Legacy escrita por Skye


Capítulo 34
Capítulo 34 - "Sneaking around for good"




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Antes que a visita das famílias de fato acontecesse, eu ainda teria de sobreviver a mais uma semana na Cadillac. Surpreendentemente, esta semana começara muito bem. Depois da aula de filosofia com Nat, consegui chegar ao Cadilab pela terceira vez consecutiva sem ser atingida por uma bola de futebol americano. E, ao chegar lá, encontrei meu parceiro de laboratório, Peter Lewinsky, mais uma vez bem-humorado e repleto de planejamentos na cabeça para me ajudar.

— Tenho um dispositivo que seria capaz de armazenar as filmagens dos pelo menos últimos 30 dias da câmera da sala da Dianne. – Peter contou. – Precisaríamos de, no mínimo, cinco minutos com o computador central que armazena as filmagens. – disse. – Posso ajudar no planejamento dessa parte também, mas creio que seria melhor se tivéssemos mais de uma mente pensando junto, para que nenhum detalhe passe por esquecido.

— Concordo plenamente. – eu falei. – Em quais dias você está livre à noite?

— Nessa semana, apenas na sexta. – ele disse. – Mas você se importaria se nos reuníssemos somente na semana que vem? – Peter pediu. – Como nessa tem a visita das famílias, queria organizar algumas coisas.

— Claro, sem problemas. – concordei. Talvez essa decisão fosse melhor para mim também. – Não precisamos ter pressa.

Naquela segunda, quando cheguei ao dormitório no final da tarde, encontrei uma carta da Zeta Eta Beta direcionada a mim que informava que poderíamos começar a participar dos encontros a partir daquela quarta-feira, mesmo que ainda não fossemos consideradas membros efetivos da irmandade. Diferentemente da maioria das vezes, eu e Charlie chegamos em casa cedo naquele dia, decidi então tentar puxar alguns assuntos acumulados com ela.

— Charlie. – chamei ela um pouco mais tarde, depois de já termos tomado banho, organizado nossos afazeres e outras coisas relacionadas. – Podemos conversar um pouco?

— Seria ótimo. – ela disse. Em seguida, sentamos lado a lado em minha cama.

— Eu realmente acho que você deveria considerar a hipótese de conversar com Brett. – fui direto ao ponto.

— Como assim? – Charlie logo questionou. – Por que isso do nada?

— Conversei com ele há uns dias e acho que o lado dele da história merece ser escutado. – contei. – Ele se sente péssimo, Charlie, e sabe que o maior erro que cometeu foi com você. – falei. – Mas ao mesmo tempo ele também está muito assustado e seria maldade não ajuda-lo.

— Não ajuda-lo com o que? – ela perguntou.

— Ninguém sabe que ele é gay além de você, eu e o garoto com quem ele estava naquela noite. – revelei. – E, não sei como explicar, mas é como se ele tentasse se esforçar para não ser. – eu disse. – Não tiro sua razão por estar magoada, só estou pedindo para reconsiderar.

— Tudo bem, eu irei reconsiderar. – Charlie concordou, para minha surpresa.

— Sério? – perguntei.

— Não prometo que de imediato, mas uma hora tudo tem que se resolver. – ela disse.

— Espero que você esteja certa. – comentei, incluindo-me diretamente naquela frase. – Obrigada, Charlie. – agradeci. – Aliás, falando nisso, por que você não me disse que conhecia o Peter?

— Quem é Peter? – Charlie perguntou.

— Lembra que eu disse naquele dia em que a Bri estava aqui que conversaria com o Peter da minha aula de química para nos ajudar? – lembrei. – Esse Peter, ele disse que te conhece.

— Calma, Peter Lewinsky?! – ela questionou. – Nós fazemos uma aula juntos, ele é o cara mais inteligente que eu conheci na vida.

— Exatamente esse. – confirmei. – O que você acha dele?

— Ele é muito divertido e consideravelmente fofo. – Charlie disse, fazendo com que eu risse, já que essas jamais seriam as primeiras palavras que eu usaria para defini-lo. – Por que a risada?

— Nada. – falei. – Só acho que tivemos primeiras impressões muito distintas sobre Peter, mas ele realmente é um cara legal.

— Ok, eu concordo, mas se é para falarmos sobre caras legais, então eu gostaria de fazer as perguntas agora. – ela falou. – Você já falou com o Seth depois da descoberta?

Estava torcendo para que o assunto passasse despercebido, entretanto eu estaria sendo ingênua se não esperasse que Charlie eventualmente lembrasse do ocorrido. Desde que encontrara Seth naquele final de tarde, não havíamos mais nos visto, mas no começo da manhã daquela segunda ele me enviara uma mensagem perguntado se eu gostaria de fazer algo naquela semana, a qual eu respondi dizendo que não tinha certeza, já que estaria ocupada. Certamente eu intensificara o quão ocupada eu estaria, mas eu ainda não me sentia confortável o suficiente. E contei tudo isso para Charlie naquele momento.

— Amy, entendo que você esteja estranhando a situação ainda, mas talvez seja hora de simplesmente ignorar tudo isso. – Charlie aconselhou. – Seth tem cara de ser o tipo de pessoa que esperaria todo o tempo do mundo, mesmo que você agisse de forma estranha, porém você não acha que seria injusto fazê-lo esperar sem um motivo concreto? – ela perguntou. – Porque se você está interessada e ele está interessado, não existe um motivo para negar qualquer coisa.

— Eu juro que sei, Charlie. – concordei. – Só não consigo me sentir segura para estar com ele e não pensar nisso.

— Então joga as cartas na mesa e conversa com ele sobre isso. – Charlie sugeriu.

— Ele me acharia completamente louca e nem teríamos o que conversar. – falei.

— Não sei, mas temos que dar um jeito nos seus sentimentos quanto a isso. – ela falou. – Porque até eu estou começando a ficar agoniada.

Eu sabia que Charlie tinha razão e estava começando a me sentir até um pouco imatura por estar me importando com aquilo por tanto tempo. Entretanto, minha preocupação maior naquela semana deveria ser a visita da minha família, a qual me causava simultaneamente ansiedade e nervosismo, por algum motivo desconhecido.

A reunião da ZEB na quarta-feira não foi nada demais. Alguns assuntos paroquiais foram tratados e fomos informadas de que durante toda a tarde de sábado haveria uma recepção ali na casa para os familiares que quisessem conhecer a irmandade. Não tinha como saber se eu compareceria, pois eu nem sabia ainda como contar para minha família sobre a Zeta Eta Beta, mas seria necessário, já que fora uma exigência da bolsa de estudos e aparentemente ninguém tinha noção disso.

No sábado de manhã, meu coração era uma mistura de sentimentos. Estava ao mesmo tempo agoniada por não ter resolvido as coisas com Seth, ansiosa pela visita e nervosa com tudo que poderia acontecer naquele dia. Meu pai e minha avó chegariam por volta do meio dia. Ainda eram 10 horas e eu terminava de secar o cabelo quando Charlie avisou que estava saindo. Os pais dela iriam encontrar com ela e Josh na casa da Omega Gamma, mas havíamos combinado de no final da tarde todos irmos até o dormitório para nos conhecermos. Minutos depois que Charlie havia saído, ouvi uma batida na porta. Como eu praticamente já estava pronta, larguei o secador e me dirigi até a entrada do quarto, esperando que fosse Charlie esquecida de alguma coisa.

— Charlie? – chamei ao mesmo tempo em que abria a porta, talvez ela tivesse esquecido a chave.

— Não. – o par de olhos verde-escuro mais profundos daquela universidade respondeu assim que a porta se abriu. – Só o cara que você vem evitando há quase duas semanas. – Seth disse esboçando um leve sorriso. – Encontrei Charlie saindo do prédio, ela disse que eu deveria subir.

— Você quer entrar? – convidei. Agora eu não tinha mais opção, e, sinceramente, dentro de mim eu estava feliz por não ter.

— Posso? – Seth quis confirmar. Eu abri espaço para que ele atravessasse a porta e então fechei a mesma. – Pensei em te convidar para almoçar e quem sabe poderíamos conversar.

— Eu juro que gostaria de aceitar esse convite. – falei, enquanto me sentava na beirada da minha cama. – Mas hoje é dia de visita dos familiares, então preciso passar o dia com meu pai e minha avó.

— Ah, é verdade, esqueci que era hoje. – ele disse. – Que horas sua família chega?

— Disseram que perto do meio dia. – respondi. – E irão embora no final da tarde, já que a viagem não é muito rápida.

— Então será que podemos conversar agora? – Seth pediu, após olhar o horário em seu relógio. – Se quiser, nem precisa falar nada, eu só gostaria de dizer algumas coisas.

— Podemos conversar agora, sim. – concordei, fazendo um gesto para que ele se sentasse ao meu lado.

— Obrigado. – Seth agradeceu, em seguida sentando-se ao meu lado na beirada da cama. – Só queria dizer, Amy, que talvez tenha sido uma atitude precipitada ter te beijado naquele primeiro momento, mas só fiz isso porque o instinto dentro de mim dizia que eu deveria. – começou a falar. – E, se me permite ser sincero, eu não me arrependo nem um pouco. – sorri involuntariamente ao ouvir aquilo.

— Nem eu. – também disse, fazendo com que Seth retribuísse o sorriso. Minha perna estava encostada com a dele, sua mão estava apoiada sobre a própria coxa, e, quase de forma automática, coloquei a minha mão direita por cima da dele, que delicadamente entrelaçou nossos dedos.

— Às vezes as pessoas não são o que esperamos ou o que acreditamos que elas sejam. – ele falou. – E isso explica o fato de eu ter namorado com a Jenn. – Seth disse para meu espanto, sem cortar o contato visual por sequer um segundo.

— Charlie te contou?! – perguntei, sem nem me esforçar para disfarçar a surpresa.

— Não importa. – Seth disse, rindo fraco. – Só não quero seja um obstáculo entre nós. – ele falou. – Vou entender se você não quiser alguma coisa mais séria, ou se de alguma forma eu também não for o que você esperava. – continuou. – Mas não permitirei que uma coisa tão passada e totalmente inexistente faça com que você se sinta desconfortável comigo.

— Seth, eu nem sei o que te dizer. – reagi da forma mais sincera possível.

— Você não precisa dizer nada. – ele reforçou, virando o rosto completamente na minha direção dessa vez, fazendo com que ficássemos frente a frente.

— Você é muito mais do que qualquer expectativa que eu poderia criar sobre alguém. – falei, levando minha mão livre até a nuca dele, e, em seguida, fazendo o mesmo com a mão direita também.

— Não tenho como não dizer o mesmo sobre você. – Seth disse, apoiando suas mãos em minha cintura e trazendo-me com cuidado para mais perto dele. – Eu gosto muito de estar com você, Amy. – sorri mais uma vez ao ouvir o que ele dizia. Seth inacreditavelmente parecia sempre saber a coisa certa a se fazer.

Quase sem perceber, de repente a distância que separava minha boca da dele já não existia mais. Mais intensamente do que qualquer uma das outras vezes, os movimentos pareciam acontecer em perfeita sincronia. Quando vi, Seth já me deitava sobre a cama ao mesmo tempo em que meus dedos passeavam pelo seu pescoço e garantiam a proximidade de nossos lábios. As mãos dele percorriam a lateral do meu corpo, causando uma sensação de arrepios que era novidade. O fato de aquela cama não ter espaço suficiente para duas pessoas pareceu pela primeira vez algo positivo. Talvez aquele momento durasse para sempre se tivéssemos como optar, era quase como se não nos víssemos há meses, apesar de que, analisando por esse ângulo, aquelas duas semanas haviam parecido uma eternidade. Somente quando, de fato, não existia mais nenhuma fonte de oxigênio para prosseguir sem interrupções, nossos rostos se desvencilharam. Seth ainda selou nossos lábios repetidas vezes antes de encontrarmos uma posição que fosse confortável para nós dois naquele espaço apertado. Fui envolvida por seu braço direito e virei de lado contra a parede, tornando possível que nós dois coubéssemos ali, desde que continuássemos daquele jeito, extremamente juntos e abraçados. Ainda deitei minha cabeça sobre a região do tórax de Seth, que estava parcialmente sentado e depositou um beijo em minha testa.

— Desculpa por não ter explicado tudo antes e evitado tudo isso. – Seth disse. – Mas em minha defesa, não parecia muito legal falar sobre uma ex-namorada para a garota incrível por quem eu estou interessado, mesmo ela sendo influente na irmandade dela.

— Desculpa por ter reagido dessa forma. – também pedi. – E você não precisa se justificar por nada, ainda mais tendo vindo aqui dizer todas essas coisas, poucas pessoas na vida teriam feito isso.

— Aprendi na pele que não se ganha nada agindo por orgulho. – contou. – E não há nada a se temer quando o algo ou alguém vale a pena e o risco.

— Você é inacreditável. – eu falei sorrindo e virando o rosto para poder fita-lo. Ele sorriu em resposta.

— Desde que você acredite no quanto eu gosto de você, ainda está valendo. – Seth brincou, fazendo com que meu sorriso se mantivesse no rosto.

Seth usava um moletom cinza-escuro naquela manhã consideravelmente fria de outono, o que tornava ainda mais confortável estar envolvida por seus braços. Ter aquela conversa com ele provavelmente era a melhor coisa que poderia ter acontecido antes de o final de semana realmente começar. Ainda planejava que ficássemos ali juntos mais um tempo, eu não tinha nada para fazer até a chegada da minha família e ainda nem eram 11 horas. Seguros de que não corríamos nenhum risco, permanecemos daquela maneira: entre beijos, abraços, palavras e tranquilidade. Entretanto, da forma mais escandalosa possível, fomos interrompidos por uma forte batida na porta.

— AMY?! – ouvi a voz de minha avó gritando. – Surpresa, querida! – ela anunciou. – Somos nós, chegando mais cedo, abre logo!


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