Let Us Burn escrita por Primadonna


Capítulo 2
I: Dicta


Notas iniciais do capítulo

Oi, amoooooooores



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— Eu os vi com meus próprios olhos. Os cabelos e olhos da cor da noite, alguns até mesmo com a pele na mesma coloração! Suas armas eram feitas de ouro e conseguiam queimar apenas chegando perto da pele — Balavar contava bêbado da raiz dos cabelos negros até as unhas encardidas do pé. Até mesmo os músicos haviam parado a música, juntando-se aos presentes para escutar atentamente o anão. O mesmo levantou as mangas de sua roupa para mostrar as queimaduras.

— Eles virão nos matar? — Um jovem elfo indagou com a voz trêmula.

— O quê? — Balavar devolveu a pergunta, caindo na gargalhada em seguida. — É claro que não! Aqueles porcos burros são inocentes o suficiente para terem confiado em nós. Não é à toa que estão falidos.

Ao redor, a multidão explodiu em gargalhadas, até mesmo o elfo, embora estivesse incerto se deveria rir. Poucos eram os elfos que sabiam a verdadeira história por trás do mito.

— Amaldiçoado seja Balavar — Gimli disse, batendo a caneca vazia na mesa, do outro lado do bar. — Espero que lhe cortem a cabeça depois de pedir desculpas pelo insulto.

— Só se você o fizer — Legolas respondeu, dando um gole na cerveja.

— Por que você ainda não acredita? — O anão grunhiu ofendido.

— Porque, segundo você, beberam quatro barris de cerveja e, no outro dia, viram isso. É mais fácil acreditar que estavam bêbados ainda.

— Você já ouviu a história! Eu não mentiria sobre isso — o ruivo garantiu, enchendo a caneca com mais cerveja.

— Você disse que também não mentiria sobre ter bebido o equivalente a um lago de cerveja. Da última vez caiu bebendo menos de vinte canecas — Legolas devolveu, rindo.

— Você ainda vai me pedir desculpas, bastardo — Gimli xingou e deu um longo gole na própria cerveja.

— Eu aposto dez barris que não — o elfo desafiou.

— Apostado.

(...)

Legolas olhava para a bolsa que jogaria nas costas junto com seu arco e aljava de flechas um pouco chateado. Desde que Gimli anunciara que viajariam na floresta oposta à Floresta das Trevas, a Floresta dos Alces, ele se preocupou em colocar roupas de frio. Havia estado naquele lugar apenas uma vez, e o que tinha observado era que as próprias árvores não eram capazes de sentir devido à neve que congelava cada fresta ali. Não entendia como o lugar era tão frio.

“Quem liga para temperatura quando podemos caçar alces do noroeste?” Gimli havia dito, seguido de risadas. Aquilo não havia deixado Legolas seguro, mas fazia tanto tempo que ele não saía para se divertir um pouco que acabou concordando.

Tinha feito questão de avisar Thranduil pessoalmente sobre sua viagem sem prazo. Não passaria de um mês, mas não duraria dois dias. O rei forçou as mandíbulas, pronto para contrariar. Legolas era a única pessoa em quem ele realmente confiava, apesar do pé de guerra entre os dois. Antes mesmo que ele pudesse listar a sua contra vontade, o príncipe havia deixado claro que não seria nada nos arredores, que não iriam contar com aldeias distantes e que, por Arda, ele não iria começar uma guerra. Deixou por último o fato de que ele realmente precisava de uma folga de toda a rotina de mensageiro do rei.

E ali estava ele, com a permissão má concedida do pai, praticamente pronto para viajar. Acabou por amassar um último casaco por cima da comida extra que levava na bolsa, fechando-a e jogando-a nas costas junto com suas armas. Apertou as fivelas da sua bota uma última vez, se apressando em sair do castelo. Teve sorte de não trombar com ninguém, não queria recitar explicações e desculpas. A brisa fresca brincava com a face de Legolas enquanto ele colocava os pés na estrada decorada com pedras e terras.

Andou por dois dias. Buscou abrigo e comida nesse termo em algumas aldeias que o reconheceram. Afinal, como mensageiro e príncipe, havia passado por vários lugares e ficado bem conhecido e recebido, e lhe ofereceram o que precisava. O anão havia sido bem claro com Legolas quanto ao horário e lugar: “Quando as estrelas começarem a tocar o horizonte, é melhor você estar entre as duas árvores retorcidas de musgo ou vou cortar sua cabeça!”.

Ele já havia passado pelo lugar antes, portanto, sabia onde era. Saiu de um bar da última vila antes do ponto de encontro, certo de que aguentaria mais uma noite caminhando. Apesar de tudo, Legolas sentia uma pequena pontada de desconfiança. Embora se chamasse Floresta dos Alces, o que aquele monte de árvores acolhia era muito maior que alces ou cervos. Alguns homens que passaram o resto da vida enchendo a garganta de álcool juravam ter visto morcegos cuspidores de fogo, como filhotes de dragão, o que era uma coisa impossível. Pouco se via fumaça erguendo-se no céu dali, e sempre que acontecia, vinham de fogueiras dos viajantes.

Quando o céu ficou completamente estrelado, com os corpos celestes parecendo tocar o chão ao longe, Legolas chegara às árvores. Gimli já esperava com a barriga estufada, a bolsa nas costas e o machado nas mãos. Assim que avistou o elfo, um pequeno sorriso se formou debaixo da barba. Estava sentindo falta de quando eles viviam aventuras que se tornariam lendas alguns milênios depois. Esperava poder ter a mesma sensação mais uma vez, independente de ficar registrada ou não.

— Legolas — o anão cumprimentou quando o elfo parou à sua frente, abaixando a cabeça de forma quase imperceptível.

— Gimli — o elfo curvou o canto dos lábios levemente para cima, imitando o gesto. — Pronto?

— Não seja tolo — a voz de Gimli ficou carrancuda como de costume. — Ainda temos um acompanhante!

— Quem? — Legolas franziu a testa e se virou para o longe da estrada, ouvindo as passadas do homem que caminhava até eles.

— Eddard Thorburn — Gimli apresentou antes mesmo que o tal chegasse exatamente como eles, mas trocando a arma por uma espada e uma adaga presas à cintura. — Viajou comigo até a Hiberia, é um guarda de Dúnedain e um bom rapaz.

— Jura?

— Não. Perdi uma aposta para ele naquele maldito navio, e o que ele escolheu como recompensa foi a participação em uma das minhas históricas aventuras. Palavra dita é palavra cumprida — Gimli murmurou, fazendo com que Legolas balançasse a cabeça negativamente de modo divertido.

Em poucos minutos, Eddard havia finalmente chegado. Tinha a altura considerada normal pelos homens, os cabelos e olhos escuros, a pele um pouco bronzeada e parecia ter acabado de chegar aos vinte anos. O mesmo cumprimentou Gimli e em seguida fez uma reverência a Legolas, mencionando o fato de ele ser um príncipe.

— É um prazer acompanhá-los, senhores — a voz estranhamente firme para a aparência de Eddard soou. Legolas abaixo a cabeça levemente, retribuindo o gesto do garoto.

— Ótimo! Se vocês dois não fraquejarem, vamos ter uma ótima manhã de caçada — o anão disse. Planejava entrar o suficiente na floresta, por isso havia pedido para que os dois companheiros chegassem no horário combinado.

— Então boa sorte, Gim — Eddard deu uma fraca risada quando Gimli se virou para os troncos retorcidos, entrando na floresta. Legolas passou na frente do rapaz, dando-lhe uma leve encarada antes de se virar para frente e seguir Gimli.

Ao contrário das estradas, a lua parecia ser um pouco capaz de iluminar o local. A luz apenas atravessava as pequenas frestas entre as folhas grossas das árvores longas, enquanto o frio começava a crescer de forma absurda. Andaram por algumas horas, o suficiente para a lua sumir e o céu claro tomar seu lugar - e mesmo assim, a fumaça esbranquiçada saía com a expiração -, dando paradas necessárias e jogando um pouco de conversa fora.

No final das contas, Legolas havia reparado que Eddard seria um ótimo companheiro para infernizar Gimli. Deu risadas, mesmo que fracas, das histórias que ele contava do anão na viagem para Hiberia enquanto Gimli xingava com todas as maldições possíveis.

— Quando ele viu os Tenebrae… — Eddard começou, já entre risadas, mas parou subitamente. Gimli observou-o pelo ombro, parecendo ficar mais carrancudo. — Não importa — o rapaz deixou o conto de lado.

Legolas sentiu as sobrancelhas se curvarem para baixo diante do que acabara de acontecer. Ele ajeitou seu arco, desconfortável. Não acreditava nos Tenebrae, e parecia que Gimli havia alertado o rapaz antes de se encontrar com o elfo para não falar sobre o assunto. Em parte, Legolas ficaria levemente irritado e começaria uma discussão que duraria horas e poderia acabar colocando fim no passatempo.

— Acho que é hora de darmos uma pausa mais longa — o anão anunciou, encostando-se em uma árvore e sentando-se na grama coberta por uma fina camada de gelo.

— Achei que iríamos caçar pela manhã. Acho que já estamos quase no meio do dia — Eddard bocejou, imitando Gimli.

— Caçaríamos, Ed, mas acho que não vimos sinal de vida além de nós até agora. Ou você viu? — Gimli ironizou, causando uma reação negativa na face do garoto.

Eles haviam andando muito. Talvez mais do que o desejado, o suficiente para apertar os pés. Provavelmente já estariam perto do centro da floresta. Ao longe, as orelhas de elfo de Legolas captaram o som de águas se movendo, talvez alguma nascente.

Ao contrário dos outros dois, ele continuou de pé e virou o rosto na mesma direção do som. Conseguia ouvir cascos batendo e uma língua sugando a água fria. Se o número de árvores fosse menor, talvez ele pudesse até mesmo enxergar.

— Acho que vocês vão querer se levantar logo… — Legolas disse, puxando o arco das costas e alisando seu fio.

— O quê foi? — Eddard se colocou de pé num pulo com as mãos na adaga, enquanto Gimli rolava os olhos e assumia a própria posição.

— Almoço à vista — o elfo falou, começando a andar cautelosamente para abafar o som das folhas se quebrando durante as passadas.

Atentos ao redor, os três andaram o suficiente para avistar um pequeno riacho e um pequeno cervo.

— Essa foi boa, senhor — o mais jovem sussurrou, os olhos atentos ao animal. O anão presente se movimentou para frente, pisando em um galho e assustando o cervo. — Essa não foi.

— Bolas! — Gimli exclamou. Legolas tirou uma flecha da aljava e tentou acertar o cervo, que corria desajeitadamente para a parte oposta.

— Vamos — Eddard chamou, pulando o riacho e indo atrás do bicho. Legolas e Gimli não tiveram tempo de trocar um olhar sequer, apenas foram atrás do garoto.

O elfo recolheu a flecha caída nas folhas, Eddard havia sumido de vista e Gimli olhava confuso para os lados, tentando encontrá-lo. Parando ao lado do anão, Legolas tentou escutar algo e ouviu folhas quebrando de apenas duas direções.

— Um deles foi por ali — apontou com a flecha que tinha em mãos para frente. — O outro por aqui — girou a flecha para a sua esquerda.

— Nos encontramos no riacho — Gimli disse, seguindo reto.

Legolas foi para a esquerda, desviando de árvore ou outra e já colocando a flecha em posição. Tinha sorte de ter um perfeito equilíbrio que o impedia de escorregar em alguns pisos de gelo que eram lentamente derretidos pelos poucos raios solares.

Parou por alguns instantes quando ouviu o farfalhar mais alto, voltando a andar sem pressa. Mais uma vez, praguejou contra as árvores que impediam a visão mais ampla. Teve sorte de apenas ver um vulto passando rapidamente. Esperou até que passasse mais uma vez, e quando ouviu a ação, lançou a flecha.

Infelizmente, não ouvira penetrando corpo algum, e sim, o som da mesma sendo parada no ar, e em seguida, sendo quebrada. Uma sensação nada boa percorreu seu corpo, e ele colocou outra flecha em posição. Suas pernas se movimentavam lentamente, os olhos assegurando seu redor e a audição mais ativa do que nunca.

Legolas só teve tempo de ouvir um zumbido antes de abaixar o arco e desviar-se de uma flecha que vinha na direção de sua testa, que acabou presa na árvore do lado oposto da que ele havia se encostado para o desvio. Levantou o arco novamente, girando o corpo para mirar no dono do tiro.

Por um segundo, sua mão tremulou e os olhos azuis se arregalaram, mal acreditando no que via. Ou melhor, em quem via.


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Notas finais do capítulo

Sooooooooo, o que acharam? Espero que tenham gostado, for real u_u
Demorei um cadinho pra escrevê-lo quando o fiz, hehe. Até o próximo.



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