Just Click “Send” escrita por Paula Freitas


Capítulo 1
Just Click "Send"


Notas iniciais do capítulo

Começar uma declaração de amor é mais difícil do que se imagina.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/606929/chapter/1

Bom dia, amor! Hoje acordei pensando em você e...

E... E o quê? O que eu escrevo? Deixa eu ver...

Bom dia, amor! Hoje acordei pensando em você e pensei...

Pô! Se eu acordei pensando em você é claro que eu pensei! Dãã... Caraca! Tô fazendo dã pra mim mesmo?! Cara... Eu devo estar louco! Ou muito apaixonado mesmo! É... Deve ser a segunda opção! Ou... As duas coisas!

Sorri comigo ao chegar a essa conclusão. Apesar do meu sorriso bobo de apaixonado, minhas sobrancelhas são de alguém preocupado. Preocupado com uma bobagem, eu sei, mas... Para mim não é uma bobagem. Tenho tanta saudade dele. E estamos separados não faz dois meses. Mas também não fazia dois meses que estávamos juntos quando tive que viajar. Maldito trabalho que me faz ficar longe dele! Queria não perder um segundo mais e me jogar em seus braços, sentir aquele corpo... Forte, gostoso, cheiroso... É assim que ele é. Maravilhoso!

Ai, ai... Outra vez me pego suspirando pensando nele e, no entanto, estou perdendo o tempo do meu primeiro dia de folga depois de tanto trabalho aqui, na frente do computador, tentando escrever uma coisa bonita para ele... E nada sai! Como pode? Será que eu sou tão pouco criativo assim? Nossa! Acabei de pensar... Será que sou pouco criativo no relacionamento também? Se for... A mesmice pode acabar com a vida a dois! Ah, não, não posso deixar! Eu vou conseguir! Preciso escrever uma mensagem romântica agora! É assim que começa. Ele vai ver que eu posso. Vejamos...

Bom dia, amor...

Não! Chega de “bom dia”! Daqui que eu acabe já vai ter passado do meio dia.

Oi, amor. Hoje acordei pensando em você...

Não! “Acordei pensando em você” é muito clichê. Vou mudar.

Oi, amor. Só estou escrevendo isso para dizer...

Dizer o quê? Que te amo? O quanto te amo? É, vai esse.

Oi, amor. Só estou escrevendo isso para dizer o quanto te amo. ...

E?... E agora? Como começar, o que dizer? Que dilema! Quando lia poemas por obrigação na escola jamais imaginaria que expressar um sentimento com palavras fosse tão complicado! Agora entendo o porquê de tantos escritores fazerem sucesso usando palavras tão difíceis. Claro... Eles sabiam o que escrever ao contrário de mim que sou um burro em matéria de romantismo.

Poxa! Agora fiquei deprê. Pensei que seria mais fácil, mas já vi que tenho muito ainda o que aprender. Também... É o meu primeiro namorado.

Cá estou suspirando de novo por ele. Mas é que ele é tão lindo! Como fazer para não ficar assim abobalhado? Não tem como! E ainda mais quando penso que ele me ajudou a superar tanta coisa. Superar o medo de me entregar, o medo de sofrer, superar o preconceito de todos, inclusive da minha família, sobretudo do meu pai que não aceitava ter um filho gay. E quando eu chorava por tudo, ele estava lá para me oferecer seu ombro, para enxugar minhas lágrimas, para me consolar e para me amar incondicionalmente. Mesmo quando eu o neguei ele me amou, mesmo quando eu lhe disse não ele disse sim. Disse que me esperaria até eu estar preparado para ser seu. E assim foi. Ele me esperou... E não demorou muito para eu cair em seus braços. Pois é, não resisti por muito tempo. Queria ser dele. Queria que ele fosse meu. E agora cá estou sem saber o que dizer-lhe, porque meu amor é assim, não há palavras suficientes no dicionário para descrevê-lo. ... Ei! Isso é uma boa frase. Embora meio clichê... Mas vai!

Oi, amor. Só estou escrevendo isso para dizer o quanto te amo. Sabes o quanto te amo? Não? Nem eu! Pois não há palavras suficientes em todos os dicionários para descrever o que sinto por você. Não há calculadora que conte a quantidade do meu amor, porque ele é infinito.

É... Ficou meio meloso. Mas, bonito. É... Acho até que está romântico... De um jeito meio brega. Mas... Ai, não sei! Que dúvida cruel escrever sobre o amor. Imagino como deve ter sofrido o Fernando Pessoa para escrever o tal Cartas de Amor. Já disse ele: “Todas as cartas de amor são ridículas. Não seriam cartas de amor se não fossem ridículas”. É, ele estava certo. Creio que a minha carta, ou melhor, e-mail, tenha ficado um pouco ridículo. Mas vou deixar assim. Afinal, como ele também disse: “Só aqueles que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículos”.

Pronto. Vou deixar assim. Se ele gostar, gostou. Se não... Não posso fazer nada.

Eu já ia clicar no Enviar quando me bateu aquela dúvida: e se ele não gostar mesmo? E se rir de mim? E se achar ridículo demais?... É, Fernando Pessoa, esse seu poema pode incentivar muito romântico por aí, mas que não é fácil escrever uma carta de amor... Ah, mas não é mesmo!

Bom, deixa eu reler e ver se precisa mudar alguma coisa. Vou ler em voz alta como se fosse ele lendo.

- Oi, amor. Só estou escrevendo isso para dizer o quanto te amo. Sabes o quanto te amo? Não? Nem eu! Pois não há palavras suficientes em todos os dicionários para descrever o que sinto por você. Não há calculadora que conte a quantidade do meu amor, porque ele é infinito.

Levei a mão ao queixo com o olhar meio cansado.

- É... Essa parte da calculadora não ficou muito legal não...

Estou tão chocado com meu próprio déficit de palavras que continuei minha auto-opinião em voz alta. Mas, parei. Apaguei a parte da calculadora e reescrevi...

Oi, amor. Só estou escrevendo isso para dizer o quanto te amo. Sabes o quanto te amo? Não? Nem eu! Pois não há palavras suficientes em todos os dicionários para descrever o que sinto por você.

E agora? Continuo como? Eu tenho tanto para falar, mas não sei dizer como...

Engraçado... Uma música me veio à mente e eu comecei a cantarolar aqui sozinho...

- Eu tenho tanto pra te falar, mas com palavras não sei dizer como é grande o meu amor por você...

Parei! Já chega! Eu quero ser um romântico, não um sentimental exagerado! Embora essa música seja linda, mas... Não é o que eu quero nem preciso nesse momento. Eu preciso dele... Espera! Já sei...

Comecei a digitar rapidamente.

Oi, amor. Só estou escrevendo isso para dizer o quanto te amo. Sabes o quanto te amo? Não? Nem eu! Pois não há palavras suficientes em todos os dicionários para descrever o que sinto por você. Sinto tanto sua falta. Preciso de você aqui comigo. Quero tanto te abraçar, te beijar, te acariciar. Dormir contigo e te fazer meu.

Nossa! Agora ficou até quente aqui! Parei de escrever e comecei a lembrar uns momentos nossos... Momentos a sós... Momentos no quarto dele... No sofá, no banheiro, no chuveiro, na cama, no chão... Chega! Chega, chega! Senão vou acabar escrevendo em vez de uma mensagem romântica uma mensagem maliciosa cheia de segundas intenções. Se bem que... Vendo bem agora a que eu fiz... Acho que já está com algumas segundas, terceiras intenções até. É melhor eu começar tudo de novo. Não estou gostando. Eu quero que ele saiba que não o quero só para sexo, o quero para termos uma vida juntos. ... É isso! Já sei! Deixa eu ver...

Oi, amor. Só estou escrevendo isso para dizer o quanto te amo. Sabes o quanto te amo? Não? Nem eu! Pois não há palavras suficientes em todos os dicionários para descrever o que sinto por você. Sinto tanto sua falta. Preciso de você aqui comigo. Não consigo mais viver sem você. Foram tão difíceis esses dois meses distante de ti que agora, mais que nunca, sei que te quero pela vida inteira.

Mais um suspiro. Não ficou legal. Está parecendo um pedido de casamento. Não que não seja bom, mas... Não é isso ainda que eu quero.

Já sei, vou misturar tudo. Pronto! Cansei! Vai assim mesmo, se ele não gostar... Fazer o quê, né?!

Depois de muito faz, desfaz, copia, cola... Ficou assim:

Oi, amor. Hoje acordei pensando em você. Pensando em você decidi te mandar essa mensagem, só para dizer o quanto te amo. Sabes o quanto te amo? Não? Nem eu! Pois não há calculadora no mundo capaz de contar o meu amor que é infinito. Não há palavras suficientes em todos os dicionários para descrever o que sinto por você. Sinto tanto sua falta. Preciso de você aqui comigo. Quero tanto te abraçar, te beijar, te acariciar. Dormir contigo e te fazer meu. E ser seu também. Pois, não consigo mais viver sem você. Foram tão difíceis esses dois meses distante de ti que agora, mais que nunca, sei que te quero pela vida inteira. Suspiro a cada segundo por você como se a sua imagem em minha mente fosse tão importante quanto o ar que respiro. E creio que seja, pois você também me dá vida.

Eu te amo e sempre te amarei.

Ah... Agora sim. Acabei. Vou enviar.

Me pergunto se lá na casa dele ele também tem essa dificuldade para dizer o que sente. Acho que não. Ele é tão romântico e todo dia me manda uma mensagem fofa no e-mail, nas redes sociais, no celular...

Ri comigo e falei comigo: - Meu querido... Se você soubesse o dilema que passei aqui para poder clicar no botão Enviar... E é o que eu vou fazer agora!

Porém, eu estava tão distraído vendo e revendo o que deveria escrever que quando ia enviar o notebook descarregou.

- Não! Não, não, não, agora não! – Entrei em desespero ao ver a tela ficando preta e tudo que eu tinha feito indo por bits abaixo. – Ah! Cadê a porcaria do carregador? – Saí procurando pelo flat feito uma criança procurando o joystick que perdeu pouco antes de ganhar um novo jogo de vídeo game! Confesso que não sou um modelo de organização e deixo algumas coisas meio que jogadas por aí. Tenho que melhorar isso se eu chegar a me casar com ele...

Ao pensar nisso, parei e fiquei com um olhar perdido. Imagina só... Meu primeiro namorado virar meu companheiro para a vida toda!... Isso só pode ser duas coisas: ou loucura ou amor verdadeiro. E, no meu caso, eu sei... É amor! Eu já havia ficado com outras pessoas, já havia tentado homens e mulheres, mas ele... Ele mudou a minha vida! Ele foi o primeiro que entrou no meu coração e acho que lá dentro trancou e jogou a chave fora, porque o ocupa por completo e não creio que haja espaço pra mais ninguém, nem hoje nem nunca. Por isso o quero para sempre.

Ah, mas o que eu estou fazendo aqui sonhando ao invés de dizer isso pra ele? Ou escrever no caso... Agora é sério. Internet é ótima, mas se eu não conseguir mandar esse e-mail eu ligo, mando fax, telégrafo, código Morse, eu faço sinal de fumaça se for preciso, mas eu falo para ele tudo que sinto.

- Finalmente! – Gritei contente ao encontrar o carregador. Fui religar o notebook que já tinha hibernado a essa altura, mas enquanto esperava ansioso, a campainha tocou.

- Ah não! Quem será? Logo agora... – Fui reclamando atender a porta, mas minha cara contrariada se transformou em surpresa e logo depois em sorriso ao ver que quem chegara era meu amor com mala e cuia e um belo buquê de flores brancas nas mãos.

- Oi!

- O-oi!... O que faz aqui?

- Posso entrar?

- C-claro! Vem! – Puxei-o junto com mala, buquê e tudo. Eu estava completamente em choque. Há poucos minutos eu estava me debatendo mentalmente para enviar-lhe uma mensagem de amor e agora ele está aqui. – C-como... Como veio parar aqui?

- Ué! Peguei um avião e...

- Não diga! Engraçadinho... – Nós dois rimos. E como o sorriso dele é lindo. – É sério! Você veio via wi-fi? Por que eu estava agora mesmo querendo te mandar um e-mail, pensando em você...

- Hum... Não. Acho que o teletransporte ainda não foi inventado e as impressoras 3D ainda não chegaram a esse nível! – Apontou para o próprio corpo. – Mas... Falando sério... Eu não aguentava mais de saudade e queria te ver! Também tentei te mandar alguma coisa legal, mas não consegui pensar em nada, então... Fiz a coisa mais louca e mais legal que pensei. Pegar um avião e vir direto pra cá ficar com você!

Eu me emocionei com suas palavras e pulei em seu pescoço dando-lhe um beijo como eu queria dar para descontar esses dois meses longe dele. Depois do beijo, recuperando o fôlego e aumentando a alegria, sussurrei:

- Amei a surpresa!

- E eu amo você!

Como ele consegue fazer isso comigo?! Enchi meus olhos d’água e outra vez o beijei para saciar minha sede dele.

- Pra você! – Ele me ofereceu o buquê.

- Obrigado!

- Você vai me mostrar a mensagem que queria me mandar?

- Ah... Pode ser. Vem.

Levei-o até o quarto e abri no notebook o e-mail onde estava escrevendo sua mensagem. Mas, quando abri a caixa de novas mensagens levei um susto. Um erro ao descarregar fez o e-mail apagar toda a mensagem que eu havia escrito. Fiquei sem jeito ao ver que tudo que havia restado era a última frase:

Eu te amo e sempre te amarei.

Ele me olhou sorrindo e apenas respondeu: - Eu também! – E me abraçou me jogando na cama e me amando matando a saudade de nós dois.

É... Eu aprendi uma coisa: o essencial é dito com poucas palavras!


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

FIM



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Just Click “Send”" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.