Amor de Guerra escrita por Gaby Uchiha


Capítulo 1
Descobrindo-se


Notas iniciais do capítulo

E aí pessoal? Nova história hehehePara começar, Yaoi não é o meu estilo, então essa one-shot é realmente um desafio para mim, mas como eu gosto de experimentar novos temas e essa oportunidade do Nyah surgiu, aqui estou eu publicando o meu primeiro Yaoi.Além de que eu era apaixonada pelo Nico e não queria que ele fosse homossexual, mas ele é (infelizmente Y.Y) e a minha opinião não importa porque essa fic eu fiz tentando ser imparcial!Espero que gostem!



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Encarei o discreto envelope branco ainda de pé após ter fechado a porta do meu apartamento no subúrbio de Veneza por onde recebera o carteiro.

Meu coração palpitava, minhas mãos suavam, minha boca se tornara seca, mas um pequeno sorriso involuntário se configurava em meus lábios só pelo recebimento de uma carta, mas não qualquer carta, e sim a carta.

Uma carta dele.

– Percy – balbuciei o nome do meu confidente.

Foi tudo tão de repente e inesperado, que sentir aquilo e desejar tal coisa ainda era estranho para mim. Aquilo parecia tão... tão errado, mas ao mesmo tempo tão certo.

Desde criança eu sempre me senti diferente dos outros. Moreno de olhos castanhos retraído em seus próprios pensamentos, tão diferente de minha irmã e das demais crianças. No início, eu era apontado só como um caso de extrema timidez, mas com o passar dos anos e chegada da adolescência, a falta de relacionamentos ou atração pelo sexo oposto ganhou a atenção dos meus pais. Principalmente do meu pai.

Aos 15 anos, ele me levou para um dos bordéis que frequentava e onde era o local de "atentado" ao seu casamento. Mesmo horrorizado com a descoberta, mantive-me calado. Ele me pediu para escolher uma, mas nenhuma me atraía.

Frustrado e com raiva, meu pai ordenou que a sua favorita fizesse o serviço. Foi naquela noite, aos 15 anos com uma mulher 30 anos mais velha, que eu perdi a minha virgindade e meu pai achou que havia me "curado".

Os anos se passaram e a Belle Epóque se foi sendo substituída pelos anos obscuros da Primeira Guerra Mundial.

Alistei-me voluntariamente, motivo de orgulho para os meus pais, no entanto, no meu íntimo, aquela foi a minha fuga do sufocante sentimento de fingir o que eu não era para a minha amada família.

A vida no exército era dura. Os comandantes humilhavam constantemente seus subordinados ou os privavam dos direitos mais básicos e inerentes ao ser humano.

Cansei-me de ver pessoas de alto escalão que deveriam ser exemplos de respeito e atitude, urinando no rosto de seus subordinados, privando-os de alimentos ou colocando-os para dormir fora do alojamento em noites de nevasca.

Vi muitos dos meus companheiros perecerem diante dos meus olhos.

Não vou mentir, passei por muitas dessas humilhações. E ver e sentir tais situações na pele me levaram a desacreditar cada vez mais nos corações humanos e principalmente no órgão público que dizia representar a Nação.

Sempre calado, prossegui durante os anos na guerra. Até que em uma batalha contra a Inglaterra finalmente nos encontramos.

Minha mãe sempre me disse que na vida havia amor e que um dia ao olhar nos olhos da minha alma gêmea eu teria o que chamavam de "Amor à primeira vista!".

O que eu não sabia era que algo do gênero aconteceria no lugar que eu considerava não haver nada que pudesse se relacionar com sentimentos bons, apenas com o sentimento mais primitivo do ser humano, o ódio.

Assim como na ciência, na qual o amor e o ódio ativam as mesmas áreas do cérebro humano, na vida real esses dois sentimentos andam juntos, onde há amor também há ódio e vice-versa.

Por isso, naquele campo de batalha banhado pelo sangue dos meus companheiros e coberto pelos corpos mutilados, onde os sons duelavam entre os gritos de desespero, ordens, balas e canhões, foi onde eu encontrei o amor.

Caído no chão e olhando para o meu carrasco eu vi os seus olhos verde-mar encarando os meus castanhos. O cabelo negro balançava com ritmo do vento acertando as vezes o seu rosto cheio de fuligem.

Mesmo sob a mira de sua arma eu não conseguia me mover, só ficava encarando-o. Não havia pôr-do-sol para romantizar a cena, apenas poeira, fumaça e morte ao nosso redor.

Aquela foi a primeira vez que eu o vi e a primeira vez que eu senti um sentimento que ainda nem sabia denominar direito.

Seu dedo estava no gatilho, era seu dever me matar, pois eu era o seu inimigo, um italiano, enquanto ele um inglês, mas... mas... ele não atirou...

Naquela hora vimos aviões de guerra americanos sobrevoarem nossas cabeças prontos para jogarem bombas com a intenção de acabar de vez com aquela batalha decrépita.

Em um ato impensado, ele me ajudou a sair dali já que minha perna estava ferida. Levou-me para um lugar seguro na floresta e cuidou de mim.

Pouco falávamos, mas só pelo olhar nos compreendíamos inconscientemente.

Os anos se passaram, a guerra se foi e veio um período de paz e prosperidade para os países vencedores, o meu por outro lado, por ser um dos perdedores teve perdas significativas, passando até por período de fome.

No entanto, nada disso importava para mim. A única coisa que importava e tomou conta de meus pensamentos foi a minha amizade com Percy Jackson, que se fortaleceu durante os anos tanto por meio de cartas quanto por suas viagens à Veneza para me visitar.

Hoje, com 26 anos em pleno dezembro 1922, ainda sinto aquela sensação estranha toda vez que estou ao lado dele ou quando recebo uma carta sua, mas não é isso que me faz ainda continuar paralisado olhando para a carta que ele havia me enviado. A causa poderia ser resumida em um acontecimento que ocorrera há dois meses quando Percy veio me visitar...

– É só o que se fala pelas ruas de Veneza. Muitos estão aderindo ao movimento fascista e já clamam pela posse do poder por Mussolini – comentei suspirando em um perfeito inglês que aprendi a pronunciar devido aos anos de convivência e vontade de poder conversar com ele.

– Comunismo. – disse com desgosto torcendo o nariz para a palavra. Eu já o conhecia de longa data. Filho de magnatas industriais e agora chefe das industrias era avesso aos ideais comunistas que dizia serem tolas – Uma perda de tempo. Uma utopia inalcançável! – exclamou convencido das suas palavras cruzando os braços sobre o peito enquanto relaxava-se sobre a poltrona à minha frente.

– Eu o compreendo, Percy, só que entenda, depois da perda na guerra, a Itália passou por momentos difíceis e de fome, é normal a população almejar algo do tipo. – tentei justificar as atitudes de meu povo – Eu só estou dizendo isso porque... – minha voz morreu e eu cobri meu rosto apoiando meus cotovelos sobre as minhas coxas.

– Dizendo isso porque? – perguntou Percy.

Ao levantar o meu rosto lentamente notei como ele tinha aproximado demais o rosto do meu, sendo separados por poucos centímetros de distância.

As palavras sumiram da minha boca ao focar por longos segundos de silêncio aqueles olhos verde-mar que me encaravam com a mesma intensidade, mas nunca deixando de lado o seu caráter questionador.

– Nico – disse firme o meu nome como se me ordenasse a responder a sua pergunta anterior.

– Porque eu não acho uma boa ideia você continuar a me visitar aqui na Itália – respondi sentindo um aperto forte no peito.

Os olhos antes questionadores, fraquejaram após ouvir a minha sentença. Ele compreendia o porquê de tudo. Sendo um neoliberalista como ele e importante para o mercado mundial, era sensato ele não arriscar viajando para países que se tornariam comunistas como a Itália. O afastamento era para o seu bem.

Suspirei abaixando os braços e o olhar, era difícil encarar aqueles olhos em uma situação dessas.

– É isso o que você quer? Que eu me afaste? – perguntou baixo levantando o meu queixo para que eu o encarasse novamente.

Não.

Era o que eu queria responder, mas as palavras simplesmente não saiam pelos meus lábios. A única coisa que eu conseguia fazer era sustentar o seu olhar.

Por mais que eu não dissesse nada, eu sabia que ele sabia a resposta apenas pelo olhar, da mesma maneira que nos comunicamos na primeira vez em que nos vimos.

Antes mesmo que eu percebesse, os lábios de Percy estavam encostados nos meus. Incrédulo com a atitude inesperada permaneci paralisado com os olhos abertos vendo a face bronzeada à minha frente inclinada levemente para a direita ao mesmo tempo que seus olhos estavam fechados.

Ele me beijou?, perguntei-me em pensamentos ainda sem reação.

Meu coração começou a palpitar rapidamente e minhas mãos começaram a suar intensamente.

O que está acontecendo comigo?, gritava em pensamentos eufórico por dentro ao mesmo tempo estático por fora.

Não importava o que aquilo significava ou o porquê dele estar me beijando, nada disso fazia mais sentido assim que senti o princípio do afastamento dos seus lábios.

Por um momento, eu esqueci meus pensamentos, os meus medos ou o olhar repreendedor que meu falecido pai me lançava quando eu dizia que nenhuma garota me chamava a atenção. Nada mais importava.

Impulsivamente impedi o afastamento correspondendo ao seu beijo. Sentindo pela primeira vez o interior quente da boca de Percy.

Fechei os meus olhos para saborear a sensação ao mesmo tempo que a língua travessa de Percy fazia movimentos lentos me provocando, fazendo com que eu quisesse mais e insistisse aumentando a intensidade de nossos movimentos.

Tão rápido como ele se aproximou, ele desfez nosso contato afastando-se abruptamente.

Nos encaramos por alguns segundos enquanto tentávamos controlar nossas respirações descompassadas e rostos levemente corados.

Sem se despedir ou dizer qualquer coisa ele se levantou da poltrona e saiu do apartamento. No fundo, eu sabia que ele não iria voltar, que estava mais confuso que eu e estava voltando para sua terra natal, a Inglaterra.

Dois meses se passaram e essa carta em minhas mãos é o primeiro contato que temos desde o incidente. O fascismo está batendo na porta, pronto para assumir o comando da Itália e eu não sei se eles me aceitarão do jeito que eu sou, se nem eu mesmo ainda consigo me aceitar completamente.

Saindo da paralisia momentânea movi minhas mãos abrindo o envelope endereçado a mim de maneira lenta e ansiosa.

Surpreendi-me ao encontrar uma passagem de trem só de ida para Londres, mas nada me surpreendeu mais ou deu-me esperança do que o bilhete que ele escrevera com a própria caligrafia:

"Nico,

Sei que pode ser confuso o que ocorrera, eu entendo, mas se você quiser tentar entender, aqui está a oportunidade. Largue tudo e venha, pois eu estarei te esperando às três da tarde no desembarque na Estação Central de Londres.

Eu estarei te esperando."

Sorri mais abertamente ao terminar de ler a carta e não pude deixar de balbuciar:

– Eu te vejo às três da tarde, Percy.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado ^^Desculpe-me qualquer erro, pois ele não está betado!