-NÃO! -Alice gritou e em meio ao desespero, lançou seu corpo em Jake, conseguindo retirar a arma de sua mão, a lançando no canto do quarto. Jake estava com ela engatilhada e apontada para sua testa. Ele tentou tirar a jovem de cima de seu corpo, mas quanto mais ele fazia força para tentar tirar ela, mais Alice gritava e se debatia, o impedindo de se mexer.

-Eu não vou deixar você fazer isso! NUNCA! -Ela estava descontrolada, falava aos berros com ele e batia-o na altura das pernas. Jake conseguiu segurar seus braços e Alice finalmente fitou-o, percebendo seus olhos opacos. Era a primeira vez que o via sem emoção em todo esse tempo.

-Você não vai mudar de ideia, certo? -Ela sussurrou de forma calma, como se não tivesse acontecido nada há poucos segundos. Jake assentiu sem dizer nada e Alice o abraçou com toda força que encontrou naquele momento. -Você não vai morrer, eu não vou te deixar morrer, nunca.

-Não adianta, eu não tenho chances de continuar vivo. Como vou pagar uma dívida dessas?

-Daremos um jeito. Pedimos emprestado, saímos do país, faremos qualquer coisa, mas eu não vou permitir que você morra.

-Alice, nós dois sabemos que essa é a única maneira óbvia de fugir e não ser pego. E se eles não me encontrarem, vão buscar você. A pior coisa que eu poderia querer é você sendo morta por minha causa.

-Eu seria morta por sua causa, mas pelo menos a dívida estaria paga. Eles não iriam te procurar mais, e isso traria felicidade pra nós dois, mesmo eu morta. Jake, se for para eu me sacrificar por você, farei isso sem sombra de dúvida nenhuma.

-Eles não iriam ficar satisfeitos, e você não sabe do que está falando.

-Como não sei? O único que afogou as mágoas na bebida hoje foi você, amor. -Alice deu um sorriso fraco, mas percebeu que aquilo não tinha contagiado Jake, que permanecia do mesmo modo o diálogo inteiro, então ela resolveu voltar ao assunto. -O que quero dizer é que se acontecer algo comigo antes de acontecer com você, eles irão ficar satisfeitos e tudo vai ficar bem.

-Como tudo vai ficar bem? Acha que eu consigo viver sem você? Acha mesmo que sabendo pro resto da minha vida que você está morta por minha causa, eu iria ficar feliz? Alice, pelo amor de deus, você não está entendendo que eu preciso morrer pra poupar você.

-E é o mesmo que estou tentando dizer a você! Eu preciso morrer pra poupar você, porque eu não aguentaria viver sem você.

-Então se um morreria pelo outro, ou deixamos que isso aconteça pela ordem deles ou tomaremos outra decisão. -Quando Jake terminou a frase, Alice bufou entediada. Ela já estava exausta de tanto falar com ele sobre esse assunto a semana inteira, ela precisava de algum jeito para tirar ele dessa tensão toda ou simplesmente de uma melhor forma de pagar a maldita dívida que os atormentou tanto esse tempo todo.

-Iremos pedir dinheiro emprestado à alguém. Algum parente ou amigo próximo. O problema é dinheiro, iremos arrumar dinheiro.

-Certo, nós pedimos emprestado pra família, mas da mesma forma que eles querem me matar por estar devendo, acha que a família não vai querer o mesmo por estar devendo à eles?

-Nós poderíamos tentar arrumar um emprego.

-De novo? Tentamos isso desde o mês passado e nada. E não cogite o maldito assunto de arrumar empregos vulgares.

-E se for a única forma? Acha que se eu morreria por você, não iria aguentar uma vida dessas?

-Eu não quero ver você sofrendo. Você arrumando esse tipo de emprego seria a mesma coisa que perder você.

-Jake, nós precisamos de alguma solução que os dois queiram.

-Tudo bem, vamos ver isso. -Jake levantou-se da cama e foi até o canto do quarto, onde seu revólver estava jogado. Pegou a arma e a observou por um tempo, verificando a quantidade de balas antes de virar-se para Alice. Quando virou, a mesma olhou espantada para o rapaz, já sabendo o que ele havia sugerido como solução.

-Você não aguentaria viver sem mim, certo? Pois bem, me mate e depois se mate. Uma solução óbvia. Se nenhum dos dois aguentaria viver sem outro, então ninguém vive.

-Não é tão simples assim, eu não teria coragem de atirar em você.

-Ah, que ótimo. Não quer me ver morrer nas mãos de agiotas mas também não quer me matar pra me poupar disso?

-Eu morreria nas mãos deles pra não te ver morrer, eu não teria coragem pra te matar.

-Tudo bem, então se você morreria nas mãos deles você vem comigo. -Jake rapidamente soltou a arma das mãos e pegou no braço de Alice, a levando em direção ao corredor.

-Pra onde nós vamos?

-Até eles. Se vamos resolver isso de uma forma óbvia, a única maneira é de encontrar a morte. E se nós dois queremos morrer pelo outro, que morremos juntos. -A jovem havia gelado da cabeça aos pés após ter ouvido tal coisa. Ela nunca iria imaginar que uma atitude dessas iria partir dele.

-Jake, você está bêbado, vamos voltar, nós vamos encontrar outro jeito, Jake!

-NÃO! Alice, não! Não tem outro jeito, não vai ter volta! -Ele parou por um instante e segurou o rosto dela, fazendo-a fitá-lo. -Eu fiz isso, e quero acabar com isso. Eu não quero carregar a culpa de saber que você morreu pra me deixar vivo, eu não iria aguentar. Nós podemos tentar outro jeito, mas apenas pioraria as coisas. Não tem outra forma, mudar de país, de estado ou até mesmo de mundo não vai adiantar em nada. Eles não são simples agiotas, nunca foram. Precisamos disso, é o único jeito. Ok? -Alice, que já estava com a voz embargada há um longo tempo, começou a chorar após ter ouvido aquilo.

-Eu só não queria ter que te ver morrer. Só isso.

-Simples meu amor, iremos fechar os olhos, pois eu também não estou nem um pouco afim de ver você morrer, principalmente sabendo que a causa sou eu. -Ele voltou a puxá-la pelo braço, e então eles desceram as escadas o mais depressa que conseguiram, até chegarem ao salão do prédio. Ao saírem, Jake começou a andar mais depressa pelas ruas, e cada vez mais ia para as partes mais desertas da cidade e as vielas mais escuras, o que estava causando um pouco de aflição nos dois.

Quando chegaram, prontamente viram um trio encostado no final da última viela, rindo e bebendo.

-Olha só, quem chegou. Se não é o endividado que está nos devendo algumas boas e grandes centenas. Veio nos pagar? -O maior dos homens foi o primeiro a se pronunciar, chegando mais perto do casal. Alice apertava com força a mão de Jake, e ele se mantinha calado. -Eu acredito que ela seja a nossa recompensa, se for, muito obrigada por trazer a mercadoria em casa, iremos te deixar em paz. -Quando o mesmo homem tentou tocar o rosto de Alice, Jake despejou um soco no rosto do mesmo, o fazendo cambalear para os lados.

-Não. Ela não vai com vocês. Eu lembro muito bem do que vocês disseram pra mim, ou o dinheiro ou a vida, correto? Eu escolhi a vida.

-Ainda bem que tomou essa decisão, pois pelo presentinho que eu recebi agora você escolhendo ou não a vida eu iria acabar com ela agora mesmo. -O homem apontou a arma para a cabeça de Jake e Alice gritou, afastando o corpo de seu namorado para o lado antes que ele atirasse.

-NÃO! Espere! Não é só ele que vai, eu não quero ver ele morrer. Eu vou também. Não mate ele antes de mim.

-Era isso que eu iria tentar terminar de falar. Ela quer morrer comigo, então eu iria fazer meu último pedido pra vocês, o que não é mais tempo nem mais dinheiro: algum de vocês mate ela comigo.

-Sem problemas. -Um dos homens que estavam encostados na parede se pronunciou, indo em direção ao casal e apontando de longe a arma para a cabeça de Alice.

-Bob, faça as honras. -Jake olhou para o homem que havia recebido a agressão e ele, rindo ironicamente para o rapaz, pôs-se ao lado do comparsa, na mesma posição que ele, a única diferença é que a arma estava apontada para a cabeça de Jake.

-Vou deixar vocês dois terem a última frase de vocês.

-Eu te amo. -Alice e Jake falaram no mesmo momento, e então, dois sons ensurdecedores foram escutados daquela pequena viela.

A dívida havia sido finalmente paga.