Legacy escrita por Skye


Capítulo 16
Capítulo 16 - "I get by with a little help from my friend(s)"




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Meu cérebro havia quebrado em milhões de pedaços ao abrir minha única carta. Achava que tinha entendido um pouco sobre a confusão que era o Sistema Grego, mas claramente eu não fazia ideia. Não sabia nem ao menos o que parecia mais estranho: ter recebido uma carta da Zeta Eta Beta, ou não ter recebido uma carta da Sigma Psi. Eu simplesmente encarava a folha que segurava, sem saber o que fazer. Não sabia definir o que eu sentia, eu não era capaz sequer de definir o que estava acontecendo.  

Cinco minutos atrás, eu podia estar determinada a respeitar totalmente a política do sigilo, mas não tinha como receber aquela noticia sem procurar alguém para me ajudar a decifra-la. Entretanto, sabia que esse alguém não poderia ser Charlie, somente um nome surgia em minha cabeça para me ajudar naquele momento: Josh. Antes de deixar o dormitório, liguei para ele. O telefone chamou algumas vezes e ninguém atendeu.

“Estou em aula, não posso atender agora. Aconteceu alguma coisa?” uma mensagem dele chegou logo em seguida.

“Você pode me encontrar para almoçar?” perguntei.

“Posso. Me encontra no Rise daqui algumas horas. x” Josh respondeu.  

Não tive cabeça para pensar em nenhuma das aulas que assisti no período da manhã, meus pensamentos estavam todos voltados para a carta da Zeta Eta Beta, e para a carta inexistente da Sigma Psi. As horas pareciam passar na menor velocidade possível e essa lentidão do tempo era angustiante. A melhor sensação que tive naquela manhã foi ao chegar no Rise e encontrar Josh, me esperando em uma das mesas.

— Charlie não vem? – foi a primeira coisa que ele perguntou.

— Eu não convidei ela. – revelei.

— Ok, isso deve ser algo sério então. – Josh falou.

— Possivelmente é. – confirmei. – Pelo menos eu acho que sim.

— Quer pedir a comida antes de começar a explicar? – ele perguntou e eu concordei com um aceno de cabeça. Pedimos o prato do dia, que era sempre o mais barato, nem me dei o trabalho de conferir o que continha no mesmo, minha mente estava longe daquilo.

— Josh, o que você sabe sobre esse código de sigilo em relação às cartas de irmandade? – perguntei.

— Ah, então é sobre isso. – ele disse, como se começasse a entender sobre o que aquilo tudo se tratava. – O objetivo do código, até onde eu sei, é você não fazer ideia de quem estará iniciando ao seu lado. – contou. – Por isso reforçam para não contar aos colegas, assim a surpresa e o mistério são mantidos, juntamente com o suspense. – continuou falando. – Talvez eu não devesse te contar tudo isso, mas se você está me procurando é porque deve ser realmente importante.

— É importante, algo estranho aconteceu. – falei. – Respeito esse tal código o suficiente para não pedir ajuda a Charlie, mas eu simplesmente não posso não falar sobre isso com alguém.

— E eu fui o escolhido? – perguntou Josh, com um sorriso nos lábios.

— Você parecia ser a pessoa certa. – disse, rindo fraco.

— Se algo estranho aconteceu, acho que sou a pessoa certa mesmo. – ele disse, retribuindo a risada. – Não vou contar para ninguém o que quer que você tenha a dizer.

— Obrigado, Josh, de verdade. – agradeci. – Hoje foi o dia de receber as cartas, eu recebi apenas uma. – contei. – E não era da Sigma Psi. – a expressão de Josh deixava claro que ele não esperava por isso.

— Isso não é apenas algo estranho, já são algumas coisas estranhas. – Josh falou. – Primeiramente, é muito raro alguém receber apenas uma carta, algumas irmandades são desesperadas para arranjar candidatas, provavelmente enviam cartas para todas as meninas. – contou. – E é totalmente ilógico você não ter recebido uma carta da Sigma Psi, a ligação entre você e as garotas foi natural naquele dia.  

— É um alivio ouvir isso, por um momento achei que eu pudesse estar enxergando coisas que não existiram. – admiti. – Não sei se isso é errado, mas eu realmente esperava, e queria, receber uma carta vindo delas.

— Não é errado, não faria sentido elas te convidarem para a festa se não tivessem intenções em te convidar para ingressar na irmandade. – Josh garantiu, a sensação de ouvir aquelas palavras foi ótima. – Mas, se elas não te enviaram a única carta, qual irmandade enviou?

— Aí que as coisas ficam realmente estranhas. – falei. – Foi a Zeta Eta Beta.

— Zeta Eta Beta?! – perguntou surpreso. – Sem ofensas, mas não consigo te imaginar lá. – Josh falou. – Você não parece ser do tipo...

— Extravagante? Que se importa com o Sistema Grego? Que se preocupa em manter a boa imagem todos os dias? – pelo menos, essa era a parte que me incomodava.

— Eu ia dizer fútil, mas pode ser isso também. – disse Josh.

— Você acha que elas são todas desse jeito? – perguntei, deixando cada vez mais visível meu desespero. – Não sei o que fazer, Josh.

— Não vou dizer que a situação não é complicada, mas você não pode se desesperar. – incentivou Josh. – Como eu te disse antes, o Sistema Grego é sinônimo de intrigas e confusão. – lembrou. – Você é esperta o suficiente para não deixar que isso te atinja de qualquer forma, o problema é a bolsa de estudos, que até onde eu sei, não te dá outra escolha se não aceitar o convite da Zeta Eta Beta. – no fundo, eu sabia que essa era a única solução, ainda assim precisava surtar com alguém antes de concluir aquilo.

— Isso não pode estar acontecendo. – lamentei. – Josh, você precisa me ajudar.

— Calma, Amy. – Josh tentou me tranquilizar. – Seria ilusão dizer que o dia não acabou e você ainda pode receber outras cartas. A norma é a mesma, todas as cartas têm que ser depositadas até quarta-feira à noite na sala do comitê responsável pelo Sistema Grego, para serem enviadas ao mesmo tempo quinta-feira de manhã. – explicou. – A única solução, além de aceitar a proposta da Zeta Eta Beta, seria torcer para que você fosse recrutada para a Arcanum Society. – Josh comentou, rindo. Não entendi a brincadeira.

— Arcanum Society? – perguntei confusa.

— Ah, você ainda não ouviu falar sobre isso? – Josh falava como se eu tivesse acabado de estragar uma ótima piada.

— Não que eu me lembre. – respondi.

— A Arcanum Society é o maior enigma dessa universidade. – Josh contou, mas eu não fazia ideia do que aquilo se tratava. – De geração em geração de alunos, o mito sobre a existência da Arcanum foi repassado. – continuou. - É uma sociedade secreta cujo o verdadeiro objetivo nunca foi descoberto, o boato alega que ela ainda existe nos dias atuais, mas ninguém tem conhecimento de qualquer um de seus membros ou de onde ela se localiza, muito menos como se faz para entrar.

— Mas por que alguém teria uma ideia desse tipo? – perguntei, ainda bastante confusa.

— A história conta que a Arcanum foi criada por um dos Cadillac. – Josh deu início a resposta. – Se não me engano, pelo filho do fundador da universidade. – continuou. – Até onde eu entendo, a ideia inicial era poder se divertir fora do alcance dos olhos de seu pai, mas reza a lenda que, ao ser passada de mão em mão pelas gerações de membros, a Arcanum foi sofrendo mudanças até adquirir um verdadeiro propósito.

— Isso é muito estranho. – conclui. – Se essa tal de Arcanum é tão secreta assim, como existem tantos boatos?

— Cada universidade tem seus mitos, Amy. – explicou Josh, com um tom de mistério.

— A história é emocionante e tudo mais, mas não acredito que essa seria uma solução possível. – não queria parecer irritada, só realmente achava que apenas soluções plausíveis deveriam ser cogitadas, apesar de Josh ser uma ótima pessoa para curar o mal humor gerado de uma situação ruim.

— Acho que nós dois sabemos que só existe mesmo uma solução, levando em conta as condições da sua bolsa de estudos, que eu particularmente considero um tanto excêntricas, mas acho que é assim mesmo que funciona o mundo moderno. – disse ele.

— Eu não consigo aceitar isso. – falei. – Como vou contar para a Charlie?

— Você não vai. – Josh logo cortou a ideia. – Charlie vai ter que descobrir sozinha quando não te encontrar na iniciação, isso é, se ela escolher a Sigma Psi.

— Com certeza vai, não imagino ela fazendo outra escolha. – disse. – Assim como não me imagino. – completei. – Essa universidade não parece querer que eu tenha direito a muitas decisões.

— Você não pode ter tanta certeza assim, nada é certo no Sistema Grego. – Josh avisou. – Só sei que você não pode contar diretamente para Charlie, seria um risco desnecessário a correr. – falou. – As regras podem ser estúpidas e sem sentido, mas infringi-las não seria um bom plano.

— Ok, você tem razão. – concordei. – Só não sei como vou agir naturalmente perto dela.

— Não diria isso em uma situação normal, mas talvez você deva evitá-la por hoje. – sugeriu. – Charlie odeia mentiras, melhor omitir do que mentir.

— Como vou fazer isso? – perguntei. – Temos a primeira aula da tarde juntas e passaremos, no mínimo, umas cinco horas dentro do nosso quarto.

— Felizmente, essa parte do problema tem solução. – Josh disse, expressando verdadeiro alívio. - Tenta chegar em cima da hora na aula, assim você terá uma desculpa para sentar longe de Charlie. – ele aconselhou– Além de que, boas alunas não conversam em horário de aula. – Josh entonou uma falsa voz de reprovação, rindo logo em seguida. Não pude evitar fazer o mesmo. – E a noite, você deveria sair para algum lugar, ela não tem como te impedir ou reclamar disso.

— Não tenho para onde ir, assim como não tenho um carro para me locomover até qualquer lugar. – falei. – É perigoso andar por ai de noite.  

— Eu vou ao jogo dos Pistons hoje, às 20:30. – falou. – Você deveria ir também. – propôs Josh. – Ainda é cedo, dá tempo de arranjar mais uma entrada.

— Tem certeza? – quis confirmar. Aquele parecia um ótimo plano, eu adorava basquete e seria legal conhecer o time da cidade, mas não queria acabar sendo um incômodo.

— Absoluta. – confirmou Josh.

— Então eu aceito o convite. – sorri ao aceitar a proposta.

— Só tem um problema, Amy. – é claro que existia um problema dentro do atual problema, isso já estava se tornando comum nos últimos dias.

— Qual? – perguntei, encarando Josh diretamente.

— O Scooter também vai.


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