Avatar: A lenda de Mira - Livro 2 Ar escrita por Sah


Capítulo 9
Sangue e cinzas




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Ele não me respondeu. Seu rosto se fechou e seus olhos mostraram preocupação.

— Não é hora para discutirmos isso. Com mais calma e certeza eu conto para você.

Ele me deixou curiosa.

Olhei ao redor. Onde estávamos? Sei que estávamos em um barco, mas não era o da união do fogo.

— Estamos na lancha do Sina. – Respondeu Suni como se lesse os meus pensamentos.

— Sina? Ele está aqui?

— Sim, ele nós resgatou do mar.

Mas o que é que aconteceu de verdade?Eu só me lembro do espírito. E depois disso eu estava aqui.

— O que aconteceu de verdade? O que eu fiz para salvá-los?

— Você entrou em estado Avatar. Você controlou um monstro de água. Foi incrível – Falou Suni com os olhos brilhantes.

— Foi mesmo?

Eu acho que já entrei em estado Avatar duas vezes. Uma vez na cidade da Fuligem e outra vez na lua cheia. Eu não havia me sentido assim nessas vezes. Das outras vezes eu fiquei totalmente esgotada, mas hoje até que eu estou bem.

Meelo estava quieto e pensativo.

— O que faremos agora? – Perguntei tirando a sua concentração.

— Agora? Eu não sei. Mas acho que o conselho não deixará as coisas dessa forma. Eles vão se virar um contra o outro e acho que mais traidores aparecerão.

Meelo voltou a ficar pensativo.

Eu estava deitada em uma cama macia. Me levantei.

— Acho que você não deveria andar agora. – Suni me diz

— Mas eu estou bem. Me sinto ótima.

Ouço batida na porta. Sina aparece. Ele parece menos frio e usa roupas casuais. Muito diferente de como estava na reunião do conselho.

— Estamos chegando no porto. – Ele falou e desapareceu novamente.

A única coisa que eu desejo agora é falar com o meu pai. Depois do festival eu ainda não expliquei nada para ele.

— Eu poderei ir para casa quando chegarmos?

— Não, nós vamos para a minha casa, meu pai ...

— Meelo, me desculpe mas eu não quero voltar para aquela ilha tão cedo. – Falei sinceramente.

— Mas...

— Eu realmente preciso falar com o meu pai. Preciso explicar para ele toda essa coisa de Avatar.

Meelo pareceu convencido.

— Tudo bem. Mas iremos com você.

Eu ia protestar, mas com tudo isso que aconteceu eu não quero ficar sozinha.

Quando aportamos haviam várias pessoas nos esperando. Além da imprensa, havia policiais e paramédicos.

Não imagino quem os informou o que tinha acontecido.

A imprensa ficou afastada, mas logo os paramédicos entraram em ação. Eu recusei qualquer tipo de atendimento. Eu estava bem. Me sentia ótima fisicamente.

Sina estava conversando com Riku. Parecia que ele estava levando uma bronca.

Me aproximei devagar. Quando Riku me viu seu olhar baixou. Os remédios já fizeram efeito.

— Me desculpe. – Ele me disse quando eu cheguei perto.

Sina me viu e suspirou.

— Vocês dois são bem problemáticos, mas não acho que qualquer outro supervisor teria tanta paciência. De agora para frente vocês dois terão outro tipo de tratamento. Riku, você terá que frequentar o psiquiatra, sinto muito mas você está ficando muito dependente dos estabilizadores de humor, se pula uma dose você enlouquece.

Quando Sina falou eu notei por um momento um brilho de loucura nos olhos de Riku, mas isso logo desapareceu, espero que isso não seja nada.

— E você Mira, eu realmente queria saber o que vai acontecer de agora pra frente mas isso ainda é uma incógnita até para mim.

— As coisas não serão as mesmas para ninguém. – Falei com uma sabedoria que não sei da onde veio.

—Na verdade só vim dizer, eu irei para a minha casa. Ver o meu pai. E ninguém irá me impedir de fazer isso.

Sina não me olhou com bons olhos.

— Ver o traidor? -- Ele recuperou a frieza.

— Se ele é um traidor, então eu também sou.

— Não brinque com essas coisas Mira. Se você for considerada uma traidora, nem o seu status como Avatar vai te salvar.

— Então eu vou arriscar.

Sai de perto dele. E desci do barco. Várias pessoas da imprensa me cercaram.

— Você é mesmo a Avatar? Mostre para a gente? — Uma moça com um gravador disse.

— Eu tenho que ir sinto muito. – Eu disse indo para a frente.

Eles não me tocavam, mas impediram a minha passagem.

— Você foi mesmo a responsável pela guerra que está por vir? – Um homem me disse colocando um microfone na minha cara.

Perdi a paciência.

— Saiam da minha frente agora. Se não...

— Você vai atacar cidadãos inocentes? - O homem continuou.

Senti aquele calor, minha visão estava ficando vermelha. Tentei respirar fundo, mas eles não paravam, ficavam me perguntando coisas que eu não conseguiria responder.

Me preparei. A água estava perto. Seria muito fácil derruba-los, fazê-los engolir tanta água, passar pelo que nós passamos.

O vento mudou, e uma rajada de ar derrubou algumas pessoas e abriu o meu caminho.

— Você realmente iria sem a gente? – Virei para trás e vi Suni e Meelo.

A raiva ainda não havia sumido.

Continuei meu caminho sem falar nada.

— Respire fundo, seu rosto está vermelho. – Meelo me disse quando me alcançou.

Toquei meu rosto. Ele estava quente.

— Não deixe que essas pessoas te deixem assim. Eu não consigo imaginar o que aconteceria se você explodisse aqui.

— Nem eu – Eu digo um pouco assustada comigo mesmo.

Meelo deixou a maioria das pessoas afastadas.

— Vocês vão mesmo comigo?

— Sim, não vamos deixa-la sozinha.

— Vamos para a minha casa, a minha verdadeira casa, na cidade da fuligem.

Eu senti Meelo hesitar. Muitas pessoas tinham medo desse bairro. Os rumores afastam qualquer visitante.

— Está com medo? Eu nasci lá, e vivi a minha vida inteira.

— Não é isso.

— O que é então?

— Eu também nasci lá. – Ele sussurrou.

Fiquei mal por ter perguntado. Eu não sei quase nada sobre a vida dele. E não imagino como ele pode ter vindo desse lugar.

— Então somos conterrâneos? – Falei tentando cortar o clima tenso que se formava.

Olhei para a Suni, e pedi com os olhos. Me ajude. Ela olhou para todos os lados.

— Ah, Meelo. Acho que você terá que trocar de roupa.—Ela perguntou chamando a atenção dele.

— Trocar de roupa? Por quê?

— Você está sujo!

Ele se olhou.

— Mas eu não estou.

Foi nessa hora que Suni dobrou e jogou uma bola de terra nele.

— Por que diabos você fez isso? – Ele falou gritando.

— Ah, Meelozinho eu não gostava da sua roupa.

— Suni!! -- Ele gritou correndo atrás dela.

O clima mudou totalmente. Meelo havia feito Suni o limpar.

— Você fica bem melhor sujo de terra. – Ela falou emburrada.

— Que seja.

Enquanto andávamos pessoas apontavam para mim. Sussurravam coisas inaudíveis.

Eu podia ver rostos felizes e rostos de desprezo. Olhares frios que cortavam a minha alma.

— Podemos ir logo? – Eu apertei o passo.

Chegamos no ponto de ônibus.

O motorista pareceu feliz com a minha presença, mas vários passageiros se recusaram a continuar conosco.

Não paramos em nenhum outro ponto. Fomos deixados direto no ponto final.

. Suni olhou para aquele bairro sujo, escuro e vazio com uma admiração estranha.

— Eu sempre quis vir aqui.

Resolvi não perguntar, não queria deixar as coisas estranhas novamente.

— Vamos por ali. – Eu indiquei o caminho.

Meelo tossiu algumas vezes. Acho que apesar de ter nascido aqui, ele nunca mais voltou.

Não havia ninguém nas ruas. Vimos uma viatura passar lotada de policias. Alguma coisa estava errada.

Fomos pelos becos. Escuros e fedidos.

Até chegar a minha casa.

Me assustei quando eu a vi. Havia pichações ofensivas em todos os lados.

Coisas a meu respeito. Traidora, vendida e demônio eram as coisas mais leves. Senti um embrulho no estômago. O que fizeram com o meu pai?

Bati na porta e ninguém veio.

Me afastei.

— Suni, você consegue abrir?

Ela me olhou, seu olhar estava a apreensivo.

— Como eu iria abrir uma porta de ferro? - Ela falou um pouco nervosa.

— As paredes são de pedra, você pode abrir um buraco?

— Ah, isso. Claro. – Ela pareceu aliviada.

Assim foi feito.

O buraco era feito com muita delicadeza e precisão. Assim que passamos por ele, Suni o fechou

O local estava escuro. Assim que minha visão se acostumou eu vi que tudo estava revirado. Depois que nos mudamos eu nunca pensei no que pode ter acontecido com essa casa.

— Cheiro de sangue. – Meelo disse

Eu parei e senti também. O ar estava rarefeito mas o cheiros eram notáveis

— Sangue e cinzas. – Eu disse.

Investigamos mais.

Será que meu pai teria voltado para a outra casa? Acho que não, ele não a considerava um lar. Eu disse para ele, volte para a nossa verdadeira casa.

Fui até o meu antigo quarto, o qual eu dividia com os meus irmãos. Forcei a porta. Alguma coisa me impediu. Ouvi uma respiração, ela estava entrecortada.

— Quem está ai? – Falei alto.

— Mira? – Pude ouvir uma voz conhecida. – É você mesmo?

Meelo e Suni se aproximaram.

— Você quer eu abra um buraco? – Suni perguntou.

Balancei a cabeça negativamente.

— Sim, sou. Eu.

Ouvimos alguma coisa pesada sendo arrastada.

Minha expectativa aumentou

A porta se abre.

Quem eu vejo é Wana.

Ela está suja e ferida.

Ela está suja de cinzas e um corte vermelho está estancado em um de seu braços.

Meus olhos começam a arder e eu só consigo imaginar o pior.

— Eles o levaram! – Ela fala para mim entre soluços

Eu não consigo falar nada.

— A UCG o levou. Levou os meus filhos também.

Ela diz antes de cair de joelhos na minha frente.

— Você tem que salvá-los. – Ela me implora.


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