O Relicário escrita por TWorld


Capítulo 19
Capítulo 19 - Nóctua


Notas iniciais do capítulo

Eis o primeiro capítulo da segunda temporada. Aproveitem!



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LIRA ERATO e a família foram para o litoral. Emílio Erato era dono de uma das quatro fábricas de queijo gruyère de Nova Borgeby. Este ano ele decidira gastar um pouco mais, o que deixou sua esposa maravilhada e assustada.

— Quem é você e o que fez com o meu marido pão duro?

Lira riu com gosto da piada da mãe, mas o marido não gostou muito. Em todo caso, era verdade que ele era “econômico” na maior parte do tempo, mas apenas para que pudesse gastar o dinheiro na hora certa. Lira e a mãe tinham que concordar que Emilio abriu a mão nessas férias. Alugara uma ótima casa de praia, comprou ótimas roupas, pagou os melhores restaurantes e passeios. Foram as melhores férias que a família Erato já havia feito. Precavido, Emílio comprara o material escolar ainda em Junho. Ele se preocupou com todos os detalhes. Então eles puderam aproveitar até o ultimo instante, voltando para casa apenas no último dia de férias, o Domingo que antecedia o inicio das aulas.

Clio recebera uma mensagem de Lira avisando que eles tinham saído bem cedo e chegariam por volta do almoço. Lá pelas onze horas Clio já estava à espera da amiga na porta da casa dos Erato. O carro deles finalmente surgiu, inconfundível, na esquina. Um carro sport todo empoeirado de viagem, duas bicicletas presas do lado de fora: uma na porta traseira e outra num suporte no teto do carro. As duas amigas pularam de alegria.

— Uau! Você está muito bronzeada! — Clio disse para Lira.

Antes que Emilio pedisse ajuda para descarregar as malas, as duas correram para dentro. Lira se jogou na própria cama enquanto Clio fechava a porta.

— Saudade da minha cama! Ahhh! A cama da casa de praia era meio dura.

— Como foi lá? — disse Clio se sentando na cama e pegando um urso de pelúcia para abraçá-lo.

— Ótimo! As melhores férias! Bem, quase... — Lira ficou tão vermelha quanto os cabelos de Clio.

— O que foi?

— Meus pais! Ah! Não gosto nem de lembrar.

Clio ficou interessada e insistiu:

— O que foi? O que foi?

— Meus pais estavam felizes até demais.

— E isso é ruim?

— Mas precisava ser a noite toda? E nossa! Como são barulhentos!

Clio caiu numa crise de riso histérico. A mãe de Lira apareceu na porta e perguntou o que estava havendo, mas assim que a viu, a ruiva riu ainda mais, agora dobrada na cama, segurando a barriga. Lira começou a rir junto com a amiga e sua mãe, sem entender nada, saiu do quarto resmungando “adolescentes!”.

Quando Clio se acalmou, vários minutos depois, Lira perguntou:

— E como foram suas férias?

— Boas também.

Apesar da frase positiva, ela disse isso com um sorriso estranho.

— Aconteceu alguma coisa enquanto eu estive fora Clio?

— Ah, quase nada. Realmente...

Mas Lira percebeu que o olhar da amiga desviou ao dizer isso.

— Ah, conta logo!

Clio olhou bem para a amiga. Por onde ela começaria? Tanta coisa tinha acontecido.

— É uma longa história!

— Não me importo. Conte sua história, que eu falo sobre o Diego... — disse Lira.

— Quem é Diego? — perguntou Clio rapidamente.

— Primeiro a sua história — Lira disse abrindo um sorriso satisfeito lembrando-se do Diego.

— Tá, tá! — Clio tirou as sandálias e se ajeitou na cama, abraçando o travesseiro — Melhor ir do começo. Com Elisa Heinz.

— Elisa... o quê?

— Heinz. Ela se mudou para Nova Borgeby há umas duas semanas, mas desde então aconteceu muita coisa. E algumas delas são um pouco... chocantes.

Lira começou a ficar ansiosa.

— Tá, então do começo. Quem é Elisa Heinz?

Clio pensou um instante em como começar.

— Pelo que me contaram, ela tem 16 anos, é muito rica, nasceu em Londres e comprou o Casarão Flint.

— Rica? Londres? Espera, Casarão Flint??? Como ela tem coragem de morar lá? É assombrado! Sem falar que é velho e sujo.

Clio abriu um sorriso sincero. Foi assim mesmo que reagira quando lhe contaram. Metade da cidade ainda tinha medo do casarão, mas a outra metade agora achava graça por terem tido tanto medo sem nenhum motivo real. Ela explicou sobre Elisa e Glaux terem limpado todo o casarão.

— E agora o casarão está magnífico! Não sei por que eu tinha medo. É lindo lá dentro.

Lira arregalou os olhos.

— Você entrou lá dentro?

— Há uns dias foi aniversário de Elisa e ela deu uma grande festa para comemorar os seus dezesseis anos.

— E você foi ao casarão?

— Fui! Oras, era uma festa. Porque eu não iria. E depois, o Hans também ia.

Lira abriu um sorriso malicioso.

— Hans, né! Sei...

Clio não desviou olhar e nem corou para dizer:

— Ele beija bem. Mas tem umas mãos muito assanhadas. A gente dançou um pouco. Mas quando começou a música lenta, as mãos dele não paravam de pegar na minha bunda.

Lira corou muito ao ouvir isso. Ela se perguntou como Clio podia dizer uma coisa dessas sem ficar envergonhada. Era isso que Lira mais gostava na amiga, essa liberdade de dizer qualquer coisa.

— Tá, Elisa Heinz, Casarão Flint, Hans, mãos assanhadas. Continua.

— Bem, a festa foi no Sábado à noite — continuou Clio — No Domingo, a Helena chamou uns amigos para ir ao rio.

— Helena Colúber? — Lira disse fascinada.

Clio estava quase chegando ao ponto alto da história. Como será que Lira reagiria?

— Sim...

— Nossa! Que sorte! Eu tenho inveja dela sabe. Linda e popular — Lira estava radiante — Vai, continua! Como foi o piquenique com Helena Colúber?

— Bem, bem. A cozinheira dos Colúber fez uma comida muito boa e os irmãos Geremaro levaram bolas e jogamos queimada. Foi bem legal.

Lira fechou os olhos e disse com voz sonhadora:

— Nícolas e Adelfo! Ah! Lindos! — e abrindo os olhos — Como eles estão?

— Bonitos como sempre. Claro, Adelfo é meio novo para pegar. Mas Nícolas... ah, Nícolas! Se ele não fosse comprometido, eu tentava alguma coisa.

— Ei! Você já não está com o Hans? Espera, como assim comprometido? Ele desistiu da Helena e começou a namorar outra garota?

— Hans é só um ficante. Ele é bonito, mas muito galinha. E não, o Nícolas não esqueceu a Helena. Ele finalmente se declarou pra ela durante a festa de aniversário de Elisa. Por isso Helena tinha chamado todo mundo, pra comemorar o início do namoro.

Lira ficou sem fala. Clio entendia o que garota estava passando. Lira e ela sempre falavam de Helena, a garota mais popular não só da escola, mas de toda cidade. Linda, popular, inteligente. As duas sempre sonhavam em como seria ser Helena por um dia. E Nícolas... ah Nícolas! Lindo, mas muito tapado. Todo mundo sabia que ele gostava de Helena havia anos, mas ele nunca tivera coragem de se declarar. Foi muito bom saber, na época, que ele tinha finalmente se aberto com Helena. Pena que o que aconteceu depois acabou apagando toda essa alegria...

— Que foi? Seu rosto ficou muito sério de repente, então fala logo o que aconteceu.

Clio demorou um minuto para responder.

— Bem, resumindo: Elisa Heinz, adolescente linda e rica, veio morar na cidade. Ela deu uma festa. Nícolas e Helena finalmente se acertaram e começaram a namorar. E então aconteceu o Jogo de Abertura.

— Nossa! É verdade, eu perdi o Jogo de Abertura — disse Lira — Como foi o jogo? Espero que Midgard tenha ganhado.

Clio não conseguiu nem fingir um sorriso.

— A partida em si foi boa, como sempre. Mas no final das contas, o dia foi um desastre.

— Estou confusa. Você começou falando da Elisa Heinz. Depois falou do Nícolas e da Helena. Me explica o que tudo isso tem a ver?

— O que eu vou contar, eu não sei cem por cento como aconteceu. Ninguém estava lá para ter certeza. Mas a cidade inteira está repetindo quase as mesmas palavras, então a história não foi muito aumentada do que realmente aconteceu. Parece que Elisa, Nícolas e Helena brigaram.

Lira começou a roer as unhas de nervosismo

— Parece que tudo foi um mal-entendido. Nícolas estava mostrando a Sala de Troféus para Elisa quando Helena chegou e teve um ataque de ciúmes. Dizem que rolou de tudo, um barraco. Nícolas até tentou esclarecer a situação, mas aí parece que Helena perdeu a paciência e deu um tapa...

Lira ofegou profundamente, puxando tanto ar como se seus pulmões estivessem vazios.

— Ela deu um tapa na Elisa?

— Não, no Nícolas.

Lira ofegou de novo, os olhos saltados de susto.

— Ah, fala sério, Clio. A Helena? Ela não tem uma queda pelo Nícolas, ela tem um precipício. Como ela teria coragem de fazer isso? Você disse que ninguém estava lá, então como sabem que ela fez isso?

— Porque o tapa foi muito forte. Fez um barulho bem alto. E foram dois tapas. Depois de bater em Nícolas, ele perdeu a paciência e saiu sem falar nada. Então sozinhas, a Helena se aproveitou e deu um tapa em Elisa também.

Lira ficou sem fala de novo.

— Dizem que foi por causa de ciúmes que Helena fez o que fez. Eu entendo ela. Se eu tivesse um namorado, eu não ia ficar quieta se uma vagabunda chegasse perto dele. Mas dessa vez, a Helena exagerou. A Elisa parece ser legal e eles não estavam fazendo nada de errado. E se tivesse parado nesse festival de tapas, então todo mundo poderia perdoar esse ataque. Mas o que fez depois foi muito pior.

— Conte logo o que de tão terrível aconteceu. Você está enrolando há horas.

— Helena trancou Elisa na Sala de Troféus.

— O que? Impossível! Helena não faria isso!

Lira, na opinião de Clio, estava reagindo igual a todos no começo. Tinha que ser um engano, Helena não faria isso. Mas se não foi ela, quem foi? Ninguém tinha nada contra Elisa para fazer isso, e mais, toda a cidade se contagiara com a alegria dela. Eles passaram a gostar muito de Elisa. Pulando e gritando na manhã do jogo, ela parecia ter nascido entre eles.

— Eu sei que é difícil de acreditar. Mas tudo leva a crer que sim. Elisa é nova na cidade, ninguém tem nada contra ela. E depois, ela foi trancada logo depois que Helena saiu. Isso foi antes do jogo. Helena foi à partida, mas Elisa não. Claro que era porque estava trancada. O próprio Nícolas a encontrou na Sala de Troféus. Parece que ela estava em choque.

— Como assim “choque”?

— Elisa tem medo de lugares fechados. Chamam de “clatofobia”...

— Claustrofobia, Clio — Lira riu do erro — Nossa! Coitada. Muito difícil isso. Espera aí. Mas Nícolas não ia jogar, como foi que ele a encontrou?

Clio ficou muito séria antes de responder:

— E jogou mesmo. Elisa não foi encontrada até o final da tarde. A garota “claus-tro-fo-bi-a”... — declamou cada sílaba para falar certo —... Estava em choque. A cidade inteira culpou Helena. Eles até a chamaram de...

— Não! Não! Não! Não é verdade. São só duas semanas, como pode a linda e popular Helena Colúber ser chamada de...

— Mas é verdade. Estão chamando ela de Éris.

Houve um silêncio significativo entre as duas.

— E olha que eu nem acabei.

Lira olhou incrédula para Clio.

— Tem mais?

— Sim. Tem mais. Isso aconteceu logo depois que a cidade começou a chamar Helena de Éris. Correu um boato pela cidade que Helena tinha ficado doente, inexplicavelmente. O Dr.Henrique chegou até levá-la para o Rio de Janeiro. Mas não sei não. Talvez tenha sido armação da Helena.

— Porque acha isso?

— O próprio Dr. Henrique contou que os médicos não encontraram nada de errado com Helena. Ou seja, de algum jeito, ela fingiu uma doença.

Lira riu pelo nariz.

— Isso-É-Ridículo! Fingir doença é coisa de novela. E depois, porque ela faria isso?

— A intenção verdadeira ninguém pode realmente saber, mas podemos adivinhar o porquê — disse Clio — Acontece que no dia seguinte a dita doença e a internação no Rio, Nícolas terminou o namoro com a Helena.

Lira estava em choque, a boca aberta semiaberta. Clio tinha se sentido igual. Como ela bem avisara: eram notícias chocantes.

— Eu vi Helena ontem quando voltou do Rio, ela estava com uma cara de dar pena. Provavelmente chorou o tempo todo.

Lira recuperou a voz:

— Espera, espera, espera. Mas como o Nícolas terminou com ela se a Helena ainda estava no Rio?

Clio não respondeu, mas em seu silêncio, a garota conseguia dizer a parte mais triste de toda essa história. A pior coisa que poderia ter acontecido com qualquer mulher.

Lira tampou a boca com a mão.

— Ele terminou com Helena pelo... — e sussurrou a última palavra —... Telefone?

Clio acenou com a cabeça positivamente e as duas voltaram ao silêncio significativo.

Depois de vários minutos assim, Lira decidiu mudar de assunto:

— Mamãe não quer cozinhar e papai concordou em sairmos para comer. Quer ir conosco?

— Obrigada, Lira. Mas eu vou na casa do Hans. Ele me convidou para almoçar e depois vermos um filme. Se ele está pensando que pode passar a mão em mim no meio do filme, está muito enganado. Só aceitei por causa do filme que ele escolheu — apesar do tom incomodado da frase, Clio tinha um largo sorriso.

* * *

No primeiro momento Helena chorou muito. Com os olhos vermelhos, ela soluçou por horas em sua cama de hospital. Mas depois de um tempo as lágrimas secaram e sobraram apenas os soluços sentidos e uma dor no peito. E desde então ela não derramou mais uma única lágrima.

No dia seguinte Helena recebeu alta e o pai lhe levou de volta para casa.

O Dr. Henrique ouvira os boatos sobre a briga e a acusação de Éris que recaíra sobre a filha. Mas para ele os boatos não passavam de fofoca. Ele conhecia bem os seus eleitores e não tinha como fazê-los deixar esse hábito moralmente questionável. Desde que aconteceu aquela história triste de Éris há tantos anos, que as confusões e brigas na cidade diminuíram muito. Se alguém agia como os outros não gostavam, ao invés da população se revoltar e criar confusão, todos apenas chamavam a pessoa de Éris e a ignoravam por um tempo. Era uma solução triste, mas pacífica. Ele tinha certeza que depois de algum tempo ninguém mais falaria no caso e ele seria esquecido, assim como sempre acontecia.

No Sábado em que voltaram do Rio de Janeiro, Helena não quis falar com ninguém. Nem Astride, sua melhor amiga, ela quis receber. Ficou sozinha e silenciosa.

Helena ouviu as empregadas da casa falando sobre Nícolas. Foi assim que ela descobriu dos boatos que corriam sobre o rapaz estar namorando Elisa. Depois tudo, Helena surpreendeu a si mesma quando não sentiu nada. Nem raiva nem ciúmes.

No Domingo, Helena continuava exatamente igual. Ela não tinha nenhuma vontade de ir para a escola no dia seguinte. Não queria encarar o resto da escola depois do caso Éris, e principalmente encarar Nícolas. Anos e anos sonhando e agora seus sonhos foram destruídos. Mas no carro a caminho de Nova Borgeby, Helena prometera ao pai que manteria a cabeça erguida.

— Você é Helena Colúber, minha filha e somos parentes de Coronella Colúber. Você é filha do prefeito e descendente da fundadora dessa cidade. Tenha orgulho!

Helena até sorrira para o pai quando ele disse isso, mas foi outro de seus sorrisos falsos que tão habitualmente ela oferecia para o mundo. Ela não dava importância para essas coisas. Ela não via vantagem em ser filha do prefeito e descendente de uma estátua velha.

Mas á tarde Helena se forçou para sair da cama, afinal, ela tinha que organizar seu material escolar. A mochila estava no mesmo lugar que deixara três semanas atrás, mas o mesmo ela não podia dizer dos cadernos e do estojo com seus lápis e canetas. Às vezes ela pegava os cadernos para usar as folhas em branco para escrever ou desenhar, um hábito seu. Levou um tempo para encontrar os cadernos, e nem todos estavam no quarto. Ela conseguiu encontrar uma folha rabiscada e uma lapiseira debaixo do sofá da sala, e uma borracha no vão atrás da cômoda.

Helena estava sentada no chão, um braço espremido no vão tentando pegar a borracha, quando ela apareceu. Foi em um piscar de olhos. Em um segundo Helena estava sozinha no quarto, e no outro uma velha cigana estava parada do outro lado da cama. Usava um xale roxo dessa vez, mas tinha os mesmos anéis e pulseiras que a adornavam no outro dia. A maquiagem pesada também era lilás. A única diferença era um medalhão estranho que a velha trazia pendurado no pescoço. Não era nem grande nem pequeno, quase todo feito de prata, tanto o medalhão quanto a corrente: uma serpente em círculo mordendo a própria cauda com dois pequenos olhos verdes-esmeraldas.

Helena se assustou com a aparição, mas não gritou. Ela não tinha mais forças pra isso, nem chorar nem gritar. Tirou o braço do vão e se levantou. As duas estavam separadas pela cama, ambas se olhando com seriedade. Helena não tinha mais medo da velha. Quem quer que seja, infelizmente estava certa.

— Como entrou aqui? — foi a primeira coisa que lhe ocorreu.

— Não sou vampira para precisar de permissão.

— O que você quer?

— Espero que agora acredite em mim. Eu sabia que Elisa acabaria fazendo mal você. É o que acontece com todos que se aproximam dela.

— Como sabe disso? — Helena queria saber mais sobre Elisa.

— Ela é como fogo e gelo e fúria. Ela é como a noite, e a tempestade no coração do sol. Ela é uma Heinz, uma família mágica antiga e poderosa.

Helena piscou os olhos e sacudiu a cabeça, com certeza ouvira mal.

— O que quer dizer com “mágica”?

— Elisa é uma bruxa.

O silêncio que se seguiu martelou os ouvidos de Helena. Ela caiu sentada na cama, os cabelos negros balançando junto com a cabeça que ela sacudia novamente.

— Eu estou falando a verdade. E admito, eu também sou.

Helena continuava incrédula. Ela não conseguia pensar em nada. Só conseguiu pensar em uma pergunta:

— Quem é você?

— Eu sou uma observadora dos acontecimentos. Tenho observado Elisa Heinz por muito tempo. Ela tem uma história triste. Há cerca de vinte anos eu tenho estado em alerta para aquele castelo em Londres. Eu senti uma energia das trevas vindo daquele lugar. Mas eles são Heinz, são poderosos. Não poderia invadir. Eu sou testemunha dos sofrimentos daquela garota desde que perdera os pais. Eu vi seu crescimento sofrido e solitário, cheio com os treinamentos de sua família. Mas a energia das trevas continuava lá e cada vez mais forte. Minha melhor oportunidade foi quando Elisa decidiu vir para esta cidade, muito mais fácil de vigiar. E eu estava certa de que aconteceria alguma coisa.

Helena ouvia curiosa.

— Você não respondeu a pergunta.

— O nome é Nóctua. Eu não posso dizer que sou amiga. Amigos se conhecem e se confiam. Mas posso dizer que sou uma aliada contra a força das trevas que se escondem por trás daquela garota. Até agora eu só descobri uma coisa, que existe algum artefato de magia negra controlando a vida de Elisa. Magia antiga com certeza. Mas Elisa é fraca para lidar com isso. Não fisicamente, claro. Seus poderes são grandes, afinal ela é uma Heinz. Mas a mente dela não é capaz de resistir a esse poder maléfico.

Helena estava ainda mais confusa. Tudo isso lhe parecia irreal. Como um sonho ou pesadelo. Não podia ser verdade, mas ao mesmo tempo ela não conseguia desmentir Nóctua. O que ela falava fazia sentido. Elisa não era má, mas havia algo obcuro acontecendo ao redor dela.

— O que você acha que é essa força das trevas?

Nóctua continuava de pé, muito séria. Ela falava em tom baixo, quase um sussurro. Mas sua voz era clara e Helena prestava atenção em cada palavra.

— Provavelmente uma bruxa das trevas. Mas como já disse, eu só tenho observado. Não pude me aproximar. Não sei seu nome. Isso você teria que perguntar para a própria Elisa.

Helena soltou uma gargalhada fria, sem alegria, forçada.

— Há! Impossível! Ela pode ser fraca, mas não é burra. Ela nunca falaria.

— Existe um meio, mas talvez seja doloroso para Elisa. O melhor é esquecer, você com certeza não está disposta a encontrar respostas a custo do sofrimento dela.

Nóctua virou as costas para a garota e se aproximou da janela.

— Espera, Nóctua — Helena se levantou e olhou diretamente para a cigana — O que eu tenho que fazer?


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Notas finais do capítulo

Comentem, por favor! *-*



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