O Relicário escrita por TWorld


Capítulo 7
Capítulo 7 - Ciúmes




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GLAUX ABRIU AS CORTINAS e o quarto de Elisa inundou com a luz do sol. A garota estava mergulhada num mar branco de lençóis. Sua expressão era muito calma, um sorriso claramente desenhado em seus lábios. Aos poucos ela para de ressonar e sua respiração fica mais leve. Elisa abre os olhos e estica os braços se espreguiçando.

— Bom dia, milady! — diz Glaux em sua inexpressividade habitual.

— Bom dia, Miss Glaux.

Glaux foi se postar ao pé da cama e ficou observando a garota se sentar na cama, sorrindo docemente.

— Pelo visto você dormiu bem.

— Muito bem, obrigada — Elisa de repente mudou sua expressão. Ficou intrigada — Ah, Miss, o que você sabe sobre sonhos?

Glaux não mudava de expressão tão facilmente. Ela não era fria, que fique claro, era apenas seu jeito britânico de ser.

— Não muito. Não é minha especialidade. Sei o que todos sabem: alguns sonhos são representações do inconsciente como nossos desejos e nossos medos. Outros sonhos podem ter origem mística e revelar imagens que precisamos saber, como acontecimentos passados ou futuros.

— Futuros? Como uma visão do futuro?

— Sim.

Elisa ficou pensativa.

Glaux observou a garota por uns instantes e ergueu a sobrancelha direita, inquisitiva:

— Você está fazendo perguntas curiosas. Por acaso sonhou esta noite?

— Não... sim...

— Sim ou não?

O sangue afluiu ao seu rosto e Elisa ficou vermelha. Ela abaixou a cabeça, envergonhada.

— Eu sonhei... sonhei...

— Milady, sabe que pode confiar em mim, não é? — disse Glaux se sentando numa poltrona de couro ao lado da cama.

Elisa cobriu o rosto com as mãos, tentando esconder o rosto vermelho e falou num sussurro baixo:

— O q-que significa... um sonho... um sonho em a gente é.. be-be-beijada?

— Beijada?

Elisa descobriu o rosto e desatou a falar depressa:

— Eu estava me afogando. Aí ele me salvou e me beijou e me beijou e... me beijou. Ele me beijou. Eu disse que ele me beijou? O que isso significa? O que significa? Hein? Hein?

Elisa passou da vergonha para ansiedade.

Glaux pareceu se concentrar no balançar das cortinas com olhar vazio e não respondeu imediatamente.

— Responde, Miss!

— Hum — Glaux virou o rosto para Elisa — Bem, você certamente nunca se afogaria, é uma nadadora excelente. Por outro lado, você é tão forte que ser salva é algo remoto.

Os olhos de Elisa brilhavam de ansiedade.

— Então o que significa? — insistiu ela.

— Como disse, eu não sou especialista, mas acho que seu sonho pode ser uma visão do futuro.

Elisa abriu um sorriso muito satisfeito.

A manhã de Nícolas não foi melhor do que à tarde anterior. Ademar Geremaro continuou com os treinos exaustivos com os filhos: como ele não parava de repetir, o Jogo de Abertura estava se aproximando. Mas naquela Terça-Feira, Nícolas não conseguiu driblar Adelfo nenhuma vez. E quando fizeram treinos de chutes livres, ele não fez nenhum gol. Mas claro, o fato de sua mira estar tão ruim a ponto de não ter sequer acertado na direção do gol pode ser uma das causas. A verdade é que ele não estava se concentrando.

Ademar não ficou nada feliz, mas ele só se tornou ainda mais exigente. Por volta das onze horas, ele permitiu que descansassem. O almoço dos dois se resumiu a duas garrafas esportivas cheias do Suco Rosa Especial. Sentaram-se á sombra de uma árvore do lado de fora da quadra de futebol da escola para tomar as bebidas geladas, sem conversar.

— Qual seu problema? — perguntou Adelfo.

— Que foi? — perguntou Nícolas de olhos fechados.

— Seu corpo está aqui, mas a cabeça...

Os dois ficaram em silêncio por uns instantes.

— É que... — Nícolas começou a dizer, mas parou. Ele franziu os olhos como se isso o ajudasse a se concentrar — Eu...

Os dois continuaram em silêncio.

— Eu tive um sonho — disse Nícolas de uma vez.

Adelfo riu pelo nariz.

— Só isso? Você teve um sonho?

Nícolas estava sério.

— Não foi um sonho comum. Foi quase real. Eu ainda posso sentir a água fria do rio e o calor dos lábios dela...

Adelfo quase engasgou com a bebida e acabou tossindo várias vezes.

— Lábios de quem? Como é?

Nícolas contou todo o sonho. Quando terminou ele ficou olhando para o irmão, esperando sua opinião.

— Bem, Nic, eu não sei qual o problema. O sonho foi normal.

— Normal?

— Nícolas, é normal sonhar que beija uma garota bonita. E Elisa é bonita. Qual o problema?

— O problema é que eu gosto da Helena. Não da Elisa.

— E daí que você gosta da Helena? Nunca disse isso a ela!

Nícolas não respondeu a isso. Apesar de ser popular na escola, ele não era tão extrovertido quanto parecia, ao contrário. Nícolas era de fato muito tímido e nunca conseguiu admitir o que era óbvio para todos os habitantes da cidade exceto para a pessoa mais interessada, a própria Helena.

Como o irmão continuava calado, Adelfo disse:

— Relaxa cara, foi só um sonho.

Helena não tivera uma manhã agradável. Ela tinha que organizar seu quarto, mas ele acabara pior que antes. A garota não fizera outra coisa a não ser andar de um lado para outro, mexendo nas coisas e tirando-as do lugar. Helena continuava inquieta e ansiosa desde que acordara daquele sonho perturbador de madrugada.

Sim, ela estava com ciúmes.

— Não, não estou com ciúmes! — disse Helena com firmeza.

Ela abre os braços e se deixa cair de costas na cama, agarra um travesseiro, tampa o rosto e grita.

— Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!

Helena solta o travesseiro.

— A quem estou enganando? Eu estou morrendo de ciúmes.

Helena tentou realmente arrumar o quarto para se distrair e se ajoelhou para começar a dobrar uma blusa jogada no chão.

— Porque ele nunca se declarou? Por quê? Eu digo por que, porque o Nicolas é um idiota, machista, lindo, forte...

A blusa, coitada, ficou bem dobradinha do tamanho de uma bola. Helena tinha dobrado e redobrado e dobrado de novo.

— O que estou dizendo? Esperando ele fazer alguma coisa? Eu poderia me declarar, simplesmente ir lá e laçar o homem que eu gosto. Nicolas, eu te... — e disse num sussurro tão baixo que nem ela própria escutou —... Amo!

Helena continuou parada segurando a blusa embolada.

— Foi só um sonho. Não foi real, não foi real, não foi real...

Alguém bateu na porta. Um segundo depois seu pai entrou no quarto.

— O que está fazendo aí no chão, filha?

Helena se virou, ainda no chão, um sorriso inocente no rosto e uma voz descontraída:

— Arrumando!

Helena era boa em esconder o que sente. Assim é o coração da mulher, profundo e misterioso como o mar.

— Tem visita para você, querida.

— Porque Astride não subiu logo?

— Não é Astride. É Elisa Heinz.

Helena tentou manter o rosto normal. E deve ter conseguido, pois seu pai não disse nada. Mas no íntimo, Helena estava gritando. Nesse momento Elisa era a última pessoa que ela queria ver. Agindo normalmente, Helena se levantou do chão, bateu nas roupas para desamassá-las e seguiu o pai.

Elisa estava usando um dos seus vestidos leves e sorria como sempre. As duas se cumprimentaram e sentaram-se no sofá.

— Eu vim convidar você para a minha festa.

De tudo que Elisa poderia dizer, Helena com certeza não esperava isso.

— Festa?

— Sim, minha festa de aniversário. Eu faço dezesseis anos no Sábado e gostaria muito que você fosse. Sabe, eu ainda vou convidar o pessoal. Eu quis que você fosse a primeira.

Helena gostava de Elisa. Ela era meio estranha e tinha rápidas mudanças de humor. Mas o sonho ainda a perturbava. Mas agora a luz do dia, olhando para a verdadeira Elisa, o sonho parecia muito menos importante. Uma festa seria legal para esquecer todo o ciúme. E nesse espírito mais animado, Helena resolveu ajudar:

— Eu vou sim, claro. Você deveria convidar a Gretel depois de mim, ela conhece praticamente toda a escola.

— Obrigado, vou falar com ela.

Helena ainda não tinha uma opinião formada sobre Elisa, mas como a inglesa sorria inocentemente no momento, ela parecia apenas uma garota comum e solitária querendo fazer amigos. Helena decidiu dar essa chance para a garota e ser sua amiga.


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Notas finais do capítulo

comentem, pliss *u*



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