Mar Negro escrita por Vendetta23


Capítulo 1
Execução




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Cuspi na poça vermelha que se espalhava mais a cada segundo pelo chão de linóleo preto. O corpo estava caído grotescamente no meio da cabine do comandante, não havia nada ao redor dele além do sangue viscoso. Eu podia jurar que vi ele tirando uma arma.

O som abafado da correria que tomava conta do navio voltou lentamente aos meus ouvidos à medida que eu relaxava meu dedo no gatilho, minha visão ganhou foco. Virei-me e disparei pela porta da cabine, descendo as escadas o mais rápido de pude até os andares mais baixos do navio. Mentalizei as plantas da estrutura, tentando me localizar e chegar à sala de máquinas.

“Como foram as coisas lá em cima?” me dei conta de que estava de frente para Thiago, o vapor das máquinas produzia um calor infernal que tinha deixado seu rosto pingando de suor, ele apontava o rifle para cerca de vinte tripulantes rendidos, sentados no chão da sala com a cabeça baixa.

“As coisas...” abaixei o tom de voz até que ela virasse um sussurro e fiquei de costas para os tripulantes, a última coisa da qual precisávamos agora era de pânico “Não foram muito bem”, revirei os olhos, tinha planejado uma operação limpa. Respirei fundo, minha pele fervia. “Mudança de planos” eu disse, admitindo que estava perdendo a cabeça de verdade “Vamos ficar com essa belezinha, despache os tripulantes nos botes” dei dois tapas no ombro de Thiago, seus olhos reluziram, eu sabia que ele ia gostar da ideia. Saí da sala de máquinas, deixando-o para tomar conta desses detalhes, o ar fresco me recebeu no caminho de volta para a sala do comandante.

Que sujeira... Coloquei a arma sobre o painel e fui revistar a cabine à procura de panos e um balde. Eu tinha passado meses estudando a planta do NOTURNO (as letras azuis garrafais fizeram minha boca salivar à uma milha de distância, enquanto o cercávamos com os botes) e com frequência me peguei fantasiando em, além de secá-lo (nome irônico para o roubo de um navio), tomá-lo. Enchi o balde com água fria. Não é grande coisa, admito, tem cerca de quinze anos e porte médio, o casco está remendado aonde não está enferrujado, mas a cada vez que punha meus olhos nele em vários portos, sua imagem me assombrava por dias. Abri o pequeno cantil pendurado em meu cinto e dei dois bons goles para suportar aquela cena, principalmente o cheiro. Esfreguei o chão por uma eternidade até todo o vermelho sair, coloquei o corpo dentro de um dos sacos que eles guardavam perto do kit de primeiros socorros e fechei o zíper.

“Rosa, rosa...” Thiago entrara na cabine, passos lentos “Todos ilegais” ele soltou um suspiro “Não vão dar um pio quando chegarem em terra”.

“Eu já sabia, tinha o perfil de todos eles” despejei o balde cheio de sangue na pia e comecei a lavar as mãos. Ele deve pensar que eu sou idiota para não chegar os tripulantes.

“Eu acho que essa foi a operação mais bonita que já fizemos” ele então encarou o saco de óbito “... Menos por esse detalhe”, ele me indagou com os olhos, mas eu não tinha que responder nada. Uma das vantagens de se viver no mar e ser dona do seu próprio negócio é que não tenho rabo preso com ninguém.

A noite caiu muito depois de Thiago ter ido embora, desestimulado pelo meu silêncio. Cuidei para que o barco seguisse as coordenadas que eu desejava, não fiz mais nada além de jogá-lo cada vez mais dentro do oceano, longe de qualquer pedaço de terra. Essa era outra vantagem minha, não precisar ir para lugar algum. Desafivelei o cinto e o joguei sobre o painel, peguei meu cantil e meu fumo, enrolei-o suavemente na seda e puxei tragada após tragada de uma fumaça doce, enquanto não podia ver nada além do mar negro à minha frente.


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