Legacy escrita por Skye


Capítulo 27
Capítulo 27 - "Soulkeeper"




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Eu ainda estava perplexa. Ao mesmo tempo que inúmeras coisas pareciam se encaixar, novos problemas pareciam surgir, como o de o por quê diabos eu não havia recebido minha carta da Sigma Psi se a própria presidente afirmava tê-la enviado.

— Eu sabia que algo estava muito errado. – Josh foi o primeiro a voltar a falar.

— Juro pela minha vida que enviei essa carta, Amy. – Bri agora falava diretamente para mim. – Não tínhamos motivos para não querer que você se juntasse a nós, muito pelo contrário. – ela disse. – Por isso fiquei tão chocada ao ver que você tinha escolhido a Zeta Eta Beta.

— Não foi bem uma escolha. – contei. – Foi minha única opção.

— Única opção? – ela questionou.

— Amy recebeu uma única carta. – Josh contou. – Isso vem me intrigando desde o dia em quem ela me contou, não faz nenhum sentido.

— Não faz nenhum sentido. – Bri repetiu. – Até porque a sua carta estava no mesmo envelope que a de Charlie e eu a entreguei nas mãos da Dianne, a mulher que controla toda a recepção do Sistema Grego. – complementou. – Temos que fazer alguma coisa, algo está muito errado nisso tudo.

— Eu concordo. – Josh disse. – Só que antes deveríamos descobrir o que está errado.

— Como faríamos isso? – perguntei. Naquela altura da montanha de problemas indecifráveis, eu estava praticamente disposta a fazer qualquer coisa.

— Temos que juntar tudo primeiro. – ele respondeu. – Bri, como funciona o sistema do envio das cartas?

— Todas as cartas têm que ser entregues na sala da Dianne até determinado horário da quinta-feira de entregas. – Bri explicou. – Cada irmandade e fraternidade é responsável por escrevê-las, envelopa-las e endereça-las. – continuou. – Quando você entrega, elas são todas computadas em um arquivo para garantir que foram deixadas lá.

— Então teoricamente deve existir um arquivo no computador da Dianne afirmando que você entregou a carta da Amy, certo? – Josh perguntou.

— Certo. – Bri confirmou. – Então a primeira coisa que deveríamos fazer é...

— Falar com a Dianne. – os dois completaram a frase juntos. Não sabia dizer se esse era um momento desconfortável ou extremamente fofo, mas eles se encararam como se não tivessem a intenção de ter feito isso.

— Parece um bom plano. – comentei, na tentativa de ajudar em algo.

Segunda era um dos dias em que eu tinha algumas aulas durante a tarde, então combinamos de ir até o hall de recepção às 17 horas. Foi difícil prestar atenção em alguma coisa ao longo desse tempo, mas cada vez mais eu tentava me esforçar para não distrair demais meus pensamentos.

Bri e eu nos encontramos no horário marcado, preferirmos ir apenas nós duas porque teoricamente Josh não tinha nada a ver com aquilo. Ela foi explicando enquanto caminhávamos que havia feito um único envelope e dentro colocado minha carta e a de Charlie, porque morávamos no mesmo quarto, então, não havia possibilidade correta de somente ela ter recebido, pois estava direcionado a nós duas.

— Boa tarde, meninas. – Dianne cumprimentou de trás da sua mesa assim que atravessamos a porta da sala. – No que posso ajuda-las?

— Uma coisa muito estranha aconteceu, Dianne. – Bri foi direto ao ponto. – Você lembra quando vim aqui na última quinta-feira entregar as cartas?

— Claro. – Dianne respondeu.

— Então, eu te entreguei exatamente quatro cartas e todas elas foram computadas. – Bri explicou. – Só que uma delas não foi entregue.

— Não tem como isso acontecer, o comitê do Sistema Grego é extremamente organizado. – Dianne logo rebateu.

— Vou ignorar essa mentira por não ser o ponto em questão. – Bri disse. Talvez ela devesse ser um pouco mais gentil ao tentar esclarecer informações, mas eu entendia o motivo da ferocidade nas palavras dela. – Gostaria de ter acesso ao sistema de cartas da Sigma Psi para poder reivindicar o ocorrido.

— Pode ficar à vontade para checar, entretanto é impossível que reivindicações sejam feitas depois do início da Hell Week. – ao mesmo tempo em que disse isso, Dianne nos deu espaço para checar a tela do computador, na qual ela já tinha aberto a página das cartas da Sigma Psi. Somente três nomes estavam ali, o de Charlie e outras duas meninas, que não eram eu.

— Eu vi você escrevendo o nome da Amy nessa exata mesma tela na quinta-feira. – Bri era firme em suas palavras.

— Você está querendo insinuar alguma coisa? – Dianne questionou. Bri apenas a encarou em silêncio.

— Obrigada pela ajuda. – agradeceu, claramente tentando manter a calma. Em seguida, nos retiramos da sala de Dianne, sem dizer mais nada.

A expressão de Bri demonstrava clara irritação, ela sentou em um dos degraus da escada que levava até o hall principal assim que ultrapassamos a última porta do local. Eu sinceramente não sabia o que estava sentindo, toda a confusão havia se tornado ainda mais estranha depois de eu descobrir aquilo. Parte de mim estava feliz por saber que o que eu sentira dentro da Sigma Psi não era coisa da minha cabeça, mas algo me dizia que seria difícil reverter aquilo, mesmo se tratando de uma injustiça.

— Talvez devêssemos ter sido mais calmas lá dentro. – disse para Bri, sentando ao lado dela e falando na primeira pessoa do plural, ainda que eu não tivesse participado do diálogo com Dianne.

— Desculpa se soou um pouco impulsivo, mas juro que sabia o que estava fazendo. – Bri falou. – Dianne não é nem um pouco confiável, tenho certeza que ela sabe de alguma coisa que não sabemos quanto a isso.

— Ela já fez alguma coisa do tipo para você pensar isso? – perguntei.

— De vez em quando algumas coisas suspeitas acontecem e coincidentemente a maioria delas prejudica a Sigma Psi. – contou. – Dianne é a grande responsável do Comitê do Sistema Grego e uma ex-Zeta Eta Beta, ninguém pode nos culpar por associar os fatos. – ela continuou. – Não sei se você já chegou nessa parte da competição que existe no Sistema Grego, mas as irmandades que competem pelo primeiro lugar do ranking são a Zeta Eta Beta e a Ioda Lambda Mu.

— Ouvi alguma coisa sobre isso no dia das visitas pelas casas. – comentei ao lembrar.

— Só que a Ioda Lambda Mu é uma droga. – Bri revelou. – Tudo que elas fazem é tentar ser alguma coisa que não são e muitas vezes até copiam a Zeta Eta Beta. – ela disse. – E nós da Sigma Psi, não ligamos para nada disso, porque estar ou não estar no topo do ranking do Sistema Grego não muda qualquer coisa que acontece dentro da irmandade. – falou. – Porém, sem querer querendo, acabamos representando uma ameaça para a Zeta Eta Beta, porque somos fortes em diversos aspectos e isso conspira a nosso favor em alguns dos eventos realizados durante o ano que valem pontos. – tudo aquilo era um pouco complicado de entender de uma vez só, mas pelo menos eu conseguia compreender o que ela falava.

— Mas tudo isso parece estranho, eu não faria ideia de que Dianne era uma Zeta Eta Beta se você não me contasse. – falei. – E acho que eu esperaria que ela expusesse um pouco mais esse título, já que as meninas que conheci até agora não parecem muito discretas.

— Tem certas pessoas que acabam se tornando loucas por irmandades e fraternidades, Amy. – Bri disse. – Não sei se você consegue compreender o que eu quero dizer, mas por exemplo, imagino que Dianne tenha passado sua vida universitária inteira dando prioridade a ZEB e não aos estudos ou qualquer outra coisa. – ela supôs. – E acabar trabalhando no comitê de uma universidade deve ser considerado um fracasso, principalmente em uma irmandade como a ZEB que visa extremos padrões de vida.

— Acho que eu entendi. – afirmei. – No caso, não seria muito bom para a ZEB expor que ela é um ex-membro.

— Exatamente. – concordou. – Creio que elas só procuram ela quando precisam de favores sujos, tenho quase total certeza que a situação da carta envolve alguma coisa assim.

— Alguma coisa assim como? – perguntei.

— Assim do tipo algum acordo feito entre ela e a ZEB, que as beneficiem. – a própria Bri parecia estar tentando desvendar o enigma em sua cabeça ao mesmo tempo que explicava. – Ano passado recebemos uma proibição de festas por dois meses devido uma falsa denúncia anônima que foi falsamente comprovada por Dianne. – Bri exemplificou. – Algumas outras coisas menores já tinham acontecido antes disso, mas foi nessa ocasião que tudo se comprovou.

— Não sei nem o que dizer, não achei que o nível de competição fosse tão grande desse jeito. – falei verdadeiramente assustada. – E tudo se encaixa, desde o primeiro dia senti algo estranho na Dianne, talvez uma falsa tentativa de agradar as pessoas.

— Tudo que acompanha a palavra falsa pode ser relacionado a ela. – Bri disse, expondo a indignação no tom de voz.

— Mas o caso da minha carta parece ser um tanto mais pessoal e particular, você não acha? – questionei. – Não estou querendo duvidar da sua teoria ou de qualquer coisa que você tenha dito, só parece um pouco diferente.

— Eu sei que é. – Bri concordou. – Mas depois da maneira cínica com a qual ela nos tratou ali dentro, tenho certeza que está envolvida.   

— Como você pode ter tanta certeza? – perguntei.

— Se eu te contasse como, você acreditaria. – ela disse. – Só que para isso eu teria que revelar um segredo e preciso que você jure não revela-lo a ninguém.

— Eu juro, Bri. – falei firme e olhando diretamente para ela.

— No meu primeiro ano, também não recebi uma carta da Sigma Psi. – Bri contou e eu imediatamente alterei minha expressão, intrigada com aquilo. – A situação foi exatamente a mesma, uma única carta da Zeta Eta Beta. – continuou. – Entretanto, eu fui um pouco mais descarada do que você e quis tirar satisfações com a Kayla, que era presidente da Sigma Psi na época, para mim pouco importava se eu fosse perder alguma coisa, não queria entrar na Zeta Eta Beta em nenhuma hipótese.

— Eu queria muito ter falado com você, mas não podia me arriscar por causa da bolsa de estudos. – admiti.

— O que tem a bolsa de estudos? – Bri perguntou.

— Ela exige que eu ingresse alguma irmandade, como forma de provar que posso ter uma experiência completa na universidade e ainda manter as médias. – expliquei.

— Outra coisa estranha. – ela comentou. – Nunca vi isso.

— Eu só contei para o Josh sobre a carta porque ele parecia a única pessoa apta a me auxiliar em alguma coisa e que não estaria diretamente envolvida. – falei. Bri apenas me encarou, aparentando estar refletindo sobre alguma coisa que ainda precisava de conclusão. – Posso fazer mais uma pergunta?

— Fique à vontade. – ela respondeu.

— O que aconteceu depois de você ir falar com a Kayla? – perguntei.  

— Tive sorte de ter ido falar de imediato com ela, porque a Hell Week ainda não havia começado então mudanças ainda poderiam ser feitas. – Bri disse. – Lembro nitidamente da indignação dela. – a situação realmente parecia semelhante. – Kayla acabou resolvendo tudo, acho que isso envolveu algumas ameaças a Dianne, não tínhamos nada a perder se quiséssemos acusa-la de ter feito coisas erradas com a minha carta. – contou.

— Eu toparia qualquer coisa se não fosse arriscar minha bolsa de estudos. – falei. – Realmente não quero entrar na Zeta Eta Beta, mas prefiro isso a perder minha chance aqui na universidade.

— Eu entendo, Amy. – Bri disse. – E estou prometendo te ajudar a resolver isso, você se encaixaria perfeitamente com a gente, nem consigo te imaginar na Zeta Eta Beta.

— Obrigada, Bri, de verdade. – agradeci sincera. Por algum motivo, eu esperava esse tipo de atitude vindo dela. – Só tenho mais uma pergunta. – falei. – Por que você e por que eu?

— Não tenho como saber o porquê de você. – ela disse. – Mas eu sou um legado da Zeta Eta Beta. – revelou. – Isso faz parte do segredo, não sei bem ao certo porque estou te contando tão abertamente, mas acredito que não seja por acaso que estejamos compartilhando da mesma situação e eu quero ajudar de verdade.

— Um legado?! – questionei, lembrando da explicação de Vicky no porão da ZEB sobre isso. – Você quer dizer que alguém da sua família foi uma ZEB?

— Sim, minha mãe. – ela contou. – Apesar de eu a considerar a pessoa mais legal do mundo e não entender como isso foi possível, ela era uma ZEB. – comentou. – Desde o começo deixei claro que não tinha interesse de me juntar a elas, mas minha mãe provavelmente foi uma baita membro, porque elas queriam a qualquer custo que eu me juntasse à irmandade.

— Isso explica muita coisa, - conclui surpresa. – Por um lado, explica toda a sua situação, mas só faz com que eu gere mais dúvidas sobre a minha. – falei. – Não consigo pensar em um motivo tão plausível caso tudo isso tenha sido planejado pela ZEB.

— Você não é um legado? – Bri perguntou.

— Não. – afirmei. – Meus pais estudaram aqui, mas nenhum deles participou de alguma irmandade ou fraternidade.

— Legados podem ser avós também, às vezes até bisa e tetaravós. – ela contou. – Talvez você devesse ter uma conversa sobre isso com a sua mãe.

— Eu não posso. – avisei.

— Por que? – Bri perguntou. – Não é um assunto tão delicado.

— Minha mãe faleceu. – contei, tentando evitar qualquer mudança na entonação.

— Uou, sinto muito. – ela se desculpou.

— Obrigada, mas não se preocupa, já estou acostumada, foi há muito tempo. – falei.

— Eu não fazia ideia, Amy. – Bri parecia se sentir culpada por não ter pensado na possibilidade.

— Não teria como fazer, não se preocupa. – eu disse, tentando tranquiliza-la quanto àquilo.

— Enfim, vamos pensar em um plano. – ela falou. – Não adianta nada tentarmos resolver algo durante essa semana, nada pode ser mudado no período da Hell Week, com exceção da eliminação de candidatos. – alertou. – Porém, iremos resolver isso, eu não tolero injustiças.

E foi assim que encerramos aquela conversa. Acreditei nas palavras de Bri e toda a sua preocupação me fizeram refletir sobre como ela parecia ser uma pessoa ideal para presidir uma irmandade. As recentes descobertas me deixaram esperançosa para resolver alguns dos meus problemas, fora bom saber que Bri também havia passado por aquilo, estava começando a sentir que existia alguma perseguição estranha sobre mim, e, ao ouvir a história dela, senti pela primeira vez que existia alguém que talvez pudesse realmente entender o que estava acontecendo comigo.

A parte ruim era que a maioria das perguntas que envolviam meus problemas pareciam ser sempre respondidas com outras perguntas, como “será que a ZEB estava mesmo por trás de toda a situação da carta?” e “por que eu?”, não conseguia entender o que eu tinha de tão especial. E, acho que não caberia a ninguém desvendar esse mistério naquela semana. Antes de pensar em qualquer outra coisa, eu precisava sobreviver à Hell Week.

Ou então poderia, pela milésima vez, perder minha bolsa de estudos.  


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