Espelhos escrita por AriDamascena


Capítulo 2
Primeira Camada


Notas iniciais do capítulo

OBRIGADA PELOS COMENTÁRIOS!!! FIQUEI NO CÉU COM ELES S2

Espero que gostem do primeiro capítulo ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/607431/chapter/2

"Ele é um em um milhão, eu não sei quando eu vou vê-lo novamente. Meu coração está batendo muito rápido, mas eu quero ir para lá. Vamos caminhar um pouco mais, você sabe que eu quero estar aqui. Eu quero ir para onde você quiser ir. Posso ir com você?" YUNA - I wanna go

* * *

Eu iria contar a Ron sobre meus sentimentos por ele! Iria contar a ele assim que atravessasse o retrato da Mulher Gorda. Oh Merlin! Minhas mãos pareciam duas pedras de gelo começando a derreter. Frias e molhadas.

Havia sim a chance de dar errado, mas após passar o verão todo na Toca junto a Ron, a confiança estava explodindo meu peito. Desde o Baile de Inverno do ano passado, sabia que Ronald tinha algum sentimento por mim além de amizade, aliás, o que mais explicaria seu surto de ciúmes? Definitivamente, deveria haver algo!

Minhas suspeitas apenas ficaram ainda maiores durante o verão. Nós passamos um tempo ótimo na Toca, fazíamos tudo juntos. Claro, a presença de Harry ainda era constante, mas era diferente. Eu sabia que era! Quer dizer, ele pegava na minha mão quando caminhávamos juntos. Isso tinha que significar alguma coisa, certo?!

Pensei na possibilidade de esperar que ele viesse conversar comigo e me pedir em namoro. Infelizmente, isso não aconteceu. Mesmo quando as férias acabaram e nós voltamos para Hogwarts, Ron parecia disperso do que estava acontecendo entre nós. Então, pensei com meus botões, que talvez ele só precisasse de um empurrãozinho.

Se eu confessasse primeiro meus sentimentos, ele não se sentiria acanhado em me pedir em namoro.

Quando entrei no salão comunal da grifinória, senti meu coração dar um pulo de emoção. Tinha um bom número de chances de que quando eu saísse dali, estaria finalmente namorando Ronald Wesley.

Ainda de longe, reconheci os cabelos ruivos de Ron. Ele estava sentado em uma poltrona, escrevendo algo no pergaminho, provavelmente algum trabalho que tinha como data de entrega amanhã. Isso era bem a cara dele.

— Ei Ron, posso conversar com você? – perguntei tremendo de antecipação.

Ele levantou a cabeça ruiva e sorriu para mim. Sem nem perceber, me vi sorrindo de volta.

— Claro Mione. – Ron se mudou da poltrona para o sofá, dando dois tapinhas para o lugar ao seu lado, onde me sentei. – O que é?

— Sabe, – comecei sem jeito, limpando a palma das mãos soadas em minha calça jeans – desde o verão, eu fiquei pensando... Bem, com tudo o que aconteceu entre nós... Eu... Uhm, é que... – parei de falar, reunindo toda minha coragem grifinória para revelar o que diria a seguir – Nós passamos um bom tempo juntos e... Ron, o que eu estou tentando te dizer, é que eu gosto de você.

Foi um minuto de preces silenciosas para que ele não pensasse que eu me referia à amizade, mas sim um gostar... Passional.

Estava tão presa em minhas expectativas bobas de adolescente, que nem percebi o fato de seu rosto estar contorcido ao invés de feliz.

— Você o que? – ele exclamou alto, chamando a atenção de alguns primeiros anos que estavam no salão comunal também.

Meu coração foi parar no estômago nesse momento.

Perdi o ar, o chão e a noção do mundo ao meu redor. Foi como ter levado vários tapas na cara, todos ao mesmo tempo.

Ele não retribuía os sentimentos.

— Desculpe Mione... E-Eu não fazia ideia.

Ron continuava a se desculpar, mas era como se meus ouvidos estivessem surdos. Tudo que queria era abrir um buraco no chão e me enterrar lá para sempre. Como pude ser tão estúpida? Eu sou Hermione Granger, não é suposto eu ser uma bruxa inteligente? Ah droga!

Meus olhos começaram a pinicar, meu rosto estava tão quente e formigando, provavelmente estava extremamente vermelha. Me sentia tão humilhada... Tão burra! Merlin, como isso foi acontecer?!

O desespero começava a rastejar nas minhas entranhas, pois sabia que estava à beira de lágrimas. Os olhos azuis de Ronald estavam cobertos de pena, e isso somente tornava a situação pior ainda. Eu esperava por preocupação ou ressentimento, mas pena...? Isso era mais humilhação do que poderia esperar.

Endireitei os ombros, engolindo a bola de amargura presa em minha garganta. Eu sabia que meus lábios estavam tremendo e meus olhos vermelhos e marejados, porém me recusava a desabar na frente dele. Ron provavelmente já estava se sentindo péssimo o bastante por quebrar o meu coração, me fazer de garota indefesa na frente dele não era uma opção. Em nome de nossa amizade de longa data, apenas umedeci os lábios e forcei um sorriso.

— Está tudo bem, Ron. – comecei com a voz arranhada – Eu entendo.

— Mione... – ele arriscou um passo em minha direção, porém quando me afastei, ele percebeu que não deveria se aproximar mais.

— Eu disse que está tudo bem, Ronald. Está tudo bem. – levantei minha cabeça, numa tentativa inútil de manter as lágrimas em meus olhos – Eu vou à biblioteca. – anunciei, girando nos calcanhares e saindo da sala comunal da grifinória em passos rápidos.

Eu mal tinha atravessado o retrato, quando um soluço alto escapou da minha garganta. Alguns estudantes que estavam por perto se viraram para me encarar. Abaixei a cabeça e continuei andando sem rumo até que me encontrasse sozinha para poder chorar os meus olhos fora. Não necessariamente contendo qualquer lágrima durante o processo.

Foram alguns minutos de caminhada, antes que eu encontrasse um corredor completamente solitário. Encostei-me à parede e quanto mais lágrimas e soluços escapavam de mim, mais minhas pernas perdiam as forças. Em dez minutos, já estava sentada encolhida no chão, abraçada aos meus próprios joelhos.

Eu não ouvi passos, a única coisa que anunciou a presença de mais alguém naquele mesmo corredor, foi sua sombra grande e esguia cobrindo parcialmente meu corpo.

Rapidamente, limpei o máximo que pude das lágrimas, antes de erguer os olhos e me deparar com a figura de cabelos brancos no encarando. Foi uma enorme surpresa me deparar com seu rosto sem um sorriso de escarnio pintado nos lábios finos. Mais surpreendente ainda foi encontrar sua testa franzida e postura cansada. Na verdade, toda sua imagem parecia bastante cansada num geral. Malfoy tinha escuras e profundas olheiras de baixo dos olhos cinza, o rosto quase em branco, se não fosse pela pitada de... simpatia.

— O que quer Malfoy? – praticamente cuspi a pergunta – Veio zombar de mim? Caso for, faça isso rápido, não estou com paciência hoje. – limpei uma lágrima que deslizava solitária pela minha bochecha direita.

Por um momento achei que ele iria dizer algo. Esperei por um insulto qualquer quando ele abriu a boca, porém ele voltou a fecha-la antes que qualquer sílaba escapasse da mesma. Poderiam ter sido segundos ou horas, ele ficou lá, me encarando com aquela estranha e improvável simpatia dirigida a mim.

Quando Malfoy deu um passo na minha direção, me encolhi ainda mais contra a parede. Achei que ele fosse parar.

Ao contrário de todas as minhas expectativas, o loiro continuou andando na minha direção, parando ao meu lado, onde se sentou, também no chão. Eu estava triste demais para começar qualquer discussão ou tentar entender o que diabos ele estava fazendo, então somente voltei a chorar.

Vai ficar tudo bem. Tenho certeza disso. – ouvi-o murmurar baixinho ao meu lado.

Assustada por suas palavras, mais confusa do que estive em toda minha vida, virei meu rosto em sua direção. Aquela imagem da Draco Malfoy era completamente nova para mim.

Era inédito, chocante.

Apesar de seu rosto estar limpo de qualquer resquício de lágrimas, ele parecia estar tão arrasado quanto eu. Os olhos dele... Não fazia qualquer sentido!

Desde os onze anos, toda vez que eu olhei nos olhos de Draco Malfoy, tudo o que encontrei foi um brilho vil de ódio, no entanto, agora o que eu via era... Não havia palavras para descrever. Havia tantas coisas ali, tantas coisas não ditas mas tão terrivelmente explicitas em apenas um olhar! O cinza, que sempre considerei tão monótono, agora se parecia muito mais com um mar tempestuoso. Tinha fúria, beleza, tristeza e alguma outra coisa ali. Preocupação?

— Você é mesmo Draco Malfoy? – perguntei debilmente, minha voz esganiçada com as lágrimas.

Ele deu de ombros. Malfoy não disse nada. Ele nem se mexeu. Sua presença apenas estava ali, encarando o meu rosto com aqueles olhos assombrosamente cheio de emoções embora tivesse um rosto lavado de quaisquer expressões faciais.

Duvidei um pouco da minha sanidade mental, quando me vi inclinar sobre ele e repousar minha cabeça em seu ombro. Se eu estivesse pensando naquele momento, provavelmente acharia que ele iria recuar e ir embora. Ele não fez nada disso. Pelo contrário, aproximou-se ainda mais e me aconchegou perto dele, acariciando suavemente meus cachos revoltos, enquanto sussurrava amavelmente com os lábios pressionados no meu cabelo que tudo ficaria bem.

Tenho certeza que continuei minha choradeira por várias horas, antes que minhas lágrimas finalmente secassem e minha respiração voltasse ao normal, pois quando levantei a cabeça do ombro quente de Malfoy, o corredor estava bem mais escuro do que antes.

Eu tinha os olhos inchados e vermelhos, tal como a ponta do meu nariz. Provavelmente parecia uma merda. Era como eu ficava todas as vezes que chorava.

Não queria ter que olhar para Malfoy, estava envergonhada pela minha aparência. Envergonhada por ter chorado como uma completa idiota em seu ombro durante o dia todo.

— Você está bem? – ouvi-o perguntar, quando eu me levantei, ainda olhando na direção oposta a ele.

— Vou ficar. Obrigada.

Passei as mãos no rosto mais uma vez, tentando amenizar minha horrível aparência antes de partir. Estava ciente da presença de Malfoy atrás de mim. Sentia seus olhos queimando na parte de trás da minha cabeça. Sentia a quentura do seu corpo ainda próximo ao meu. E, com toda certeza, ainda sentia o cheiro de sua colônia tão forte quanto estava quase eu tinha meu rosto enterrado em seu pescoço pálido.

— Tem certeza?

— Ah sim, está tudo bem. – finalmente me virei, tentando controlar o fato do meu rosto estar corado – Foi... Uhm... Foi muito gentil isso. Muito obrigada, Malfoy.

Ele assentiu com a cabeça, dando um fraco sorriso que nunca chegou a alcançar seus olhos tempestuosos. Então ele se virou e foi embora.

Ele simplesmente foi embora...

Como se nada houvesse acontecido. Era como se ele nem ao menos houvesse parado naquele corredor.

Durante mais um par de minutos, continuei no corredor abandonado, perguntando a mim mesma e a Merlin o que havia acontecido ali.

Nada fazia sentido.

Tentei fazer uma retrospectiva do meu dia, e ainda assim não fez qualquer sentido para mim, saber que há uma hora, eu estava com o rosto enterrado no pescoço do herdeiro Malfoy, chorando por ter sido rejeitada por um dos meus melhores amigos.

Demorou cerca de dois dias para que eu reunisse pensamentos o suficiente para elaborar uma teoria descente sobre tudo o que aconteceu.

Dois dias sendo perseguida pela presença invisível de Draco Malfoy.

Aonde eu ia, seu cheiro me acompanhava. A lembrança era tão viva em minha memória, que ao mesmo tempo em que pensava que não havia passado de um sonho realístico, sabia que não havia maneira alguma de não ter sido realidade. Tinha, de fato, acontecido.

Malfoy parecia ignorar isso com sucesso. Como ele podia? Minha mente girava em torno disso até mesmo durante as aulas, e ele agia como se nada tivesse ocorrido.

Estaria eu ficando louca? Oh, não, mesmo! Depois daquele dia, sabia perfeitamente por que Draco agia daquela maneira. Ele estava cercado por máscaras ou muros, camadas. Eu teria que descascar uma por uma para encontrar aquela pessoa novamente.

Valeria ele a pena? Esperava que sim, pois era exatamente isso que eu estava determinada a fazer a partir de agora.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

A história se passa no quinto ano e por isso talvez achem essa mudança de coração do Draco um pouco confusa agora, até porque no livro ele ainda era um mané (dsclp amor, juro que te amo) mas relaxem tá? Ao longo dos capítulos isso será explicado, só tenham em mente que todo mundo que teve um incrível verão como a Mione... hahaha

Esse é um projeto muito especial para mim, não deixem se compartilhar suas opiniões comigo!