Era um dos primeiros dias de namoro. Félix não planejava dormir na casa de NIko naquela noite. Precisava levar seu pai muito cedo ao hospital, no dia seguinte, e decidiu dormir na mansão. Mas, após muito tentar pegar no sono sem conseguir, pegou foi o carro e rumou pra casa do Carneirinho.

Era quase três da manhã quando Félix tocou a campainha, arrependido por não ter aceito a chave que Niko lhe ofereceu na noite anterior...

Niko abriu assustado. Félix sentou-se na sala.

– Não Carneirinho, nem acende a luz.

– Você está bem?

– Niko, não consigo dormir...

– Que foi Félix?

– FIquei sem sono, acho que me acostumei a dormir com você... - Félix esboçou um sorriso, o primeiro desde que entrou. - Aí fiquei pensando, sabe... e comecei a me sentir mal.

– Mal?

– Lembra quando fui la na casa da Paloma aquele dia, para contar as coisas que eu fiz contra ela?

– Sim.

– Pois é... É que... é... ai Carneirinho...

– Fala Félix estou aqui pra te ouvir.

– É que... eu não contei tudo, sabe

– Não?

– Não, Niko.

– Porque, Félix?

– Fiz coisas horríveis. Horríveis mesmo. Tive vergonha de contar tudo.

– Ai, amor...

– E agora essas lembranças ficam me assombrando. Agora não consigo dormir. Por isso vim pra cá.

– Félix, vem pro quarto, vem. - Niko tentou abraçá-lo - Você vai ficar aqui essa noite.

– Não Niko, primeiro me ouve preciso desabafar. Preciso contar para alguém isso tudo. Esse peso na minha conciência tá me fazendo mal.

– Tá bom Félix. Então me conta.

– Acredito que eu só vou melhorar se botar tudo pra fora.

– Fala então, desabafa.

– Ai Niko... nem sei se consigo.

– São coisas tão graves assim?

– São.

– Nossa amor, estou assustado.

Niko segurou a mão de Félix para dar-lhe força e, ao mesmo tempo, para que ele tivesse força também. Félix respirou fundo alguns segundos, apertando forte a mão do Carneirinho, e decidiu-se.

– Bom... é melhor começar né?

– Fala Félix. Coragem.

– Tá bom. Vou falar. Niko, é o seguinte, por exemplo, uma vez eu coloquei sal, sabe, dentro do shampoo da Paloma, para tentar estragar a progressiva dela.

– hã?

– Foi Niko... Antes disso, quando eu era criança ainda, eu costumava colocar açúcar no gel de banho dela. Eu acreditava que se ela tomasse banho com algo doce as moscas viriam perturba-la.

– Félix...

– Horrivel né? Teve também um dia que eu comi um yogurte de morango que ela gostava.

– Qual o problema em comer um yogurte?

– Era o último que havia na geladeira. Foi um tragédia lá em casa, quase o apocalipse! Ela chorou, fez um escândalo porque tinha sumido o yogurte.

– Sei...

– Papi deu à ela de presente umas pulseiras coloridas num aniversário. Eram lindas! Ele obviamente jamais me deixaria usar, mas eu fui experimentar quando ninguem estava vendo e... você sabe, minhas mãos são enormes... eu esgarcei as pulseiras todas tentando fazer caber no meu pulso.;.Ninguém entendeu o que aconteceu. Mami deu uma bronca dizendo que ela não cuidava direito das coisas... eu só queria experimentar as pulseiras coloridas... eu sou muito mau...

– Amor... escuta...

– E os esmaltes! Você não sabe, eu deixava aberto sabe, pra secar mais rápido. Quando ela ia usar estava tudo ressecado.

– Entendo...

– Eu também trocava as roupinhas das bonecas. Ela vestia as pobrezinhas sem gosto nenhum, tudo misturado. Ela dizia para não mexer mas... ai Niko, eu não resistia, eu ia lá e colocava sapato e vestido combinando em cada uma delas. Paloma ficava uma fera! Se aborrecia, me xingava. Dizia que eu era um irmão horrível. E eu fico pensando, porque eu fazia isso?

– Félix... irmãos brigam e...

– Tem mais, Niko! O computador dela vivia dando problema. Mami chamava o técnico e a criatura ria meio sem graça, dizia que tinha vírus. A culpa era minha sabe... porque eu usava para assistir o xvídeos e vários sites de vídeos... você sabe... eróticos... tá bom, eu confesso, eram pornôs mesmo...

Niko permaneceu mudo após essa confissão. Félix continuou.

– E quando eu queria baixar MP3 da Cher, Britney, Madonna, Ricky Martin e não tinha espaço? Eu apagava as músicas da Paloma. Ela gostava de Axé, você acredita? Paloma sempre teve um gosto estranho...

– entendo Félix... olha...

– Eu me sentia mal depois Niko, mas e as minhas músicas? O pior é que Papi nem gostava de me ver dançando, depois eu ainda dançava escondido.

– Veja Félix...

– Tem mais Niko espera. Deixa eu contar. Ainda não falei dos sanduiches, fatias de bolo....

– O que tem?

– Sempre que Mami me dava dois pedaços, e mandava entregar um pra ela, ai Niko é horrivel isso que eu fazia...nem sei se consigo contar...

– O que Félix? Voce botava alguma coisa na comida dela?

– Não... mas eu dava para ela o pedaço maior. Se alguém tinha que engordar que fosse ela, né? Era horrivel ver aqueles namorados todos indo lá em casa tomar banho de piscina atrás da Paloma... e eu sozinho. Eu desejava que ela engordasse e virasse uma baleia, quem sabe aqueles bofes me dessem bola! Que tipo de irmão eu sou para pensar desse jeito, isso deve ser pecado!

– ........ ai Félix....... pecado... Você me acordou a essa hora pra me contar esses... pecados?

– Carneirinho, pecados sim! Voce não acha que eu fui muito mau? Se prepara porque tem mais!

– Olha, Félix... continua contando mas vem... vamos deitar...

Félix finalmente cedeu e levantou-se concordando. Então caminharam até o quarto, enquanto ele prosseguia contando com voz de choro...

– Eu me oferecia pra pegar refrigerante para ela e dava coca-cola normal dizendo que era diet... que mosntro que eu sou Niko.......

– Ai Félix...