Burusera escrita por SurfinBird


Capítulo 1
Burusera - As Garotas Mágicas




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Sayoko pode morrer.

Suas colegas de classe, algumas carteiras à frente, não simpatizavam muito com ela. Sem fazer amigas, passava o tempo desenhando. Ela reproduzia as inspirações que lhe suscitavam nas últimas folhas de seu caderno; suas heroínas favoritas versonizadas em caricaturas disformes, não muito distantes das páginas onde se achavam os meninos andróginos do glam rock.

Tambores e flautas da morte darão as boas-vindas à Sayoko, mas ela não está habituada àquela forma de docilidade, sabendo apreciar apenas o previsível som comercial da pilha de CD’s no canto escuro de seu quarto.

Suas colegas de classe são líderes de torcida; cada qual pintou os cabelos de uma cor diferente, conquistando muito facilmente a antipatia dos professores. Dispunham entre si de uma amizade enternecida, fraternal, deixando para as outras alunas e até mesmo para suas famílias o mais cru desprezo. Os professores aconselhavam que elas andassem na linha antes que acabassem expulsas.

Como seus pais não lhe davam muito dinheiro, essas garotas vendiam suas calcinhas usadas para homens mais velhos. A famosa Burusera. Existia mesmo um lucro extra por aquelas que continham pelos pubianos. Aceitavam também, por um alto preço, se envolverem em aventuras perigosas com homens mais velhos. Por vezes ousavam concebê-las e prepará-las. Todas vestiam o uniforme à marinheira e a saia de pregas, e escondiam um grande segredo.

Sayoko provavelmente vai morrer.

Suas colegas de classe líderes de torcida, todas as vezes, percorriam o caminho de volta para casa de mãos dadas, e sempre faziam uma parada rápida na sorveteria. O sorveteiro era um velhinho que carregava o fardo de uma vida desgostosa como marca permanente em seu rosto. Ele lançava às menininhas olhares maliciosos descarados. Elas riam consigo mesmas, adorando ser o centro das atenções.

“Hey, meninas! Não tem ninguém olhando!” Disse uma delas, entre as lambidas no sorvete specialice, cheio de doces e cores, favorito entre as colegiais.

De fato, estavam em uma rua residencial completamente fechada e sem uma alma à vista. Sem demora, deixaram suas mochilas despencarem no chão e apanharam cada uma sua própria varinha mágica. As garotas iniciam uma dança sincronizada que evocam os movimentos do balé sujo de Nijinsky.

“SUNPAIRATÔ!” Entoa, a prima “Estrela de Barnard!”

“SUNPAIRATÔ! Zeta Leporis!” Completa, a secunda.

“SUNPAIRATÔ! Lalande!”

“SUNPAIRATÔ! Gliese!” Por fim, a última.

E afinal, todas em coro:

“SUNPAIRATÔ! ALL STAR!”

Em um flash, elas são de repente ainda mais maravilhosas. Suas roupas transformam-se em ideais trajes mágicos e brilhantes, reluzindo as cores do arco-íris. Asas angelicais crescem das costas de cada uma delas, mas não existia a dor para aquelas meninas perfeitas. Concluindo a cerimônia, elas são coroadas com louros e aréolas, lavando-as completamente de toda a sujeira contraída dos velhos pervertidos e as tornando puras e inocentes novamente.

Sayoko muito provavelmente vai morrer.

Sayoko caminhava no automático pela calçada olhando para os próprios pés, sem se dar conta do que lhe atravessaria o caminho. Repentinamente, sente uma torção nos músculos e se percebe que não consegue mover os pés.

“Sunpairatô-Truque-Perfeito! Efeito estátua!”

Uma das meninas-mágicas lhe apontava a varinha e lhe lançara o feitiço. O coração de Sayoko acelera à uma velocidade galopante. Ela sente o suor escorrer por sua tez. Não podia ficar parada ali! Tinha o dever de casa do Sr. Suehiro para terminar!

Sayoko vai morrer.

À sua frente, eis que surge a prima líder de torcida, reluzindo sua graça de santa. Sua beleza ofusca os olhos de todas, obrigando Sayoko e mesmo as outras sunpirates à taparem os olhos com as mãos. Então a colegial de mil cores, em sua infinita graça, profecia:

“Sunpairatô-Truque-Perfeito! Espada Mágica!!”

Sayoko está morta.

“Pff, colore meu mangá agora, imbecil!”


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Notas finais do capítulo

Agradecimentos especiais à William Burroughs, Swift, Luiz Celso de Farias e outros, com seus estilos corrosivos e amargos que serão sempre uma referência para mim.



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