Let Us Burn escrita por Primadonna


Capítulo 4
III: Reminiscentia


Notas iniciais do capítulo

Você já ouviu falar sobre os Tenebrae? Não? Então fique atento às palavras do Rei da Floresta das Trevas...



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Sempre que fechava os olhos, uma coisa que raramente acontecia resolveu se manifestar: pesadelo. Foi por isso que Legolas permaneceu com as íris azuis completamente vidradas no céu escuro durante a noite toda. Gimli e Eddard roncavam ao seu lado, enquanto os irmãos Tenebrae pareciam imóveis no lado oposto.

Depois do cervo, haviam achado uma clareira minúscula para passarem a noite. Eles assaram a carne do animal em uma fogueira, que queimou brasas a noite toda, mas o silêncio desconfortante parecia ficar cada vez mais alto. Talvez tenha sido por isso que todos tinham resolvido ir dormir — quando, na verdade, estavam cansados por causa da caminhada até o local, que havia durado quase um dia inteiro.

Legolas não sabia o porquê, mas se sentia cada vez pior ao lado dos dois elfos. Nunca sentira um pingo de sentimento ruim ao lado dos anões que eram seus rivais por natureza — o que havia mudado um pouco — e ainda assim, se sentia terrível ao lado de criaturas da mesma espécie. Perguntou-se várias vezes se eles se sentiam assim também, mas observando o sono profundo e confortante deles, imaginava que não.

E ali, observando Wren e Ethir, o elfo silvestre se recordou de uma lembrança antiga e quase falsa.

Era uma criança quando seu pai ainda lhe demonstrava algum afeto. Thranduil sempre voltava de batalhas com a garganta cheia de histórias para contar e assim encorajar o único filho antes de deitá-lo em uma cama com lençóis brancos.

— Eu me lembro de uma história antiga que ainda não lhe contei — o mais velho começou, se aproximando lentamente do pequeno elfo na cama. — Sobre Elfos da Escuridão! — Ele gritou como um orc, fazendo cócegas em Legolas.

— Pare — ele pedia entre as gargalhadas finas. — Eu quero escutar!

— Se você deseja… — Thranduil parou, se afastando. — Eles eram um clã único, isolados de todos os outros elfos. Viviam na Hiberia, uma ilha distante acessada apenas pelo mar. Eram rudes, cruéis, inimigos e extremamente poderosos.

— O que eles fizeram? — O pequeno Legolas perguntou, curioso.

— A Segunda Era estava chegando ao seu fim — Thranduil começou a verdadeira história, enquanto a criança se ajeitava para não perder um detalhe sequer. — Seu avô estava perto de se tornar um elfo adulto quando tudo aconteceu. Uma pequena guerra entre elfos e anões começava a se intensificar e, naquela época, os anões eram grandes símbolos da Terra-Média. Os elfos precisavam se reunir.

“Exércitos começaram a ser formados em cada reino, os reis de cada raça estavam se unindo para ficarem mais fortes. E eles precisavam dos Tenebrae, também conhecidos como Elfos da Escuridão. Todas as suas armas eram feitas de ouro, encharcadas de mágica e cada um que empunhava uma espada ou arco fazia por merecer. Eram fortemente treinados e incríveis.

“O nosso clã, os Elfos Silvestres, se reuniram, junto com os Elfos Verdes, até eles. A ideia era chegar com um acordo e transformar os elfos nos mais poderosos de todo o mundo, sem perder uma guerra. Infelizmente, nada do que havia sido planejado aconteceu. A recepção dos Tenebrae foi a mais violenta possível. Assim que os viajantes pisaram nas areias da costa da Hiberia, eles apareceram pela primeira vez. Os cabelos e os olhos eram tão pretos quanto a noite, alguns possuíam a pele também escura. Não haviam elfos de cabelos dourados como nós. As suas expressões eram frias, completamente robustas e pareciam intimidar cada suspiro dado por nossos ancestrais. E eram belos. Os Tenebrae eram belos como fogo, explodindo-se em chamas internas que feririam qualquer um que se aproximasse.

“Não quiseram ouvir sobre a guerra. Assim que nossos elfos começaram a falar sobre ela, pedindo ajuda, eles entenderam as coisas da forma errada. Acharam que estavam sendo atacados e contra-atacaram. As armas douradas queimavam, flechas e espadas cravavam cabeça por cabeça.

“Apenas cinco elfos silvestres e nove verdes conseguiram voltar da expedição vivos. O resto não passava de carcaças. Deixados na mão e com o número de soldados reduzidos, nossos elfos prometeram vingança aos Tenebrae quando vencessem a guerra contra os anões. No final, um tratado foi selado por determinado tempo com os anões e as forças se voltaram contra os Tenebrae.

“A promessa fora cumprida. Vários navios atacaram a Hiberia, extinguindo os Tenebrae. Derrubaram seus castelos, transformaram casas em pedras e destruíram suas armas. Fizeram da Hiberia um cemitério, restando apenas um grupo mais resistente. Foram poupados, já que os soldados tinham a certeza de que não sobreviveriam mais um ano. Apesar disso, jogaram uma maldição nunca levada a sério: qualquer contato dos elfos silvestres ou verdes com o oceano resultaria em um naufrágio para o esquecimento. E no próximo contato, as nossas forças contra eles seriam totalmente inúteis. Juraram que voltariam à glória.

“Aquela foi a única lembrança que fora carregada daquele lugar. Os Tenebrae se tornaram ruínas como seu lar, foram esquecidos, apagados do mundo e se tornaram lenda. Hoje não passam de histórias de conquistas que cada pai conta para o filho antes de dormir.

— Como hoje? — A voz fina de Legolas soou. Havia escutado cada palavra da voz quente do pai com tanto entusiasmo que parecia ter se esquecido de piscar.

— Como hoje.

Legolas piscou uma, duas, cinco vezes. Balançou a cabeça tentando se livrar da memória boa que ainda tinha do pai. Talvez se sentisse mais incomodado com o fato de que um dia possuiu uma boa relação com o mesmo do que com a história. Voltou o olhar para os dois Tenebrae deitados, mal percebendo que Wren já estava acordada e o observava ternamente. Ela fechou os olhos como se não tivesse assistido o elfo silvestre em seus devaneios e cochilou.

Olhando para o céu, viu Sol começava a sair da sua timidez no céu escuro, invadindo os espaços entre as árvores. Por quanto tempo Legolas havia ficado relembrando aquilo? Ficou tão concentrado nos dois que acabou se assustando com o farfalhar das folhas abaixo de Gimli, que se sentava lentamente.

— Você não dormiu — a voz rouca de Gimli saiu baixa.

— Não — o elfo sussurrou de volta.

— Isso não foi uma pergunta — o anão devolveu, coçando os olhos e recolhendo seu capacete. Legolas não disse mais nada e Gimli desviou a sua atenção. — Bom dia! — Gritou. Eddard se levantou assustado enquanto Wren e Ethir fizeram o mesmo como se já estivessem acordado há horas.

O pequeno café da manhã iniciou-se com Eddard bebendo a própria água e comendo alguns pãezinhos que havia trazido. Todos fizeram o mesmo, inclusive Legolas, em um silêncio que só fora quebrado com o correr do pequeno riacho próximo e pássaros voando. Quando acabaram, a caçada voltou ao objetivo principal: caçar.

Apesar do frio, o que realmente desfavorecia o grupo era o clima entre eles por conta das presenças opostas. Para descontrair, às vezes faziam competições para ver quem conseguia abater mais alguns animais e até usaram Eddard de isca, o que foi engraçado, mas não para o garoto. E os três próximos dias foram assim.

Em algumas horas, Legolas, Wren e Ethir pareciam esquecer que eram supostos inimigos e até davam algumas risadas juntos — apesar de, é claro, cada um ter recebido um sermão pessoal de Gimli para se aturarem, e isso incluía Eddard. Aquela sensação ruim que preenchia Legolas a cada olhar que trocava com os Tenebrae também havia estranhamente diminuído.

No final das contas, eles pareciam estar realmente se dando bem. Por obrigação ou não, as coisas pareciam estar começando a dar certo.


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Notas finais do capítulo

OLÁ, AMORES ~percebi só agora que as notas não haviam ido. Bom, esse capítulo foi o que eu mais gostei de escrever, o que eu mais adorei em toda a fanfic e que mais ansiava por. Eu finalmente revelei pra vocês a ideia que eu tive dos meus Elfos da Escuridão ~ciúmes~ mas estou muito feliz. Além disso, gostaria de falar que estou um pouquinho triste com a relação dos comentários com os acompanhamentos.
Estou ficando mega desmotivada e isso porque eu comento a fanfic de todo mundo justamente porque sei como é ruim ninguém sequer dar as caras. Btw, eu tenho medo de fantasmas. Se puderem ter um pingo de consideração, mesmo se for um 'gostei' (ou não), vou ficar muito feliz.
Até o próximo



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