Project Lorrain escrita por Annonnimous J


Capítulo 15
Cap 15 - Sentimentos


Notas iniciais do capítulo

Fala galera! Tá aí mais um capítulo dessa historia que esta ficando cada vez melhor e se caminhando para seu desfecho.



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—Lorrain

                Bam, bam, bam.

                Salto da cama ainda de olhos fechados e desnorteada, olho ao meu redor e vejo o pequeno quarto do alojamento. As batidas na porta retornam e dessa vez junto com elas uma voz conhecida:

                -Lorrain Lorrain, acorde, vamos, o Coronel tem notícias.

                Meu cérebro parece uma pedra em minha cabeça, mas eu consigo processar as palavras e meu coração aperta. Meu primeiro movimento é agarrar a maçaneta da porta, mas olho para baixo e vejo que estou coberta por apenas uma toalha, arregalo os olhos de susto e procuro algo para vestir no guarda roupa:

                -Já vou – digo para quem quer que seja na porta enquanto visto desajeitadamente um uniforme um pouco grande demais para mim.

                Em pouco tempo eu já estava abrindo a porta, do outro lado estava o Dr. Shapperd e um recruta, que faz cara de riso assim que me vê, mas que desfaz essa cara assim que vê a minha divisa na braçadeira da farda.

                -Tudo bem? – Pergunta o doutor me olhando.

                -Sim - respondo ajeitando a farda – vamos?

                Ele concorda com a cabeça e nós três saímos em direção ao Coronel Rabugento.

Não sei bem ao certo, mas a cada passo que dávamos um mau pressentimento fazia meu corpo querer recuar, mas uma parte da minha mente queria saber como estava Roney e outra queria cumprir a promessa que eu lhe fiz.

                Enquanto andamos, enrolo as mangas da farda para diminuir seu tamanho e converso com o doutor. Ele me conta que foi a meu quarto, mas minha porta estava trancada, então ele resolveu não me incomodar, eu explico que era por que eu estava dormindo, mas por dentro eu agradecia por essa minha mania de trancar o quarto em que estou, pois se ele tivesse entrado, eu estaria muito constrangida agora.

                Assim que entramos no prédio principal, meu coração acelera, será que Roney estaria na sala? Será que eles iriam me falar que ele esperava por mim no helicóptero que eu vi pousado no pátio? Assim que entro no corredor, o recruta que nos acompanhava foi dispensado pelo doutor, bem na minha frente, vejo a mesa do Coronel Case ser carregada e substituída, essa cena me parece um pouco cômica agora que a minha raiva tinha sido em grande parte dissipada.

                Entro na sala e vejo o Coronel fitando o horizonte pela sua janela, horizonte esse que acabava em uma mata a quase quinhentos metros dali:

                -Obrigado doutor – diz o coronel ainda contemplando o nada – está dispensado.

                -Entendido senhor – responde o doutor acenando a cabeça, então ele olha para mim – adeus Lorrain.

                Algo nos dois me incomoda e isso faz surgir um frio em minha espinha. Case se vira para mim e estranhamente ele retira seus óculos escuros, sua expressão é dura e séria, como uma rocha, mas seus olhos que costumavam ser de pura maldade agora estão mais vagos, mais escuros, quase tristes, isso me deixa apreensiva, sinto algo em meu estômago, essa coisa cresce cada vez mais e parece se mover, junto com ele um frio me invade, mas eu permaneço olhando o coronel se sentar em minha frente atrás de sua nova mesa.

                -Sente-se – diz ele por fim mostrando uma cadeia à minha frente.

                -Estou bem de pé senhor – respondo quase que automaticamente.

                -Tanto faz – diz ele colocando as duas mãos nas têmporas.

                A demora estava me matando, então resolvo pôr um fim nisso:

                -O senhor pediu para que eu viesse pois tinha notícias de Roney, o que houve?

                Ele me olha e seu olhar é frio, mas ainda sim pesaroso. Aquele olhar me atravessa como uma estaca de gelo e todo o meu corpo estremece:

                -Sargento Lorrain, não tem um jeito fácil de te dizer isso então eu vou direto ao ponto, seu amigo de infância e colega de dormitório Cabo Roney está DEA, meus sentimentos.

                -DEA...? – A sigla entra como pregos em meus ouvidos e sai vagarosamente, letra por letra da minha boca, aquela sigla era a mesma sigla que estava incrustada no memorial de guerra no QG da nossa organização, ela significava “Desaparecido Em Ação”, ou em outras palavras morto, pois jamais encontravam nem sequer o corpo do soldado que ficava em status de DEA.

                Minhas pernas fraquejam e eu me desequilibro, por sorte a parede estava atrás de mim e eu me encosto nela ainda processando a informação, como isso era possível? Eu o deixei encostado na árvore, eu sabia onde ele estava e sabia que ele não poderia sair de lá andando. O Coronel se levanta e vem até mim, colocando a mão no meu ombro assim que se aproxima:

                -Me desculpe por te dar essa notícia Lorrain, mas não há mais nada que possamos fazer, venha, vou te levar até o helicóptero, ele vai te levar para o QG, sua missão acabou.

                Eu não sei se ele está realmente me guiando, pois me sinto como se ainda estivesse parada no mesmo lugar, o mundo ao meu redor estava congelado, eu apenas via Roney em minha frente enquanto ainda digeria a notícia.

                Em pouco tempo escuto o som de rotores ao longe, olho para os lados e me vejo em um helicóptero que está alçando voo, em pouco tempo chegaria à base. Eu ainda estava em choque com o acontecido, sentia como se meu coração estivesse com a metade de seu tamanho original.

O Helicóptero sobe. Um nó teima em ficar na minha garganta, para sumir com ele, olho para o céu cheio de nuvens em amarelo ouro que rodeavam o helicóptero, mas foi em vão, quase que instantaneamente as lágrimas começaram a tomar conta dos meus olhos, levo a mão ao rosto para me livrar das que tomavam conta da minha bochecha e algo metálico e frio na minha mão me chama a atenção, eu afasto a mão e uma agulha atinge meu coração, era a dogtag de Roney, provavelmente o coronel a encontrou e me entregou enquanto eu estava fora do ar. A descoberta me faz chorar ainda mais, eu a seguro com as duas mãos e pressiono contra meu peito, um soluço ritmado toma conta de mim e eu não tento suprimi-lo, era a primeira vez que eu deixo meus sentimentos falarem por si em muito tempo, e infelizmente esses sentimentos eram de tristeza, eu tinha perdido meu amigo, a pessoa que sempre esteve comigo, que sempre procurou me defender e me fazer ficar feliz, mas o que fazia esse fardo ficar pior era uma coisa que eu descobri recentemente, durante esse inferno em que eu me encontrava nos últimos dias, durante esse tempo eu descobri que o que eu sentia por ele não era apenas uma amizade muito grande, eu descobri que eu o amava, mas agora eu não poderia fazer mais nada sobre isso e o pior, eu sentia que era minha culpa tudo que aconteceu, talvez se eu não tivesse ido à missão, talvez se eu não tivesse deixado ele sozinho na mata, talvez se eu tivesse ficado com ele até seu último suspiro, eu poderia ter feito mais por ele.

As horas passam como se fossem minutos, logo estava descendo do helicóptero dentro do QG, sendo recebida por honrarias militares e várias pessoas importantes. Assim que pus o pé no chão, soldados vestidos com um uniforme azul, calças brancas e sapatos pretos muito bem polidos se alinharam em um corredor à minha frente, empunhando fuzis antigos com baionetas. Quando dei mais um passo, eles os levantam para o alto e atiram, como uma saudação, mas eu não estava prestando atenção em nada disso, eu fitava o capitão no final do “túnel” formado pelos soldados, me olhando sério sem bater palmas como todos os outros, ele deveria saber do ocorrido e me conhecia muito bem para saber como eu me sentia com tudo isso.

Passei por todos sem olhar para ninguém, assim que cheguei ao capitão, ele me guia até um quarto, durante o caminho, quase não nos falamos, apenas no final dele que ele se vira e me encara:

— Eu sei que não é hora para isso, mas eu quero lhe informar que com tudo que aconteceu, você subiu de patente e se mudou para a Spec-Ops, meus parabéns – suas palavras parecem vazias para mim, mas ele continua – faremos o funeral simbólico de Roney daqui a algumas horas, se apronte e eu mandarei alguém te buscar.

Assim que ele se afasta, eu entro no quarto. Ele era o mesmo do de antes, então eu nem preciso olhar muito para os lados, apenas me deitar na cama. Observo o céu pela janela, ele se tornava cada vez mais escuro com pesadas nuvens de chuva, eu pensava que era muito conveniente isso, da maneira que Roney era dramático, um enterro como nos filmes será perfeito para ele. Abro a mão e fito sua dogtag, ela emanava um brilho prateado, deformado pelas letras que foram gravadas por uma máquina no metal, lá estavam seu nome, idade e seu tipo sanguíneo, mas sua data de nascimento e religião estavam em branco, talvez para preservar sua privacidade ou por que ele estava tão perdido no mundo quanto eu.

As horas passam devagar, a chuva lentamente aumentava, ficando cada vez mais densa, mas mesmo assim parecia uma chuva triste e monótona, relâmpagos não iluminavam o céu com a mesma frequência de antes, ventos furiosos não sopravam as gotículas contra as paredes, a chuva apenas se derramava de forma torrencial das nuvens. Enfim a hora do meu adeus final chega, um soldado bate à minha porta, eu a abro e me deparo com um recruta, ele era baixo, tinha os cabelos um pouco encaracolados e volumosos conservados baixos, usava óculos com uma armação que misturava o preto e o vermelho e tinha uma pele um pouco morena por causa do sol e um corpo não muito atlético, deveria estar ali há pouco tempo. Na sua identificação estava escrito “Sd. Bernardes”, ele me encara sério e me indica a direção com uma das mãos, eu o sigo e ele me acompanha até a porta que dava para o carro que nos levaria ao cemitério que ficava perto dos limites do QG. Assim que o carro para, abro a porta e do lado de fora, vejo muitos soldados com a mesma roupa dos que me receberam, formando colunas com um corredor no meio, bem de frente para a porta em que eu estava, no final da coluna de soldados, estava montado um palco com um caixão, do lado dele estavam Coronel Case, Capitão Richard, que alguns chamavam de “Boss” e duas mulheres vestidas de preto sentadas com guarda chuvas. Uma delas eu reconhecia como sendo a enfermeira, a outra eu ainda não tinha visto, parecia mais alta e mais forte do que eu, mesmo sentada.

Paro de observar a mulher quando o soldado me estende um guarda-chuva aberto, eu o pego e ele faz uma continência a mim, então sai mesmo na chuva e entra em formação como os outros. Eu então saio segurando o guarda-chuva com uma mão e a dogtag na outra, caminho devagar pelo corredor feito pelos soldados e chego no palco montado, em cima dele um caixão com a imagem de Roney envolta em uma coroa de flores sobre de uma bandeira da corporação. Eu não me sentia bem, minha cabeça latejava e minhas mãos estavam frias como gelo, mas eu ainda continuei, a chuva caia e molhava a todos ali, menos eu e as duas mulheres, a que eu não conhecia me olhava, só agora percebi que ela era loira e parecia bonita se não carregasse um semblante de morte no rosto. Tiro os olhos dela e fito o caixão, então apoio a mão com a dogtag nele e penso por um instante em tudo que aconteceu, “ainda não acredito que você não está aqui comigo” pensava, abro a mão e deixo a dogtag em cima do caixão, solto o guarda-chuva e ele cai, sendo levado pela leve brisa, levo minha mão espalmada para baixo à testa e endireito o corpo, as lagrimas enchem meus olhos, mas não caem, nesse momento, ouço o som de todos fazendo o mesmo gesto que eu, então uma corneta começa a tocar “a melodia”, aquela cujo o significado é tão somente a perda de alguém, aquela cujo o som ninguém espera ouvir e quando ouve, tem a vida mudada para sempre, era a canção da morte.

O cortejo enterra de forma simbólica o caixão de Roney, a cerimônia não durou mais do que algumas horas, logo o caixão estava sendo baixado e uma salva de tiros sendo disparada. A sina de ser a primeira pessoa a jogar a primeira quantidade de terra foi minha. Juntei terra o suficiente para quase não fechar a mão e jogue sobre o caixão, bem em cima da dogtag, o som que ela fez ao ser pressionada contra a madeira do caixão acendeu uma chama dentro de mim, eu iria vingar Roney, de uma vez por todas, assim que subo a visão, vejo o capitão me olhando, ele sabia o que eu queria e sorri.

Assim que me viro e começo a caminhar para o carro como todos, ele passa por mim e diz perto do meu ouvido:

— Precisamos conversar, na minha sala amanhã bem cedo.

Eu o olho de canto de olho e aceito o convite, ele então apressa o passo e entra em outro carro estacionado perto do meu. Eu entro no carro e nem ligo em estar encharcada, estava acesa por dentro. Mal sabia eu que no mesmo ínterim, algo longe dali acontecia...


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Notas finais do capítulo

E ai galera, gostaram? Espero que sim, até o proximo capítulo, abraços!



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