Grécia, inicio da noite. O céu escurecia aos poucos e era possível observar tons avermelhados e azulados no firmamento.

Em um barquinho a motor, em direção a uma praia secreta (1), se encontrava Gisty e Shiva.

– Por que você me vendou?

– Você verá, quero fazer uma surpresa.

Esse suspense deixou a amazona ansiosa, sentir-se assim, não era algo agradável para Gisty. Ela pensava: “O que seu companheiro estava aprontando?” Com certeza era algo muito bom. Ele sempre a surpreendia, desde o começo da relação até hoje, a grande parte, era atitudes boas, mais mesmo assim ela não gostava de ficar a mercê de alguém, mesmo sendo Shiva.

Ao chegar à praia, a cavaleiro pegou a companheira no colo, a tirou do barco e a pôs sentada na areia.

– Fique aqui me esperando. Continue com os olhos vendados, ok? – deu um beijo estalinho nos lábios de Gisty – Espero que você goste da surpresa. Te amo!

A morena sorriu e, apesar da curiosidade, resolveu espera para não estragar o prazer de Shiva, afinal ele parecia tão empolgado. Para o alivio da amazona, ele não demorou muito a voltar.

– Ponto, pode olhar. – falou tirando a venda.

Então os olhos de Gisty puderam ser tochas de fogo iluminando a praia, que já se encontrava escura pela noite. Estava montada uma tenda em voal vermelho (2) e dentro, forrando à areia, tinha um tapete vermelho, com algumas almofadas douradas e brancas. Em cima do tapete se encontravam bandejas.

– O que é isso querido? Para quê tudo isso?

– Venha. – chamou Shiva pegando a mão da companheira.

Ao se aproximar mais, Gisty pode ver mais detalhadamente o capricho que aquela tenda estava arrumada. Tinham algumas bandejas de aço com frutas e sanduíchinhos. Para beber, tinham sucos e coquetes de frutas e uma garrafa de champagne e duas taças. Ao fundo tinha um prato de cobre, feito para queima incenso e uma bandeja com um conjunto de bule e três xícaras em formato de cuia, tudo em cerâmica preta. Apesar de curiosa, Gisty preferiu se manifesta depois.

– Eu quis te fazer essa surpresa, pois nessa data, há alguns anos atrás, nossa história começou, pude sentir o gosto de seus lábios pela primeira vez. Por isso, preparei tudo para comemoramos nosso amor. – explicou Shiva.

– Que lindo! – sorriu demonstrando alegria e surpresa – Tenho sorte de ter um homem como você ao meu lado. Eu amo sua sensibilidade! Bem melhor do que eu.

– Somos o a verso, né? Mas é isso que faz nossa história especial. – disse a abraçando pela cintura e a beijando longamente.

– Nem sempre somos avessos, em muitas coisas somos parecidos – afirmou dando beijos estalados – Principalmente no gênio, apesar de eu ser bem mais atrevida.

– Verdade. Mas isso que me encanta em você.

Gisty sorriu alto encostando a cabeça nos ombros de Shiva.

– Só você mesmo para se encantar com minha pior característica.

– Pois é. Mas eu não acho essa característica ruim. O pior mesmo é sua irritabilidade. Quando você fica nervosa, sai de baixo. – os dois riram um pouco e ele prosseguiu – Quando ficamos separados, foi esse seu atrevimento que mais me fez falta. O amor vive nos pregando peças. Venha, vamos sentar.

Eles se sentaram de baixo da tenda e a amazona revolveu tirar suas dúvidas naquele momento.

– Era por isso que você estava tão misterioso esses dias, né? Mas o que significa essa arrumação ali no fundo da tenda?

Shiva sorriu com a perspicaz da companheira em reparar nos detalhes se sua arrumação.

– Na verdade, quero fazer algo além de comemoramos nosso amor. Você sabe que eu tenho tentado te convencer a oficializar nosso compromisso, mas você teima em negar.

– Meu amor, já estamos dividindo uma vida juntos e felizes. Para quê essas coisas burocráticas. O que me importa é está com você.

– Eu sei o seu pensamento. Você sempre afirma isso, quando te peço em casamento. Porém, você acaba ignorando o meu querer, pois você sabe a importância do casamento na minha religião.

– Desculpe meu amor! – pediu com uma expressão de dor – Na verdade, eu sou uma egoísta, sempre penso mais em mim, não é? – abaixou a cabeça, dando uma pausa – Mas acredito que isso ainda seja resquício da Gisty do passado, contrária as regas.

A amazona sabia que precisava ceder ao pedido do companheiro, até para manter um relacionamento duradouro com ele. Um dia Shiva poderia se cansar e deixá-la. Ela nunca se perdoaria em perder um homem tão especial como ele, que leva seu relacionamento tão sério, por uma besteira.

– Sabe? Vou aceitar seu pedido.

– Sério?

– Sim. Se isso é algo que tem tanta importância para você, eu aceito. – falou com uma expressão alegre.

– Já que é assim, vou aceita “casar” comigo agora?

– Agora! Como assim?

– Para ser sincero precisaria de um monge e testemunhas, porém podemos fazer hoje, uma espécie de treino e casarmos o quando antes, vamos marcar quando voltarmos. Não faço questão de nada grande, pode ser uma cerimônia simples, o importante a casar com você. O quê acha?

– Seja como você quiser meu querido. Hoje será como um noivado?

– Pode ser. Nosso amor e união serão selados, primeiro, pela natureza, e depois pelos nossos amigos.

– Você podia ter me avisado para me arrumar melhor, afinal um acontecimento especial como esse merecia um traje mais bonito. – brincou.

– Você está linda assim. – elogiou observando, Gisty que estava com um macaquinho azul de malha fina (3) e o cabelo solto – Você não precisa de nada para ficar linda. – e acariciou os cabelos da amada.

Então Shiva começou a explicar a Gisty como era uma cerimônia de casamento budista. Porém, ali, eles somente fariam um pedaço do ritual. Primeiro acenderam o incenso e o cavaleiro entoou um mantra para evocar Buda. Depois realizaram o momento mais significativo de um casamento, o san-san-kudo. É uma bebida mantida no bule (4) e servida em três xícaras e cada um dos noivos tem que beber de cada uma das três xícaras, segurando-as com as duas mãos. Cada um precisa beber três goles da bebida, completando nove goles no total. Para finalizar os dois trocaram a aliança e o rosário de cento e oitenta contas e em seguida se beijaram.

– Que cerimônia linda!

– Você achará mais bonita quando for à oficial.

Após o fim da singela cerimônia, o casal se serviu das comidas e bebidas expostas nas bandejas, brindaram com champagne e conversavam admirando a bela noite.

– Eu lembro quando comecei a reparar em você, principalmente quando estava treinando. Tão linda e atrevida, não era fácil “ganhar” de você. Algumas pessoas diziam que seu histórico não era dos melhores e eu sabia disso. Sabia que você tinha ficado uma grande temporada na Ilha dos Espectros, mas não me recordava o motivo, então fui buscar essas informações com pessoas mais velhas, como meu mestre Shaka. – contava Shiva – Você foi uma amazona difícil, mas mesmo assim, não me assustei, afinal também já fiz algo considerado impróprio para um guerreiro de Atena.

– Como ataca uma garotinha indefesa, né? (5)

– Por ai. O bom é saber que tanto você como eu mudamos e fomos perdoados, não é? – sorriu e prosseguiu – Eu só tive coragem de me aproximar de você na festa do Rodório e foi maravilhoso, pois descobri que assim como eu estava interessado, você também estava. E então nos beijamos e logo começamos a namorar.

– Seu beijo foi o melhor que já provei, fique viciada nele. – ela beijou várias vezes os lábios do namorado e continuou – Foi tão ruim ficar separada de você. Foi por pouco tempo, mas as semanas passaram arrastadas. E por mais que eu me fizesse de durona, tava doendo demais.

– Também foi muito ruim para mim. Com tudo, nos separamos e demoramos a voltar por sua culpa.

– Culpa minha? Tem certeza, senhor Shiva? – brincou estreitando o olhar para o cavaleiro – Eu assumo que te ignorei por um tempo, mas nosso rompimento foi por sua culpa. Esqueceu?

– Eu sei. – respondeu sorrindo – Eu vacilei muitas vezes.

O namoro dos dois foi abalado por pequenas brigas. Ele tinha atitudes soberbas, principalmente quando ele se vangloriava de ser discípulo de Shaka de Virgem e a desmerecia por isso. A amazona, que era geniosa, ficava muito irritada e brigada com ele. Essa situação provocau o rompimento precoce do namoro e afastou os dois radicalmente, pois Gisty não queria nem olhar para Shiva que, apesar de se entristecer manteve o orgulho inabalável.

Entretanto a indiferença de Gisty começou a incomodar o cavaleiro e a saudade apertava o seu peito. Decidiu tentar reconquistá-la, por isso passou a cercá-la pelo Santuário, mas Gisty o ignorava, mesmo com o coração sangrando de saudade. Ela só aceitou reatar o namoro quando percebeu que Shiva reconheceu o seu erro.

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Numa manhã Gisty foi abordada por Shiva, na saída da vila das amazonas, ela o ignorou mais uma vez e tentou passar direto, porém o cavaleiro não permitiu que ela fosse embora sem que ele pudesse falar tudo que sentia.

– Gisty, preciso falar com você. – pediu segurando o braço dela – Juro que vai ser rápido.

– Fale então. – mandou cruzando os braços.

– Eu nunca entendia o motivo de suas irritações com as afirmações que eu fazia, afinal eu estava falando a verdade. Também não entendi o motivos de seu rompimento e indiferenças comigo. Eu acreditei que eu estava certo, porém com o tempo, passei a enxergar meu erro. Eu vacilei com você, falei muita coisa que não deveria e acabei te magoando. Por isso, não posso te culpar por ter terminado comigo, pelo contrario, você tinha toda razão. – olhando para os olhos dela – Eu sei que você ainda gosta de mim, pois posso ver nos seus olhos. Sendo assim, te peço: Volta para mim? E não quero mais ficar sem você. Eu prometo que vou fazer tudo diferente. Eu te amo! E vou te fazer feliz.

Gisty viu sinceridade nos olhos de Shiva e o abraçou fortemente.

– Eu também te amo e não estou aguentado mais de saudade. – olhou no rosto dele que a cariciava a face com uma mão, enquanto o outro braço envolvia a cintura da amazona.

– Que falta que você me fez minha linda! Senti falta de sua personalidade forte, de sua pele, de seu perfume, dessa boca.

–Então me beija.

Eles tocaram os lábios desesperadamente. Após Shiva contou:

– Quero te levar num lugar muito especial para mim e agora será nosso.

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Depois de três anos da primeira vez que o casal esteve naquele lugar, estavam de volta. Shiva abraçava a namorada pelas costas, enquanto ela lembrava:

– Quando decidimos dividir o mesmo teto foi algo surpreendente até para nós mesmos, mas foi à melhor escolha, pois sou muito feliz ao seu lado. E sei que continuares felizes.

– Eu te prometo que sim.

– Lembra quando eu chequei aqui pela primeira vez? Fiquei maravilhada com esse lugar, pois é lindo!

Na praia ficava num arquipélago próximo a Atenas. Não existem habitações e o mar é límpido. Um lugar que é possível estar em harmonia com a natureza.

– Eu descobrir essa praia e passei a vir aqui às vezes ou para meditar ou para ficar sozinho. Mas desde o dia em que lhe trouxe aqui, esse lugar passou a ser nosso, nosso recanto. - afirmou o cavaleiro segurando a mão esquerda da amada e a beijando.

– Foi aqui que nos amamos pela primeira vez sobre a luz do luar. Foi tão especial!

– Como você todas às vezes são especiais. – falou afastando o cabelo dela do pescoço e beijando a região.

Gisty se arrepiou e Shiva continuou depositando beijos na orelha, pescoço e ombro, enquanto foi abaixando as alças do macaquinho e acariciava o corpo da amada que esmorecia nos braços do companheiro. Então o amor entre os dois aconteceu.

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No dia seguinte eles voltaram para o Santuário e se divertiram na festa do Rodório. Shina, ao saber da notícia, admirou-se, mas não deixou de alegrar-se e cumprimentar a amiga. E Ágora, amigo de Shiva, se assombrou.

– Como você conseguiu essa proeza? Afinal ela negou seus pedidos tantas vezes.

– Talvez por nunca desistir de pedir e também, dessa vez, preparei uma surpresa. Acredito que por isso, ela não conseguiu negar.

– Entendi, usou uma boa estratégia, certo? Parabéns, amigo! O mestre Shaka também ficara feliz.

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Depois eles agilizaram os preparativos para o casamento e também para a lua de mel, que seria uma viagem para Itália, à terra natal de Gisty, na qual ela nunca mais pôs os pés, depois de ir para Grécia. (6)

A cerimônia de casamento aconteceu na Casa de Virgem, pois Shaka fez questão. Foi algo simples, feita por um monge, em frente a um altar montado para Buda. Gisty usou em vestido longo bege escuro bordado em dourado, que lembra um sarong comprido e Shiva, uma túnica branca, de comprimento até aos tornozelos e uma calça branca. (7) Teve Shina e Ágora como testemunhas, Shaka e Barbela representaram os pais e alguns poucos amigos foram convidados entre eles Aiolos (acompanhando Barbela), Aiolia, Marin, Shion, Saori e Seiya.

O noivo estava radiante, seus olhos brilhavam de felicidade e Gisty se surpreendeu, pois acabou ficando emocionada, logo ela que só aceitou se casar para agradar Shiva, mas nos fim, ficou tão feliz. A alegria do casal contagiou os presentes.

Houve um almoço depois da cerimônia, posto em uma grande mesa, aonde todos sentaram juntos e comemoraram a união do casal.

Em seguida eles foram para a praia secreta. Lá estava arrumada a mesma tenda vermelha. O casal brindou com um cálice de champagne e se amaram, agora como marido e mulher.

Pela madrugada Shiva acordou e viu Gisty, sentada ao seu lado, o observava, ele sorriu e sentou-se ao lado dela.

– O que foi?

– Eu despertei e fique te olhando dormir e lembrando-me de suas palavras no nosso casamento. Fique tão emocionada...

– Suas palavras tão foram belas.

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O casal estava de frente para o altar, de mãos dadas olhando um para a face do outro. Shiva iniciou seus votos:

– Mais cedo, eu estava refletindo toda nossa história, como tudo começou e a imensa felicidade que senti e continuo sentindo ao seu lado. Sempre serei grato a Buda e a todos os deuses por você existir. Sou completo contigo em todas as formas, de todos os jeitos, com todos os tipos de felicidade possíveis. Não existe vida longe do teu amor, não existe vida longe de você. Te quero ao meu lado, para sempre e mais se nós for possível.

Gisty enxugou um filete te lágrima que escorreu por sua face e afirmou:

– Nós somos muito diferentes, mas somos diferentes de um jeito que eu acho perfeito, porque a gente realmente se complementa. Você é tudo o que estava faltando na minha vida. E eu espero, sinceramente, poder ser o mesmo para você. Hoje, posso disser: amo tudo em você e realmente estou muito feliz. Espero que sejamos sempre unidos.

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Shiva abraçou sua esposa e a beijou.

– Eu te amo, Shiva! E estou feliz em ir com você para rever minha Bolonha. Apesar de me sentir grega, e não saber nada sobre minha família, sei que minha origem está lá.

– Sei exatamente como se sente. – os dois, como a grande parte dos cavaleiros e amazonas do Santuário, são órfãos e por passarem grande parte de suas vidas na Grécia, acabem se sentiam gregos. – Porém será bom para você se reencontrar com seu passado, mesmo que não seja um dos melhores. Assim como já fiz como o meu, voltando para rever a Índia.

– Sei que será bom. Eu vou está bem, pois estarei ao se lado. E também porque conhecerei Veneza. Desde pequena tenho o desejo de conhecer aquela cidade e conhecerei ao seu lado.

Então Shiva deitou e puxou levemente o braço de Gisty para ficar ao seu lado, depois a abraçou.

– Eu te amo! – declarou beijando a esposa e acariciando seu corpo.

E mais uma vez se entregaram ao amor.