A Caminho escrita por Sra Scala


Capítulo 10
Capítulo 10




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Betsy não havia respondido à minha proposta. Odiava admitir, mas estava nervoso. Será que eu deveria ter esperado mais antes de abordá-la? Tinha feito a coisa certa ao propor assumir os gêmeos dela? E se ela recusasse? O que eu faria?

A espera pela resposta estava me matando.

Pensei em voltar para o quarto de Betsy, mas reconsiderei. Talvez fosse melhor dar um pouco de espaço para ela. Talvez ela quisesse conversar com a mãe sobre minha proposta.

Sem ter sono o suficiente para voltar a dormir, liguei a televisão e fiquei vendo um desenho animado aleatório. Não consegui prestar muita atenção, mas era melhor a TV do que ficar olhando para o teto.

Minha mente vagou e se voltou para os gêmeos de Betsy. Meu Deus, eles estavam enormes! Pouco pareciam com os pingos de gente que eu havia visto nascer.

E tão gorduchinhos! Peguei a mim mesmo rindo, com certo orgulho, daqueles dois. Catherine estava uma verdadeira bonequinha e prometia ter os lindos olhos verdes da mãe. Os de Sean eram continhas cinzentas atentas e travessas.

Me peguei pensando se ela não tivera razão ao me chamar de louco. Só mesmo um maluco por ficar tão apaixonado por duas crianças que nem dele são. Doido ou não, não conseguia, e nem queria, afastar a sensação de responsabilidade que sentia a respeito delas.

Tentei imaginar o que aconteceria se o pai biológico deles resolvesse aparecer. Será que Betsy voltaria para ele?

O único pensamento que me ocorreu foi, que se ele reaparecesse na vida deles, iria me dedicar a fazer da vida dele um inferno por ter deixado Betsy sozinha.

Betsy... Ele continuava tão linda, e estava tão mais parecida com a menina que eu conhecera. Tive vontade de subir ao quarto dela e abraçá-la, dizer a ela que eu não olharia para outra garota além dela.

Voltei à realidade ao escutar uma movimentação na cozinha. Levantei-me devagar e fui até lá. Me surpreendi ao ver Betsy, caminhando lentamente enquanto segurava um grande copo de suco.

Ela se sentou em uma mesa de canto que havia na cozinha e começou a beber o conteúdo do copo lentamente, esfregando suavemente os olhos com as costas das mãos.

De onde eu estava, consegui ver o cansaço que pesava sobre ela. Também pudera: já eram quase cinco da manhã e duvidava que ela tinha dormido um minuto sequer desde a encontrei na cozinha mais cedo. Ou mesmo antes disso.

Quis correr até ela, levá-la até a cama e ficar acariciando seus cabelos até que ela dormisse.

Também reparei que os lábios e os olhos estavam um pouco inchados, suas bochechas um pouco rosadas. Ela estivera chorando. E bastante pelo jeito.

Mas por que? O que havia acontecido para ela ter ficado desse jeito? O que estava acontecendo com Betsy?

–Betsy?

Ela arregalou os olhos ao me ver e ajeitou-se na cadeira, corrigindo sua postura. O rosto dela ganhou mais uma leve dose de rosado.

–Escute... Sobre o que falamos mais cedo... Eu estava pensando se...

A vi mordendo levemente os lábios, já havia reparado nela fazendo isso antes. Será que era algum tique nervoso?

–Você se arrependeu?

–O que? Claro que não! Não vou mudar de ideia quanto a nada do que lhe falei! O que ia lhe dizer era que talvez fosse melhor conversarmos sobre isso quando você estiver mais descansada.

Ela olhou para mim e, depois de alguns minutos, sorriu e me surpreendeu com um suspiro de alívio. Os ombros dela relaxaram e foi como se um grande peso tivesse sido tirado de meus ombros.

–Obrigada Robbie.

Aproximei-me dela e deixei um beijo em sua têmpora. Percebi Betsy fechando os olhos e quis avançar para sua boca. Achei melhor me afastar.

–Que tal algumas torradas quentinhas?

–Adoraria.

Gulosa.

–A propósito... Obrigada por me ajudar com Sean...

Fui colocar as torradas no micro-ondas e ligar o aparelho.

–Que isso. Não precisa agradecer. Só quis ajudar.

Não houve resposta. Peguei-me pensando se Betsy queria mesmo manter alguma conversa. Virei-me para olhar para ela e entendi o silêncio: ela tinha caído no sono.

Me senti um lixo por ter proposto aquilo para ela num momento tão inoportuno. E pior ainda por ter que acordá-la.

Deixei as torradas quentes dentro do forno e me aproximei dela. Desejei conseguir carregá-la em meus braços sem acordá-la, mas duvidei que conseguisse aguentá-la até o quarto.

–Claire.

Ela dormia com a cabeça apoiada em uma das mãos, o rosto apresentava um pouco de seu cansaço, mas ela estava tranquila. Abaixei-me e acariciei levemente seu ombro. Ela não acordou, mas vi uma ruga se formar entre seus olhos fechados.

–Claire.

Ela se mexeu um pouco, afastando-se, incomodada com o meu toque.

–Não quero Ethan...

Ethan?

O incomodo de Betsy se intensificou e o resto do rosto acompanhou o pesadelo.

–Betsy!

Ela abriu os olhos assustada, quase me dando um ponta por debaixo da mesa.

–Ethan! Onde... Onde ele está?... Meus bebês...

Por que ela tinha ficado tão assustada? Quem era esse tal Ethan?

Segurei-a e consegui forçá-la a olhar para mim.

–Betsy, hey! Não há nenhum Ethan aqui! Está tudo bem Betsy, Catherine e Sean estão seguros.

Ela parou de se debater e, quando os olhos dela finalmente se focalizaram em mim, ela relaxou e suspirou, derrotada pelo cansaço, que parecia ainda maior.

–Robbie... Eu... Dormi?

Refreei minha língua para não enchê-la de perguntas sobre esse Ethan e por que os gêmeos precisavam ser protegidos dele.

–Sim... Desculpe por ter te acordado... Você precisa dormir um pouco Betsy... Na sua cama, e não em uma cozinha... Vem... Deixa que eu te ajudo.

Ajudei-a a se levantar e ela continuou a caminhar sozinha, trôpega de sono e de cansaço, me perguntei por que ela não pedia aos pais que contratassem uma pessoa para ajudá-la a cuidar dos gêmeos.

Ela subiu os degraus da escada devagar, fiquei próximo a ela para a eventualidade de ela pisar em falso.

Ao nos aproximarmos do quarto dela, ela parou e se voltou para mim. Seus olhos verdes estavam inchados, e um pouco sonolentos, mas de repente me senti em um daqueles momentos que mudam uma vida inteira.

–Eu sou um plano financeiro para você?

–O que?

–Não seja ingênuo Robert Walker, estou perguntando se está fazendo isso por causa do dinheiro do meu pai.

Como ela foi capaz de me perguntar uma coisa dessas? Não podia acreditar que ela estivesse pensando isso de mim. Ela realmente achava que eu podia estar me aproveitando dela para conseguir subir na vida? Que tipo de canalha faria isso?

Não precisei de muitos segundos para encontrar a resposta:

O mesmo tipo de canalha que embebedaria a namorada, a engravidaria, a levaria para uma clinica de aborto e a deixaria lá sozinha.

Só depois de formular a resposta à minha própria pergunta é que percebi alguma súplica no olhar de Betsy. Ela desviou os olhos para baixo, como que envergonhada.

Aproximei-me e peguei seu rosto, erguendo-o para que ela olhasse em meus olhos.

–Claire, a faculdade de veterinária é um plano financeiro, tomar conta de um haras é um plano financeiro... Me casar com você e criar seus filhos como meus são decisões que tomei para minha vida.

Os olhinhos dela se encheram de lágrimas.

–A única razão de eu ter proposto uma sociedade com o seu pai foi por que foi a única maneira que eu encontrei de tentar merecer estar ao seu lado Betsy... Cuidar bem de cavalos e amar você são umas das poucas coisas com as quais posso me orgulhar, e não consigo me imaginar fazendo outra coisa além dessas.

Betsy olhava para mim e vi que a garota que sempre gostei estava machucada, sem saber como lidar com todas as coisas erradas que haviam acontecido na vida dela em tão pouco tempo.

Ela se deixou envolver por meus braços e encostou seu rosto em meu pescoço. Quis tirá-la dali. Levá-la para um lugar onde ela pudesse colocar tudo aquilo para fora sem despertar ninguém.

Depois de alguns minutos, ela se aquietou.

–Claire?

–Hum?

–Você precisa descansar um pouco... Nós dois precisamos na verdade.

Duvidava que fosse conseguir pregar o olho, mas apostava que ela capotaria no momento em que encostasse na cama.

–Não quero ficar sozinha Robbie...

–Hm... Quer que eu fique no seu quarto?

Ela estremeceu de leve. Apressei-me para tranquilizá-la:

–Não me importo em dormir naquela poltrona.

Betsy relaxou. Aproveitei o embalo para quebrar o abraço que dava nela e a fiz olhar para mim novamente.

–Escute... Não quero que esquente a cabeça comigo... Não vou fazer nada com você até que você se sinta a vontade... Não quero que esquente a cabeça com isso, entendeu?

Ela mordeu os lábios, um pouco nervosa, e me beijou de leve na boca, me fazendo explodir. A boca dela estava quentinha e inchada, bastante sensível por causa do choro. Quando acabou eu tinha certeza de haver um sorriso bobo em meu rosto. Betsy estava sorrindo também.

Ao entrar no quarto, ela rumou primeiro para os berços e, depois de se certificar que estava tudo bem com Sean e Catherine, entrou em seu closet.

O quarto de Betsy era enorme e surpreendentemente destoante do resto da casa. os moveis dela e dos gêmeos eram de madeira clara levemente envernizada. Tapetes enormes cobriam partes do chão também de madeira. A sensação que eu tive foi de estar em uma versão mais elegante e moderna do casarão da fazenda em que vivi minha vida inteira.

Fiquei realmente contente em saber que aquele pedaço da nossa vida era importante para ela.

Meia hora mais tarde Betsy dormia um sono muito mais que merecido. E o melhor de tudo, ela estava dormindo em meus braços.


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