O alvorecer de Avalon escrita por Ayumi Hana


Capítulo 1
A primeira face da deusa


Notas iniciais do capítulo

"Quando o universo atravessou os umbrais da existência
Em um fogo cósmico brilhante como um raio
Eu, Hécate, testemunhei o primeiro nascimento [...]"
—A magia de Hécate



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Na noite do solstício de inverno, ergueu-se o mastro de Beltane. Aquele havia sido mais um ano de colheita farta e todos os pagãos da grã-bretanha estavam fazendo os preparativos necessários para agradecer a deusa.

Fogueiras foram acesas e de Avalon vieram todas as sacerdotisas que não tinham prometido sua virgindade a deusa. Os homens e mulheres se despem de seus pudores, e suas roupas, para dançar sob a lua, agradecendo e pedindo novas bênçãos.

Era costume as sacerdotisas de Avalon voltarem grávidas dessas festividades e decidirem, já na ilha sagrada, se teriam ou não os frutos de tais noites. Porém, uma das mulheres que ali estavam naquela noite já sabia parte do futuro que lhe aguardava.

Brienne, alguns dias antes do solstício, estava sentada a beira do poço sagrado, quando a visão lhe chegou sem ser convocada, anunciando o destino que há tanto tempo ansiava... Saiu das fogueiras de Beltane, pela manhã, satisfeita. Trazia suas vestes de sacerdotisa novamente colocadas ao corpo e suas mãos sobre o ventre, sabendo que voltava para a casa com algo infinitamente mais precioso do que suas roupas.

Brienne via, crescendo dentro de si, a benção da Deusa. Sua barriga tornava-se cada vez maior, os passos ficavam difíceis à medida que a gravidez avançava. Estranhou quando, no quarto ciclo da lua, seus pés já estavam inchados e doloridos, e seus movimentos eram desajeitados. Sendo mãe de outros dois filhos, sabia que tais sinais apareciam, mas esperava que demorassem mais.

Nove ciclos de lua se passaram e, no meio do outono, em um dia tranquilo, Brienne sentiu uma forte pressão no baixo ventre. Colocou as mãos sobre os rins e mordeu o lábio inferior, sabendo que chegara a hora tão esperada... Morgana, sendo senhora do lago, ordenou que fossem feitos os devidos preparativos.

Durante toda a manhã e boa parte da tarde, a sacerdotisa ficou confinada a casa de sua senhora, tendo como companhia as irmãs treinadas nas artes do parto. Andara de um lado para o outro por horas, tentando induzir sua criança a nascer, até que finalmente se sentiu exausta demais para continuar caminhando e foi autorizada a se deitar... Enquanto esperavam, as sacerdotisas faziam preces à Deusa. Pediam que a criança nascesse com saúde, que fosse boa, forte e,  principalmente, que fosse garota.

Todas pareciam aflitas com a demora do parto, menos aquela que de fato paria, pois confiava plenamente na vontade da Deusa. No momento em que o sol começou a descer, tingindo o céu com tons de dourado e laranja, Brienne sentiu uma forte pressão e suas roupas simples ficaram encharcadas. Havia finalmente chegado a hora. O esforço foi grande, por mais força que fizesse, e fazia muita, parecia não ser capaz de colocar no mundo a bênção que lhe fora prometida. Por um momento, Brienne teve medo, mas a Deusa não falharia com sua filha.

Quando a lua cheia subiu ao céu e as estrelas brilharam como fadas curiosas, elas vieram ao mundo. Morgana soprou o rosto pequeno das garotas, que passaram a chorar, mostrando a Avalon o quanto eram fortes. Entregou-as para sua mãe, que olhava maravilhada para as garotas.

Eram diferentes uma da outra como os dias eram das noites. Ambas tinham a pele clara, mas essa era a única semelhança. Aquela que foi chamada de Mallory tinha cabelos negros como ébano e, quando abriu os pequenos olhos para fitar o mundo a sua volta, descobriram-se ali dois calmos lagos azuis. – A conselheira de guerra, como seu pai. – Murmurou Brienne, enquanto sorria à filha já silenciosa.

A outra, mostrando desde sempre o abismo entre as personalidades, chorava a plenos pulmões. Brienne lhe sorriu também, roçando o nariz suavemente sobre sua bochecha. Essa foi chamada de Kira e tinha os cabelos vermelhos como as chamas das fogueiras em que fora gerada. Seus olhos eram verdes e tempestuosos, revelando um temperamento que aos poucos se mostraria complicado. – A senhora que tem plena autoridade, como a mãe. – Sussurrou para o pequeno bebê que ainda estava agitado.

Naquele momento todas as sacerdotisas de Avalon se viam felizes com duas novas garotas a quem criar. Todas estavam espantadas, afinal, gêmeos não eram comuns naquela época. Não obstante, lá estavam as meninas, pálidas e saudáveis, curiosas sobre o destino mágico para o qual foram escolhidas.

Morgana subiu até o grande poço para agradecer a Deusa pela dádiva e quando fitou seus olhos negros na Lua que iluminava a chapa, sentiu a presença da Deusa. Soube, naquele instante, como de fato deveria agradecê-la. Duas noites após o nascimento das gêmeas, Morgana reuniu todas as mulheres que na ilha habitavam para uma cerimônia de agradecimento à Deusa. Subiram a colina, cada qual com suas roupas mais bonitas. A senhora do lago conduzia a procissão com elegância, segurando à pequena Mallory em seus braços. Ao seu lado encontrava-se Brianne com Kira. Chegando ao círculo das pedras caídas, ao qual chamavam de Thor, posicionaram as crianças que, após enroladas em um manto, foram colocadas em um cesto de bambu ao centro do círculo. E então a Deusa, em um sinal de condolência, fez com que as portas dos céus se abrissem num brilho singelo; as estrelas se acenderam... Foi possível ouvir o doce canto mortal das sereias acompanhadas da orquestra do bater de asas das fadas. E dos quatro cantos vieram; Do norte chamou-se a terra: saúde e força lhes foram dadas. Do leste chamou-se o ar que, em uma sinuosa brisa, dotou-as de inteligência e criatividade. Do oeste chamou-se a água que, colocada em um cântaro, fora derramada na boca das duas pequeninas, dando-às amor e intuição. E por fim do sul chamou-se o fogo que faziam seus olhos reluzirem, principalmente os de Kira que em um leve sorriso ficara encantada com o que acabara de sair das chamas...

Morgana e Brianne se entreolharam quando perceberam que duas grandes figuras etéreas saíam do fogo. Eram altos, por volta de 1,80m, feitos de fogo, com os ombros largos e músculos definidos. Usavam uma placa peitoral de bronze incandescente e grandes lanças de guerra. Em seus escudos havia imagens e símbolos mágicos. Seus olhos eram negros, como a lenha depois de dar vida à fogueira. Eram duas salamandras, em forma de guerreiros. ­– Somos os protetores das escolhidas. – Murmuraram os dois juntos com um tom de voz alta e autoritária. Eram eles Adjim e Djim, os gêmeos, as chamas do fogo sagrado. Após se identificarem, transformaram-se em pequenas chamas saltitantes e pularam ao redor das crianças até desaparecerem nas brasas. Todas ficaram maravilhadas, pois nunca tinham visto as chamas do fogo sagrado se manifestarem daquela maneira. Certamente, as meninas eram especiais para receberem tal benção... Depois de um longo agradecimento aos elementos que ali conceberam suas dádivas, Morgana prosseguiu a cerimônia.

Um pequenino duende aproximou-se dela e deu dois puxões no manto negro que vestia Morgana. Ela fitou os seus olhos doces e viu em suas mãos dois colares de pedra da lua. Pensou que era cedo demais para aquilo, pois quem usa os colares são apenas as sacerdotisas formadas de Avalon, mas algo dentro dela dizia que aquelas pequenas garotas tinham um futuro reservado pela Deusa. Então pegou os colares e agradeceu ao pequenino, após pesar o que seu coração dizia, colocou os colares sobre o peito das gêmeas e por fim, num ato intuitivo, pintou um crescente na testa de Mallory e Kira. Terminada a cerimônia de agradecimento a Deusa todas dançaram em espiral ao redor dos cestos. Assim a noite foi regada por sorrisos convencidos de que a alegria pairava sobre as terras de Avalon.


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Notas finais do capítulo

Você que leu e gostou, comente falando o que achou. E saiba que em breve será lançado as ilustrações e o site da fic. Então obrigado caro leitor.



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