–Piper, o que eu faço? - Depois de mais de meia hora explicando tudo desde o começo para Piper McLean, eu ainda conseguia ouvir a angústia em minha voz.

–Mas Nico, você não sabia ainda? Pessoalmente, acho que Reyna deixava bem na cara seu afeto por você.

–Não, não deixava, ok? E eu sei o que é ser magoado repetidamente, não quero deixar que Reyna fique assim por mais tempo.

–Isso é tão... - "estranho", eu sabia que ela diria. Ninguém entenderia o fato de eu me preocupar com alguém que foi " friendzonado ", porque a maioria não entende como é ser magoado desse modo. Quer dizer, eu e Reyna ' sofremos ' de maneiras diferentes, mas eu a entendo, e não quero que ela fique assim. - Fofo!

–Fofo?!

–Sim, o modo como você quer consertar algo que não é culpa sua apenas pelo fato de sua amiga estar sofrendo. Isso é legal, Nico.

–Ahn...obrigado, eu acho. Mas...o que eu vou fazer a respeito?

–Sinceramente? Eu acho que Reyna precisa de alguém que a ame. E isso não é algo que possamos fazer. Mas já reparei que o Bruce, aquele garoto de cabelo raspado do Acampamento Júpiter, olha para ela de um jeito especial. Acho que todo mundo já reparou, na verdade. Todos no meu chalé sim. Enfim, eu posso falar com minha mãe sobre isso, e ele é um semideus impressionante.

–Impressionante?

–Sim. - Ela riu, um som suave e contagiante. - Eu conversei com ele alguns dias atrás, ele é inteligente, corajoso, engraçado e bonito. - Ela ergueu as sobrancelhas e deu uma piscadela, mostrando um lado de si mesma que eu nunca havia visto: sempre enxergara Piper como uma mulher corajosa, inteligente e ótima lutadora, nunca como uma garota feminina que adoraria arrumar um namorado para a amiga.

–Bem..acha que ele falaria comigo?

–Sim, ué. Por que não falaria?

–Bem...

–Nico, se começar com aquele papo de " sou o ignorado que todo mundo odeia ", eu vou te dar uns tapas. Vai falar com ele, e vou ver como a Reyna está. Amanhã, passa aqui mais ou menos nesse mesmo horário, provavelmente já vou ter falado com minha mãe.

–Piper, não sei como agradecer!

–Não precisa. E pode me chamar de Pipes.

–Tudo bem.

Saí para procurar Bruce Weasley, um garoto alto, forte mas não excessivamente, de cabelos raspados castanho claros e covinhas. Demorei um pouco, mas o encontrei saindo do treino de arco e flecha. Agora a pergunta principal: vou falar o quê com o garoto? "Oi, quer que eu te ajude a dar uns pegas na Reyna?" ?

–Bruce Weasley?

–Eu mesmo. Você é o Di Ângelo, certo?

–Sim. Tem um minuto?

–Claro. - Ele parou e me encarou com uma expressão de dúvida. - Pode falar.

–Ahn... - Ser direto ou enrolar, eis a questão. E o vencedor foi... - A questão é: é verdade que está interessado em Reyna Arellano?

–É tão óbvio assim? - Se vai ser direto comigo, é mútuo, estava claro na frase dele.

–Digamos que uma amiga me mostrou o jeito que você olha para ela. Onde quero chegar é..

–Espera, espera, espera aí! Você está vindo me dizer para eu me afastar dela ou algo do tipo? Se for, é melhor cair fora logo. - Ele se endireitou, como se estivesse se preparando para briga.

–Cara. Não. É o contrário. Conhece Piper McLean?

–Chalé de Afrodite? Sim.

–Então.. eu e ela queremos..juntar você e Reyna. - Era isso mesmo que eu e ela queríamos? Espero que sim, não entendo muito bem o que meninas falam na maior parte do tempo porque elas usam muitas indiretas.

–Como é?

–Isso mesmo que você ouviu. Quero saber se você concorda?

–Ahn...claro.Não sou idiota. Mas por isso mesmo que quero saber uma coisa: o que você e Piper ganham com isso?

–Vemos Reyna feliz. Isso por nós já é ótimo. Bom saber que você concorda, logo eu ou ela devemos falar com você de novo. - E saí andando, porque me pareceu uma boa deixa.

***

Hail To The King

Hail To The One

Kneel To The Crown

Stand In The Sun

Hail To The...

Toc Toc Toc.

Tirei meus fones e abri a porta. Will logo entrou, para variar sorridente.

–Olá, garoto do... - Ele pegou meu fone e colocou no ouvido por um instante, me devolvendo logo depois. - Avenged Sevenfold?

–Exato, Cachinhos Dourados. Como conhece Avenged?

–Bem, tenho bom gosto.

–Percebi. - Ao me ouvir dizer isso,ergueu as sobrancelhas e deu um sorriso torto, sentando na cama.

–Bem, vamos ao que interessa: Nico, quero saber o que somos um do outro.

–Hm..Acho que por enquanto somos apenas amigos, não? Tipo, uma amizade "levemente" colorida, mas apenas amizade. - Will murchou de leve, visivelmente, mas não diria que quero avançar mais do que isso. Eu amo Will, mas ainda não estávamos próximos o suficiente para nos assumirmos como namorados. Nos conhecíamos de verdade há pouco tempo, e Will podia não se importar, mas tenho certeza de que se o Acampamento soubesse que ele é gay, ele ia cair em popularidade, e não quero isso para ele.

–Amigos. - Ele repetiu baixinho, meio que para si mesmo. - Tudo...bem. Mas Nico, deixo claro que não pretendo continuar sendo seu amigo para sempre, nem que eu tenha que pular de paraquedas gritando " AC/DC É O MÁXIMO" eu vou mudar isso.

–Uau, que garoto determinado. - Sorri, o que acho que diminuiu o clima ruim. - Só para constar, se você fizesse isso ia ser MUITO da hora, Loirinho.

–Acho que você nunca vai parar com os apelidos, né?

–Nunca.

–Bem, vou ter que me acostumar..amigo.

–Odiou tanto assim ser meu amigo?

–O problema não é ser seu amigo. O problema é ser só seu amigo.

–Esquece isso por enquanto. - Não resisti a rir da expressão dele, pois estava muito engraçada ( carinha de cachorrinho abandonado ), e então o beijei, e logo estava encostado na parede de meu quarto com Will.