O Portal escrita por Lara Signorini


Capítulo 2
Capítulo 2




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Essa cidade me dá arrepios. Tudo nela é sem graça e antigo. Desde as casas e os postes de luz até os carros e as estradas. Parece uma daquelas cidades abandonadas, onde a cor não existe como se estivéssemos em Halloweentown 2. Aposto que não pega sinal nos celulares aqui, mas como vou saber, se o meu foi confiscado pela Julie?

Começou a garoar, e eu fui obrigada a fechar o vidro da janela do carro. Então me dirigi à Julie, com a intenção de puxar assunto, já que só ela o fizera desde o início da viagem.

– Falta muito para chegarmos?

– Não, acho que daqui a uma meia hora, no mais tardar, estaremos lá.

– Que bom, porque eu estou morrendo de fome – Eu disse, forçando um sorriso.

Ela me olhou e novamente esboçou um lindo sorriso em seu rosto, seguido por um: - Eu também.

E assim se foram longos e silenciosos trinta minutos de curvas e emaranhamentos para dentro de estradas que pareciam um labirinto. Eu não conseguiria achar o caminho de volta nem com o melhor dos GPS’s. Depois de desfilar por curvas que pareciam infinitas, chegamos no portão de um casarão antigo, cercado por um pátio imenso e florido, com um lago na frente. Os portões foram abertos e contornamos o lago até chegar às escadas que levam ao saguão. Descemos do carro e subimos as escadas correndo, não conseguindo evitar o banho de chuva. A porta se abriu imediatamente, e uma meia dúzia de freiras surgiu com toalhas e dois conjuntos de pijamas. Uma onda de gratidão me preencheu, e eu me senti como se estivesse aos cuidados de Verônica novamente.

Entramos no casarão, que parecia três vezes maior por dentro. A lareira na sala estava ligada, e o calor logo me consumiu. Não consigo imaginar como o clima mudou tão drasticamente de uma cidade para outra, mas isso também não me importa.

Uma freira retornou à sala com uma bandeja cheia de comida. Peguei meu chocolate quente e o adocei, assim como Julie fez com seu chá. Peguei uma fatia de bolo e me surpreendi com a rapidez que o ingeri. Eu estava faminta.

Depois de comer, uma freira demasiado alta e esbelta nos levou aos nossos quartos, que ficavam no segundo andar. Todos os outros quartos estavam silenciosos, e eu presumi que já estivessem se recolhido.

– Que horas são? – Perguntei à Julie.

– Oito e meia. Aqui no orfanato eles têm toque de recolher. Mais uma vantagem para você, pois como hóspede não precisa se preocupar com o horário de dormir, e...

– Desde que não atrapalhe quem deve dormir cedo – Disse a freira, cortando Julie. E também não deve chegar muito tarde, no máximo às 23h00min. Você é uma estudante ainda.

Nosso quarto era aconchegante. Era quente e cheirava à lavanda. Mas agora tenho que me acostumar a dividi-lo com a Julie. Ela tem que ficar para me orientar, é uma guardiã do governo que vai dedicar anos de sua vida me auxiliando. Eu não compreendi isso, mas também não contestei. Está tudo muito confuso pra mim, e a última coisa que quero é trazer mais problema para a minha vida. Eu preciso esquecer o passado, deixar para trás tudo o que na verdade nunca me pertenceu, inclusive minha família. Amanhã começa minhas aulas na escola nova, e já não basta trocar de escola, ainda tem que ser no meio do semestre. Tudo bem, vou fazer tudo o que estiver ao meu alcance para ser só mais uma aluna normal, e não uma hóspede do orfanato Darwin. Meu nome é Anny Clark, e ninguém vai me derrubar.

Já havia tomado banho e estava me aprontando para dormir quando Julie me chamou.

– Seu celular – Ela disse, alcançando-o para mim. - Tive que mandar para a polícia examinar, mas peguei de volta. Se nem eu consigo viver sem meu celular, imagina uma adolescente? – Ela disse, sorrindo.

– Obrigada, eu realmente vou precisar. Preciso excluir minha conta no facebook. Se quero recomeçar, tenho que começar pela minha vida pública virtual.

Eu estava disposta a esquecer tudo, e o fato de estar lidando tão friamente com essa situação fazia com que eu me sentisse ainda pior. Eu não tinha os melhores pais do mundo, mas eles me amavam, e isso era o mais importante.

Quando finalmente me deitei me senti esmagada, como que se a gravidade do planeta tivesse sido duplicada.


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