Pamela Buchanan cresceu ouvindo sua mãe Daisy divagar sobre um sujeito desconhecido pela menina, um tal de Gatsby.
Às vezes Daisy Buchanan ficava na janela, encarando as luzes que brilhavam do outro lado da baía, em West Egg, onde o tal Senhor Gatsby morava; festas eram dadas quase todas as noites, mas a Senhora Buchanan nunca ia a nenhuma delas. Ao invés disso ela ficava sentada de frente para a janela de seu quarto, observando enquanto as festanças aconteciam e as pessoas dançavam e bebiam. As pessoas não podiam ser realmente vistas, mas Daisy, de alguma maneira, tinha certeza de que elas dançavam e bebiam. Naquela época, na época das festas do Senhor Gatsby, Pamela Buchanan era muito jovem para entender o motivo pelo qual o mesmo dava tantas festas.
Anos depois, Pam cresceu, e as festas acabaram. Na verdade, elas já haviam acabado muito antes, quando a jovem Buchanan era apenas uma garotinha. As luzes já não brilhavam, e não havia mais música, dança ou risadas. A casa de Gatsby foi misteriosamente desocupada, assim como a casa ao lado dela, na qual morara um dia o primo de Daisy, Nick. A Senhora Buchanan nunca contara à sua filha por qual motivo ambas as casas haviam sido desocupadas, mas mesmo depois disso ela continuava divagando sobre o tal Senhor Gatsby. Até os dezesseis anos, Pamela nunca soube o primeiro nome do homem misterioso sobre o qual sua mãe falava uma vez ou outra, quando o seu marido e o pai de Pam, Tom Buchanan, estava bem longe de casa, e seus ouvidos fora do alcance das palavras apaixonadas de Daisy.
"O seu nome era Gatsby", ela dizia à sua filha enquanto acariciava a bochecha desta. Nestes raros momentos havia sempre um sorriso triste em sua bela face.
"E ele era muito bonito, e muito gentil também"
"Ele lutou bravamente na guerra"
"Ele tinha um coração de ouro, e também uma coleção impressionante de carros"
"Ele tinha um sorriso encantador"
"Ele olhava para mim da forma como qualquer outra mulher gostaria de ser olhada"
"Ele dançou comigo em uma de suas festas"
"Nós passamos uma tarde juntos no Ritz"
"Ele gostava de dizer 'meu velho'"
"Ele estudou em Oxford"
"Ele lutou por mim. Ele lutou por mim, Pammy, mas perdeu a batalha."
Essas eram as divagações que Pamela conseguiu ouvir de vez em quando, quando se sentava ao lado de sua mãe no quarto de seus pais e esperava que ela revelasse mais alguma informação valiosa sobre o passado do misterioso Senhor Gatsby; seu primeiro nome, talvez. Sua idade. Mal sabia ela que nem mesmo a própria Daisy sabia muito sobre o passado dele.
"Mamãe", ela perguntou, um dia, após dezesseis anos de divagações que nunca seriam ouvidas por ninguém além das duas, olhares apaixonados e sorrisos tristes dirigidos para o outro lado da baía. "Quem era realmente o Senhor Gatsby? Qual era o seu nome?"
Daisy olhou para a filha, aquela bela bobinha à quem ela dera a luz e criara com todo o seu amor e carinho, e respondeu melancolicamente:
"Seu nome era Jay Gatsby", ela sussurrou, como se contasse um segredo. "Ele me amou mais do que a qualquer coisa no mundo, e eu o amei também, mas fui muito covarde para perceber isso." Diferente de tantas outras, aquela frase não viera acompanhada de um sorriso, somente de um olhar de arrependimento e algumas lágrimas que nunca poderiam trazer de volta o misterioso ricaço de West Egg.
Depois daquele dia, Pamela Buchanan nunca mais ouviu falar sobre o Senhor Gatsby novamente.