Sete Dias escrita por magalud


Capítulo 3
Dias 3 e 4




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Dia 3

Severo olhou para Madame Pomfrey e indagou:

– E então?

Ela terminou o exame e guardou sua varinha.

– É estranho - disse ela. - Parece que seus poderes diminuíram.

– Diminuíram?

– Isso mesmo. Como se estivessem embotados, ou incapazes de se manifestar... Nunca vi uma coisa parecida sem uma maldição específica - ela balançou a cabeça, intrigada. - Mas fora isso, você está muito bem, Severo. Já pode ir.

– Ir? - o rosto de Snape deixava claro que isso não lhe passara pela cabeça. - Como assim, ir? Para onde eu iria? Eu nem sei quem eu sou, quanto mais que lugar é esse!

– Com memória ou sem memória, você continua um resmungão. Seus aposentos ficam nas masmorras. Não tem o que errar, é logo depois da sala de aula de Poções.

– Mas... mas...

– Os elfos domésticos trouxeram uma muda de roupa limpinha. Pode se trocar atrás do biombo e ir-se daqui!

Ele fechou a cara:

– Ora, e não será sem tempo! Humpf!

Enquanto Severo trocava de roupa, havia uma comoção atrás do biombo. Madame Pomfrey tinha novos pacientes, pelo que tudo indicava.

– Oh, meus deuses! Ponham-no nessa cama, depressa! - passos indicavam várias pessoas juntas. - O que aconteceu?

– Não sabemos - disse uma voz feminina, parecendo muito aflita. - Estávamos na aula de Herbologia, e mal tinha começado quando ele simplesmente desmaiou! Deve ter sido de mau jeito, porque o rosto dele está cheio de feridas!

– A Profª Sprout achou melhor interromper a aula e retirar todos da estufa - a voz agora era de um rapaz, um que ainda estava na fase de trocar de voz.

Severo afastou o biombo e viu que o grupo era composto de pelo menos quatro alunos. Eles estavam em volta de um quinto, que estava desacordado na cama. Três deles pularam ao se darem conta de que Severo estava atrás deles.

– Prof. Snape! - disse uma moça, uma de cabelos bem cheios e compridos. - O senhor já está de pé.

Severo olhou para seus companheiros: ao lado dela, estava um rapaz de sardas e cabelos bem vermelhos, com os olhos azuis arregalados para ele, com eles estava um rapaz rechonchudo com dentes salientes e bochechas caídas e um outro jovem de cabelos bem pretos e curtos. Todos pareciam realmente amedrontados.

Só que Snape não sabia dizer se era com ele ou com o colega, um menino de óculos e cabelos desgrenhados que jazia imóvel na cama, com hematomas no rosto. Ele também parecia ligeiramente esverdeado, de tão pálido. Madame Pomfrey passava a varinha sobre ele, examinando-o.

A menina aproximou-se de Snape e apresentou-se:

– Sou Hermione Granger. Estes são Rony Weasley, Neville Longbottom e Simas Finnigan.

Severo sorriu:

– Prazer em conhecê-los. Desculpe por não reconhecê-los imediatamente, eu -

Os meninos arregalaram os olhos ainda mais, mas a menina - Hermione - logo falou:

– Nós soubemos o que aconteceu com sua memória. Sinto muito.

– Ora, quem sabe em breve eu estarei de volta à velha forma e logo voltarei à sala de aula?

Ao ouvir aquilo, o menino bochechudo - Neville - soltou um pequeno gemido. Ignorando-o, Hermione comentou:

– A Profª Sinistra o substituiu. Inclusive como chefe da casa Sonserina.

– Espero que vocês apreciem o esforço de sua professora e não lhe dêem trabalho.

O garoto Weasley estava com a boca tão aberta que parecia que o queixo ia se grudar ao peito. Madame Pomfrey, que examinava o menino desacordado, informou, sem se virar:

– Mas ela logo vai poder voltar às atividades normais. Prof. Snape está de saída da enfermaria.

Os alunos pareceram estremecer diante dessas palavras e Severo ia responder à enfermeira, mas notou que ela parecia muito preocupada ao examinar o garoto, o tal Potter.

– Hum - fez ela. - Nada quebrado. Sim, sim, definitivamente isso não é bom.

– O que não é bom? - disse o Prof. Dumbledore, que acabava de entrar na sala. - O jovem Dean Thomas disse que trouxeram Harry Potter para cá.

Severo olhou para o recém-chegado. Ele não o reconheceu o rosto, mas sim a aura mágica e de autoridade e respeito que sua mera presença impunha. Deveria ser um professor. Diana mencionara o velho diretor de 150 anos. Ele certamente parecia ter essa idade.

– Sim, Prof. Dumbledore - disse a enfermeira. - E eu temo que as notícias não sejam boas.

O diretor se virou para Severo:

– Ah, Severo, meu rapaz, que bom que você está melhor. Lamento ter demorado tanto para visitá-lo - ele estendeu a mão. - Sou Alvo Dumbledore, diretor de Hogwarts.

Severo o olhou, intrigado:

– Eu não o conheço, então?

– Aparentemente você não me reconhece, então achei melhor me apresentar. É bom ver que sua saúde melhorou - os alunos se entreolharam, e o velho diretor se virou de volta ao leito - Mas no momento, estou mais preocupado com Harry.

A menina Hermione Granger explicou:

– Ele desmaiou na estufa, Prof. Dumbledore. De repente, sem mais nem menos!

– Ah - fez o diretor. - Isso é realmente preocupante. Mas Madame Pomfrey com certeza vai ajudá-lo.

Como já não bastasse o bando de gente que já estava na ala hospitalar, Severo quase deu um pulo para trás quando um ser meio árvore, meio gente, adentrou a enfermaria. Era uma mulher baixinha e gordinha, pelos padrões humanos, com o que pareciam ser galhos e folhas saindo de suas roupas, e um tom decididamente mais para a clorofila do que para pele humana no rosto e braços. Ela trazia uma caixa de madeira na mão e observou, ao ver todos os presentes:

– Que sorte! O senhor está aqui, Prof. Snape. E o Prof. Dumbledore! Isso é excelente! Eu ia mandar chamá-los! Precisam ver isso.

Dumbledore se virou para Severo e apresentou:

– Essa é nossa professora de Herbologia, Pomona Sprout. Lembre-se que Severo ainda está se recuperando, e sua memória foi afetada. Por que ia nos chamar, Profª Sprout?

– Uma coisa que muito me preocupou, Prof. Dumbledore. Ainda não descobri direito o que é, mas sei que isso tem a ver com o que aconteceu com o Sr. Potter - ela deu um tapinha na caixinha. - Vou precisar de ajuda para determinar com exatidão como isso tudo aconteceu. Um mestre de Poções vem bem a calhar para verificar o que vem a ser isto.

Ao pronunciar a última palavra, ela abriu a caixinha de madeira que trazia. Dentro dela, havia uma espécie de tubérculo ou raiz inchada e esverdeada. Madame Pomfrey olhou para dentro:

– Mas isso é apenas uma mandrágora. Ora... Que cor é essa?

– Isso é o que eu não soube determinar - disse a Prof. Sprout. - Ela obviamente morreu devido a alguma substância.

Os alunos pareciam intrigados, mas logo o sentimento mudou. Uma vozinha fraca chamou:

– Papoula...

– Prof. Dumbledore! - gritou Hermione, correndo para o diretor, que lentamente ia ao chão, também desacordado.

– Oh, poderoso Merlim! - apavorou-se Papoula Pomfrey. - O que está acontecendo?

Severo recolheu o corpo frágil do velho professor do chão e colocou numa cama ao lado do aluno Potter. Madame Pomfrey virou-se para Hermione e disse:

– Srta. Granger, por favor, preciso que vá até a sala da Profª McGonagall e traga a Srta. Adrian. Preciso da ajuda dela. Avise a Minerva o que aconteceu e volte para o Grande Salão. A enfermaria está fechada a partir desse momento. O resto de vocês - virou-se para Finnigan, Weasley e Longbottom - para fora daqui. Agora! E não voltem.

– Mas - disse Rony Weasley, enquanto Hermione Granger saía correndo - E o Harry?

– Eu mando notícias assim que tiver. Agora saiam logo! Vocês estão correndo grande perigo! - os meninos obedeceram, assustados, e Madame Pomfrey se virou para a Profª Sprout. - Madame, por favor, eu preciso de suas técnicas para descobrir que substâncias estão atuando nessa mandrágora morta. Provavelmente essa é a chave de todo esse mistério. Pode fazer uma necropsia?

– Certamente.

– Mas use de todo o cuidado que puder. Seja lá o que for que estamos enfrentando, é muito perigoso.

*

Diana subiu as escadas esbaforida. Hermione tinha pintado um quadro horrível, com plantas ameaçadoras e pessoas desmaiando. Ao chegar à enfermaria, porém, ela viu que Hermione não tinha exagerado.

– Ah, Srta. Adrian. - disse Madame Pomfrey. - Por favor, pegue a solução asséptica e limpe o Sr. Potter. Depois me ajude com o Prof. Dumbledore.

Diana viu que o Prof. Snape sorria para ela, mesmo mexendo num pequeno caldeirão no fundo da sala. A moça se dedicou a cuidar dos seus pacientes, e viu que Madame Pomfrey estava muito nervosa.

– O que eles têm, Madame Pomfrey? Como isso aconteceu?

– Aquela mandrágora envenenada que vitimou o Prof. Snape apareceu na estufa da Profª Sprout. O jovem Potter desmaiou com o veneno, e quando a professora trouxe o espécime para cá, o Prof. Dumbledore foi envenenado.

– Mas como? A Profª Sprout não foi envenenada também?

– Nem os outros alunos. Isso é o que está me intrigando.

– E o Prof. Snape?

– Acredito que Severo já tenha sido "imunizado" contra o veneno da mandrágora - Madame Pomfrey chegou perto de Diana e abaixou a voz. - Cá entre nós, vou sentir falta de seus conhecimentos de Poções. Se ele estivesse em plena posse de suas faculdades mentais, o antídoto seria descoberto muito rápido.

Diana quis saber:

– Eu posso ajudar? Quem sabe, se o Prof. Snape deixar... Eu não sou tão má aluna assim em Poções.

Madame Pomfrey sorriu tristemente para a moça:

– Ele vai com certeza apreciar a ajuda. Mas primeiro precisamos saber mais sobre esse veneno. E por que ele não age em todos que entram em contato com ele. Vamos ver: como está o estoque de Poção Restauradora de Mandrágora?

Diana olhou para o armário e respondeu:

– Nós só temos mais um galão. Se alguém mais ficar doente, pode não ser suficiente.

– Você sabe preparar mais?

– Para a enfermaria? - Diana arregalou os olhos. - Digo, alguém vai tomar de verdade o que eu preparar?

– Claro, menina. Você não disse que era boa em Poções? Pode começar a preparar.

– Mas leva duas semanas para ficar pronta.

– Então é bom começar logo.

O Prof. Snape interrompeu:

– Talvez, se eu consultar meus livros, possa me lembrar de alguma coisa sobre Poções e ajudar a encontrar esse antídoto.

Madame Pomfrey se animou:

– Sim, sim. Isso pode ajudar sua memória! Diana, leve o Prof. Snape ao seu laboratório e ajude-o no que ele precisar. Deixe que eu cuido do Prof. Dumbledore e de Harry Potter. Avisarei à Profª Sprout para informar qualquer descoberta a vocês nas masmorras.

– Sim, senhora.

Foi muito estranho para Diana ter Severo Snape a seguindo como um cachorrinho pelos corredores de Hogwarts. Os alunos, alguns saindo de suas salas de aula, se reuniam em grupinhos e cochichavam quando ela passava, Snape e seus mantos flutuantes a segui-la. Felizmente, eles logo chegaram às masmorras. A Profª Sinistra tinha dispensado os quintanistas de Lufa-Lufa, que rapidamente saíram do caminho para eles passarem, os olhos de todos grudados em Snape. O professor os olhou, intrigado.

– Severo! - veio a voz muito fina e escorregadia de Sinistra. - Que alegria em vê-lo tão bem disposto!

– Er... obrigado - disse ele, sem saber direito quem era aquela pessoa. - Agradeço sua preocupação, Madame.

Diana o socorreu:

– A Profª Sinistra ensina Astronomia e está no seu lugar durante sua... enfermidade.

– Foi o que eu ouvi falar - Ele inclinou a cabeça, de maneira polida. - Encantado, Madame.

A Profª Sinistra aproximou-se de Severo, com um jeito sedutor:

– Oh, meu pobre Severo... Ainda enfermo? - lânguida, ela colocou as duas mãos no peito do mestre de Poções. - Se você quiser, eu posso cuidar de você... levar uma sopinha...

Diana ficou vermelha e olhou para o lado. Severo ficou ainda mais pálido e deu um passo (grande) para trás, dizendo:

– Agradeço a oferta, minha senhora, mas a Srta. Adrian fez a gentileza de me ajudar durante minha convalescença.

Diana sempre tinha sido alvo de olhares cruéis. Mas ela jurava que jamais tinha recebido um olhar tão ferino e malévolo quanto o da Prof. Sinistra, que a olhou de cima a baixo, enquanto dizia, numa voz disfarçadamente amistosa:

– Bem... Esperemos que a Srta. Adrian saiba aproveitar a oportunidade que lhe é oferecida e cumpra sua responsabilidade à altura. Toda Hogwarts está de olho em você, querida. Queremos nosso mestre de Poções de volta são e salvo.

Diana ficou positivamente roxa. Sentindo seu desconforto, Severo apressou-se em dizer:

– Tenho certeza de que Madame Pomfrey tinha exatamente isso em mente. Agora, se nos der licença, precisamos cuidar de uma tarefa para o Prof. Dumbledore.

– Claro, Severo - Sinistra passeou uma das mãos pelo peito de Severo sensualmente. - Mas se precisar de qualquer coisa... não hesite em me chamar. Dia ou noite. Qualquer hora, viu?

Rapidamente, ele assentiu, afastando-se dela:

– Muito obrigado. Srta. Adrian, podemos ir.

Diana queria se enfiar num buraco no chão, então baixou a cabeça:

– Sim, professor.

Ela foi para frente, rumo aos aposentos de Severo. Lá, ambos se encontraram diante de um obstáculo, um bem palpável: um retrato.

– Senha? - exigiu o cavalheiro magro, de bigodes muito finos, mantos muito verdes e modos muito afetados.

Severo empalideceu:

– Senha? - Ele se virou para Diana. - Você sabe a senha?

– Lamento, professor, mas como eu poderia saber?

– E como você quer que eu saiba? Eu sou o desmemoriado aqui, já esqueceu?

– Desculpe, eu não quis ser indelicada - disse Diana docilmente. - Apenas quis dizer que um aluno não sabe a senha dos aposentos de seu professor.

– Oh - Severo pareceu se dar conta de que tinha sido grosseiro. - Eu é que lhe devo desculpas. Minha insegurança não deveria ser motivo para minha falta de cortesia com uma dama.

Mais uma vez Diana ficou vermelha e evitou olhar para seu mestre de Poções. Os dois se viraram ao ouvir um discreto pigarro, e o cavalheiro do quadro se empertigou:

– Se vós já acabeis com as expressões de admiração mútua, proponho uma solução. Por suposto não pensais que eu tenho o dia inteiro à vossa disposição. Ouvi-me, senhor, e guardai a palavra: Ofidioglota.

– Ofidiglota - repetiu Severo. - Muito agradecido, gentil-homem.

– Podeis passar - e o quadro se abriu para a masmorra.

Ao entrar, Diana imaginou que fosse ver algo parecido com o gabinete de Severo, ou sua sala de aula: um lugar escuro, empoeirado e insalubre. Qual não foi sua surpresa ao se deparar com um aposento confortável, iluminado por tochas e aquecido por uma lareira que tinha um fogo perpétuo. Os móveis, antigos e de estilo conservador, denunciavam o gosto excelente do ocupante do aposento, que tinha três ambientes: um living com um pequeno sofá, duas poltronas e uma mesinha de centro; uma porta para um pequeno escritório, que ao olhar de relance, Diana viu que também servia de depósito de ingredientes, e, por último, a porta da suíte, que estava fechada.

Constrangida, Diana olhava ao redor de maneira tímida, enquanto Severo Snape abria a boca e olhava para as tapeçarias, cortinas e quadros. Alguns dos retratos o saudaram, e as cobras dentro de uma tapeçaria à esquerda sibilaram de satisfação ao ver seu mestre de volta. Dominante, acima da lareira, havia uma imensa bandeira de Sonserina, com o escudo da casa. A serpente dentro do brasão mexeu os olhos de modo reptiliano, acompanhando seu senhor e sua visitante.

– É aqui que eu vivo?

– Sim, senhor.

– Puxa... - ele continuava olhando tudo como se visse aqueles objetos pela primeira vez. - Até que não é nada mau. Quero ver o quarto!

Ele agarrou a mão de Diana, sem que a garota esperasse e praticamente a arrastou para dentro do quarto principal, antes mesmo que ela pudesse protestar. E quando ela recuperou o fôlego, estava dentro do quarto de Severo. Sua respiração falhou.

Havia mais daqueles quadros de altíssimo requinte, um lampião antigo na mesa de cabeceira e uma lareira também acesa ao lado da cama. As paredes de pedra estavam todas cobertas com mais bandeiras sonserinas, mas menores do que a sala de estar. Fileiras de livros enchiam as paredes, e seus apoios de dragão ajudavam na decoração. Imponente, a cama com dosséis prateados e lençóis verde-escuros era um exemplo inspirado no mobiliário do século 18. Apesar dos objetos altivos, o quarto era aconchegante e de temperatura surpreendentemente acolhedora.

– Bem - disse Severo, sem se impressionar. - Dá para o gasto.

Para Diana, aquele era o quarto de um príncipe. Ela procurou não fixar o olhar em nada, muito menos naquela cama. Oh, por que ele tinha feito aquilo com ela?

Com seu problema de relacionamento com as pessoas, Diana não só tinha se tornado uma pessoa muito tímida mas também muito retraída em se tratando do sexo oposto. Aos 17 anos, ela jamais tivera um namorado, embora de vez em quando ficasse de olho no goleiro de Lufa-lufa, Paul Fraser. Mas o rapaz era absolutamente lindo, e disputado por praticamente todo o contingente feminino de Hogwarts. Sem chance, Diana nem deixou seus sentimentos florescerem.

Não que ela fosse exatamente feia. Mas a postura retraída a fazia desinteressante e com poucos atrativos para os rapazes. Essa era uma grande fonte de frustração para ela, que não acreditava ser capaz de encontrar algum amor em Hogwarts. Também por isso ela via com grande ansiedade a perspectiva da formatura, no final de maio. Ou tinha visto, até dois dias atrás.

A doença de Severo Snape tinha despertado uma gama de sentimentos em Diana que ela preferiria ter deixado de lado. Não era de todo mau que ele precisasse dela e confiasse nela. Nunca ninguém a tinha tratado daquele jeito, com carinho, e ela gostava da novidade. Contudo, Diana sabia que aquilo sequer era real. Quando Snape voltasse ao normal, ele certamente iria repelir qualquer aproximação. Diana sabia disso, e a carência de Snape lhe dava uma certa emoção que ela tinha dificuldade em controlar. Mas ela tinha medo de se envolver demais, confundir as coisas e terminar machucada.

Diana se recusava a sequer cogitar a possibilidade de estar apaixonada. Era impensável! Uma aluna e um professor de Hogwarts! Ainda mais Snape ! Era melhor esquecer qualquer sentimento, e não comentar com ninguém. Ela seria motivo de ainda mais galhofa.

Seus pensamentos foram interrompidos quando Severo exclamou:

– Mas onde estou com a cabeça? Trazendo uma moça à minha alcova? Uma aluna, uma donzela? Por favor, Diana, me perdoe.

Diana corou duplamente: por Snape saber sua condição de virgem e por ele ter se revelado um cavalheiro. Ele a guiou de volta à saleta de estar, dizendo, parecendo sinceramente arrependido:

– Sei que isso deve ter sido muito embaraçoso para você, Diana. Espero que me perdoe. Eu... Eu fiquei... - ele suspirou. - Na verdade, não sei o que deu em mim. Eu jamais deveria tê-la deixado nessa posição.

A moça ficou tocada com a preocupação dele, e mais aliviada, também. Embaraçada ao ser tratada com tanta deferência, ela abaixou a cabeça, sorrindo:

– Está tudo bem, professor. Sei que o senhor não fez por mal.

– Diana, eu gostaria...

Mas um barulho à porta o interrompeu. Os dois ficaram intrigados.

– Quem poderá ser? - indagou Severo.

– Pode ser a Profª Sprout - ofereceu Diana. - Quem sabe ela descobriu alguma coisa sobre a mandrágora.

Infelizmente, não era. Quando Severo abriu a porta, dentro veio uma autêntica comissão sonserina: Malfoy, Crabbe, Goyle, Pansy Parkinson e Blaise Zambini. Os cinco imediatamente fixaram os olhos em Diana assim que a viram. A moça perdeu a cor e encolheu-se. O gesto não passou despercebido para Severo.

Mas os alunos o distraíram.

– O que ela está fazendo aqui, Professor? - disse Pansy, em sua voz irritante. - Pensei que só sonserinos tinham permissão para entrar seus aposentos.

Malfoy respondeu antes que Severo abrisse a boca:

– Adrian está bancando a enfermeirazinha. E agora parece que está fazendo atendimento a domicílio...

Eles deram risinhos, e Diana abaixou a cabeça.

– Silêncio! - fez Severo - Isso não é muito gentil.

Diana viu Crabbe e Goyle se entreolharem e soltarem uns grunhidos, achando tudo muito engraçado. Ela disse:

– Estou aqui para ajudar o Prof. Snape. Madame Pomfrey pediu minha ajuda porque ela está muito ocupada.

– Vocês viram o que aconteceu com Dumbleporre e o Potinho? - Os gorilas e Pansy se riram da piada de Malfoy. Zambini olhava para Adrian, curioso. - Acho que eles vão empacotar.

Severo parecia irritado:

– O prof. Dumbledore é o diretor da escola. Vocês lhe devem respeito e consideração.

– Rá! - fez Pansy - O velho tá gagá já faz uns 300 anos!

Risadas entre os quatro. Zambini passara a olhar Severo com curiosidade:

– Professor, o senhor não parece bem. Podemos fazer algo para ajudar?

– Na verdade, eu estou ainda tentando me adaptar à situação, senhor... senhor...

– Zambini - apresentou-se. - Blaise Zambini. Sentimos sua falta, senhor.

Severo sorriu - e os sonserinos ficaram chocados.

– É muito gentil de sua parte. A Srta. Adrian e eu estamos trabalhando numa poção para ajudar seu colega Potter e o prof. Dumbledore.

Zambini sorriu para Diana:

– A Srta. Adrian é conhecida por sua dedicação e afinco. Tenho certeza de que conseguirão resultados rapidamente.

Os outros olhavam para Zambini sem entender coisa alguma. Diana voltou a ter cor nas faces. Sempre soubera que Zambini era um sonserino esperto, e ele estava provando isso.

Pansy chegou perto do seu professor e ofereceu, lânguida:

– Se o senhor precisar de alguma coisa, professor, qualquer coisa... Estamos aqui para ajudar.

Afastando-se dela, Severo andou até a lareira e foi mexer na lenha, dizendo:

– É uma oferta generosa, senhorita, e prometo levá-la em consideração. Agradeço a visita de todos vocês. Agora, se puderem nos dar licença, temos muito que fazer.

Não poderia haver dispensada mais direta, e os cinco se deram conta. Ou pelo menos, Malfoy, Parkinson e Zambini perceberam e arrastaram Crabbe e Goyle com eles. Balbuciando despedidas, eles se retiraram rapidamente.

– Não acredito nisso - suspirou Severo. - Esses são meus alunos?

Diana confirmou:

– Sim, professor.

– Mas eles são... pessoas horríveis! - Severo parecia escandalizado. - Menos o tal Zambini. Ele parecia um pouco mais decente.

– Acho que ele estava avaliando a situação. Zambini é esperto.

– Não sei como posso ser professor dessas pessoas! - Severo parecia exasperado. - Ser professor exige dedicação e apreço, quase carinho pelos alunos! - Diana arregalou os olhos e encarou Severo para ver se ele estava falando sério. - Essas pessoas... Você ouviu o que eles falaram do Prof. Dumbledore? Como podem falar assim de um bruxo tão poderoso?

Diana não sabia o que responder, de tão impressionada com a veemência de Snape. Ele realmente parecia sincero em não saber nada sobre os membros de sua casa. Ela não queria falar mal de Sonserina para o próprio chefe da casa, então ela ficou quieta.

Contudo, seu silêncio não passou despercebido ao mestre de Poções. Ele a olhou com atenção e notou que ela evitava olhar para ele.

– Diana?

– Sim, professor?

– Por favor, sente-se um pouco. Acho que temos que conversar.

O tom de Severo era grave, e Diana não pôde evitar estremecer um pouco. Ela se acomodou no pequeno sofá em frente à lareira, e viu que o professor se sentou a seu lado. Os dois olharam para o fogo. Em voz baixa, Severo disse:

– Eu não sei direito como lhe dizer isso, Diana. Pouco me importa como isso vai soar à minha imagem, mas eu preciso de você. - Ele se virou para ela e Diana arregalou os olhos. - Desesperadamente. Preciso poder confiar em você. Nesse momento, estou muito vulnerável e sozinho. Só você pode ajudar. Preciso que você seja absolutamente honesta comigo. Diga-me o que as pessoas não estão me dizendo. E pode ficar tranqüila: nada disso vai ser repetido para quem quer que seja. Você não será punida se me falar coisas que eu não gostar de ouvir. Posso não gostar delas, mas eu preciso ouvi-las.

Ela torceu as mãos:

– Professor, eu...

Snape não a deixou terminar:

– Diana, eu preciso confiar em você. Você pode confiar em mim quando lhe digo que não estou aqui como professor, mas como uma pessoa que está cega. Não enxergo um palmo diante do nariz e sinto que estou esbarrando em muitos obstáculos. Preciso de seu auxílio, de sua luz. Estou confiando cegamente em você. E eu peço, não, eu imploro: por favor, seja sincera comigo.

Aquilo era a última coisa que Diana esperava. As palavras de Snape lhe soavam como música aos ouvidos, a voz dele tinha perdido o tom áspero costumeiro e agora era melodiosa como um suave gorjeio. E o olhar dele era tão desesperado, tão pungente.

Diana não tinha escolha.

– Claro, professor - ela assentiu, sorrindo. - Serei o mais sincera que puder.

– E não tenha medo de me magoar. Até porque acho que não sou um dos professores mais populares de Hogwarts. - Ela olhou para ele, assustada. - Ahá! Estou certo, não estou?

De novo, ela estava encurralada.

– Sim, senhor. Todos o odeiam.

– Puxa, tão grave assim? - Diana assentiu pesadamente. - E o que eu fiz para todos me odiarem tanto assim?

– O senhor não é nada simpático, não gosta dos alunos. Na verdade, o senhor ofende muitos deles e tira-lhes pontos. Os recém-chegados do primeiro ano sempre ficam traumatizados com suas aulas.

– Oh, não. Isso quer dizer que não sou muito melhor do que aqueles alunos que estiveram aqui.

– O senhor é o chefe da casa deles e sempre os apóia. São os únicos que gostam do senhor. Mesmo assim, não muito.

– Obviamente. Bom, isso não é surpresa. Havia alguns alunos na enfermaria, antes de eu ser liberado. Um deles, um tal Longbottom, parecia que ia desmaiar quando eu falei com ele.

– Eu conheço Neville. Oh, o senhor é muito mau com ele. Aliás, o senhor é particularmente cruel com qualquer um da casa Grifinória. Dizem que é porque alguns estudantes dessa casa lhe pregaram uma peça quando o senhor estudava aqui.

– Uma peça?

– Uma brincadeira de mau gosto. Eu não sei detalhes, mas sei que sua vida correu perigo. E os alunos não tiveram um castigo suficiente, na sua opinião.

– Então eu sou um recalcado - suspirou Severo. - Tinha que ser alguma história triste desse tipo.

– Bom... Os boatos são piores, professor.

– Boatos? Que boatos são esses?

– Todos dizem que o senhor é um bruxo das trevas, um grande conhecedor de magia negra. E que é um Comensal da Morte infiltrado em Hogwarts. Tem também outros que acham que o senhor é um vampiro e é capaz de se transformar em morcego.

– E isso é verdade?

– Claro que não. Se fosse um vampiro, o senhor teria que ser registrado no Ministério da Magia, como lobisomens e animagos são.

– Não, quero dizer sobre o boato de eu ser um comensal da morte.

– Ah, isso eu não sei dizer não, senhor.

– Você acredita nisso?

– Professor, os comensais da morte usam a Marca Negra. Se o senhor a tiver, então é um comensal.

– O que é a Marca Negra?

– Uma espécie de tatuagem que os seguidores de Você-sabe-quem usam no braço. Dizem que a Marca controla os comensais, que o Lord das Trevas pode convocar seus seguidores através dela.

– Então só tem um jeito de saber - Snape começou a abrir os botões de sua manga. - E vai ser agora mesmo.

– Professor, pare! - pediu Diana. - Eu... eu prefiro não saber.

Severo a encarou, depois assentiu:

– Claro. Se você souber, poderá ser perigoso para você. Eu entendo. - Ele sorriu e pegou sua mão. - Obrigado por isso, Diana. Se quiser, pode me chamar de Severo.

Diana estremeceu. De repente, ela não queria nada mais além de chamá-lo de Severo, de cair em seus braços, de sentir seus lábios nos dele, de sentir seu corpo contra o dele, de se derreter em - Não!

– Obrigada, professor, mas eu acho que isso não seria correto.

– Olhe, uh, eu gostaria de me desculpar.

– Por quê?

– Por tudo que eu já tenha feito a você. É óbvio que você é uma aluna excelente e dedicada, e se eu sou realmente um professor injusto, provavelmente não reconheço isso. Talvez até tenha lhe tirado pontos indevidos.

– Não! - disse Diana apressadamente, mas depois se controlou. - Quero dizer, o senhor nunca diminuiu minha nota.

– Mas também estou pedindo desculpas por todas as piadinhas e indiretas a que provavelmente você está sendo sujeita pela ajuda que está me dando. Você vai ser conhecida como a queridinha do professor mais nojento da escola. - Diana deu um sorriso triste para ele e deu de ombros. - Falando nisso, você conhece uma boa marca de xampu? Esse cabelo está me dando nos nervos.

Diana riu-se. Ela definitivamente gostava muito deste novo Snape. Cada vez mais, ela temia a volta do velho Severo.

*

Enquanto pesquisavam possíveis antídotos, eles iam conversando cada vez mais animadamente. Depois que Severo tinha se aberto, Diana se sentia muito mais confortável. Agora parecia que os dois tinham sido amigos durante anos.

Tão à vontade a moça se sentia que fazia sugestões para os antídotos. Quando questionada, ela dava respostas fundamentadas, buscando uma linha de trabalho sólida e segura. Severo acompanhava alguma coisa do que ela dizia nos livros, e parecia mais confortável com os jarros e potes de ingredientes. A memória dele, embora melhorando no que dizia respeito a Poções, continuava a mesma em relação a fatos de Hogwarts ou mesmo de sua vida.

A hora do jantar se aproximava, e Diana disse:

– Eu acho melhor subir à enfermaria. Madame Pomfrey pode estar precisando de ajuda.

– Eu vou com você. Quero ver como estão passando o Prof. Dumbledore e aquele aluno, Harry Potter.

– O senhor está preocupado com eles?

– Lembre-se de que eu também fui envenenado, e sei do que aquele veneno é capaz. O prof. Dumbledore já tem uma certa idade, pode ser mais difícil para ele uma recuperação rápida. - Ele olhou para ela, que estava boquiaberta, olhando para ele. - Ah. Entendo. Isso não faz parte da personalidade de seu antigo professor.

– Não, senhor.

– Bom, então me deixe aproveitar esse novo eu. Vamos logo.

Diana pegou sua capa com o emblema de Corvinal e disse:

– Deixe que eu apago esse caldeirão.

– Engraçado. Acho que bateram à porta.

Diana estava ocupada dentro do minilaboratório de Severo e observou a solução que eles trabalhavam imediatamente parar de borbulhar. Satisfeita, ela entrou na sala de estar, ajeitando a capa:

– Professor, acho que a poção pode -

Ela se interrompeu. Havia uma pessoa com Severo, uma pessoa que ela jamais pensaria em encontrar.

– Sr. Malfoy.

– Ah, Severo - disse o elegante bruxo em suas capas pretas de veludo brilhante, de olhos fixos em Diana -, perdoe minha intromissão. Eu não sabia que você tinha... tão adorável companhia.

– A Srta. Adrian é uma de minhas alunas.

– Entendo - Ele não tirara os olhos de Diana. - Adrian, não é? Você é a filha de Telônio Adrian?

– Ele é meu tio - ela respondeu. - Sou filha de Telêmaco.

– Claro. Família tradicional, da melhor estirpe. Que pena - apontou para o emblema de Corvinal - que não está em Sonserina com Draco.

Severo perguntou:

– O senhor é pai de Draco Malfoy?

Com um olhar magoado, Lúcio Malfoy voltou-se para o mestre de Poções.

– Merlim - suspirou. - Então o que Draco me contou é verdade. Não me reconhece, Severo?

– Lamento, senhor. Eu estou acometido de uma enfermidade que me afetou a memória. Perdoe-me.

– Lúcio Malfoy - estendeu a mão. - Fomos amigos de escola, colegas sonserinos. Trabalho no Ministério da Magia. Vim assim que soube de seu... acidente.

– Agora me sinto bem melhor, obrigado. A Srta. Adrian tem me auxiliado na minha recuperação.

– Entendo. Mas sua memória...?

– Apagada. Nula. Estou tendo dificuldades até com Poções. A Srta. Adrian também está me ajudando nisso.

Lúcio se voltou para ela:

– Parece que a Srta. Adrian realmente é capaz de salvar o dia - Girando sobre os calcanhares, ele voltou-se para Severo. - Mas tenho certeza de que se juntos rememorarmos os velhos tempos, você vai se lembrar de alguma coisa.

Severo olhou para Diana, que deu de ombros, dizendo:

– O Sr. Malfoy tem razão. Falar sobre o passado pode ajudar sua memória. Eu li isso num livro trouxa.

O mestre de Poções assentiu:

– Muito bem, então. Mas primeiro iremos à enfermaria. Eu quero ver como está passando Dumbledore.

– O Diretor? - fez Lúcio, parecendo surpreso. - Ele está doente?

– Acompanhe-nos que eu lhe contarei tudo - disse Severo.

Diana os acompanhou, em silêncio. Ela não tinha como dizer a Severo que Lúcio Malfoy era uma das cobras mais venenosas que Sonserina já produzira e que Draco perto dele era uma lagartixa sem a menor inspiração.

Madame Pomfrey, como sempre, recebeu-os com alarme:

– Prof. Snape? O senhor piorou?

– Não, Madame. Vim apenas saber como estão passando o Prof. Dumbledore e Harry Potter. O Sr. Malfoy insistiu em vir conosco.

Ela fechou a cara:

– O Sr. Malfoy terá que ficar lá fora, a menos que queira ser envenenado também. - Diana podia sentir que Madame Pomfrey teria grande satisfação se isso acontecesse. - A ala hospitalar toda está de quarentena.

– Não podemos visitá-los? Como eles estão?

– Temo que o Prof. Dumbledore ainda não tenha recobrado a consciência. Já o Sr. Potter está muito fraco. Se quiser vê-lo, professor, eu o levarei até ele.

Lúcio disse:

– Eu espero aqui fora, Severo. Dê minhas... lembranças ao Sr. Potter.

Diana indagou:

– Madame Pomfrey, gostaria de alguma ajuda?

– Sim, mas não sei mais o que fazer - De repente Lúcio Malfoy começou a andar bem mais devagar, afastando-se delas a passos lentos. - Até descobrirmos do que se trata, temo que mais pessoas possam ser envenenadas.

Finalmente Malfoy afastou-se das duas. Diana o acompanhou com os olhos.

O que ela gostaria de acompanhar com todos os sentidos, porém, Madame Pomfrey não deixou: a visita de Severo Snape a um enfermo Harry Potter.

– Olá, Harry. Como se sente?

Harry olhou para ele, sem óculos e meio cego:

– Professor Snape?

Severo pegou os óculos na mesa de cabeceira e os entregou:

– Aqui. Isso deve ajudar.

Harry se ajeitou para colocar os óculos e encarar o visitante. Era mesmo Snape. E ele estampava um belo sorriso no rosto. O menino arregalou os olhos:

– Professor?

– Como se sente, Harry? Posso te chamar de Harry?

– Sim, senhor - Harry estava esperando a tirada ácida e a zombaria. - Eu estou bem, senhor, obrigado.

– Ora, com certeza você logo estará fora dessa cama - Ele olhou para os cartões e sapos de chocolate na cabeceira. - Vejo que seus amigos lhe enviaram muitas coisas.

– Sim, senhor - Ele continuava a olhar desconfiado para Snape.

– Olhe, Harry, eu sei que essa não é minha maneira habitual, mas você sabe, depois do que aconteceu, minha memória não se recuperou, e eu quero que saiba que não há nenhum ressentimento entre nós.

– Ressentimento? O senhor me odeia!

– Oh, bem, eu não me lembro disso, por isso não o odeio mais. Na verdade, Harry, eu esperava que você pudesse me ajudar. Você se lembra de tudo? Não sofre de falta de memória?

– Não senhor. Bom, eu não me lembro muito por que isso tudo aconteceu...

– E do que você se lembra?

– Eu estava na aula de Herbologia e vi uma mandrágora verde no chão. Fui olhar mais de perto e de repente tudo ficou preto, frio. Só isso.

– Lembra-se de algum cheiro?

– Cheiro? - Ele pensou. - Sim, sim. Pouco antes de eu apagar, senti um cheiro doce. Como amêndoas, ou um mel de casca de árvore.

– Amêndoas, huh? Isso já diminui o espectro de minha pesquisa. Vou trabalhar nisso imediatamente, Harry. Vamos ter que trabalhar duro se quisermos ajudar o Prof. Dumbledore.

– O que aconteceu com ele? Ele está doente também?

– Temo que sim. O estado dele não está nada bom, Harry. Mas nós vamos encontrar o antídoto desse veneno.

– Mas o senhor está bom.

– Não totalmente. A Poção de Mandrágora apenas ataca os sintomas, não a causa. Meus poderes diminuíram. Isso provavelmente vai acontecer com você até que nós encontremos o antídoto.

– Sem poderes? Então... sem poderes eu vou ter que deixar Hogwarts? E vou ter que voltar para casa da tia Petúnia? Professor, não deixe isso acontecer!

– Calma, Harry, calma. Estamos fazendo tudo que podemos. Tenha confiança. Agora trate de se recuperar.

– Obrigado, professor Snape. Nunca pensei que diria isso, mas o senhor me ajudou muito.

Snape sorriu - Harry tremeu ao ver aquilo:

– Não se preocupe mais, meu jovem. Volte a seu descanso.

*

Sem qualquer preâmbulo, ele observou:

– Severo parece confiar muito na senhorita.

Diana olhou bem para Lúcio Malfoy, enquanto os dois estavam no corredor da enfermaria. Ele era um típico sonserino puro-sangue: medindo, avaliando, testando. Ela faria o possível para não se deixar trair.

– O prof. Snape precisa de minha ajuda.

– Ah - Ele a circundou um pouco, observando-a. - Draco me enviou uma coruja dizendo que você encontrou seu mestre de Poções na Floresta Proibida, semimorto. Eu lhe agradeço pelo que fez pelo meu grande amigo.

– Eu teria feito o mesmo por qualquer professor, Sr. Malfoy.

– A senhorita parece ser bem corajosa. Talvez se desse bem em Grifinória.

Diana arriscou a ser petulante:

– Minhas notas são bem melhores.

Malfoy deu um sorrisinho de lado.

– Muito bem, menina. Você não é nada mau para aquela casa de corvos. Deve ser o seu sangue puro.

Diana calou-se, apenas inclinando a cabeça. Ela preferiria morrer a contar seu segredo para Malfoy. Felizmente, ela foi salva pelo gongo.

– Sangue puro? - repetiu Severo, que acabava de chegar.

– Sim. - Lúcio Malfoy voltou sua atenção para o amigo. - A família Adrian é das mais tradicionais do nosso mundo. É uma menina de sorte, essa sua. Inteligência, beleza e estirpe. Seu namorado deve ser alvo da inveja de todos os garotos da escola.

– Eu... não tenho namorado, senhor.

– Então o ex não deve largar o seu pé.

– Nunca tive namorado.

– Vou me certificar de que Draco saiba disso - Diana estremeceu, mas Malfoy agarrou o braço de Snape. - Venha, meu amigo. Vamos voltar às masmorras, e eu lhe mostrarei onde você esconde seu melhor uísque.

Severo ficou chocado:

– Eu bebo? Mas... Diana não pode beber.

Lúcio Malfoy disse:

– Desculpe. Eu achei que fosse tarde demais para uma aluna ficar fora do dormitório. Parece que... Equivoquei-me. - Ele soltou um sorriso que nada tinha de inocente.

Diana olhou as horas, e viu que o irritante Malfoy tinha razão. Em cinco minutos, Filch sairia de sua sala disposto a caçar alunos fora de suas salas comunais.

– Professor, eu preciso ir - Snape olhou para ela, alarmado. - São as regras, o sr. Malfoy tem razão.

– Então boa noite, minha querida - disse Lúcio, dispensando-a com um gesto.

Severo disse, antes de ter seu braço puxado bruscamente:

– Boa noite, Diana.

E foi-se, levado por Malfoy. Naquela noite, Diana comeu um sanduíche de geléia antes de dormir, mas estava sem fome. Em sua mente, diversas cenas foram repassadas. Ela tentava firmemente dizer que nenhuma delas a afetava. Especialmente o pequeno discurso de Severo pedindo-lhe que fosse sincera. Na verdade, ele tinha pedido que ela abrisse seu coração. E, boba que era, aceitara.

Agora, sozinha e no escuro, ela olhava para o teto de sua cama, sentindo o coração pesado. Severo não gostava realmente dela. Nada daquilo era real, era tudo apenas uma questão de tempo até o Prof. Snape recuperar a memória e voltar a tratá-la feito lixo.Ela estava vivendo um tempo emprestado. Que logo iria se acabar. Boba, repetia para si mesmo. Agora ela estava apaixonada por alguém que não lhe retribuía o amor.

Diana nunca tinha se sentido assim. Era o céu e o inferno ao mesmo tempo. Um sorriso dele era o céu, mas a realidade era o inferno. Se isso era amor, ela jamais queria sentir isso.

Lágrimas grossas e frescas lhe rolaram pelos cantos do rosto, e ela deitou-se de lado, usando um travesseiro para abafar o choro sofrido dos que não têm o amor correspondido. Depois de muito tempo, cansada de chorar em silêncio, ela caiu num sono profundo e sem sonhos.

Dia 4

Com o grito maravilhado de Rony Weasley ("O correio chegou!"), Diana ergueu a cabeça para ver as dezenas de corujas sobrevoando o Salão Principal. Ela nunca recebia nada, mas adorava a revoada de corujas nas manhãs de quinta e sábado.

Só que aquela quinta-feira ia ser diferente. Ela reconheceu Hermes Trimegisto, a coruja-marrom da casa de seus pais, e estremeceu. A velha coruja pousou no seu ombro suavemente e esticou a pata com um pergaminho enrolado. Diana colocou a coruja na mesa e ofereceu-lhe suco de abóbora, depois de recolher o pergaminho. Era grosso - carta longa.

Mesmo longa, a carta de seu pai não continha qualquer surpresa. Primeiro, os elogios por ter salvado Snape. Depois, o cuidado com o que ela poderia revelar. Lembranças da mãe e recomendações para que se mantivesse agasalhada. Frustrada, ela dobrou a carta, sentindo-se culpada. Ela ainda tinha raiva, mas amava seus pais. E sabia que eles a amavam. O que fazia a situação toda muito, muito complicada.

Naquele dia, ela não recebeu nenhum recado e assistiu a todas as suas aulas. Pela primeira vez em dias, almoçou regularmente no Grande Salão. Foi depois das aulas de Artimancia do prof. Vector, que ela foi abordada pela Profª Sprout.

– Ah, Diana, querida, vejo que está livre. Gostaria muito que visse isso.

Levou-a à estufa, dizendo:

– Não precisa se preocupar. Absolutamente todo o ar na estufa foi renovado e a mandrágora envenenada está devidamente acondicionada.

– A senhora descobriu alguma informação, Profª Sprout?

– Das mais alarmantes, minha jovem - Ela entrou na estufa. - Há uma coisa que quero que você veja.

A Profª Sprout levou Diana à mesa de laboratório onde jazia a mandrágora envenenada.

– Esta é a mandrágora que envenenou Harry Potter e o Prof. Dumbledore. Tudo indica que ela seja centenas de vezes mais potente do que a mandrágora que envenenou o Prof. Snape. Com certeza não são a mesma planta. O que não se pode entender é por que esse veneno afeta algumas pessoas e outras não.

– Está na cara que é algum tipo de gás liberado pela mandrágora.

– Foi isso que eu descobri: uma combinação de substâncias atuam na mandrágora, que se torna uma espécie de veículo excipiente do veneno. Ao morrer, a mandrágora torna-se parte do veneno, soltando um gás específico.

– Acho que entendi. A mandrágora foi alimentada por diferentes venenos, para produzir um gás que só ela é capaz de produzir, e ainda assim, só quando ela morre.

– Isso mesmo. O mais alarmante é que esse gás é contagioso para as mandrágoras. Todas as da estufa morreram.

Diana ficou alarmada:

– Não pode ser! Vou precisar de mandrágoras adultas para a Poção Restaurativa!

– É mais garantido você usar os espécimes dos estoques do Prof. Snape. Aqueles com certeza não estão contaminados.

A voz característica do mestre de Poções soou atrás das duas:

– Com certeza meus espécimes não estão contaminados pelo veneno.

Diana virou-se e sorriu:

– Olá, Prof. Snape. Eu estava indo até as masmorras.

Severo disse:

– Fui informado de que estaria aqui. Perdoem-me por ter me intrometido desta forma, mas não pude deixar de ouvir o que estavam conversando - dirigiu-se à Profª Sprout. - Madame, suponho que tenha sido capaz de isolar as substâncias que atuaram na mandrágora.

– Certamente, professor - ela pegou sua varinha e agitou-a em frente a um pedaço de pergaminho. - Eis a lista. Mas o gás é muito traiçoeiro. Ainda falta algo nele que não consegui descobrir.

– Talvez isso não seja necessário - disse Snape, pegando o pergaminho e percorrendo os olhos sobre a lista. - Hum, como eu imaginei. Se me derem licença, preciso voltar imediatamente ao meu laboratório. Srta. Adrian, poderia me acompanhar, por favor?

O coração de Diana quase ficou descompassado, e ela seguiu-o pelos corredores, olhando aquelas capas negras fazendo acrobacias no ar, incapaz de acompanhá-lo no seu passo apressado. Ela tentou puxar conversa:

– Eu queria pedir desculpas sobre ontem.

– Como assim?

– O Sr. Malfoy. Eu não consegui avisá-lo sobre quem ele realmente é.

Snape observou-a:

– Ele é o pai de Draco.

Diana abaixou a voz:

– Ele também é muito inteligente, perspicaz, e dizem que é inclinado para as artes das trevas. Eu queria avisá-lo, mas...

– Bem - disse Severo, com um sorrisinho -, eu sabia que ele era pai de Draco, e isso foi informação suficiente para saber que ele certamente não era inocente. Isso e a quantidade de álcool que ambos consumimos.

– Oh - fez Diana.

– Não precisa se sentir vexada, Srta. Adrian.

– Então ainda está de pé o que ficou combinado ontem?

Eles entraram na masmorra pelo retrato do cavalheiro magro de bigodes finos sem que Severo tivesse respondido à pergunta dela.

– Devemos trabalhar sem demora - disse Severo, sem preâmbulos. - Ao visitar o Sr. Potter, ontem, fui brindado com uma informação muito preciosa a respeito do veneno. Estou perseguindo uma linha específica de pesquisa de antídoto.

Diana tirou sua capa e colocou-a no sofá, perguntando:

– Em que posso ajudar, Prof. Snape?

– Mantendo o combinado de ontem; seja sincera. - Eles se olharam, e Diana sorriu. - Ah, enquanto isso, poderia também cortar aqueles figos da Abissínia em fatias muito finas?

– Sim, senhor - Diana pôs-se a trabalhar. - O senhor tem notícias do Prof. Dumbledore? Ele melhorou?

– Estive na enfermaria de manhã. O Diretor continua inconsciente. Eu tenho uma teoria a respeito, mas prefiro não divulgá-la no momento para não causar pânico.

Diana se alarmou:

– Professor, o senhor acha que o Prof. Dumbledore pode...

– ...morrer? - completou Severo. - Não, acho que não. Mas pode acontecer algo ainda pior.

A moça ficou a imaginar o que poderia ser pior do que isso, mas não disse uma palavra. Severo a observou:

– Srta. Adrian, considerando nosso combinado, eu gostaria de lhe fazer uma pergunta.

– Sim, professor?

– Por que prefere não me chamar pelo meu primeiro nome?

Ela enrubesceu e evitou olhá-lo:

– Ora, isso não seria apropriado.

– Foi o que disse da primeira vez. Agora estou perguntando o verdadeiro motivo.

De repente as mãos dela tremiam tanto que ela não conseguia cortar os figos abissínios. Disfarçando, ela juntou todos num montinho, dizendo:

– Ora, e que motivo seria esse?

– É o que estou lhe perguntando. Algo a deixa desconfortável?

– Não - mentiu descaradamente. - Tudo bem.

– Você me prometeu sinceridade - ele chegou perto dela.

Ela suspirou:

– Olhe, professor, pensando bem, acho que estou ficando um pouco desconfortável.

– O motivo? - ele chegou ainda mais perto.

Diana tentou se afastar, cabeça baixa:

– Eu não sei onde o senhor quer chegar. Não sei o que quer que eu lhe diga.

– A verdade - ele a encarava insistentemente. - Somente a verdade e nada mais. Por que não quer que sejamos amigos?

– Isso não seria apropriado, senhor - disse Diana, baixinho, as faces coradas. - Acho até que é contra as regras da escola.

– Bobagem. Nada nas regras da escola proíbe a confraternização entre alunos e professores - Ele se aproximou ainda mais dela e abaixou a voz. - Confraternização de qualquer tipo. Eu chequei.

Diana estremeceu e tentou se afastar dele, mas sentiu que a parede estava bem perto das suas costas. Se ela não tomasse cuidado, estaria encurralada. Ela tentou ir para o lado, mas Severo cortou sua passagem. Correção: ela estava encurralada contra a parede. Ela começou a ficar assustada.

– Professor, o que -

– Eu sei o que você sente por mim - disse ele, sem rodeios. - Está... enamorada, não está?

Diana desejou ardentemente que o chão se abrisse para que ela pudesse se enfiar dentro dele. Seu corpo todo tremia, e ela experimentava emoções conflitantes. Havia um medo real, mas que a excitava. Até o ar começou a lhe faltar.

– Eu... eu...

– Não quero lhe fazer mal, Diana - A voz dele tinha perdido o tom áspero. - Mas preciso de sua sinceridade. Por favor...

Ela se sentia exposta, humilhada, encurralada e sem tem para onde correr. Só queria que ele parasse com aquilo, que tudo acabasse. Sem se dar conta, havia lágrimas correndo por seu rosto, a cabeça baixa, as pernas trêmulas. De repente, um toque gentil no queixo a fez erguer o olhar para se confrontar com dois faiscantes olhos negros, que a olhavam com intensidade.

– Criança tola - disse Severo, com ternura. - Não sabe que eu me sinto da mesma maneira?

Diana sentiu o coração falhar, e viu dentro dos olhos uma sinceridade translúcida. Era verdade! Severo gostava dela. Ela não podia acreditar.

Ela abriu a boca, mas nada parecia sair. Que patética!

Diana sentiu um braço envolvendo-a pela cintura, apertando-a contra o corpo dele. Os longos e finos dedos dele enxugaram as lágrimas do rosto dela, ao mesmo tempo acariciando-lhe as faces. Diana viu os olhos de Severo se fixarem em seus lábios, e ele sussurrou, enquanto inclinava a cabeça para frente:

– Não tenha medo...

As emoções de Diana chegaram ao pique máximo. Uma sucessão vertiginosa de pensamentos ricocheteava todos os cantos de sua mente em apenas poucos segundos. Ai, não. O que ele está fazendo? Será que ele vai fazer o que eu penso que ele vai fazer? Oh, Merlim! Eu acho que ele vai me beijar! Ele vai me beijar! Beijar a mim! O que eu faço? Ele está me beijando! Ele está me -

Todas aquelas vozes se silenciaram quando os lábios dele encostaram gentilmente nos dela. Reinou silêncio total em sua cabeça, ainda mais quando ela fechou os olhos.

Era um toque mágico, diferente de tudo que ela podia possivelmente ter pensado. Os lábios de Severo não eram ásperos ou frios. Eram quentes, macios e cheios, pressionando os dela com delicadeza e firmeza. Se ele não a estivesse segurando pela cintura, Diana certamente teria caído, de tão mole que tinha se tornado. Só ao sentir os lábios dele é que Diana pôde saber que os próprios lábios dela também eram quentes, carnudos e macios.

De repente, ela sentiu um toque úmido e insistente contra seus lábios. A surpresa daquele toque tão diferente a fez abrir os lábios e eles foram invadidos com paixão pela língua de Severo, que procurou a dela. Umidade, calor e paixão provaram se espalhar por todo o seu corpo.

Nunca, em todos os seus sonhos mais loucos, Diana tinha sentido coisa semelhante. Seu corpo todo tilintava, formigava de maneira elétrica, e ela sentiu-se viva como jamais antes. A pressão suave do corpo dele contra o seu, vasto e quente, a fazia se sentir segura naqueles braços. Seu respiração falhava, e sua cabeça girava, inebriada de tantas emoções novas e intensas. O tempo parecia ter parado - e ela queria que ele jamais continuasse.

Ainda com os olhos fechados, Diana sentiu os lábios quentes deixando os seus, e ficou imóvel ainda uns segundos, a sensação de formigamento se intensificando no corpo, a boca entreaberta. A voz melodiosa a retornou à realidade:

– Perdoe-me - Severo se afastou e Diana abriu os olhos. - Eu me deixei empolgar. Jamais tive a intenção de magoá-la.

– Professor...

Ele a interrompeu, os olhos sorrindo:

Por favor... Chame-me de Severo.

Ela quase obedeceu, mas voltou à razão em tempo:

– Isso não seria correto, professor... - Incrível como sua voz soava falsa e amarga em seus ouvidos. - O senhor está doente, não está em seu juízo perfeito.

– Não há nada de errado com meu coração, só com minha memória. E meu coração bate por você, Diana.

– Mas... Isso é errado. Eu sou sua aluna.

A expressão de alegria e doçura deixou os olhos de Severo, que se desvencilhou.dela, afastando-se.

– É claro - A voz dele tornou-se amarga, e ele deu as costas a ela. - Como eu pude pensar que você iria querer ser vista com um homem acusado de ser comensal da morte?

Diana ficou chocada:

– Isso não é verdade! Eu...

Foi interrompida:

– Ah, entendo. Então é por eu ser professor, mais velho e feio?

– Não! Como pode dizer isso?

Ele se virou, irritado:

– Vamos, Srta. Adrian. Estou mais do que consciente de que minha aparência não me faz um candidato para romance. A senhorita realmente não me considera tão ignorante do que eu vejo no espelho, considera? Um mestre de Poções velho, ensebado, pálido, cabelo gorduroso, dentes amarelados?

– Eu não acho nada disso! - disse Diana.

– Então não me rejeite - ele segurou as mãos dela entre as dele, e elas eram compridas e firmes. Ele falava muito rápido, animado e excitado como uma criança. - Deixe-me fazer-lhe a corte. Se você preferir, eu peço a Alvo que lhe dê aula de Poções, para que ninguém a acuse de favorecimento. Eu prometo ser muito respeitoso e fiel. Nem lhe farei propostas indevidas de intimidade até o casamento. Aliás, pretendo pedir a seus pais permissão para fazer a corte, tudo na mais estrita tradição, como é costume em sua família.

– Não! - Diana não pôde evitar gritar. - Por favor, não faça isso, não procure minha família! - Ela tentava evitar as lágrimas. - É tudo tão...

– Desculpe. Por favor, me perdoe. Eu deveria saber que isso tudo a chocaria. Eu deveria ter ido mais devagar. Não pretendia pressioná-la.

– Não é isso - disse Diana, confusa. - É que... - Ela sentiu as lágrimas rolando, uma vergonha quente a subir-lhe o rosto. - Há algo que eu preciso lhe dizer. Acho que o senhor não vai querer nada comigo.

– Diana, querida - Ele beijou-lhe as mãos - Isso não aconteceria jamais.

– Eu não sou quem pensa que sou - Ela abaixou a cabeça, soluçando. - Eu não tenho sangue puro.

– Como assim?

– Eu não sou uma Adrian! - disse ela, chorando. - Eu sou adotada. Voldemort matou meus pais porque eles eram trouxas. Os Adrian me adotaram quando souberam que se tratava de uma criança mágica.

– Mas... - Severo estava estupefato. - Mas Diana...

– O senhor é um sangue-puro. Jamais vai querer qualquer coisa com uma sangue-ruim feito eu!

Ela se desvencilhou dos braços dele e saiu a toda velocidade pela masmorra afora, cega de tristeza, aos prantos. Não tinha corrido muito quando deu um encontrão numa pessoa sólida.

Lúcio Malfoy.

– Ei, ei, ei - disse ele. - Srta. Adrian, o que aconteceu?

Sem fôlego, ela sacudiu a cabeça, soluçando. Lúcio a encarou:

– Alguém a importunou? Uma menina puro-sangue como você pode ser alvo de cobiça para muitos jovens - Ele retirou um lenço sofisticado de dentro das vestes e ofereceu. - Aqui, tome.

Intrigada com o motivo pelo qual o Sr. Malfoy estava sendo tão gentil com ela, Diana pegou o lenço rendado. E quando o fez, sentiu um puxão abaixo do umbigo. Era uma chave de portal!

– Seu glorioso destino a espera, jovem Diana - ela ouviu Malfoy dizer, antes de lançar um Feitiço de Estuporação, e depois Diana não viu nem ouviu mais nada.


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