Elementium - Volume 1 - A Ascensão escrita por Sophia Jackson


Capítulo 19
Divido Rosquinhas com um Segurança


Notas iniciais do capítulo

Olá Pessoas...
Então gente, eu nem tenho como me desculpar pelos dois meses, então nem vou tentar.
Mas... Como eu não queria voltar depois desse tempo todo, não dar explicações e postar apenas um capítulo, eu escrevi dois, referentes a maio e junho. E também vou postar o de julho adiantado, provavelmente semana que vem.
Esse é o 19, que devia ter sido postado em maio.
Até as notas finais e perdão pelos erros.



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Explosões. Sim acho que posso chama-las de explosões.

Não, definitivamente não são explosões, essa não é a palavra que pode defini-las.

Talvez erupções. Me parece uma boa descrição.

Não seja ridícula, você não está com erupções no cérebro.

Não lembro de ter te chamado.

Você não precisa me chamar, eu moro na sua cabeça, automaticamente somos a mesma pessoa.

Não somos a mesma pessoa, se fossemos deveríamos concordar, não?

Não. Não irei concordar com você quando está vegetando em um quarto de hospital pensando em erupções, francamente, estou decepcionada.

Eu não estou vegetando e para sua informação eu ainda comando meu corpo, então, cállate!

Espere... eu falei em espanhol?

Não, em alemão.

Não era para responder, foi uma pergunta retórica e eu já te disse pa...

   – Bom dia. – uma voz interrompe minha discussão com minha consciência. – Eu sei que você não está dormindo.

   – Como? – minha voz sai preguiçosa devido os minutos que estou tentando dormir. Ou seriam horas?

   – Sua respiração está muito acelerada para estar dormindo e você acabou de falar comigo. – devo concordar que ela tem um bom ponto.

   – Eu podia estar tendo um pesadelo e minha respiração teria ficado acelerada, isso não diz nada, e quanto a te responder – penso em algo para dizer, mas minha mente ainda está um pouco nebulosa por causa de tudo – você podia ter me acordado quando entrou.

Escuto seu suspiro cansado, mas não abro os olhos. Nos últimos dois dias venho tentando me recuperar por completo da minha quase morte, porém, não parece estar surtindo efeito, considerando que não consigo pregar o olho desde que acordei do coma.

   – Não conseguiu dormir? – agora o tom preocupado se apresenta.

Mari e Lili vem sempre antes no café, no almoço e jantar. Se revezam ou vem as duas. Sinto falta dos meninos, não os vi mais desde o dia que acordei. As duas dizem que eles estão ocupados ou cansados demais para vir aqui, mas não sei se essa é realmente a verdade.

Nesses dois dias percebi o quão magoada Lili ficou com minha demonstração de coragem. Ontem, durante o café onde ela fez questão de trazer algumas guloseimas do colégio para mim, o assunto surgiu e ela finalmente revelou sua posição diante o assunto. Ao contrário do que eu pensava, ela não estava com raiva pelo que fiz, mas sim desapontada e magoada por eu não ter pensado neles. Talvez ao ver de outras pessoas isso possa soar egoísta, mas no pouco tempo que passei que ela, pude perceber o quanto Lili é sensível no assunto perda e realmente me senti mal ao perceber o estrago que fiz.

Marian ainda não conversou comigo sobre o que aconteceu, apenas expos que se sente grata por eu não ter morrido. Ela não é muito de falar o que pensa sobre as coisas, na maioria das vezes apenas senta e observa, tirando suas próprias conclusões sem dividi-las com os outros.

Escuto a cadeira arrastar no chão e sei que ela está sentada agora e seus pés estão batendo suavemente no chão o que é um indicio de ansiedade. Abro alguns milímetros do meu olho direito e a vejo me encarando, volto a fechar os olhos e desde já me arrependo do que estou prestes a fazer.

   – Sim, consegui. – minto e abro novamente o olho direito vendo sua expressão surpresa – Pouco, mas consegui.

— Isso é ótimo. – sua voz contem um quê de animação agora.

   – É, sem dúvida.

Você não devia mentir para seus amigos.

Jura?! Eu sei disso, mas acha que se eu contasse que não consegui nem ficar com os olhos fechados por mais de três minutos nas últimas quarenta e oito horas ela ficaria feliz?

Isso não é o certo a fazer, está enganando ela. Aposto que ela preferia saber a verdade e ficar preocupada do que ficar feliz e estar sendo enganada.

Virou poeta agora?

Olha, eu só estou cansada de todos me olharem como se eu estivesse doente. Caramba é só uma insônia, já tive muitas delas, qual o problema? Não é algo realmente sério.

Se você diz.

Mas que diabos voc...

   – Thais? – sou tirada dos meus pensamentos por Marian – Ei! Você está me escutando? Você está bem?

   – Estou bem. – certo, eu não devia ter me distraído – Desculpe, são ouvi o que disse.

   – Você parece cansada. – não é uma pergunta e sei que ela está desconfiada – Tem certeza que dormiu?

   – Sim, mas como falei antes foi pouco.

Você é uma péssima mentirosa.

Eu sei! Eu estou mentindo para uma garota inteligente demais para cair nisso. Suas sobrancelhas arqueadas e a cara de deboche demonstram o quanto ela acredita em mim no momento.

   – Não minta pra mim Thais, não é um jogo que você queira jogar. – ela não deixa espaço para gracinhas com sua voz cortante e assustadoramente calma.

   – Não estou mentindo.

Idiota, pare de jogar, ela avisou que você não quer fazer isso.

Talvez você pudesse me ajudar a calar minha boca em vez de ficar atrapalhando.

Achei que você “comandava seu corpo”.

Não vou ter essa discussão com você. Chega.

— Ótimo, então se você não está cansada e nem nada do tipo... – maravilha, o sorriso que ninguém em sã consciência quer ver está estampado em seu rosto – ... Não será problema algum se levantar dai e me mostrar um dos truques que aprendeu na aula de combate.

Cheque mate!

Sim, você está certa. Não consigo nem levantar um braço sem um tremendo esforço, quem dirá sair da cama.

   – Quando quiser enganar alguém, seja um pouco mais cuidadosa com detalhes. – ela não espera que eu me levante – Seu corpo está se recusando até mesmo abrir os olhos. Como eu disse, não jogue um jogo que não quer perder.

   – Não foi bem isso que você dis...

   – Thais. – sua voz está cansada novamente e pelo canto do olho vejo-a apoiar a cabeça na mão – Só diga a verdade.

   – Está bem. – forço minhas pálpebras abrirem, mesmo com todo o resto do meu corpo me condenando – Faz quarenta e oito horas que eu não durmo, todo mundo está me tratando como se eu estivesse em um estado terminal de alguma doença, meus amigos ficaram bravos por eu ter salvado uma vida e eu realmente não acredito que três deles estejam ocupados o bastante para não poder passar nesse maldito hospital por poucos minutos. Você quer a verdade Marian, mas não é sincera comigo.

Seus olhos azuis ficam fixos em meu rosto, estudando cada expressão e sei que seu cérebro trabalha a todo vapor. Antes de me responder ela suspira e encara o chão.

   – Jack está viajando com o pai e Valeri, problemas familiares. Max se recusa a vir se não conseguir trazer Austin junto. E Austin... – ela hesita tanto que me faz pensar que talvez eu não queira a resposta - ... Ele não quer te ver, parece que não de “perdoou” pelo que fez.

   – Não sabia que salvar uma vida era um crime contra a politica de Austin e muito menos que precisava do perdão dele. – continuo encarando ela e não consigo esconder minha irritação – de qualquer forma, não faz diferença.

Ela levanta os olhos e me estuda, mas antes que consiga falar algo, o cansaço me vence e sou obrigada a fechar os olhos e afundar nos cobertores novamente. Agora é oficial, minha energia já era.

Escuto a cadeira arrastando no chão e sua mão segurando a minha. A forma como faz um “carinho” no dorso dela consigo perceber que a preocupação tomou conta de si novamente. Queria muito poder me perder na inconsciência, estou com saudades dela.

   – Eu posso pedir a algum medico que te de algo para dormir. – a gentileza é palpável na sua voz.

   – Não quero remédio, mas obrigado. – as palavras saem cansadas, deixando transparecer o esforço que é proferi-las.

   – Thais, se você continuar assim não vai aguentar por muito tempo e não podemos correr os risco de você entrar em coma novamente. – ela falha miseravelmente ao tentar esconder o pânico.

   – Como isso pode me afetar tanto? É apenas uma insônia, já tive várias. – mesmo tentando convencer a mim mesma, estou ciente que essa crença está errada.

— Não. Isso não é só uma insônia, quando você era mortal não te afetava tanto assim, claro você ficava cansada, mas aqui, influencia diretamente sua capacidade de sobrevivência. – ótimo, mais confusão – Não sei se já te explicaram essa nossa dependência, mas acontece que somos mais vulneráveis que seres humanos no quesito alimentação e descanso. Nossos poderes e a capacidade de nos mantermos vivos nesse planeta, sem sermos afetados pela atmosfera tem que ser constantemente recarregada, por isso muitos chamam o sono e a fome de falta de bateria, porque é exatamente isso, precisamos de um carregador. E acho que você sabe o que acontece quando a bateria de algo acaba.

Analiso cada uma de suas palavras com atenção para ver se entendi tudo corretamente. Nem mesmo tento abrir os olhos, sei que não consigo, mas tento ao menos dar um sinal que entendi. Forço as palavras saírem mais uma vez.

   – Acha que o tal remédio funcionaria mesmo? – não sei dizer qual é a dor que sinto e nem onde, mas posso afirmar que falar dói de alguma forma.

   – Eu vou chamar o médico. – sinto mais um aperto em minha mão antes dela se afastar.

Muito bem, análise rápida: se eu não dormir posso morrer. Se eu não comer posso morrer. Acho que o professor estava errado, existem outras maneiras de morrer além das duas tradicionais.

A porta se abre e escuto passos em minha direção. Alcaçuz. Alcaçuz e limão, esse é o cheiro que invade meu nariz assim que alguém se aproxima. Tento a todo custo abrir meus olhos, mas é impossível. Sinto uma leve pressão em minha testa e a pela formiga um pouco.

   – Bom dia. – a voz é masculina, grossa e gentil – Não precisa me responder, fiquei sabendo que não dormiu nos últimos dois dias. Bem, temos que resolver essa situação. Tem medo de agulha?

   – Não. – minha voz sai tão baixa que não tenho certeza se ele escuta.

   – Que bom. Sou o doutor Dirk, venho cuidando de você desde que chegou. – é claro, como não reconheci a voz, era ele quem falava enquanto eu estava em coma – Vou aplicar um sedativo em você, não se preocupe, não é forte, mas te obrigará a dormir. Se sentirá melhor quando acordar.

Escuto alguns barulhos metálicos, mas não tento decifra-los. Nesse meio tempo apenas uma palavra ronda meus pensamentos. Sedativo. Certo, eu preciso dormir, Marian deixou isso bem claro, mas ao me lembrar dos momentos em coma, as outras lembranças também voltam. Desde que cheguei não pensei muito naquela maldita voz, mas o ocorrido de cinco dias atrás trouxe isso a tona. Se quando eu estava em coma “sonhei” com tudo aquilo, não estou tão ansiosa para ver o que vai acontecer se eu dormir.

Mesmo com o medo tomando cada célula do meu corpo, sou incapaz de protestar e apenas fico imóvel enquanto a agulha é colocada em minha veia. Sinto uma queimação no meu braço e tudo ao meu redor vai perdendo velocidade. Os barulhos são lentos assim como as vozes que não consigo identificar.

Sinto meu corpo mais pesado e meus pensamentos sendo perdidos em meio a inconsciência para finalmente ser embalada em uma camada grossa e preguiçosa de escuridão, sem barulho ou imagens desagradáveis, apenas o bom e velho silêncio.

Ah... Certo, o que é isso?

Ao o que se refere?

Não está sentindo?

Sentindo o que?

Esse calor estranho.

Onde?

Na minha mão, eu acho.

Sim, mas não sei o que é e também não sabia que estava incomodando.

Não está, é confortável, mas o que está causando ele?

Já disse que não sei.

De onde vem essa luz? Isso sim está me incomodando.

Apenas ignore e fique quieta, eu gostaria de dormir mais.

Não consigo, essa luz está realmente me impedindo de dormir.

   – Ei, eu pedi para não acender a luz, isso pode acordá-la.

   – Eu disse a ela, mas acho que alguém não possui audição.

   – Estava muito escuro aqui.

   – A escuridão é confortável, aposto que ela concordaria.

   – Não é confortável pra mim e sabe disso.

   – Já chega. Qual é, ela precisa descansar então parem de fazer barulho.

Vozes, vozes e mais vozes. Estava tão bom o silêncio, por que ele sempre acaba?

Mande-os calarem a boca, não quero acordar.

Talvez esteja na hora de acordar.

Ou talvez não.

Você nem sabe a quanto tempo estamos dormindo.

Quem se importa? Sei que não é o suficiente.

Pare de ser tão preguiçosa.

Olha quem fala. Lembra quando eu disse que éramos a mesma pessoa e você discordou?

Sim.

Pois é, acho que estava certa, você é muito estraga prazeres para ser eu.

Ora, cale a boca e me ajude a abrir os olhos.

Por que eu faria isso?

Por que estou pedindo?

Resposta errada. Divirta-se acordando sozinha

Você é detestável.

Vamos lá corpo, me obedeça por favor. É sério não temos o dia todo. Ou noite. Não importa, apenas acorde.

— Acho que ela está acordando. – a voz parece próxima, mas não consigo identifica-la devido a camada de sonolência que me cerca.

   – Por que acha isso? – está um pouco distante, mas consigo saber que é masculina.

   – Ela apertou minha mão e a respiração está mais forte. – é de uma garota e extremamente familiar.

Aos poucos consigo sair do resto de inconsciência que me envolve e finalmente abro os olhos. A luz dificulta essa tarefa, pois está bem na minha frente.

— Quem... – minha garganta arde e tusso um pouco – Quem teve a brilhante... ideia de acender a luz?

Uma risada toma conta do local e a luz se apaga, permitindo que eu abra os olhos. Quando me acostumo com a falta de claridade consigo ver quatro silhuetas no quarto. A janela está aberta e a luz pálida da lua atravessa a fresta entre as cortinas. Uma leve brisa entra no cômodo, deixando-o ainda mais agradável.

   – Tudo bem, pode acender agora. – as palavras saem mais facilmente dessa vez.

A luz volta a tomar conta da minha visão, mas não demoro muito para me acostumar. Assim que as imagens entram em foco encontro um par de olhos verdes e um sorriso enorme.

   – Oi. – devo estar olhando para ela com uma cara engraçada porque ela ri – ei, não faça essa cara e me desculpe pela luz, não gosto do escuro.

   – Quer fazer o favor de deixar ela respirar, pelo amor de Zeth, você está em cima dela a horas. – meu Deus, como não reconheci a voz dele antes.

Meus olhos procuram-no pelo quarto e uma careta toma conta do meu rosto quando não o encontro.

   – Maninho, pare de ser chato, vai ter sua chance de falar com ela. – revira os olhos enquanto fala.

   – Que tal os dois pararem de encher o saco, a garota acabou de acordar e vocês já querem causar uma dor de cabeça nela. – novamente, como não reconheci ele também.

   – Ela é imune a dor de cabeça querido. – os olhos verdes brilham divertidos.

   – Mas não a chatice de vocês dois, infelizmente. – mesmo não vendo-o sei que está com sua típica cara de cansado – Rachel, deixe ela respirar, por favor.

Rachel revira os olhos mais uma vez antes de se afastar e finalmente consigo vê-los. Abro um sorriso instantaneamente ao constatar que eles estão exatamente da forma que achei que estariam. Meus olhos fixam em Max, parado no batente da porta, com os braços cruzados sobre o peito e um sorriso enorme no rosto.

Tento me sentar, mas uma tontura arrebatadora toma conta de mim e sou obrigada a deitar novamente.

   – ¡Dios Mio! ¿Fui golpeada por um camión mientras se duerme? - as palavras saem tão naturalmente que nem percebo o idioma.

Todos me encaram e depois dão uma gargalhado coletiva.

   – Certo, certo, eu te ajudo. – Lilian anda ate mim e me ajuda a sentar.

Fico de olhos fechados enquanto uma dor aguda sobe pela minha espinha. Já senti isso antes, são os efeitos de ficar muito tempo em uma posição, principalmente se estiver dormindo. Espero meu corpo se acostumar com a posição e relaxo quando a pontada em minhas costelas some.

   – Tudo bem? – sua voz está perto agora e não sei se bato nele ou se o abraço, decido fazer os dois.

Abro uma pequena fresta em meus olhos e o abraço. Ele retribui e da uma leve risada.

— Se você ficar de idiotice e não vir até aqui da próxima vez, juro que mato você Evans. – desfiro um tapa em suas costas enquanto falo e ele ri mais uma vez.

   – Desculpe, eu só queria que uma certa pessoa parasse de criancice. – ele se afasta e me encara com olhos tristes.

   – Não me importo com ele ou com a opinião dele, mas fico feliz que tenha vindo. – ele assente, mas antes que possa dizer algo é empurrado para o lado e Rachel entra em meu campo de visão com uma expressão magoada.

   – Vou fingir que não vi essa demonstração de afeto para com meu irmão depois de ter ignorado o meu oi. – ela cruza os braços e mantém a falsa chateação.

Solto uma gargalhada e puxo-a para um abraço ao qual ela retribui de bom grado. Como sempre acontece quando Lamps encostam em alguém, um calor se espalha pelo meu corpo e a risada de Rachel é reconfortante.

   – Tudo bem solzinho, agora de espaço para os outros. – a voz masculina toma conta do quarto e Rachel resmunga antes de se afastar.

Encaro os olhos escuros e o sorriso de lado dele. É, senti falta de todos mais do que pensei que sentiria. Nesse pouco tempo de convivência eles já se tornaram parte da minha vida e agora tenho certeza que não conseguiria deixa-los.

   – Bom te ver Wind. – o sorriso debochado não deixa seu resto nem quando me abraça – por um momento, pensei que tivéssemos perdido você.

   – Não pretendo ir embora tão cedo. – ele se afasta e sorri diante a afirmação.

   – Bom saber.

   – Saia Blake, quero meu abraço. – Lilian praticamente o empurra e ele volta a se sentar na poltrona no canto do quarto – Oi, como você está?

Retribuo o abraço fortemente. Não sei como, mas Lili tem o poder de fazer qualquer um se sentir bem com apenas um abraço. Não que eu esteja me sentindo mal, mas é como se ela passasse uma onda de adrenalina através abraço.

   – Estou bem. – ofereço um sorriso para confirmar o que disse – estava certa, eu só precisava de algumas horas de descanso.

   – Fico feliz, Mari estava muito preocupada com você, ficou aqui quase o dia todo, perdeu todas as aulas, só foi embora porque ameacei contar ao Jack. – uma onda de culpa me atinge com as informações novas, Mari perdeu aulas por minha causa – Ele queria vir, mas estava ocupado...

   – Viajando com o pai e a Valeri. – interrompo ela – eu sei.

— Isso, pediu desculpas e disse que quando voltar quer te ver nos corredores do colégio. – informa sorrindo.

   – Espero que sim, mas e então, como está tudo do lado de fora? – agora que minhas forças voltaram me sinto bem o bastante para conversar e Deus, como senti falta disso.

   – Tudo igual. Os treinos estão rigorosos, as aulas chatas, a mesma droga de sempre. – Rachel da de ombros.

   – Nossos pais iriam adorar saber o quanto você ama o colégio Rachel. – me surpreendo com o sarcasmo na voz de Max, é raro ele usá-lo.

   – Eles já sabem caçulinha, fiz questão de deixa-los informados de que não sou igual a você. – existe certa magoa na voz de Rachel e seu sorriso vacila um pouco, mas ela logo se recompõe.

   – Não me chame de caçulinha, Rach. – a expressão de Rachel se torce em uma careta diante as palavras do irmão, mas é interrompida antes de retrucar.

   – Pare de provocar sua irmã, Maxwell. – é a vez de Max fazer uma careta, mas não diz nada, talvez porque sabe que Lilian não está brincando – E você se contenha Rachel Evans.

   – Uau. Você vai ser uma ótima mãe Lilian. – Blake debocha risonho.

   – Nem comece Shadow, sei muito bem quem te faz parar com suas gracinhas, não esqueça quem está no refeitório. – a repreensão na voz de Lili faz com que Blake engula em seco.

   – Quem está no refeitório? – tenho certeza que tem um ponto de exclamação pintado em minha testa.

   – Uma amiga. – Lilian responde com a voz doce, estou começando a achar que ela é bipolar – Falei com os médicos enquanto você dormia e tenho uma boa notícia.

   – Então? – por favor seja o que eu estou pensando.

   – Doutor Dirk disse que você vai receber alta amanha a tarde, mas que deve ficar de repouso por pelo menos dois dias. Isso significa que não deve usar seus poderes, então, está liberada de todas as aulas de treinamento. – Seu sorriso aumenta quando termina e não sei exatamente como reagir, mas Rachel me poupa de uma resposta.

— Caramba! Acho que vou me trancar em um porão escuro e ficar sem luz do sol por uns dias para receber esse presente também. – mesmo sua expressão estando inconformada, sei que ela está apenas brincando.

— Não precisa tanto esforço, posso te colocar em uma maca agora mesmo, é só permitir. – Blake oferece sorrindo marotamente.

   – Eu passo, obrigada querido. – Rachel responde irônica.

   – Você precisa chamar todos os garotos do mundo de “querido” ? – Max parece desconfortável e Rachel o encara com um sorriso divertido.

   – Ciúmes querido? – as palavras saem venenosas de sua boca e seu sorriso e quase maldoso.

   – Não eu só acho que você não precisa de tanta intimidade com os outros. – o sorriso da Evans aumenta ainda mais ao perceber o desconforto do irmão, esta que não sustenta seu olhar.

   – Não sabia que você tinha que achar algo da minha vida, ou da minha intimidade com as pessoas Prizament. – se antes eram venenosas agora cada sílaba parece representar uma morte diferente para Max.

   – Ela disse Prizament, isso vai ficar feio. – Lili diz ao meu lado e sua voz está aflita.

Blake apenas observa da poltrona, como se quisesse sumir em meio as sombras. Os irmãos se encaram, mas o motivo da briga não parece ser a atual situação. A mágoa é quase palpável na voz de Rachel e Max não parece estar muito satisfeito com a irmã. Sei que a relação entre irmãos não é a melhor do mundo, a maioria dos meus amigos não se davam bem com os deles, mas parece ser algo mais profundo do que um simples desentendimento.

   – O que aconteceu com eles? – sussurro para Lili, mas ela não responde.

   – Não fale nosso sobrenome em vão Rachel, francamente pare de ser tão infantil o tempo todo. – ele finalmente diz algo, mas é visível sua irritação – Pare de agir como uma criança mimada o...

   – Você não devia nem ao menos estar falando comigo, ou acha que eu vou fingir que está tudo bem depois do que você fez, me desculpe irmãozinho, mas eu realmente não consigo não te odiar no momento. – seus olhos verdes faíscam e escurecem.

— O que eu fiz! Não me culpe pelos seus erros Rachel, você sempre foi ...

Max é interrompido por uma escuridão repentina que domina o quarto e o corredor.

— Agora vocês se ferraram. – Blake diz baixo, mas devido ao silêncio é escutado claramente.

— Não piore as coisas Adreotti. – ah... isso não é bom, a frieza na voz dela diz o quão feliz ela está no momento.

As luzes voltam aos poucos. Quando tudo está iluminado novamente, Max ainda está na mesma posição, porém, uma mão está cobrindo sua boca. Rachel está calada e evita o olhar da amiga. Lilian apenas suspira ao meu lado, como se desistisse de ajudar os irmãos.

— Tenho certeza que o que você ia dizer seria muito produtivo Max, me desculpe por interrompe-lo, mas eu acho que vocês dois devem estar com problema de audição, já que vou ter que repetir tudo o que disse mais cedo. – o quarto parece ficar mais gelado diante as palavras da garota, ela não exibe nenhum sorriso e interrompe Rachel quando ela tenta dizer algo – me poupe de suas desculpas Evans.

Ela tira a mão do rosto de Max e ele não se atreve a dizer nada. Não o culpo por ficar com medo, até eu não consigo encarar os olhos da Shadow e não tenho nada a ver com a história.

   – Voltem para o colégio, acho que precisamos ter uma conversinha. – seus olhos brilham, causando ainda mais desconforto nos irmãos que sem hesitar desaparecem, ela se vira em minha direção e suas feições mudam repentinamente de cruel para alegria, exibindo um sorriso – Olá, fiquei feliz em saber que está bem.

   – Pois é, as coisas foram um pouco conturbadas na excursão. – comento analisando seu rosto.

   – Sim, eu sabia que algo estava errado, mas não pude fazer muita coisa. O importante é que você está bem. – então, tão rápido quanto o sorriso apareceu ele some, dando lugar a expressão séria – Desculpe não poder ficar muito, tenho que resolver uma coisa. Até mais, espero te ver em breve.

O quarto fica mais escuro e ela some em meio as sombras. Blake parece voltar a respirar, relaxando os ombros e praticamente deitando na poltrona.

   – O que acabou acontecer? – indago sendo tomada pela confusão.

   – Milena adora fazer cenas impactantes. – Blake olha em volta como se tivesse medo que ela voltasse.

   – Isso pareceu bem real. – meu cérebro trabalha a mil por hora para tentar entender o que houve com os irmãos Evans.

   – Ela está zangada, e bem, isso nunca é bom. – Lili suspira como se pensasse nas próprias palavras.

   – Sim, tudo bem, mas não é nem ela, o que aconteceu com eles, Max e Rachel? Por que até mesmo você Lili parecia irritada com os dois? – finalmente chego ao ponto de tudo.

   – Porque eles são dois idiotas. – outro suspiro – Eles brigaram ontem por motivos desconhecidos por todos, menos Milena, aparentemente. Mas o importante é que estão agindo assim desde então, hoje cedo, Rachel jogou o Max através de uma das janelas da biblioteca no quarto andar. Eles estão insuportáveis.

   – Eles pareciam bem quando acordei. – analiso suas palavras que não perecem bater com a situação que vi anteriormente.

   – Fingimento. – ela foca os olhos nas mãos – Eles sabiam que a Milena estava no refeitório e que seria muito fácil ela escutar eles.

   – Parece que não adiantou muito. – Blake afirma mexendo em um bolso de sua jaqueta.

   – Espera. O refeitório e quatro andares abaixo. – eles me encaram confusos – como a Milena poderia escutá-los?

   – Deixa eu adivinhar. – Blake fixa os olhos em Lili – Não contaram a ela essa parte também.

   – Cala a boca Blake, não queremos sobrecarregar ela, uma informação de cada vez. – ele revira os olhos e volta a se concentrar na jaqueta – Thais, é complicado, quando voltar aos treinos vai descobrir.

   – Tá, tanto faz. – resmungo arrancando uma risada de Blake.

   – Ei, não fique assim – Lili me abraça quase me enforcando – você vai descobrir, relaxa.

Conversamos durante um tempo até que eles precisam voltar para o colégio. Uma enfermeira passa e me informa que provavelmente eu não vou dormir mais hoje, já que recarreguei todas as minhas energias. Aproximadamente onze horas, todas as luzes do meu andar – que fui informada ser o andar de repouso – são apagadas o que quer dizer que os outros pacientes vão dormir, enquanto eu, ficarei a noite toda sem fazer nada.

Eu tentei convencer o segurança do andar para ele me dar pelo menos um quebra-cabeça, mas ele insistiu que estava na hora de dormir. Acho que não avisaram a minha situação para o sujeito. No corredor, acima da porta do elevador tem uma placa enorme deixando claro que é estritamente proibido ascender as luzes. Eu sei de sua existência porque já tentei zarpar sorrateiramente do quarto, mas David, o segurança, me trouxe de volta.

Ele é chato, muito chato. Eu podia simplesmente fugir pela janela, mas não posso usar meus poderes, por isso estou tentando encontrar uma maneira de distrair David para eu poder fugir. Talvez o alarme de incêndio... Não, isso não seria justo com os outros pacientes. Ah! Escada de emergência!

Corro até a janela com expectativa. Certo... não tem escada de emergência. Muito bem, muito bem... hum... não consigo pensar em nada além de bolinho de carne.

Eu preciso desesperadamente entrar naquele refeitório, pelo que sei eu estava dormindo na hora da janta o que significa que eu não comi nada mais que duas torradas o dia todo. Eu estou com fome!

Talvez eu deva roubar uma das rosquinhas de David, já que ele é o meu empecilho no momento. Como eu queria ser uma Shadow. E se eu fizesse a água do corredor ir até a cara dele, isso seria engraçado e o distrairia por um tempo.

Nem pense nisso, sem poderes, não se lembra?      

Tá, tá, certo, sem poderes.

E se eu fingir estar passando mal, o que ele faria? Provavelmente me mandaria para cama como fez da ultima vez. Sim, eu já tentei isso. E se...

   – Ei garoto! – minha linha de pensamentos é interrompida por passos pesados no corredor – volte para cama, o que está fazendo?

Vejo David passar correndo por mim. É agora!

Saio silenciosamente do quarto e sigo para as escadas, não quero fazer barulho e o elevador não ajudaria muito. Toma essa David!

Desço calmamente até o refeitório que, ao contrario do sétimo andar onde eu estava, está todo iluminado e cheio de comida. Para minha sorte não tem ninguém. Pego a comida que tem uma cara maravilhosa, principalmente os bolinhos de carne. Deus, como eu amo isso!

Sento-me em uma mesa afastada, escondida no canto e me ponho a devorar tudo que está no prato. Estou em meu oitavo bolinho quando vejo uma sombra. A porta se abre lentamente e por um momento penso que estou vendo coisas, mas logo consigo ver uma cabeleira negra atrás do balcão. Fico encarando o que penso ser uma criança, atenta a todos os seus movimentos. Consigo ver suas mãos pegando algumas coisas no balcão, mas ainda não vi seu rosto.

Quando se dá por satisfeito, caminha até uma mesa de costas para mim. É um garoto, vestido com calça e blusa azul, a roupa que eles nos permitem usar no andar de repouso. Ele escolhe mal sua mesa, considerando que qualquer um pode vê-lo assim que entrar no corredor principal.

   – Se não quer ser visto pela segurança, é melhor se sentar em uma mesa mais afastada. – minha voz sai baixa, não quero ser pega.

Ele se assusta com minha voz e quase derruba o prato, então, finalmente se vira para mim. Eu sabia que era um garoto, mas não sabia que era aquele garoto. Seu rosto está pálido, agora consigo ver seus olhos, verdes, quase tão claros quanto os de Rachel, os cabelos completamente desarrumados.

Nos encaramos por um tempo, não creio que ele saiba quem sou, pois estava morrendo quando o encontrei. Vejo-o engolir em seco quando largo os talheres e o olho com mais atenção. Talvez pense que vou manda-lo para o quarto.

— Está tudo bem. – garanto-lhe – Assim como você, eu fugi do quarto, o que me lembra, obrigado por distrair o guarda. Foi você, certo?

Ele assente timidamente. Céus! Ele deve ter uns cinco ou seis anos. O que diabos estava fazendo sozinho no Alasca?

Por que você acha que ele estava lá?

Pare de me interromper!

Tudo bem, eu tenho uma boa noção do porque de ele estar lá. Tenho vontade de matar todos que lhe fizeram mal. Olho em volta e o encaro novamente, seus olhos estão brilhantes, um pouco assustados e me sinto mal porque, talvez, eu o esteja assustando.

   – Olha, que tal você sentar aqui? Prometo que se alguém chegar eu levo a culpa, não seria novidade. – ofereço sorrindo.

Seus olhos me analisam ponderando, então anda devagar e silenciosamente até a mesa e se senta a minha frente. Ele come de cabeça baixa e rapidamente, como se estivesse morrendo de fome. Termino o resto da minha comida e o observo comer, quando ele percebe, levanta o olhar e volta a abaixar a cabeça corando levemente.

   – Qual seu nome? – pergunto e ele fica estático, como se a pergunta fosse perigosa – O meu é Thais Windchest.

Ele volta a comer em silencio e já estou conformada quando escuto sua voz. Graças a Zeth tudo está em silêncio, ou eu não entenderia nada.

   – Patrick. – ele ainda parece fraco e as imagens da excursão tomam a minha mente – Patrick Kayle.

   – Kayle é seu segundo nome, certo? – ele assente sem me olhar – qual seu nome inteiro?

Ele para por um momento e pensa, como se não lembrasse do nome. Quando levanta a cabeça, seus olhos estão desfocados, perdidos em alguma lembrança, eu acho.

   – Não me lembro. – ele suspira pesadamente, como se a falta de lembrança fosse constante – tento me lembrar de muitas coisas, mas não consigo. Meu sobrenome é só mais um item na lista de memórias não existentes.

Ele parece triste e me sinto culpada por ter trazido isso a tona. Enquanto Patrick come o que ainda está em seu prato, penso em algo para começar uma conversa.

   – Quantos anos tem? – é a primeira coisa que vem a minha cabeça.

   – A enfermeira Marta me disse que tenho seis, mas não consigo me lembrar de últimos anos, muito menos meu aniversário. – o ar infantil que paira a sua volta me da vontade de apertá-lo, ele é extremamente fofo – e você, quantos anos você tem?

— Quinze. – respondo automaticamente.

— Por que você está aqui, no hospital? O que aconteceu com você? – sua voz continua baixa e penso muito antes de dar-lhe a resposta.

— Me machuquei salvando um amigo. – isso não deixa de ser verdade.

— Mas, você está bem? – seus olhos verdes me encaram curiosos.

— Sim, eu estou ótima, depois de quase matar Marian do coração. – dou uma pequena risada e ele me encara confuso.

— Marian é sua mãe?

— Não, ela é uma amiga minha. – respondo.

— Não me lembro dos meus pais, acho que faz muito tempo que não os vejo. – seus olhos ficam tristes novamente e depois curiosos – Você se lembra dos seus?

— Sim, eu me lembro dos meus pais. – a pergunta me pega desprevenida, mas respondo calmamente.

— O que aconteceu com eles? Por que não estão aqui? A menina ao lado do meu quarto está com a mãe dela, os pais podem ficar no quarto, por que os seus não estão? – o brilho de curiosidade em seu olhar é intenso.

— Bem... ah... – me engasgo com a resposta, como vou explicar isso a um garotinho de seis anos? – Patrick, meus pais estão... é... viajando, isso, viajando, por isso não podem estar aqui.

— Para onde eles foram? – acabo de me lembrar porque eu odeio crianças nessa idade.

   – Para um lugar longe daqui. – suspiro e o interrompo antes que faça mais alguma pergunta – é melhor você terminar sua comida antes que alguém chegue.

Ele assente e termina de comer. Colocamos os pratos na janelinha ao lado do balcão e seguimos em direção as escadas. Quando chegamos ao sétimo andar, Patrick se despede e sai correndo, chamando a atenção de David, deixando livre o corredor para que eu volte tranquilamente para o meu quarto.

Me deito na cama e encaro o teto, como o esperado, o sono não vem. Então fico a noite toda me virando na cama, observando a praça pela janela, escutando David cantar musicas horrorosas no corredor e pensando no garotinho curioso e frágil que conheci naquela noite.

Pela primeira vez, penso realmente no que fiz cinco dias atrás. Eu salvei uma criança, mesmo pondo a minha vida e risco, eu permiti que aquela conversa acontecesse e pensado em tudo isso, chego a conclusão que não importa quantas vezes me digam que eu podia ter feito outra coisa, eu jamais vou me arrepender de salvar o menininho de seis anos.

Quando finalmente os primeiros raios de sol atravessam a janela, já estou cansada de contar as linhas de rejunte do piso. Lucy, a enfermeira encarregada de trazer as refeições me diz que Lilian está subindo para tomar café comigo.

Alguns minutos depois, a garota está atravessando a porta animada como sempre, como se o fato de ser apenas sete horas da manhã não a afetasse em nada. Conversamos animadamente sobre coisas idiotas e ela me conta que Max e Rachel fizeram as pazes aparentemente. Pois é, nunca se deve subestimar Milena Gauthier.

Conto que conheci Patrick na noite passada e ela fica extremamente animada com o garoto, teria saído correndo para conhece-lo se eu não tivesse feito ela sentar novamente. Quando o tempo dela esgota, se despede e avisa que quem vem me buscar é Milena. Não sei exatamente porque precisam vir me buscar, mas não digo nada a respeito.

A tarde é entediante e David está mais chato que o dia anterior, talvez porque o cara que era para trocar com ele ainda não chegou e considerando que são três da tarde, ele não está muito feliz. Acabamos conversando depois que ele coloca uma cadeira em frente a minha porta quando tento fugir pela sexta vez.

Só descubro que ele é mais chato do que eu pensava, mas consigo ganhar rosquinhas durante a conversa. Não vi mais Patrick depois de ontem, acho que ele não tentou fugir mais.

Quando são cinco horas, David está roncando na porta do meu quarto e eu estou deitada no chão com um travesseiro sobre a cabeça. Por que no chão? Simples, a cama já estava com o formato do meu corpo e isso me assustou.

Estou prestes a levantar e virar um copo de água na cabeça de David quando escuto um baque surdo vindo da porta. Levanto um pouco o travesseiro e vejo o segurança levantar apressado e encarar uma Milena de sobrancelhas erguidas em questionamento.

   – Boa tarde senhorita. – David tenta arrumar a gravata e solto uma gargalhada voltando a colocar o travesseiro sobre meu rosto – Em que posso ajuda-la?

   – Vim buscar a senhorita Windchest. – Milena parece calma e tem um quê de divertimento na voz.

   – Claro. Tive que me sentar aqui depois da quinta tentativa de fuga. – David responde ainda parecendo envergonhado.

   – Sexta, David. – murmuro contra o pano.

   – Isso, sexta. – ele concorda.

   – Certo. Ela já está indo embora, pode voltar ao seu posto senhor. – Milena diz de forma educada.

Escuto os passos de David e logo depois os de Milena entrando no quarto. Solto outra gargalhada quando escuto a porta fechar.

   – Por que está deitada no chão? – escuto-a se sentar na poltrona.

   – Fiquei com medo de me tornar parte da cama. – respondo e é a vez dela de gargalhar.

   – Claro, por que não pensei nisso? – ela solta outra risada – Vamos Thais, você recebeu alta. Trouxe roupas pra você.

   – Finalmente! Vou parar de ficar igual a um lápis azul. – agarro as roupas de sua mão e corro até o banheiro escutando a risada alta de Milena.

   – Você sempre parece um lápis azul. – escuto sua voz abafada por causa da porta.

Visto-me rapidamente e em poucos minutos estamos andando até o elevador, onde David está sentado comendo mais rosquinhas. Ele me encara e ofereço-lhe um sorriso.

   – Tchau David, vou sentir saudades amigo. – ele sorri ironicamente e não contenho uma risada.

Milena apenas balança a cabeça e comenta algo sobre eu ser terrível antes de adentrarmos o elevador. Andamos até o balcão da recepção para assinar o papel da alta e enfim estou liberada, porém quando viro-me em direção ao corredor principal vejo alguém correndo para uma sala. A pessoa está usando uma máscara negra que cobre todo seu rosto. Veste um uniforme de combate semelhante ao dos Shadows, mas de alguma forma diferente, entretanto, o que mais me surpreende é o fato de estar empunhando uma espada.

Fico encarando o sujeito até que este desapareça da minha linha de visão. Sou tirada do estado de torpor por Milena que me cutuca incessantemente.

   – Ei! Por que está parada ai? – ela pergunta confusa.

   – Você viu aquilo? – continuo encarando o local onde o individuo entrou, Milena segue meu olhar e depois me encara mais confusa.

   – Aquilo o que?

   – Acho... Acho que vi alguém com um traje de combate. – respondo sem desviar os olhos, guardando cada detalhe da imagem que vi.

   – Thais, tem muitos soldados aqui, deve ser membro de alguma equipe que está internada. – Milena encontra uma resposta convincente, mas por que não estou convencida? – Venha, vamos sair daqui.

Sigo-a até a porta, mas o soldado não sai da minha mente. Algo em sua roupa me chamou atenção. Em seus ombro direito consegui identificar um símbolo branco. O mesmo símbolo que encontramos “queimado” no gelo no Alasca.


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Notas finais do capítulo

Pessoas...
É isso... até o 20.
Bjs.



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