A Caminho escrita por Sra Scala


Capítulo 7
Capítulo 7




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“Está tudo bem Betsy”.

Desastre. Era isso que essa frase significava. Aquilo não iria acabar bem. Por que agora? Depois de tantos meses convivendo praticamente sob o mesmo teto, por que essa coisa em meu peito tinha que aparecer justo agora? O beijo que ele havia deixado em minha testa parecia irradiar um calor que não me lembrava de conhecer.

As vozes de Robbie e de Kassy enchiam o ar, mas eu não conseguia me ater a nenhuma delas. Senti uma coisa quente e escorregadia sair de minha virilha por duas vezes mas não tive a mínima curiosidade para ver o que era. Fiquei olhando para fora do carro, mexendo meus dedos como se pudesse fazer um carinho em meus bebês mesmo com eles cobertos por todos aqueles panos. Será que eles estavam confortáveis?

Os dois dormiam tranquilos em meus braços, ambos agarrando o decote do meu vestido com as mãozinhas minúsculas. Meus filhos... Esperei tanto tempo por eles... Era tão bom finalmente poder tocá-los...

Quando dei por mim, Robbie havia colocado minhas pernas para baixo e me coberto com algumas das toalhas que eu havia trago na mala. Havia a sensação de pele em contato com um tecido de algodão bem fofo vindo da minha virilha.

Ao sair do carro, ele gentilmente recolocou o banco em que eu estava no lugar e se certificou que eu e meus bebês estávamos bem protegidos, e antes de fechar a porta, pegou a fivela do cinto de segurança e a prendeu, verificando algumas vezes que a faixa transversal não nos machucaria.

A proximidade com que ele ficou de mim me deixou um pouco nervosa. Era irritante, mas eu me sentia como uma adolescente diante o garoto pelo qual eu era apaixonada.

O movimento do carro me enjoou no início e eu estava realmente preocupada com a velocidade que Robbie colocaria o carro. Mas a preocupação foi amainada poucos segundos após saímos: de alguma maneira, eu sabia que Robbie jamais faria alguma coisa que colocaria meus filhos em perigo.

O balanço do carro era suave, o que me fez ficar com as pálpebras pesadas.

–Precisa ficar acordada Betsy.

–Eu sei... Estou tentando...

A paisagem não ajudava, a capital se aproximava devagar e não conseguia prestar atenção em alguma coisa por muito tempo. Nem conseguia senti-lo passando direito.

–Hm... Betsy?... Você... Falou mesmo de mim para Kassidy?

Algumas coisas que eu havia dito voltaram a minha mente.

–Disse.

–Tipo o que?

Conversar era uma ótima tática para manter alguém acordada.

–Hm... Sei lá... Sobre a nossa infância na fazenda... A escola... A noite de tempestade... Sobre o jeito que você sempre teve com os animais da fazenda... Sobre como você iria se dar muito bem no curso de veterinária...

Robbie deu um sorriso murcho que fez meu coração doer.

–Sou apenas o garoto da fazenda Betsy... Um roceiro... Coisas como cidade grande e faculdade não são para mim.

Vieram à minha mente algumas coisas bem desagradáveis que eu havia dito para Robbie.

–Sinto muito...

–Do que está falando Betsy?

–Das coisas que eu disse para você... Não só agora mas... Durante as vezes que passei minhas férias nas fazendas... Eu... Não devia ter dito aquelas coisas...

Ele ficou em silêncio. Então eu continuei:

–Robbie... Eu sei que nunca fui uma companhia muito boa... Principalmente nesses últimos meses mas... Olha...

Tentei pensar em algo que não envolvesse velhos sentimentos de infância ou de adolescência.

–Em todo o nosso tempo juntos na escola, eu nunca te vi tirando notas baixas em nenhuma matéria...

Ao contrário de mim que levava muita bomba.

–E nunca te vi ter medo dos animais do meu pai, não importava quão grandes eles fossem...

Eu, por outro lado, sempre morri de medo enormes dos cavalos de raça que meu pai tinha.

O que diabos eu estava dizendo? A minha visão estava mesmo começando a ficar um pouco embaçada e estava começando a sentir um pouco de frio. Eu tive que parar um pouco com a torrente de palavras para me concentrar melhor em ficar acordada.

–O que eu estou... Tentando dizer Robbie... É que você não... Não pode acreditar em tudo o que ouve... Você é uma boa pessoa... Sempre foi inteligente e esperto... Eu dizia para Kassy que tinha um pouco de inveja disso... Você não precisava responder às expectativas da sua família... Podia fazer o que quisesse...

Senti meu rosto esquentar. Eu tinha que tomar mais cuidado com o que eu estava dizendo.

–Além do mais... Você é um homem bom Robbie... Muito mais decente do que muitos dos rapazes que eu conheci na faculdade...

Sem que eu conseguisse controlar, meus olhos encheram de água.

–Robbie... Estou cansada...

–Não durma ainda Betsy... Só mais dez minutos e prometo que você vai poder dormir...

A paisagem começou a ficar cinzenta e embaçada. Um arrepio de frio percorreu meu corpo. Não durma... Continue falando... Não durma...

–Lembra... Lembra da Amanda Rogers... Da nossa sala... Um dia... Eu vi o caderno dela... Com um monte de coraçõezinhos... "Amanda e Robbie", "Amanda e Robbie"... Eu rasguei o caderno dela todinho... Lembra disso?... Eu acho... Que fiquei com raiva... Por que você tinha dito... Que preferia brincar com ela... E não comigo...

O carro fez uma curva e o movimento fez com que eu acordasse por alguns instantes. Segundos depois, um solavanco suave me fez perceber que o carro estava parado.

A porta do carona se abriu e um vento gelado e horrível invadiu o carro.

–Graças a Deus vocês chegaram... Claire? Claire, está me ouvindo?

Meus olhos conseguiram um pouco de foco e vi os cabelos dourados e os olhos negros de Kassidy.

–Kassy... Onde...

–No hospital Claire... Nós já vamos tirar você daí, está bem? Os pediatras já estão aqui para levar os bebês para a maternidade, estes são...

Levar meus bebês? Não mesmo... Eles estavam tão quietinhos e quentinhos... cadê o Robbie? Por que ele estava tão quieto?

Senti uma mão enluvada próximo a um dos meus bebês e meio que recuei, protegendo-o.

–Não... Não vão levá-los...

Cadê o Robbie!?

–Claire, eles precisam de cuidados... Precisam ser examinados, temos que ter certeza de que está tudo bem com eles... Ninguém vai tirá-los de você Claire, eles vão receber as identificações logo e você os terá de novo assim que os pediatras terminarem de examiná-los, está bem?

Desisti de argumentar com Kassidy quando um arrepio frio passou por meu corpo. Havia pelo menos umas quatro pessoas junto com ela. Ela recuou e um homem de jaleco se aproximou e fez menção de pegar novamente um dos meus filhos.

–Vou devolvê-lo logo Srta. Mills.

O lugar ocupado pelo bebê ficou dolorosamente frio. Dessa vez quem apareceu foi uma mulher de cabelos acobreados. Ouvi Kassidy falar alguma coisa com algumas pessoas atrás dela enquanto ela dava espaço para outra pessoa se aproximar.

A perspectiva de ter um estranho tocando em mim mesmo com as luvas cirúrgicas era agoniante. Eu não queria ser tocada. Por ninguém. Então Robbie apareceu, parecendo tirar quilos de tensão dos meus ombros.

Ele e alguns enfermeiros me tiraram do carro e me colocaram em uma maca que estava parada próximo ao carro. Colocaram a maca em movimento e ouvi a voz de Kassidy se tornando rapidamente muito distante.

–Vai ficar tudo bem agora Claire... nós vamos cuidar de você agora.


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