Cenas Inéditas Feliko escrita por ALoka


Capítulo 18
Party Time


Notas iniciais do capítulo

Essa cena acontece logo que se mudaram para Angra.

Félix se escondeu durante toda sua vida. Agora ele se sentia a vontade para ser ele mesmo. Faltava ainda um pequeno teste para ser aprovado de vez na escola do amor próprio e da auto aceitação. Com um professor como o Carneirinho, ele tem grandes chances de conseguir seu diploma.



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A casa de praia, onde a familia Corona khoury foi morar, fica em um condomínio fechado. E, dentro do condomínio, há uma espécie de “clube” com quadras poliesportivas, piscina e um amplo salão utilizado para eventos e festas.

Ocasionalmente, as pessoas que ali residem organizam um evento de confraternização entre os vizinhos, para estreitar laços e conhecer quem são os que moram nas redondezas.

E se aproximava mais uma dessas ocasiões. E era a primeira festa que ia acontecer desde que se mudaram.

Félix recebeu o convite das mãos de uma senhora, que mora em uma das casas próximas. Ela foi até a antiga casa de veraneio dos Khoury e ele a recebeu.

– Você então é o filho do doutor César? Mas fazem anos que não o vejo por aqui nem sua mãe!

A senhora começou a contar que se lembra da familia deles do passado, pois ela era uma residente fixa há muitos anos. Félix explicou a situação do pai e que, agora, morava ali com ele e com sua familia.

– Eu lembro da sua esposa que vinha aqui algumas poucas vezes, com um menininho, passar uns dias de férias... você não vinha quase nunca...

– Pois é... a Edith.. ela e eu...

Ele não terminou o que ia dizer, pois logo naquele minuto escutou-se um choro de criança e Adriana se aproximava com Fabrício no colo.

– Seu Félix, ele tá chorando sem razão, já lanchou, já troquei a fralda...

Félix pegou Fabrício no colo e o menino parou de chorar no mesmo segundo.

– Pronto, meu amor, era saudades do seu papi, não era?

A vizinha ficou encantada com Fabrício e depois com Jayminho, que se aproximou deles perguntando a Félix se podia jogar video game na sala.

– Como a familia cresceu, vocês tem mais dois filhos! Sua esposa deve estar bastante feliz, onde está ela?

– Na verdade eu e a Edith...

E, sendo interrompido mais uma vez, nesse instante chegou Niko perto deles. Se apresentou dizendo seu nome e estendendo a mão para a vizinha. Logo em seguida ofereceu um café, falou sobre o restaurante, que em breve iriam inaugurar, e a convidou para conhecer.

Félix percebeu que ficou no ar quem era Niko ali naquela familia, e decidiu tirar toda e qualquer dúvida de vez.

– O Niko é meu companheiro.

– Você quer dizer seu sócio, no restaurante?

A vizinha demostrava não ter entendido o que ele quis dizer com “companheiro”, então Félix explicou melhor:

– Ele é o outro pai dos meninos.

O que, pela cara da senhora, pareceu não ter esclarecido nada, então ele foi mais direto:

– Nós vivemos juntos, Fabrício e Jayme são nossos filhos.

Ela não esboçou nenhuma reação, nem de espanto ou reprovação mas também nem de aprovação. Apenas anunciou que precisava ir porque ainda tinha que levar convites em mais algumas casas.

– Fica para outro dia o café, está bem?

Se despediu de todos e saiu.

Para Félix. ela não se sentiu à vontade depois que descobriu que estava na residência de um casal de homens. Já Niko acreditava que não era nada disso, que ela reagiu normalmente apenas tinha mesmo que ir entregar mais convites. Não tocaram mais no assunto.

Uma semana se passou e chegou o dia da tal reunião de vizinhos, a festinha no clube do condomínio.

Já era tarde e Félix ainda não estava pronto, ao contrário. Estava deitado na cama da suíte deles brincando com Fabricio.

– Felix, você já viu que horas são?

– Nem percebi, Carneirinho.

– Você não se arrumou ainda, não quer ir na festa? Logo você que sempre adorou festa?

– Eu ainda adoro... mas hoje em dia prefiro ficar em casa com você, com os meninos e o papi.

– Mas temos que ir amor, vai ficar chato não comparecer.

Félix parecia alheio ao que Niko falava, estava totalmente absorvido pela brincadeira que fazia com o filho.

– Olha isso, Niko, olha como ele ri pra mim!

– Estou vendo...

– Como não querer ficar com essa criaturinha?

Niko observou os dois brincarem por alguns segundos. Mesmo que estivesse emocionado, como sempre ficava ao ver o quanto Fabrício e Félix se davam bem, a hora estava passando.

– Félix.

– Hein?

– Você não quer ir por alguma razão?

Félix respirou fundo. Não havia como fugir do assunto.

– Ai Niko...

– Anda, fala. Você se incomodou com a vizinha, não foi?

Então decidiu falar o que passava por sua cabeça.

– Carneirinho... veja... nós vamos morar aqui por muitos anos... e eu espero que para sempre!

– Disso eu gostei.

– Pois é... mas... enfim, tem muita gente cabeça dura por aí! Tudo que eu não quero é que te tratem mal, ou tratem os meninos de maneira diferente. Eu não quero que isso aconteça. Pronto falei.

– E o que isso tem a ver com ir ou não na festa?

– Nós vamos juntos, é óbvio. Só que não vai ser um evento na casa de Mami, nem uma boate de São Paulo. Aqui tem gente como meu pai... machista, antiquado... Tem gente idosa, como aquela vizinha, que pode não aceitar que dois homens vivam juntos... e vão falar da gente e...

– Félix... quer saber de uma coisa? Mais importante do que como vão nos tratar é como a gente vai se comportar. Vamos ficar fechados em casa e não deixar que nos conheçam? Aí sim alguma fofoqueira vai falar da gente. Antes disso não vamos dar motivos. Vamos sim, socializar... ser nós mesmos... não tem porque não gostarem de nós.

– Não tem?

– Amor, como não vão gostar de você? Tão lindo, elegante, divertido, inteligente...e eu tenho minhas qualidades também!

– Tem muitas Niko... mas não é bem disso que falo...

– Você tem medo de preconceito porque somos gays? Sinceramente, então que superem! Nunca me escondi, não vou começar agora.

Félix olhava o pequeno Fabrício na cama, que continuava sorrindo para ele, agora entretido com um brinquedo. Niko continuou:

– Nós somos excelentes pais, Félix. Os meninos vão estar preparados para qualquer coisa. Isso nós podemos controlar. O que os outros pensam, infelizmente não. Então deixa que pensem o que quiserem pensar.

Félix refletiu por alguns segundos e respirou fundo.

– Você tem razão, Carneirinho. É que algumas coisas ainda são novas para mim... você entende, não é?

– Claro que sim, amor.

Não por poucas vezes Félix se pegou lamentando o tanto de tempo que havia perdido na vida, por se preocupar com o que os outros pensavam. Ele não tinha como, nem queria, perder mais tempo.

– Então vamos! Vamos nessa festa. Só me promete que se estiver chata não vamos ficar ate tarde, deal?

Félix levantou da cama com Fabrício no colo anunciando que ia até Adriana, deixar o menino sob os cuidados dela, e então se vestiria para a festa, não sem antes comentar:

– Carneirinho... mas verdade seja dita, cada vez mais eu prefiro ficar brincando com o Fabrício do que sair para badalações. Quem diria hein?

Minutos se passaram, se arrumaram e foram no tal evento.

Chegaram de mãos dadas. Foi inevitável perceber que cabeças se viraram na direção deles e ficaram sob a mira de olhares curiosos. Niko apertou forte a mão de Félix, sabendo que o companheiro precisava de um incentivo extra.

Ali perto, conversando com uma outra, estava a vizinha que havia levado os convites.

– Olha ali, o que eu te falei. É o filho do Sr. Khoury, lembra dele? Moram aí agora. O outro é o chef do restaurante japonês que vai inaugurar lá no centro, já fiquei sabendo

– Mas eles vivem juntos mesmo? Como casal?

– Eu te disse, ele me falou que o outro é companheiro dele.

– Será que você não entendeu mal? Vai ver são só amigos.

– Não senhora, eles estão de mãos dadas, olha!

Niko a reconhecu de longe, então praticamente arrastou Félix até lá para cumprimentar a senhora, o que fizeram educadamente, e ficaram ali de pé observando o resto do salão.

A outra vizinha não resisitu e cochichou com um certo espanto.

– São mesmo... São mesmo bichas!

Niko escutou a palavra "bicha" então virou-se na direção delas e, com um belo sorriso, disse orgulhoso:

– Sim, somos bichas!

Félix riu para elas também. Mas, embora assumido como pai de familia e gay, ainda não estava totalmente acostumado com a exposição pública. Afastou o companheiro dali carregando-o pelo braço.

– Pelas conta do Rosário Niko, vamos embora. Estou me sentindo um peixe raro dentro de um aquário, com todos esses olhares curiosos em cima de nós.

– Félix, devem estar se perguntando quem somos, não nos conhecem, é normal que tenham curiosidade.

– Não senhor. Devem estar comentando que estamos juntos. Cheios de vontade de saber detalhes.

– Ai, também não é assim...

– Daqui a pouco perguntam quem é o ativo.

– Félix!

– É sim! Eu não duvido. A curiosidade matou o gato, mas os fofoqueiros estão bem vivos.

– Olha aqui, quer saber? Era até bom que alguém perguntasse.

– Que isso, Niko!?

– E a gente respondia logo que faz troca-troca e pronto. Todos ficavam satisfeitos.

Félix relaxou um pouco, e até achou graça da resposta de Niko.

– Carneirinho! Você falaria mesmo isso? Até parece...

– Você sabe que nao tenho jeito pra mentir. Se me perguntam, eu respondo mesmo, e ainda digo “pronto falei” como você.

– Isso seria o apocalipse...

– Félix, podemos também dizer que fazemos sexo sem penetração. Aí sim que não vão entender nada!

Niko sorria de um jeito sincero, estava realmente feliz por estar ali e totalmente à vontade. Por nenhum momento se mostrou incomodado com os olhares na festa ou intimidado pelo que ouviu da vizinha.

Félix o observava pensando o quanto tinha mudado de vida desde que passou a ouvir os conselhos daquele Carneirinho; e o quanto se permitiu revelar desde que Niko o mostrou que ele podia ser ele mesmo.

– Niko, Niko... é por isso que eu te adoro!

– Eu tenho meus segredos, você sabe.

– Teu maior segredo é ser você mesmo, ser trasnparente, nunca ter se escondido e sempre ter feito o que quis, sem se importar com o que vão pensar. Eu te amo por isso. E por me fazer ter vontade também, de fazer o que eu quero sem precisar me esconder.

– É? Então faz Félix. Faz o que você tem vontade sem se preocupar com os outros.

– Posso fazer qualqur coisa? Sem me preocupar com o que vão pensar?

– Pode e deve!

– Tem certeza? Tem uma coisa que estou louco de vontade de fazer aqui e agora!

– Faz amor, faz sim.

Daí se beijaram na frente daquela gente toda. Sem se importar se estavam olhando, sem se importar com o que estavam pensando.

Se Félix tinha alguma reserva, deixou de ter. Se havia ainda algum receio de ser ele mesmo, ele abandonou ali, de uma vez por todas e em grande estilo.

Não demorou muito um outro casal se aproximou, cumprimentou eles e os apresentaram para mais outras pessoas. Uma delas era uma jovem, que disse ser jornalista e perguntou se podia tirar uma foto deles. Eles concordaram. Félix segurou a mão do companheiro para fazer a foto e assim ficaram depois disso: de mãos dadas praticamente a noite toda.

Teve música, bebida, comida... se divertiram muito, conversaram muito. Não voltaram cedo, afinal ambos adoram uma boa festa, só Eron e Edith que eram chatos demais!

Quase no final da noite, as vizinhas ainda conversavam. Entretanto, naquela hora, já haviam consumido não poucos, mas vários drinks. E quando o álcool entra...

– Amiga, estava pensado aqui naquele casal gay.,

– Ai, o que tem eles? Não seja intolerante, deixa eles serem felizes!

– Eu, intolerante? Eu queria era me enfiltrar la naquela casa e ver eles se pegando!

– Quer saber? Eu queria era entrar no meio!

Seguiram-se risadas histéricas e maridos preocupados tentando convencê-las a irem embora para casa.

...

Cerca de uma semana depois, Félix encontrou, na caixa do correio, a edição do jornal que circula dentro dos condominios mais badalados da cidade. Na coluna social, aparecia a foto dele com Niko acompanhada da legenda: “O jovem casal Corona-Khoury. Os mais novos moradores de Angra inaguram, em breve, restaurante japonês na cidade.”

– Olha, Carneirinho! Jovem casal! Jovem! Tá vendo? Casal! E jovem... jo-vem...

Félix adorou.

...

Fim de cena


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