Amém escrita por AntareElAmore


Capítulo 1
Capítulo único


Notas iniciais do capítulo

Yoo~

Gente, peço que tenham em mente que isso é uma interpretação da musica e que nela envolve uma visão bastante forte sobre religião, nesse caso, cristianismo. Peço que leiam de mente aberta, pois nela pode ter tanto como um reforço na ideia cristã como uma crítica. E ouçam a musica enquanto leem. Entra no clima, ehehe.



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- Pai Nosso que estás no céu, santificado seja Vosso nome...
Uma reza era murmurada, não por uma seita, mas por um homem já velho. Sozinho, ele andava por aquele lugar cinzento, frio e inóspito. A neve alcançava a altura do joelho. Encapuzado, coberto com o pouco de tecido velho que lhe sobrava para abriga-lo dos flocos de neve, que caiam como brasa em sua pele e da brisa leve que lhe açoitava o corpo. De pé, quase cambaleando ele se apoiava no bastão que carregava e ná fé que o mantinha respirando: na bíblia que segurava contra o seu peito e no rosário preso ao pulso.
A fome lhe afligía. Estava em jejum por 3 dias. O pouco do pão que trouxera de sua última parada havia acabado rapido. Mesmo assim, usava de toda a sua força para não se deixar abater:

"O Senhor é meu pastor e nada me faltará..."

A neve tornava os dedos dos seus pés mortos, as suas pernas falhas e as gangrenas começavam a subir traiçoeiramente pelo seu corpo. Ele não desistia, convencendo a si mesmo:

"Deitar-me faz em verdes pastos..."

Sua garganta doía. Uma tosse forte lhe corroía a traqueia. Arranhava, torturava, rasgava de maneira suave. Era a sede pedindo a conta. O cantil havia congelado e enquanto seu corpo gritava por água, era com pão que que tentava saciar. Para ele, as palavras eram solução, esperança:

"Guia-me mansamente a águas tranquilas..."

Era uma experiência bíblica viva. Estava sentindo na pele a dor da Quaresma de Cristo. Parte de seu coração queimava por deixar-se tentar pelas propostas que lhe poderiam ser feitas pelo demônio em pessoa. Era um calor sedutor, mas recusava pr completo:

"Refrigera minha alma; guia-me pelas veredas da justiça, pelo amor do seu nome..."

Anoitecia. O sol estava quase se pondo por inteiro. Por mais que de dia não fosse possível vê-lo pela nevasca, de noite ficava escuro como o vazio. Ele passava por uma arvore, sem folhas, tentando sobreviver como ele. Em seus galhos, alguns corajosos corvos que se mantinham alí em pleno inverno procuravam pelo o que comer. Observavam o homem com olhares fuzilantes, esperando sua vida se extinguir para que pudessem festejar em sua carne. Ele não sentia medo:

"Ainda que eu andasse pelo vale da sombra e da morte, não temeria mal algum, porque tu estás comigo; a tua vara e teu cajado me consolam..."

Falava, pedia e afirmava. Quem diz algo sempre espera uma resposta. Sempre quer um ouvinte. Ainda que estivesse sem ninguém, ele falava apenas para um. Mesmo que não tivesse resposta, sabia que estava sendo ouvido: era Ele quem escutava e o homem tinha convicção disso.

Depois de muito tempo de caminhada pela noite, ele via luzes. Um pequeno vilarejo. Chegando lá, as ruas estavam vazias, porém as casas estavam iluminadas e felizes. Famílias inteiras comemorando, com pequenos pinhos perto delas. O homem recordava que estava no mês de dezembro, então devia ser véspera de Natal.

Ele olhou pela janela de uma casa. Um banquete erguido sobre a mesa. Era pura fartura. A lareira acesa e todos saciando seus desejos mais humanos. Quando mal esperava, seu estômago roncava e sua boca balbuciava. Queria um pouco daquilo. Não faria mal pedir, afinal, era um dia de confraternização. Tímidas batidas no vidro chamavam a atenção da família. Eles olhavam aquela figura surrada pela janela. O menino, filho mais velho, queria atender a porta. O pai o segurou e falou alguma coisa para ele, impedindo-o. A mãe segurava a filha que ainda era um bebê com força. A família olhava com um grau de aflição. A figura lá fora chamava outros olhares para si. Os julgamentos eram de medo, suspeita e repúdio. Era claro que não queriam ele lá. Quieto, o homem atravessou o espaço vazio da vila, certo que não entendiam o que significava o Natal, murmurando:

"Preparas uma mesa perante mim na presença dos meus inimigos, unges a minha cabeça com óleo, o meu cálice transborda..."

Voltava em sua jornada solitária, porém não sozinha. Se era Deus que estava contigo, nunca estava sozinho. Ele se lembra do dia que sua família passava fome, como estava naquele instante e então uma romaria de fiéis veio e os acolheu. Dividiram o pouco de comida que tinham e muito do que viram da vida. Encantado por tudo aquilo, ele decidiu seguir aquela caravana. Sua mulher, porém, não aceitara. Ela amava seus dois filhos. Queria uma vida tranquila ao lado da família e do homem que tanto significava a ela. Ele não escutou. Lembra-se de quando empacotava suas coisas para então deixá-los e seguir a vontade do Divino. Sua mulher chorava, à medida que seus passos afastavam ele de sua casa e do maior amor que já teve sobre ele. Estava decidido a fazer pelo mundo o que aquelas pessoas fizeram por ele, vendo que era aquilo o correto:

"Certamente que a bondade e a misericóridia me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei a casa do Senhor por longos dias..."

Havia chegado a um ponto que não havia mais como prosseguir nem como voltar. Estava no cume de um vale. Ele via que em sua frente era apenas mais e mais neve. Sem amor, sem vida, sem nada, apenas frio. Seu corpo não aguentava mais. Por mais que sua fé o segurasse, ela era um recuso humano. Humanos tem limites e o homem já havia ultrapassado todos os dele. Despencava, segurando em seu cajado, de joelhos. O corpo tremia perante a forte ventania que parecia congelar inclusive sua alma. Havia se quebrado no final. Seus braços não suportavam mais o peso do corpo sobre eles. Deitava por sobre o solo congelado. Seu bastão caiu pelo monte. Sentia agora que havia perdido tudo. Quando olha para o lado, sua bíblia está lá, parada, em seu alcance. Ele a pega em sua mão, com a certeza que assim teria proteção. Ele via as páginas sendo beijadas pelo vento e rapidamente se soltando da capa. Desesperado, ele tenta segurar elas. Poucas sobram. Apenas três restam em suas mãos, amassadas. Ele abraçava-as como se fossem seus pais, o acolhendo de seu medo do escuro. Poucas lágimas saiam de seus olhos. Se encolhia, enquanto perguntava:

- Se me amas...por que me deixou ir...?

O fogo de sua alma finalmente se extinguia pouco-a-pouco. Para quem lutou tanto, o fim é sempre uma coisa dolorosa, no entanto, sempre presente. Falando, quase sem voz, seus dedos perdiam as forças que tinham para segurar aquilo que era mais importante para ele que era sua bíblia, sua vida:

- Se me amas...

Seus olhos se fechavam:

- ...por que não diz pra mim...?

Ele soltava as páginas, que voavam para o a imensidão vazia que era o avanço de sua aventura. Sua vida sempre foi rodeada de perguntas, de curiosidade mas também de certezas. Ou melhor, do que pareciam ser certezas. Ficava em dúvida se sua decisão foi apenas uma grande ilusão. Agora, era hora de saber se realmente haviam respostas para ele e encarar eternamente a realidade, fosse ela qual fosse.


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Notas finais do capítulo

Bem, disse que não ia ser uma leitura feliz, mas, é o espirito, né?

Peço que comentem o que acharam dela e qual a visão que vocês atribuíram à ela. Adoraria ver como vocês interpretam a musica e a fic e relacionam ambas. Se concordarem ou não, por favor, comentem. Até mesmo se for uma completa crítica, ficarei honrado em saber. Sou sempre aberto a novas ideias e visões. Me deixaria feliz ver todas =)



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