles e respirou fundo. O que diria?

“Oi”

“E aí?”

“Cabelo legal”

Nada parecia satisfatório. Decidiu pelo que tinha imaginado antes: “Oi. Tá sozinho?”. Agora que era para ele falar, parecia ridículo. Não sabia o que aconteceria depois, mas já tinha imaginado um diálogo, mesmo que fosse um diálogo horrível. Mas talvez usaria o “Estava pensando o que você estava fazendo” ou algo do gênero, o que saísse na hora. Também precisava ver se o rapaz tinha alguma barba que pudesse roçar no seu rosto.

Felipe virou, mas não havia mais ninguém lá.

Felipe olhou em volta do bar, não conseguiu reconhecer Thiago em nenhum dos outros rostos. Pensou em pedir outra bebida, mas resolveu voltar para casa.

Pagou a conta, voltou pra casa, trocou de roupa, deitou, pensou em Thiago, dormiu.

Felipe precisava parar de idealizar pessoas em suas fantasias. Sabia que não era saudável e tentava mudar, mas não tinha como simplesmente mudar.

Sonhou que estava no deserto.


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Notas finais do capítulo

Oi galera :) tinha escrito essa fic para o desfio de abril, mas a tinta tinha esquecido que não podia gênero lemon e tive que editar o texto xD Mas agora está certinho o/
Gente, com relação a parte do livro que Felipe comprou por causa da capa e é um dos melhores que ele já leu, é verdade hahaha, só que não foi o Felipe que comprou, fui eu! Se chama "A menina que não sabia ler". Qualquer dia desses eu posso mostrar pra vocês, ou não hahaha, mas sintam-se a vontade pra ler minhas outras fanfics (que no momento, só tem essa e mais uma xD)
Não esqueçam de comentar, amores. Sério, qualquer coisa. Eu quero muito saber o que vocês acham de mim, de como escrevo.Beijinhos cristalinos e imaginativos :*

Gente, vocês querem saber quem é, de fato, o tal do Thiago? Gostei tanto do espaço "Bar Diamante" Que senti vontade de escrever outra fic, com outros personagens, mostrando pra vocês quem é "Thiago" e o que ele fez aquela noite e porque estava ali. O que acham? É só uma ideia. Primeiro vou avaliar a "aceitação" da minha fic, se vocês gostaram dessa e coisas assim :3



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